Por Antunes Ferreira
DECIDIDAMENTE, e plagiando embora o anúncio que a televisão repetiu até à exaustão, já lá vão uns anos, a tradição já não é o que era. Tem dúvidas? Um só exemplo basta para confirmar a asserção. E ele aconteceu apenas ontem, com Londres em fundo. O local da ocorrência, como rezaria qualquer participação policial (longe vá o agoiro) foi a varanda do Palácio Real de Buckingham.
Em vez do único beijo nupcial que constava do protocolo da cerimónia do enlace entre o príncipe William, filho de Charles e Diana, e Catherine Middleton, vulgo Kate (e Catarina para o José Rodrigues dos Santos que reportava o acontecimento em directo desde a capital britânica…) os recém-casados trocaram… dois. Eu não vi, mas disse quem viu que o segundo foi muito mais entusiástico do que o primeiro que fora o único programado. Excelente e excitante.
Estas estórias de príncipes que casam com plebeias não são de agora: são de (quase) sempre. A celebérrima dona do sapatinho de cristal, ou seja a Gata Borralheira, Cinderela para os mais chegados, também se deu ao luxo de unir os destinos aos do Príncipe cujo nome é um mistério. E a efabulação é velha e relha, apesar de se dizer que a sua versão mais conhecida é de 1697 e da autoria do francês Charles Perrault. Mas, parece que já existia na China, por volta de 860… a.C.
Se bem que estejamos apenas em 2011, muito boa gente considera o enlace de ontem o casamento do século. A antecipação é prática que não pode ser considerada despicienda, mas tanto, não; a futurologia só é possível, depois dos bons e velhos tempos da pitonisa de Delfos, aos políticos mais audazes e clarividentes. Não obstante, há quem se deite a congeminar e a afirmação aí fica, procedendo-se à respectiva ratificação, lá para as alvoradas de 2100. Boa gente e gentil prenúncio. De hipotético divórcio, nem pó. Também isso se dizia dos progenitores do casadinho de fresco e… foi o que se viu.
Os pormenores do acontecimento motivaram as mais diversas congeminações. Entre estas, o mistério do vestido da noiva foi talvez a mais importante. Mantido em sigilo absoluto (nem o Wikileads conseguiu quebrá-lo), só foi desvendado quando a nubente surgiu a público com o vestido – vestido. Era um dos temas mais discutidos desde o anúncio formal do noivado.
Descobriu-se ontem, de acordo com os órgãos de informação, que não era um exemplar do guarda-roupa de um conto de fadas, mas um encontro feliz entre a modernidade da Casa McQueen e a sobriedade que se esperaria de alguém sem ascendência nobre. Simbolicamente, foi uma homenagem ao trabalho artesanal britânico com aplicações de renda feitas à mão pelos alunos da Royal School of Needlework.
O planeta seguiu, pois, os passos da cerimónia em directo e versão integral; tanto quanto se sabe, as televisões ter-se-iam empenhado em transmitir a noite de núpcias para que as gentes tivessem realmente a verdade total do acontecimento. Mas, hélas, dizem os dos boatos e coscuvilhices que o casal terá exigido cachets fora de propósito que, a serem pagos, deixariam os proventos do Cristiano Ronaldo a anos-luz de distância.
Donde, houve que satisfazer-se com o possível. O bom é o inimigo do óptimo, como se sabe. Porém, os mais esperançados não desistiram às primeiras. Sem intenções obscenas, muito menos durty minds (em Londres fala-se inglês), acalentavam a possibilidade de as negociações continuarem: água mole em pedra dura, tanto dá até que fura.
ADENDA:
Mas, o melhor do dia estava para vir. No jornal da noite da RTP, o enviado especial a Londres, João Adelino Faria, quando fazia o ponto de um dia memorável e que ele acompanhara segundo-a-segundo, referiu que a economia britânica também ganhara muito com o acontecimento. E acrescentou, como exemplo que se tinham vendido milhares de preservat..., emendando de imediato e sem pestanejar - repórter sofre, mas aguenta -, presentes e lembranças. Essa sim, essa eu vi e ouvi...
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