30.4.11

Que se lixe o lixo!

ESTE local é um dos muitos referidos nos Prémios António Costa (trata-se do Local E - ver [aqui]), e cuja anomalia foi, felizmente, já corrigida (como lá se indica, em 'actualização'). A foto mostra o ecoponto já colocado na posição correcta (deixou de bloquear a saída de emergência do Centro Comercial Acqua!), e uma senhora que acaba de colocar o seu lixo na berma do passeio - como se fosse a coisa mais natural do mundo.

A ideia de que «com gente desta não há nada a fazer» é, para mim, cada vez mais clara.

Casamento em directo

Por Antunes Ferreira

DECIDIDAMENTE, e plagiando embora o anúncio que a televisão repetiu até à exaustão, já lá vão uns anos, a tradição já não é o que era. Tem dúvidas? Um só exemplo basta para confirmar a asserção. E ele aconteceu apenas ontem, com Londres em fundo. O local da ocorrência, como rezaria qualquer participação policial (longe vá o agoiro) foi a varanda do Palácio Real de Buckingham.
Em vez do único beijo nupcial que constava do protocolo da cerimónia do enlace entre o príncipe William, filho de Charles e Diana, e Catherine Middleton, vulgo Kate (e Catarina para o José Rodrigues dos Santos que reportava o acontecimento em directo desde a capital britânica…) os recém-casados trocaram… dois. Eu não vi, mas disse quem viu que o segundo foi muito mais entusiástico do que o primeiro que fora o único programado. Excelente e excitante.
Estas estórias de príncipes que casam com plebeias não são de agora: são de (quase) sempre. A celebérrima dona do sapatinho de cristal, ou seja a Gata Borralheira, Cinderela para os mais chegados, também se deu ao luxo de unir os destinos aos do Príncipe cujo nome é um mistério. E a efabulação é velha e relha, apesar de se dizer que a sua versão mais conhecida é de 1697 e da autoria do francês Charles Perrault. Mas, parece que já existia na China, por volta de 860… a.C.
Se bem que estejamos apenas em 2011, muito boa gente considera o enlace de ontem o casamento do século. A antecipação é prática que não pode ser considerada despicienda, mas tanto, não; a futurologia só é possível, depois dos bons e velhos tempos da pitonisa de Delfos, aos políticos mais audazes e clarividentes. Não obstante, há quem se deite a congeminar e a afirmação aí fica, procedendo-se à respectiva ratificação, lá para as alvoradas de 2100. Boa gente e gentil prenúncio. De hipotético divórcio, nem pó. Também isso se dizia dos progenitores do casadinho de fresco e… foi o que se viu.
Os pormenores do acontecimento motivaram as mais diversas congeminações. Entre estas, o mistério do vestido da noiva foi talvez a mais importante. Mantido em sigilo absoluto (nem o Wikileads conseguiu quebrá-lo), só foi desvendado quando a nubente surgiu a público com o vestido – vestido. Era um dos temas mais discutidos desde o anúncio formal do noivado.
Descobriu-se ontem, de acordo com os órgãos de informação, que não era um exemplar do guarda-roupa de um conto de fadas, mas um encontro feliz entre a modernidade da Casa McQueen e a sobriedade que se esperaria de alguém sem ascendência nobre. Simbolicamente, foi uma homenagem ao trabalho artesanal britânico com aplicações de renda feitas à mão pelos alunos da Royal School of Needlework.

O planeta seguiu, pois, os passos da cerimónia em directo e versão integral; tanto quanto se sabe, as televisões ter-se-iam empenhado em transmitir a noite de núpcias para que as gentes tivessem realmente a verdade total do acontecimento. Mas, hélas, dizem os dos boatos e coscuvilhices que o casal terá exigido cachets fora de propósito que, a serem pagos, deixariam os proventos do Cristiano Ronaldo a anos-luz de distância.
Donde, houve que satisfazer-se com o possível. O bom é o inimigo do óptimo, como se sabe. Porém, os mais esperançados não desistiram às primeiras. Sem intenções obscenas, muito menos durty minds (em Londres fala-se inglês), acalentavam a possibilidade de as negociações continuarem: água mole em pedra dura, tanto dá até que fura.

ADENDA:

Mas, o melhor do dia estava para vir. No jornal da noite da RTP, o enviado especial a Londres, João Adelino Faria, quando fazia o ponto de um dia memorável e que ele acompanhara segundo-a-segundo, referiu que a economia britânica também ganhara muito com o acontecimento. E acrescentou, como exemplo que se tinham vendido milhares de preservat..., emendando de imediato e sem pestanejar - repórter sofre, mas aguenta -, presentes e lembranças. Essa sim, essa eu vi e ouvi...

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29.4.11

Apontamentos de Lisboa

- Não se canse a lavar, minha senhora, que isso não sai assim. E, mesmo que saia, amanhã está outra vez pintado.

Passatempo de 28 Abr 11

NUMA altura de crise como a que estamos a atravessar, o mínimo que seria de esperar dos poderes públicos (governamentais e autárquicos) era que acarinhassem os transportes colectivos, facilitando-lhes a vida. Mas essa gente não parece estar à altura desse desafio, nem sequer dá mostras de se preocupar com o problema.

Em cima, vê-se uma paragem de autocarros de Lagos, e em baixo uma outra de Lisboa. Nesta, e à medida que se iam aproximando, alguns motoristas da Carris, ao verem o acesso impedido, paravam e davam uma pequena buzinadela de protesto. Como de nada adiantava (apesar de os condutores estarem dentro dos carros!), a solução era fazerem o que se recomenda na imagem de baixo...

A pergunta
que aqui se coloca é: a que corresponde, na realidade, este bizarro texto?

Actualização: a resposta pode ser vista [aqui].

Choque

Por João Paulo Guerra

NOS TRABALHOS com vista à elaboração de um pacote para resgate da dívida portuguesa, o facto de o FMI desempenhar na ‘troika' o papel de "polícia bom", por oposição aos "polícias maus" da Comissão Europeia, é esclarecedor quanto ao estado actual da UE. Nos trabalhos com vista à elaboração de um pacote para resgate da dívida portuguesa, o facto de o FMI desempenhar na ‘troika' o papel de "polícia bom", por oposição aos "polícias maus" da Comissão Europeia, é esclarecedor quanto ao estado actual da União Europeia: um entrincheiramento de fundamentalistas apostados em arrasar a herança de valores sociais, humanísticos, civilizacionais, culturais da Europa para construir um continente cujo conteúdo assenta na acumulação e na desigualdade. Na ‘troika', o FMI é que tem deitado água na fervura levantada pela Comissão Europeia, telecomandada pelo comissário Olli Rehn, um verdadeiro finlandês escolhido por Durão Barroso para liderar a comissão de assuntos económicos, que anda de olho em Portugal muito antes de se falar em crise. Quando a Comissão do Sr. Rehn diz "mata", o FMI do Sr. Strauss-Kahn não dirá propriamente "esfola", antes propõe uma morte sem dor.

Alguns, mais ingénuos, dirão que Portugal teve azar: apanhou a crise numa conjuntura política de viragem da Europa para a extrema-direita. Outros, mais realistas, pensarão que "isto anda tudo ligado", como dizia o Eduardo Guerra Carneiro, e que a crise é uma estratégia destinada a criar a oportunidade ideal, para impor as ideias e os valores mais radicais do chamado mercado. Isto é o que defende, entre muitos outros e outras, Naomi Klein, autora de "A doutrina do choque". E a autora conclui que "o mito central da nossa época, que a democracia e o capitalismo caminham juntos, se trata de uma mentira".

Um dia, sem que as gazetas lhe dêem grande importância, sai na Internet, ou como breve num jornal, referência a uma acta de Bilderberg, ou coisa quejanda, na qual foi definida a estratégia da "crise" e o consequente engavetamento da democracia.
«DE» de 29 Abr 11

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28.4.11

Objectivo: 1 milhão

JÁ QUE temos à porta mais uma campanha eleitoral, com o seu inevitável (e irritante) cortejo de promessas-da-treta, aqui fica, bem a-propósito, um documento histórico:
Em 1954, Pupert Spier, de Inglaterra, prometeu aos eleitores que comeria o seu chapéu se os impostos sobre os combustíveis não baixassem.
A imagem mostra o que sucedeu depois das eleições...
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In «Curious Moments»

Pergunta de algibeira

SUPONHA-SE que a distância entre Lisboa e Porto é de 300 km. Simultaneamente, sai um carro de Lisboa em direcção ao Porto (viagem que fará em 5h, a uma velocidade constante) e um outro do Porto em direcção a Lisboa (viagem que fará em 3h, a uma velocidade constante) .
Pergunta-se: no momento em que se cruzam, qual dos dois está mais perto de Lisboa?

27.4.11

Apontamentos de uma terra sem uma gota de auto-estima

A
B
C
DE
F
G
H
CONVIDAM-SE os leitores do Sorumbático a comentarem estas 8 fotos (todas tiradas no mesmo dia, em Lisboa) tendo em conta, especialmente, o seguinte:

As imagens B e C são pormenores da A.
As E e F são pormenores da D.
As G e H são de um jardim público (S. Pedro de Alcântara).

Episódio em Abril

Por Baptista-Bastos

ATRIBUIR a todos nós as culpas da degenerescência da democracia não é, apenas, um disparate: é uma desonestidade intelectual. Todos nós? Sinto instintiva repugnância por quem defende essa tese absurda. Habitualmente, parte daqueles que, de uma forma ou de outra, participaram na redução ou na eliminação da nossa capacidade de agir. De que modo? Obnubilando a nossa aptidão para a reflexão e a análise, através de manipulações várias, em que a imprensa não é a menor responsável. A Igreja, aliás, não está imune a esta mistificação, cada vez mais difícil de hierarquizar. (...)

Texto integral [aqui]

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26.4.11

Pergunta de algibeira

SAM LOYD foi um prolífico criador de enigmas e charadas. Neste, os leitores eram desafiados a recolocar os 3 meninos por forma a que mostrassem um número de 3 algarismos divisível por 7. Alguém, por aqui, aceita o desafio? Actualização: a resposta certa já foi dada.

Idade, valores e consentimento

Por Helena Matos

SEGUNDO o Correio da Manhã um homem acusado de violar a enteada, à data com 12 anos, saiu do tribunal em liberdade – com pena suspensa durante quatro anos – porque o colectivo de juízes entendeu que a criança consentiu a relação sexual.

Os juízes serão certamente excelentes. Os códigos portugueses são uma maravilha e certamente que inspiram leis por esse mundo fora. O tribunal funciona maravilhosamente. Eu, como todos os portugueses, não percebo nada de justiça e até devo estar agradecida por tão doutas cabeças aceitarem que os meus impostos contribuam para os manter em tão altos cargos. Contudo, certamente por um desarranjo qualquer do meu cérebro, não consigo entender que um tribunal desculpabilize um homem acusado de violar a enteada considerando que a criança, então com 12 anos, consentiu ter relações com ele: uma criança de 12 anos pode dizer que consente muita coisa mas um homem ou uma mulher de 40 tem o dever de saber que não lhe pode pedir que consinta.
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Público e Blasfémias

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Bancocracia

Por Rui Tavares

CHEGÁMOS agora ao estágio final: o governo dos bancos, pelos bancos e para os bancos. Na verdade, foi ele que chegou até nós: desembarcou há dias na Portela.

“O governo do povo, para o povo e pelo povo” já era. Chamava-se a isso a democracia, nos bons velhos tempos. Mas nas últimas décadas o regime foi sendo transmutado, passo a passo, numa coisa diferente: o governo dos ricos e poderosos, para os ricos e poderosos e pelos ricos e poderosos.
Primeiro, tornou-se no governo “para os ricos”. Segundo uma teoria muito em voga, se nos ocupássemos em beneficiar o topo da pirâmide, a prosperidade escorreria por ali abaixo até à base. A coisa não funcionou. Disseram-nos então que era preciso dar o passo seguinte: o “governo pelos ricos”, seguindo os métodos deles e, em última análise, trazendo-os diretamente para o poder. (...)

Texto integral [aqui]

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25.4.11

E já lá vão 6 dúzias!!

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O «JN» dedica hoje uma página inteira ao 3.º aniversário dos Prémios António Costa. Para aceder ao respectivo regulamento, clicar [AQUI].
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Sala do Veado

Por A. M. Galopim de Carvalho

“SALA DO VEADO” é hoje uma expressão vulgarizada entre a comunidade dos artistas plásticos portugueses e também de alguns estrangeiros. É frequente nas notícias, críticas e outras alusões veiculadas pelos media, relativamente ao sector da cultura em que se inserem. É numeroso o público que acorre às ininterruptas exposições patentes neste procuradíssimo grande espaço do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa. (...)

Texto integral [aqui]

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24.4.11

Luz - Irmandade de Lisboa, Cabo Espichel, 1978

Fotografias de António Barreto- APPh

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Várias irmandades e círios de Lisboa e de outros sítios tinham local permanente na hospedaria e nas salas de abrigo do santuário. Algumas destas salas ainda foram abrigo seguro de muitos “Retornados” ou pescadores de ocasião.

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Passatempo de 24 Abr 11 - Bom sinal?


ESTAS 3 fotos foram tiradas em Lagos. As de cima estão aqui por causa daqueles que não sabem que o Código da Estrada também se aplica a ciclistas (e até a peões!), para os quais existem, inclusive e como se vê, sinais de trânsito próprios. (O facto de serem ou não respeitados é outro assunto, que agora não se aborda).

A PERGUNTA que hoje se pretende colocar tem a ver, apenas, com a imagem de baixo, cujo significado os leitores são desafiados a descobrir.

Actualização (11h40m): a resposta certa já foi dada, como se pode confirmar [AQUI].

23.4.11

Dias úteis

Por Alice Vieira

TODAS as manhãs, nestes últimos dez anos, fazia o mesmo percurso.
Com excepção para os dias de folga.
Aí mudava um bocadinho, embora os passos fossem sensivelmente os mesmos, nos mesmos lugares. Via apenas outros rostos, os dos dias de semana estavam já, àquela hora, encaixados nos seus guichés, nos seus balcões, atrás de secretárias.
Nos dias de folga era ligeiramente diferente, o rapaz da leitaria dizia “hoje vem mais tarde”, ela respondia “é o meu dia de folga”, sempre, durante estes dez anos que ali tem vivido. (...)

Texto integral [aqui]

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Páscoa à portuguesa

Por Antunes Ferreira

ESTAMOS numa Páscoa diferente. Como sempre, comemora-se a morte de Cristo e a sua ressurreição, como sempre os rituais são os mesmos, a mesma é a Via-Sacra, as cores dos paramentos, as cerimónias religiosas. Como sempre ainda, assa-se o cordeiro, comem-se os folares, com ovos ou sem eles, esgotam-se as amêndoas, saboreiam-se os ovos de chocolate. Aparentemente, nada mudou.
Porém, os passos do padecimento do filho de Deus este ano são Passos. E o coelho pascal este ano é Coelho. E a refeição nobre este ano é do Nobre. Mais ainda; este ano temos por cá a troika; este ano estamos falidos e mal pagos; este ano ajoelhamo-nos a pedir esmola; este ano devíamos ter vergonha das tristes figuras que fazemos. Mas não temos. Somos assim, irresponsavelmente catitas. (...)

Texto integral [aqui]

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22.4.11

O sr. Pedroso de Providence

Por Alice Vieira

MAL ENTRO na loja e logo ele me diz “já a vi, já sei quem é e o que faz!”- abrindo de imediato o jornal da comunidade portuguesa, que conta a minha vida e o que ando a fazer desde que aterrei na costa leste dos EUA.
Há 50 anos que o Sr. Pedroso está atrás do balcão do seu “Friends Market”, na Brooks Street, de Providence. Sempre só ele, sozinho, na aparente fragilidade dos seus 90 anos, atendendo a freguesia.
Eu tinha andado pela cidade, feliz por ter encontrado todas as referências que procurava - casas, lojas, pontes, a estação – de uma série (“Providence”) que, meses a fio, a televisão passara, e agora , de repente, dava por mim a aterrar numa nesga de Portugal, numa loja que vendia tudo. (...)

Texto integral [aqui]

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21.4.11

Tertúlia - Convite

Na FNAC do Colombo
22 Abr 11 (6ª-feira) - 18h30m
Um outro curioso par de notícias
ESTAS são das tais notícias que dão que pensar quando são lidas separadamente, e mais ainda quando aparecem juntas. E mais uma vez me recordam o meu saudoso chefe que dizia que «um gestor incompetente poupa tostões como se fossem milhões, ao mesmo tempo gasta milhões como se fossem tostões».
NO FINAL do documento «Um Compromisso Nacional», afixado por António Barreto (e divulgado no 'Sorumbático' e no 'Jacarandá'), é dito que o mesmo pode ser subscrito, por quem o quiser, no Facebook do Expresso online.
O endereço é [ESTE].

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Pergunta de algibeira

MELHOR ou pior, estes 12 fósforos representam 4 quadrados (sem considerar o envolvente). O desafio consiste em reduzir o seu número de 4 para 3, mudando a posição de 4 fósforos (e fazendo-o no mesmo plano).

NOTA: As respostas deverão ser enviadas para medina.ribeiro@gmail.com, sob a forma de uma imagem (foto ou desenho) em formato BMP, JPEG ou GIF.

Rodelinhas de farinheira fritas (a servir como entrada)

Por A. M. Galopim de Carvalho

DE VÉSPERA, pique as farinheiras com uma agulha ou com um garfo de pontas aguçadas e leve-as a cozer ligeiramente sem deixar rebentar a pele. Retire-as da água, deixe-as arrefecer e coloque-as no frigorífico.

No dia seguinte, com muito cuidado, tire-lhes a pele (com o bico bem afiado da faca de cozinha, faça dois golpes superficiais todo ao comprido da farinheira, um do lado de fora e outro do lado de dentro), corte-as às rodelas com 2 a 3 mm de espessura, frite-as em óleo bem quente e abundante (como quem frita batatas) e escorra-as em papel absorvente.

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Procônsul

Por João Paulo Guerra

AS DIREITAS, política e sociológica, andam impantes. Entendem certamente que com os burocratas da Comissão Europeia e do FMI instalados em Lisboa e a mandarem no País e nas instituições terá chegado a hora de todas as desforras como de todas as compensações. E assim acorrem às reuniões de vassalagem oferecendo os seus préstimos e pedindo as mais desaforadas contrapartidas: que o FMI inverta com carácter definitivo e irreversível o crescimento dos salários e trave o aumento do salário mínimo, que corte mais nas pensões, que consagre despedimentos tendencialmente gratuitos, que reduza o subsidio de desemprego a uma gorjeta, que flexibilize os horários de trabalho nas empresas e, veleidade das veleidades, que consagre todo este cenário de terra queimada em matéria de direitos sociais numa revisão da Constituição.

A referência a uma revisão da Constituição, no âmbito das negociações para a suposta ajuda a Portugal, veio nos jornais e não motivou qualquer denúncia ou protesto, nem da parte dos dirigentes do País, como dos líderes partidários ou dos fazedores de opinião. Quem cala, consente e os interlocutores do FMI devem achar muito bem que se mexa a Fundo na Constituição, substituindo-a eventualmente por um conjunto de ordenações. E com um pouco mais de alento ainda pedem ao FMI que promova um golpe de Estado para acabar de vez com todo e qualquer resquício do 25 de Abril. Nem sequer seria original. Em 1926 foram as confederações patronais que animaram um general a vir de Braga por aí abaixo, montado num cavalo e a vociferar palavrões contra a República.

Solução mais discreta, porém, será pedir ao FMI que dispense os portugueses da maçada das eleições e que nomeie um procônsul entre o que provar ser o mais fiel dos seus seguidores.
«DE» de 21 Abr 11

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20.4.11

A esquerda

Por Maria Filomena Mónica

DESDE 1974 que voto no Partido Socialista. Por isso me entristece o que lhe tem acontecido. Ao longo dos últimos seis anos de governação, o Primeiro-Ministro teve uma única ideia, o «plano tecnológico», e até essa é um disparate. Além disso, mentiu, mentiu e voltou a mentir. Não se pense que foi uma doutrina que me empurrou para a esquerda. A proeza ficou a dever-se ao comportamento da direita nacional. O Portugal dos anos 1950 era de tal forma desigualitário que me era impossível aceitar pacificamente a minha posição social. Os adultos podiam – e tentaram – explicar-me que «pobres sempre os teríamos entre nós», lição que nunca entrou na minha alma. Os amigos de infância ainda me consideram «comunista», enquanto os colegas universitários pensam que sou «reaccionária»: os primeiros porque me preocupo com as desigualdades sociais, os segundos porque valorizo o mérito (...)

Texto integral [aqui]

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Nada de novo no horizonte

Por Baptista-Bastos

AS LISTAS de deputados são conhecidas. Aquele sobressalto emocional que caracterizou os primeiros tempos da democracia deixou de existir. Normalizámo-nos. As regras do jogo são claras e simples: seguir, obedientemente, o jogo e as regras. Ora, o desinteresse bocejante com que o público as acompanha conquistou conotações depreciativas. O caso Fernando Nobre, pelas situações que o rodearam, agitou um pouco as águas palustres. Aqui e além, este ou aquele foram contestados. Nada de grave. O sistema dos hábitos, próprio do domínio que as direcções partidárias exercem, manteve-se inabalável. (...)

Texto integral [aqui]

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19.4.11

Troika

Por João Paulo Guerra

O PRÓXIMO chefe do governo que emanar da Assembleia da República eleita a 6 de Junho pelos portugueses vai ser um mero encarregado de negócios para Portugal, um oficial às ordens ou, mais propriamente, uma ordenança do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. As condições do resgate da dívida são leoninas e colocam Portugal como uma província não autónoma da Troika que passa a mandar no país: o FMI, do dr. António Borges, a Comissão Europeia, do dr. Durão Barroso, e o Banco Central Europeu, do dr. Vítor Constâncio. Nenhuma medida com impacto orçamental pode ser aprovada e aplicada em Portugal sem a aprovação da Troika. Em lugar do "visto e aprovado" do Conselho de Ministros e do "Publique-se" do chefe de Estado, o que passa a valer é a rubrica de um burocrata de Bruxelas, um gestor da conta de Portugal.
Já o escrevi nesta coluna e reafirmo: durante a ocupação dos Filipes, entre os séculos XVI e XVII, Portugal teve um governador-geral com autonomia, e apenas as funções de representação do Estado cabiam ao rei de Castela, que era simultaneamente rei de Portugal. Mas a independência do território em questões de governação era incomparavelmente mais ampla e autónoma do que tem sido com a União Europeia - pior ainda na comunidade dos países do euro pois, com os Filipes, Portugal sempre cunhava a própria moeda - e agora com a Troika dos prestamistas, aos quais os decisores portugueses vão alegremente empenhar a independência do país e até a autonomia do seu governo.
Estamos a voltar rapidamente e em força aos tempos negros em que um burocrata se apresentou ao grande José Carlos Ary dos Santos, ostentando a qualidade de representante credenciado do Estado português, e ouviu do poeta a pergunta indignada: "E não tem vergonha?".
«DE» de 19 Abr 11

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Paulo Futre, a lição de um amador

Por Ferreira Fernandes

TRAPALHADAS e tiros no pé, uns que escolhem cabeças de lista que surripiam gravadores, outros que escolhem Nobre para trazer votos e dão-se conta de que antes da recolha prometida talvez ele já tenha feito evaporar mais votos. E são isto profissionais. Políticos dos melhores em convencer o povo... Pois deixem-me apresentar-vos um amador: Paulo Futre. Há dias também ele se meteu em trapalhadas, deu tiros no pé. Falou de charters de chineses, parecia um Guterres a fazer contas de cabeça e em público. O País riu-se dele.
Com os políticos sabe-se como são perigosas as explicações de trapalhadas. Pioram. Começa-se por dizer que só foi um mero e lacónico telefonema e acaba-se a admitir que houve reunião e tudo. Futre também estava aí, achando-se com necessidade de justificar o deslize de há dias. Hum, ia espalhar-se ainda mais, não vos parece?... Pois foi assim: Paulo Futre amorteceu o ridículo no peito, deixou-o cair e chutou-o. Deu entrevistas a jornais, foi a programas de televisão, riu-se de si próprio, olhou-nos de frente, sorriu-nos francamente e deu a volta por cima.
Perceberam, senhores políticos? Não se tomem a sério, porque isso, não se tomar a sério, é a demonstração da convicção funda daqueles que se sabem sérios. Ah, e sobretudo não tentem contratar Futre para nada, não conspurquem um ídolo. Façam com ele o que fazem os restantes portugueses: limitem-se a admirá-lo.
«DN» de 19 Abr 11

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18.4.11

Confusão

Por João Paulo Guerra

PORTUGAL, através do Dr. Miguel Relvas, acaba de dar um novo e notável contributo para a teoria e a práxis da democracia política. Sendo os partidos parte de um mesmo todo, o todo-poderoso e saboroso bolo do poder, o Dr. Relvas, secretário-geral do PSD, adiantou-se na sugestão da liderança que gostaria de ver… no PS. Ora isto constitui um assinalável progresso no conceito de democracia representativa - precisamente a que é representada por partidos políticos que representam uns poucos por cento da sociedade, ou seja, cada vez mais quase nada.

A inovação tem tanta mais originalidade quanto parte de um partido que tem manifestado alguma inconstância e dificuldade em acertar nos próprios líderes, cujos já vão em dezanove, fora os ameaços. Quer isto dizer que o PSD tem mudado de líder à razão de um de menos de dois em dois anos, e se Cavaco Silva subiu a média, Emídio Guerreiro, Sousa Franco, Meneres Pimentel, Mota Pinto, Rui Machete, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Santana Lopes, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes puxaram a média bem para baixo. Pois não contente em mudar de líder como qualquer novo-rico muda de automóvel, o PSD do Dr. Miguel Relvas aspira a mudar a seu gosto a liderança do PS.

Claro que esta prática teria menos virtudes que defeitos em sede de estabilidade política. O Dr. Relvas preferia um PS liderado por António Costa, Francisco Assis ou António José Seguro. A questão seguinte seria saber quem preferia qualquer destes putativos líderes do PS para a liderança do PSD. E como é que a liderança PP do CDS - tripeça do sistema político vigente - entraria nesta contradança?

O contributo do Dr. Relvas para a história da democracia pode vir a mostrar-se desnecessário. Para confusão, basta a que há.

«DE» de 18 Abril 11

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«Dito & Feito»

Por José António Lima

A TRANSFERÊNCIA de Fernando Nobre, do limbo pós-presidenciais para as listas de deputados do PSD, não é boa para a já inconsistente imagem do candidato.
Porque Nobre desdiz, com este gesto, tudo o que ainda há pouco dizia sobre o perverso monopólio dos partidos na vida política e tudo o que jurara sobre o seu desprendimento pessoal de cargos e mordomias.
Nobre encheu-se de si próprio com o ilusório significado dos 14,1% nas presidenciais, tal como acontecera a Manuel Alegre com o seu efémero milhão de votantes em 2006. E, não sabendo como materializar as centenas de milhares de votos que ocasionalmente recebeu ou que passo político dar a seguir, aproveitou a prebenda que o PSD lhe ofereceu. A necessidade de palco, a ânsia de protagonismo e a vaidade pessoal pesaram mais do que o risco de contradizer as suas veementes proclamações de independência e equidistância. (...)

Texto integral [aqui]

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E o único certo no Governo é: PP

Por Ferreira Fernandes

HÁ UM ÚNICO partido a ter como garantido que estará a governar daqui a dois meses. Falo, claro, do CDS. Não haverá vencedor único e o que for mais votado terá de se socorrer dele: PS-CDS ou PSD-CDS, pois. E, caso haja dupla PS-PSD, esta vai querer alargar-se, e ficará PS-PSD-CDS.
O partido de Paulo Portas, é disso que essencialmente se trata, está bem artilhado para preencher o papel que o Governo vai ter de cumprir. Está bem artilhado como? Já o disse, tem Paulo Portas. O homem é de fórmulas, leia-se ideias sintéticas, virtude que lhe vem do seu tempo do jornalismo - hoje já não se fazem títulos como em O Independente.
O essencial da governação, as linhas com que nos coseremos (e cozeremos), ficará a cargo de instituições e técnicos estrangeiros. Mas a aplicação dessas linhas será do tal Governo, aos olhos de todos diminuído. Será essencial que alguém saiba dizer claramente o que os políticos (e ofícios correlativos) vão apertar de cinto para pedir aos restantes portugueses que façam muito mais.
Já noto sorrisos dubitativos sobre a sinceridade de Portas... Mas eu pergunto: têm políticos sinceros para a troca? Paulo Portas tem a vantagem das frases claras e curtas, capazes de serem entendidas em Cascais e na feira de Espinho. E se ainda há quem pense que as austeridades populares vão ser aceites sem similares sacrifícios dos governantes não sabe que tempos vêm aí.
«DN» de 18 Abr 11

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Os dinossáurios como recurso

Por A.M. Galopim de Carvalho

O MEU ENVOLVIMENTO com os dinossáurios visou duas estratégias fundamentais. Uma delas foi fazer renascer das cinzas o que nos restou do incêndio do Museu Nacional de História Natural, ocorrido em 1978. A outra, surgida poucos anos mais tarde, teve por objectivo a defesa da jazida com pegadas de dinossáurios de Pego Longo (Carenque, Sintra), um processo que fez história e que, mais de vinte anos volvidos, continua à espera da necessária solução.
Drasticamente diminuído nas suas instalações e colecções, este Museu (então a funcionar como anexo do departamento de Geologia da Faculdade de Ciências, em apoio à respectiva licenciatura) foi, de seguida, esvaziado de docentes e estudantes que o animavam. Assim, alguns dos que ali ficámos, elegemos os dinossáurios como motivo central de atracção da sua actividade museológica e de divulgação, na altura, especialmente dirigida à população escolar. (...)

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17.4.11

Um compromisso nacional

1. PORTUGAL está a viver uma das mais sérias crises da sua história recente. Essa crise tem uma dimensão financeira e económica, que se reflecte no défice orçamental, no desequilíbrio externo, no elevado grau de endividamento público e privado e nos baixos índices de competitividade e crescimento da economia, com grave impacto no desemprego, em especial nas gerações mais novas; mas tem igualmente uma dimensão política e social grave, que se exprime numa crescente dificuldade no funcionamento do Estado e do sistema de representação política e em preocupantes sinais de enfraquecimento da coesão da sociedade e das suas expectativas.

2. A CRISE financeira e económica mundial que se iniciou em 2007,com origem nos Estados Unidos, gerou em 2009 a maior recessão global dos últimos 80 anos e transformou-se, mais tarde, na chamada crise da dívida soberana, que abriu no seio da União Europeia um importante processo de ajustamento político e institucional, afectando de modo especialmente negativo alguns dos Estados membros mais vulneráveis, entre os quais, agora, Portugal. (...)

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O triunfo dos agiotas - Uma história de gangsters

Por Alfredo Barroso

1. «DUAS NAÇÕES». Benjamin Disraeli (1804-1881), aliás Lord Beaconsfield (desde 1876), foi um dos políticos ingleses mais notáveis do século XIX. Conservador e reformador com preocupações sociais, chegou a advogar uma aliança entre a aristocracia e a classe trabalhadora, sugerindo que os aristocratas deviam usar o seu poder para ajudar a proteger os mais pobres. Além de ter sido Primeiro Ministro da Rainha Vitória (e do Império Britânico) durante a década de 1870, foi um escritor popular que expressou em alguns dos seus romances as suas preocupações em relação à pobreza e à injustiça do sistema parlamentar, que ele ajudou a reformar com o apoio do Partido Liberal (já chefiado por William Gladstone, que viria a suceder-lhe como Primeiro Ministro). Num dos seus romances mais conhecidos, Sybil (1844), Disraeli descreve uma Inglaterra dividida em «duas nações», a dos ricos e a dos pobres, entre as quais «não há nem relacionamento nem simpatia». Cenário que se repetiria no século XX, com algumas adaptações, mas a mesma crueldade, durante os Governos de Margaret Thatcher, e que ameaça repetir-se no século XXI com o Governo de David Cameron. (...)

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16.4.11

E se Cavaco apelasse aos seus?

Por Ferreira Fernandes

DEPOIS de longo silêncio, ouviu-se o Presidente Cavaco Silva apelar à "responsabilidade" dos partidos e "unidade" nas negociações com o FMI.
A situação é tão grave que se justifica que o próximo governo seja o mais largo possível. O ex-ministro Mira Amaral diz que é importante que os três partidos PS, PSD e CDS "se entendam sobre um programa de ajustamento." Já tivemos várias coligações mas nunca nenhuma tão larga - e, no entanto, a proposta não só não surpreendeu como é uma das hipóteses fortes para o pós-5 de Junho.
Pois bem, sendo essa necessidade de unidade tão grande, e tendo Cavaco Silva entendido assim, há notícias que não se percebem. Por que razão há importantes cavaquistas que não aceitaram pertencer às listas eleitorais do seu partido? Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, António Capucho... O que é importante para o todo, a unidade e responsabilidade, não é importante para as partes? A resposta aceitável para eles não participarem seria a legítima decisão da actual direcção do partido prescindir deles. Mas não foi isso que aconteceu, eles próprios fizeram questão em tornar público que não queriam.
Não deveria Cavaco ter exercido, já nem peço o difícil e enorme magistério de influência sobre a Nação e as instituições, mas uma simples pressão sobre os seus amigos políticos?
A pergunta bebe nesta preocupação: uma coligação PS-PSD-CDS não pode ter o Presidente de fora. Ou pode?
«DN» de 16 Abr 11

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Nobre futebol

Por Antunes Ferreira

VAI SER uma noite em cheio, a de amanhã. No estádio do Dragão, o Futebol Clube do Porto recebe o Sporting e o jogo começa às 20:15. É transmitido pela Sport TV. A expectativa é grande; os leões, quiçá moribundos, estão no estado em que estão. Os campeões não perdem uma.
Por seu turno, o Dr. Fernando Nobre, presidente da AMI e ex-candidato a Belém, vai ser entrevistado, pelas 21:00, por Fátima Campos Ferreira, na RTP Especial Informação onde o assunto principal é a sua polémica candidatura a Presidente da AR… nas listas do PSD. Parece que nem sequer quer ser deputado.
O médico que se dizia independente e defensor da cidadania pura, donde sem mácula, reiterara, desde as presidenciais, que nunca mais se meteria na política e obviamente em qualquer força partidária. De boas intenções está o Inferno cheio, mas o poleiro tem muita força e origina todos os golpes de rins imagináveis e até os inimagináveis.
Esta atitude de Nobre tem sido acusada de pouco nobre. Ou seja, ele tem sido objecto dos mais duros comentários e das mais violentas críticas, depois de Pedro Passos Coelho ter anunciado que o clínico seria o cabeça de lista do PSD por Lisboa. Prevê-se que o presidente da Associação Médica Internacional irá defender o que se pode considerar… indefensável. Mas, nesta terra de tristeza também o pensável pode ser impensável e o possível, impossível .
Na Cidade Invicta, os verdes e brancos também vão tentar defender o indefensável. E por aí fora. Ou seja, continuar a lutar pelo sonho do terceiro lugar na Liga maior do futebol cá do burgo. Tarefa muito difícil, impensável e quiçá impossível; mas pois se não obtiverem uma vitória na casa dos portistas o sonho não passará de um pesadelo.

Ainda que os horários não sejam exactamente coincidentes, estou crente que, a nível televisivo, o espectáculo portuense que se antevê emocionante, terá um share infinitamente maior do que o entremez lisboeta. Poucos estarão interessados em visionar uma caricata versão do Médico e o Monstro, em que o primeiro tentará abater o segundo, ainda que um e o outro sejam uma só pessoa.

Os cidadãos que já sentem bastante a austeridade podem orgulhar-se da figura que os futebolistas portugueses têm vindo a fazer. As três vitórias da quinta-feira passada são o anti-depressivo de que necessitam. Mas, serão mesmo? A troika BCE, UE e FMI já tem as garras de fora. E os políticos portugueses - que já deviam ter vergonha na cara – não a têm.

Por essas e por outras é que digo que amanhã à noite, a valer-nos alguma coisa, será o Santo Futebol. Fátima foi chão que deu uvas.

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15.4.11

Alguém quer comentar?

HOUVE um tempo em que, para se andar de bicicleta na via-pública era preciso ter "carta" (além da "licença", a renovar anualmente). Isso implicava passar num exame, com componentes teórica (código) e prática (por exemplo, guiar fazendo um 8).

Hoje, isso parece-nos um exagero, mas não há dúvida que algumas coisas os ciclistas têm de saber e respeitar: as prioridades, a proibição de andarem lado-a-lado, etc - com particular destaque para os sinais de trânsito que lhes são dedicados. E um deles é o que refere a obrigatoriedade de circularem em ciclovias sempre que estas existam - como sucede nesta avenida de Lisboa (a Frei Miguel Contreiras).

O facto de o ciclismo ser uma actividade saudável e ecológica (e, sem dúvida, a incentivar) não deve significar que tudo é permitido a quem o pratica - e estou a pensar, também, nos que circulam nos passeios, por vezes em grupo e à velocidade que querem e lhes apetece. Pois se até os peões têm de respeitar o Código da Estrada, porque é que os ciclistas hão-de estar dispensados disso?

Socialismo democrático: a maldição de Saturno

Por Helena Matos

ISTO está a acontecer-nos a nós e não é nada como nos tinham contado. Ninguém nos diz que estamos a fazer História, não há turistas que venham de longe para ver esta nossa revolução e contudo amar gamo-la: Portugal vive hoje os dias do fim do chamado socialismo democrático. Ou seja dessa espécie de compromisso entre as liberdades dos cidadãos e um Estado que se vê como um grande cobrador de impostos e distribuidor da riqueza.

E esta não é uma pequena revolução. Infelizmente é uma revolução sem grandeza – chegamos a ela não pelo desejo de mudança mas sim porque não há dinheiro para sustentar o Estado –, sem símbolos, a não ser que por símbolos se entendam aquelas malditas linhas do juro a subir e as do rating a descer e sem narrativa pois o que nos contaram sobre revoluções passa por muros a serem derrubados, multidões na rua festejando a liberdade e presos políticos a saírem das cadeias. (...)

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Aviso

Por João Paulo Guerra

O SOCIÓLOGO norte-americano Robert Fishman escreveu no New York Times da passada terça-feira que o resgate de Portugal não era necessário e foi imposto por uma “especulação dos mercados e das agências de ‘rating’”. E mais: na opinião de Fishman, acolhida pelo NYT, as agências - "cujo papel de favorecimento da crise do ‘subprime' nos Estados Unidos foi amplamente documentado" - "forçaram o país a pedir ajuda elevando os seus custos de financiamento para níveis insustentáveis". Ora isto, segundo Fishman, deve constituir "um aviso às democracias em todo o lado".

O aviso do norte-americano, professor de sociologia da Universidade de Notre-Dame, South Bend, estado de Indiana, não será propriamente novidade para o leitor habitual desta coluna. Em textos recentes - como "Lula" (30 de Março), ‘Ratings' (4 de Abril), "Exemplo" (5 de Abril), "Já está" (7 de Abril) e "Profecia" (8 de Abril) -, aqui se alertou que o país estava a ser empurrado para os tentáculos do FMI por empresas privadas de notação financeira, sem qualquer legitimidade nem escrutínio, e com fortíssimas cumplicidades internas. A questão - que escapará a Fishman dada a mesquinhez da política portuguesa - é que o FMI vem para impor uma política draconiana de austeridade que os partidos domésticos atribuirão sempre a forças planetárias, talvez mesmo extra-terrestres, o que os isentará de culpas perante o eleitorado. Porque tudo o que se passa em Portugal tem a ver com a cobardia de quem foge às responsabilidades e vai alijando as cargas para o estado do tempo, a contaminação lá de fora, o governo anterior, o destino.

A denúncia de Robert Fishman não visa apenas a manipulação da finança. É um aviso à navegação das democracias, que já estão a ser ou serão o próximo alvo dos fundamentalistas.
«DE» de 15 Abr 11

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14.4.11

À atenção do FMI - Como é gasto o nosso dinheiro

ONTEM foi dia de grande agitação política porque houve quem se lembrasse de exigir que fosse revelado, aos portugueses, o verdadeiro estado das contas públicas.
De facto, não é pergunta que se faça - até porque existem máquinas, como a que a imagem mostra, espalhadas por todo o país, cuja função é, precisamente, proporcionar "informação ao Cidadão".
NOTA: esta, da foto, até já é um ex libris do ministério da Praça de Londres, em Lisboa. Os 50 euros são o prémio a entregar a quem descobrir, em qualquer ponto do país, um desses quiosques a funcionar.

Uma impressionante falta de bom senso

Por Helena Matos

“CONDENADO a pena suspensa por pornografia de menores. Professor pedófilo regressa à escola.” Se os menores em causa tivessem estado numa das festas de Berlusconi a chamada imprensa de referência ter-lhe-ia dado honras de capa. Assim ficou-se pelo “Correio da Manhã” e pouco mais. Contudo há neste caso dois aspectos que convém realçar. Um deles é que este professor era também membro duma Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco e que nessa qualidade era tutor do menor em causa. Ou seja repete-se aqui o perturbante padrão da Casa Pia em que quem devia proteger, abusa.

O outro aspecto prende-se com a readmissão do professor na escola. Na minha opinião as escolas frequentadas por menores devem excluir do universo dos seus trabalhadores pessoas sobre as quais recaiam ou tenham recaído acusações de pedofilia. Vão dizer-me que este princípio levaria a afastamentos injustos. Provavelmente sim. Mas tal como devemos exigir que na dúvida os tribunais não condenem (e que mesmo na certeza sejam tolerantes nas penas) temos também de exigir que, na dúvida, as escolas não contratem. Ou pelo menos temos o direito de saber qual o procedimento da escola nessa matéria.

A pessoa em causa teve muito provavelmente a pena adequada e mesmo que assim não tenha sido não se pode pedir ao tribunal que resolva o que é do domínio da sociedade, da política e dos valores: ou seja que por obra e graça da prisão afaste da escola quem não deve ser professor. A transferência para o foro da justiça do que são questões éticas quando não do mais básico bom senso, como é este caso, está a fazer de nós piores pessoas.
«Público» e «Blasfémias»

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A crónica e o taxista

Por Ferreira Fernandes

ONTEM fiz uma crónica ironizando sobre um estereótipo - pus a falar um taxista que levava um dos tipos do FMI para o hotel. Ora, na mesma página do Diário de Notícias onde publiquei a crónica, saiu uma entrevista com um taxista que levou gente do FMI ao hotel. Esse taxista real tem nome, deu a cara e não pode ser confundido com o que é dito, por infeliz coincidência, mesmo ao lado, na minha crónica.
O meu texto é inventado, como pode ser uma crónica, sublinha uma imagem preconcebida, como pode fazer uma crónica - é uma crónica que eu voltaria a escrever. Com este senão: nem as verdades que eu pretendi dizer, nem o meu direito à palavra podem de alguma forma beliscar a honra e o nome daquele homem, daquele taxista. Não beliscam, estou certo, mas quero aqui dizer quando me incomoda a simples hipótese de ter ofendido quem eu não quis e, sobretudo, não tenho direito de ofender. E quero dizê-lo apesar de ninguém me ter feito notar a possibilidade de confusão, nem me ter chegado qualquer queixa.
Escrevo estas linhas porque me basta o incómodo que senti ao ler o jornal ao imaginar a possibilidade de tal confusão. Não peço desculpas porque não tenho, nem ninguém tem, culpas. Mas quero que fique claro: aquele taxista entrevistado ao lado da minha crónica nada tem a ver com a minha crónica.
«DN» de 14 Abr 11

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13.4.11

Os nossos sabores

Por A.M. Galopim de Carvalho

OS AROMAS e os sabores prevalecentes na nossa memória, alguns já desviados da linha tradicional, são os que tivemos à mesa dos nossos pais e que ainda hoje persistem no nosso quotidiano. São os colhidos ao longo de uma vivência alentejana com fortes laços nunca interrompidos. Basta atravessar o Tejo e ir até Almada, à Cova da Piedade, ao Seixal, ao Barreiro ou ao Montijo para nos sentirmos em casa, não obstante a fronteira administrativa estar muito mais para lá. A emigração do alentejano para a capital não atravessou o gargalo do grande Rio, assentou arraiais na Outra Banda e isso sente-se no falar das gentes, na praça do mercado, onde não faltam o pão caseiro, os nossos enchidos, os queijos de ovelha, a massa de pimentão, as beldroegas, os poejos, e a hortelã da ribeira. A nossa preferência tem muito de cultural, está ligada às origens, o que não impede que reconheçamos Portugal, de Norte a Sul, como o país com a cozinha mais saborosa do mundo, opinião muito pessoal que damos com os fundamentos de quem já se sentou à mesa em muitas latitudes e longitudes. (...)
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Primeiro contacto técnico do FMI

Por Ferreira Fernandes

HOTEL Tivoli? Daqui, do aeroporto, é um tiro... Então o amigo é o camone que vem mandar nisto? A gente bem precisa. Uma cambada de gatunos, sabe? E não é só estes que caíram agora. É tudo igual, querem é tacho. Tá a ver o que é? Tacho, pilim, dólares. Ainda bem que vossemecê vem cá dizer alto e pára o baile... O nome da ponte? Vasco da Gama. A gente chega ao outro lado, vira à direita, outra ponte, e estamos no hotel. Mas, como eu tava a dizer, isto precisa é de um gajo com pulso. Já tivemos um FMI, sabe? Chamava-se Salazar. Nessa altura não era esta pouca-vergonha, todos a mamar. E havia respeito... Ouvi na rádio que amanhã o amigo já está no Ministério a bombar. Se chega cedo, arrisca-se a não encontrar ninguém. É uma corja que não quer fazer nenhum. Se fosse comigo era tudo prà rua. Gente nova é qu'a gente precisa. O meu filho, por exemplo, não é por ser meu filho, mas ele andou em Relações Internacionais e eu gostava de o encaixar. A si dava-lhe um jeitaço, ele sabe inglês e tudo, passa os dias a ver filmes. A minha mais velha também precisa de emprego, tirou Psicologia, mas vou ser sincero consigo: em Junho ela tem as férias marcadas em Punta Cana, com o namorado. Se me deixar o contacto depois ela fala consigo, ai fala, fala, que sou eu que lhe pago as prestações do carro... Bom, cá estamos. Um tirinho, como lhe disse. O quê, factura? Oh diabo, esgotaram-se-me há bocadinho.
«DN» de 13 Abr 11

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Os dias de todos os espantos

Por Baptista-Bastos

PARECE que os socialistas ficaram muito contentes com o congresso do seu partido. E o mais contente de todos eles foi José Sócrates. Ungido como salvador da pátria e inocente vítima de inimigos inclementes, ele perguntou, comovido e lacrimejante, se os seus camaradas o seguiam, o desejavam, o amavam. Em coro, congestionados de amor e devoção, mil e oitocentos congressistas gritaram que sim. A nota e o resultado estavam dados. Só faltou o ceptro, a coroa e o manto vermelho de seda e gola de arminho. Depois, foram para casa, felizes por terem cumprido, com veneração e afecto, a liturgia da consagração.
O congresso do PS não serviu para outra coisa senão como metáfora de um particular panteísmo de linguagem e de espectáculo. É sempre assim, em qualquer reunião daquela natureza, dir-se-á. Por isso mesmo é que produzem a indiferença. (...)
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Mas que "confiança" é essa?

EMBIRRO solenemente quando pessoas que não conheço de lado nenhum (especialmente se muito mais novas do que eu) me tratam por "você". Agora imaginem o que fico a pensar dos que, sem sequer me verem, se me dirigem tratando-me por "tu", como sucede nestes cartazes.
Os responsáveis desta "Esquerda de Confiança" devem achar que é fixe, que o tom de intimidade adoptado no seu discurso os torna mais próximos dos eleitores. Já se sabe que com alguns isso funciona. Mas, para mim, só reforça a imagem que tenho deles.

Ao fundo

Por João Paulo Guerra

O FMI chegou a Portugal precedido de uma previsão, do próprio Fundo Monetário Internacional, de que vinha aí o inferno: crise, recessão, ainda mais desemprego e pobreza. A previsão de Portugal ao Fundo não foi lida na palma da mão, nem nas estrelas, menos ainda nos búzios ou em borras de café: não custa nada ao FMI prever o futuro, e acertar nos tons mais carregados da previsão, quando tem a paleta na mão e a tela do futuro lhe pertence. E desta vez o FMI não veio para fazer uns retoques na pintura, uns remendos nas canalizações, uns arranjos no tecto ou no soalho. Desta vez, o FMI veio mudar o edifício de alto a baixo, veio traçar o destino deste País - que já perdeu mais independência e já regrediu muitíssimo mais pela mão dos neoliberais e de outros fundamentalistas europeus do que em sessenta anos de ocupação castelhana no tempo dos Filipes.

E é assim que o próprio FMI prevê que Portugal - governado por um pretor dinamarquês - seja o único país europeu em crise e o único da zona euro em recessão em 2012. Aos burocratas de Bruxelas não interessou nunca saber se Portugal estava a integrar-se na União e a progredir para a coesão Europeia. O que lhes interessa é a contabilidade e as carteiras de títulos das clientelas. E onde sentem um poder fraco, dócil, disponível, pronto a vergar-se, pisam com toda a dureza.

É o caso de Portugal, que nunca ergue a voz na Europa a não ser para pedir mais uns milhões para cimento, com as respectivas comissões. Em matéria de cedências, está como esteve sempre aberto. Porque, bem vistas as coisas, a receita que o FMI traz não é substancialmente diferente da que os partidos do tripé do poder têm aplicado: sacrifícios, para glória das parcerias público-privadas e da delinquência financeira.
«DE» de 13 Abr 11

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12.4.11

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ANTEONTEM, afixei aqui algumas imagens de velas de incenso que dão sorte (cada uma na sua especialidade). Não comprei nenhuma, mas veja-se (em baixo, à esquerda) o que me esperava, mesmo à saída da loja Feliz Shopping, onde elas estavam a ser vendidas.

Troca

Por João Paulo Guerra

O DR. FERNANDO Nobre foi, em tempos, um português de coração aberto ao mundo. Onde havia uma desgraça, uma calamidade, lá estava o médico português e a sua equipa a enfrentar perigos e dificuldades inauditas para salvar algumas vidas. Em circunstâncias diferentes, o dr. Fernando Nobre estaria agora no Japão e possivelmente na Costa do Marfim. Como teria estado no Chile, após o terramoto, ou no Golfo do México na sequência dos furacões, no ano passado. Acontece que o fundador e presidente da AMI trocou a sua nobre missão por uma incursão na política. Já anteriormente, tinha feito parte da comissão de apoio à candidatura de Mário Soares à presidência, mandatário do Bloco de Esquerda em eleições europeias. Mas, no ano passado, ao formalizar a candidatura à Presidência da República, Fernando Nobre mergulhou na política e, pelos vistos, gostou. Tanto mais que nas presidenciais considera que obteve uma vitória "tremenda".

A verdade, porém, é que a única vitória de Nobre nas presidenciais foi aprofundar a derrota do candidato do PS. Sendo assim, a candidatura agora anunciada a deputado, e até mesmo a presidente da Assembleia da República nas listas do PSD, não constitui grande surpresa. Outra vitória auto-proclamada foi a dos votos obtidos supostamente confirmarem que "a cidadania está viva". Ora a troca mais recente só dá razão aos que crêem que os votos têm, mais que um valor, um preço para quem os conquista.

Quando aqui há muitos anos, à beira de eleições e com sondagens a darem a vitória ao PSD de Cavaco Silva, Gilberto Madail trocou a lista do PS pela do PSD, o inigualável Carlos Candal sentenciou que se estava perante um caso de "badalhoquice política". O que diria Candal da candidatura de Fernando Nobre como cabeça-de-lista pelo PSD?
«DE» de 12 Abr 11

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Chamar o patrão e deixá-lo à espera

Por Ferreira Fernandes

A COISA pode ser vista desta forma: acusa-se os partidos de não se abrirem à sociedade civil e, agora, que temos um partido a convidar um independente, chovem críticas?!!!
E a coisa pode ser vista desta forma: um cidadão com responsabilidades políticas maiores que as de simples eleitor (ainda há meses foi candidato à Presidência da República), que há semanas disse que não aceitava o convite de nenhum partido, aceitou?!!!
O caso Fernando Nobre daria para passar uma bela semana de discussão acalorada como a de dois compadres jogando cartas numa soalheira aldeia da costa alentejana. Daria, condicional. Mas é melhor não dar. Não leram as notícias? Aqueles compadres, aquela aldeia e o País inteiro estão falidos. Ora quem não tem dinheiro não deve ter o vício de estéreis discussões acaloradas. Não percamos tempo a glorificar a abertura de espírito, se é que há um, do convite. Nem a insultar o oportunismo, se é que há um, no aceitar do convite...
Chega hoje a Lisboa o FMI, porque se considerou inevitável e imprescindível que chegasse, e esse FMI vai ter de esperar várias semanas até ter um interlocutor com quem possa, mesmo, decidir. Essa, sim, uma discussão útil: como é possível a vida política de um país ter o ritmo de dois compadres jogando cartas numa soalheira aldeia da costa alentejana?
«DN» de 12 Abr 11

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11.4.11

Passatempo de 11 Abr 11

A FOTO de cima mostra uns senhores a trabalhar: são contratados para, de vez em quando, darem um arranjo nos canteiros-esterqueira da finíssima Av. Guerra Junqueiro, em Lisboa.
A seguinte, mostra o aspecto de um jardim na Av. António José de Almeida.
Sabendo-se que a de baixo foi tirada entre os dois locais, pergunta-se: onde se localiza?

A resposta será aqui dada ao fim da tarde, com a divulgação de mais imagens.
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Actualização: a resposta já está disponível [aqui].

Eu, treinador de bancada

Por Ferreira Fernandes

PODE parecer paradoxal o que vivemos, agora, em relação ao que vai acontecer depois do dia 5 de Junho. Como sabemos já o que provavelmente vai ser - vamos ter um governo em que o PS e o PSD vão estar juntos ou, pelo menos, amancebados em acordos -, parece um desconchavo que, nas próximas oito semanas, os dois se atirem um ao outro com violência. Mas só lhes ficará bem lutar tanto por um poder que ficou tão diminuído (outros, que não os partidos portugueses, vão mandar mais). Enfim, que façam campanhas duras, com a prudência de não dizerem o irremediável um do outro, como compete a dois sócios no futuro próximo. Cacem votos - como parece ser a intenção da notícia de ontem, com a contratação, por parte do PSD, de Fernando Nobre. Se acham que eleitoralmente isso vale, façam-no, mas é menor.
O importante é o depois do 5 de Junho. Mais do que contratações para efeitos imediatos, os dois partidos deviam municiar-se de cabeças pensadoras. Era bom encontrá-las novas, o que ajudava na limpeza de pesos mortos - um dos efeitos positivos das crises é permitir ser audaz nos cortes do que não presta e ficar atento a gente capaz (as boas empresas fazem isso, por que não os partidos?).
Não prescindir de gente experiente é importante: as perdas já anunciadas de Jaime Gama e Manuela Ferreira Leite são graves. Inadmissível, porém, é não contar com gente crítica. Falo, claro, de Medeiros Ferreira e Pacheco Pereira.
«DN» de 11 Abr 11

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O Circo

Por A. M. Galopim de Carvalho

ENTRE as muitas atracções que alegraram a feira de São João, em Évora, ao longo dos anos, o Circo (estou a lembrar-me do Circo Mariano) foi sempre, para mim, o acontecimento mais importante de todos. Sabia-se na cidade logo que chegava, uns dez ou quinze dias antes, o tempo necessário para montá-lo. O Circo aparecia-me como um mundo maravilhoso de surpresas e de liberdade. Vir de longe, ficar uns tempos e abalar para longe, para o desconhecido, dormir ao relento, ou quase, não ir à escola e ter animais exóticos para convívio diário, eram algumas das coisas que nele me encantavam. Logo que chegava, e eu sabia-o de imediato, começava a rondar-lhe por perto. Passados um dia ou dois, na sequência de umas ajudas que voluntária e espontaneamente lhe passava a oferecer, lá me integrava no grupo, levando tábuas, estendendo pano, puxando cordas. Invejava, sobretudo, a vida das crianças filhas da gente do Circo, pela liberdade que tinham, sem aquela tutela constante dos pais, que eu bem conhecia:(...)

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