O desastre da estrada de Borba originou uma série de notícias, todas elas glosando o tema “Qualquer dia há ali uma desgraça, mas todos dizem que não é com eles!” — e Lagos não foi excepção, tendo a famigerada cratera da D. Ana, com quase 10 anos de existência, merecido reportagens da TVI e do “Correio da Manhã”. Foi à CML que os jornalistas se dirigiram, tendo-lhes sido dito que é ao Governo e não à autarquia que compete a resolução do problema. Tudo bem; mas podiam ter perguntado por que razão é que, em 2013, uma placa ali colocada rezava: “CÂMARA MUNICIPAL DE LAGOS / ZONA EM OBRAS”; e também podiam ter questionado porque é que, em 2015, a APA e a CML gastaram ali, nas “melhorias” da praia, quase 2 M€, sem que a rua (que também dá acesso ao areal) tenha merecido um mínimo de atenção.
Mas deixemos isso, e vamos até Sintra ouvir uma proveitosa história contada pelo nosso velho amigo Prof. Galopim de Carvalho:
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«Estive ontem com um grupo de alunos e respectivos professores junto das pegadas de dinossáurios da Praia Grande. E estive, como se costuma dizer, «com o coração ao pé da boca», desejoso de tirar dali especialmente as crianças. Uma parte da camada de calcário, com perto de uma dezena toneladas, ESTÁ PRESTES A RUIR.O projecto de reutilização da escada que liga a Praia à estrada concebeu, e bem, um pequeno patamar, frente a um dos trilhos, com capacidade para uma dúzia de adultos. Pois é precisamente sobre as cabeças de quem ali estiver que irá cair, SUSPEITO QUE A QUALQUER MOMENTO, a dita porção de rocha.Já há mais de uma quinzena de anos que solicitei o parecer de um técnico do LNEC, que não só confirmou os meus receios como indicou o tipo de intervenção a fazer. Desde então, as correspondentes autoridades têm conhecimento, mas nada fizeram. Esta vulnerabilidade representa, ainda, um risco latente para os utilizadores desta escada e dos que, cá em baixo, frequentam a praia. Nada se fez, para além da informação do perigo latente, em dois painéis afixados no topo da escada».
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Isto foi escrito e divulgado no dia 16 de Novembro. A 26, a LUSA noticiava que, no seguimento desse alerta, um geólogo da autarquia havia visitado o local e considerado que NÃO HAVIA PERIGO.
Não se conformando, o Prof. Galopim voltou a insistir junto da Câmara, conseguindo uma nova vistoria — dessa vez com a presença, também, da APA e da Capitania de Cascais... que lhe deram razão! Em face disso, Basílio Horta, Presidente da CMS, não hesitou:
«Determino o imediato encerramento da arriba sul da Praia Grande do Rodízio (Sintra) devendo os serviços adotar de imediato as necessárias medidas de execução do presente Despacho».
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Essa ordem, dada no dia 28, foi cumprida no dia 29 — e no dia 30 deu-se o desabamento!
Aqui chegado, e em vez de enfadar os leitores com os lugares-comuns que se escrevem nestes casos, vou antes ler a “Crónica de uma Morte Anunciada”. Não é boa ideia?
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