30.12.18

Apontamentos de Lagos



A Associação Sócio-Profissional dos Guardas-Nocturnos de Lagos escreveu-me há uns anos (quando comecei a falar destes problemas) dizendo-me que, por vezes, apanham estes vândalos e os entregam à PSP, que elabora o respectivo auto. No entanto, o Tribunal depois manda-os em paz.
Não admira, pois o mesmo Tribunal está assim há anos: grafitado POR DENTRO (!) com assinatura e tudo!

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28.12.18

Ainda o caso da Praia Grande (no "Correio de Lagos" de Dez 18)

O desastre da estrada de Borba originou uma série de notícias, todas elas glosando o tema “Qualquer dia há ali uma desgraça, mas todos dizem que não é com eles!” — e Lagos não foi excepção, tendo a famigerada cratera da D. Ana, com quase 10 anos de existência, merecido reportagens da TVI e do “Correio da Manhã”. Foi à CML que os jornalistas se dirigiram, tendo-lhes sido dito que é ao Governo e não à autarquia que compete a resolução do problema. Tudo bem; mas podiam ter perguntado por que razão é que, em 2013, uma placa ali colocada rezava: “CÂMARA MUNICIPAL DE LAGOS / ZONA EM OBRAS”; e também podiam ter questionado porque é que, em 2015, a APA e a CML gastaram ali, nas “melhorias” da praia, quase 2 M€, sem que a rua (que também dá acesso ao areal) tenha merecido um mínimo de atenção. 
Mas deixemos isso, e vamos até Sintra ouvir uma proveitosa história contada pelo nosso velho amigo Prof. Galopim de Carvalho:
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«Estive ontem com um grupo de alunos e respectivos professores junto das pegadas de dinossáurios da Praia Grande. E estive, como se costuma dizer, «com o coração ao pé da boca», desejoso de tirar dali especialmente as crianças. Uma parte da camada de calcário, com perto de uma dezena toneladas, ESTÁ PRESTES A RUIR.O projecto de reutilização da escada que liga a Praia à estrada concebeu, e bem, um pequeno patamar, frente a um dos trilhos, com capacidade para uma dúzia de adultos. Pois é precisamente sobre as cabeças de quem ali estiver que irá cair, SUSPEITO QUE A QUALQUER MOMENTO, a dita porção de rocha.Já há mais de uma quinzena de anos que solicitei o parecer de um técnico do LNEC, que não só confirmou os meus receios como indicou o tipo de intervenção a fazer. Desde então, as correspondentes autoridades têm conhecimento, mas nada fizeram. Esta vulnerabilidade representa, ainda, um risco latente para os utilizadores desta escada e dos que, cá em baixo, frequentam a praia. Nada se fez, para além da informação do perigo latente, em dois painéis afixados no topo da escada».
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Isto foi escrito e divulgado no dia 16 de Novembro. A 26, a LUSA noticiava que, no seguimento desse alerta, um geólogo da autarquia havia visitado o local e considerado que NÃO HAVIA PERIGO. 
Não se conformando, o Prof. Galopim voltou a insistir junto da Câmara, conseguindo uma nova vistoria — dessa vez com a presença, também, da APA e da Capitania de Cascais... que lhe deram razão! Em face disso, Basílio Horta, Presidente da CMS, não hesitou: 
«Determino o imediato encerramento da arriba sul da Praia Grande do Rodízio (Sintra) devendo os serviços adotar de imediato as necessárias medidas de execução do presente Despacho». 
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Essa ordem, dada no dia 28, foi cumprida no dia 29 — e no dia 30 deu-se o desabamento!
Aqui chegado, e em vez de enfadar os leitores com os lugares-comuns que se escrevem nestes casos, vou antes ler a “Crónica de uma Morte Anunciada”. Não é boa ideia?



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Só Feridos Ligeiros

Por Joaquim Letria
Há um par de anos sofri um acidente em que me parti todo. O balanço foi de 4 costelas e três vértebras partidas, um pulmão furado e um pneumotórax. No dizer de hoje da protecção civil que ouvimos a falar para nós, de boina ao lado, nos noticiários, não passei dum ferido ligeiro.
 Levado de ambulância pelo INEM, ao qual estou eternamente grato, para as urgências do Hospital de Santa Maria, ao qual também fiquei profundamente agradecido, deparei-me então com os cuidados devidos ao meu estado: imobilizado de costas, a olhar fixo para o tecto, durante cinco dias, nos cuidados intensivos, até que a minha condição respiratória estabilizasse a ponto de permitir que me operassem a coluna de modo a poder recuperar, como felizmente veio a acontecer, por muito que isso tenha custado a alguma gente.
Esta cirurgia criou-me ainda mais dívidas de gratidão que nunca poderei pagar: à “equipa da coluna” de Santa Maria, ao cirurgião Dr. António Tirado, aos enfermeiros e enfermeiras que me ajudaram ao mesmo tempo que enfrentavam situações dramáticas com outros pacientes que por respeito não descrevo. E tenho ainda a agradecer aos técnicos e auxiliares que formam o todo duma situação destas num hospital público do Serviço Nacional de Saúde sem apoios, sem estímulos, mal pagos, mal tratados por um sistema mal agradecido.
Enfim, o que me fizeram foi um verdadeiro exagero para um ferido ligeiro, poderia eu dizer agora, a pensar em algumas vítimas do acidente do eléctrico da Carris em Lisboa, imobilizados, com traumas oculares, motores e cerebrais que víamos serem enfiados nas ambulâncias dos bombeiros que os conduziam para os três hospitais de Lisboa por onde eram distribuídos. E o responsável pelos operacionais (como agora dizem para não sabermos de quem se trata) informava os repórteres que se tratava tudo de feridos ligeiros. Ainda bem…  mesmo se desta situação decorrerem alguns paraplégicos, cegos ou lesionados cerebrais. Tudo ligeiro.
P.S.- Um Natal muito feliz e uma entrada a pés juntos em 2019 são os meus votos muito sinceros.
Publicado no Minho Digital

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27.12.18

Apontamentos de Lagos

Minha colaboração no Correio de Lagos deste mês
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Lagos é um caso perdido (mas típico) em termos de facciosismo partidário, e este é um bom exemplo:
Perante esta situação, uma pessoa amiga, defensora do "poder" (sentindo que eu estava a pôr em causa o Partido — que é mais importante do que a vida dos cidadãos), quis "desvalorizar" esta situação, dizendo-me que, quase de certeza, os cabos estavam desligados.
Eu, então, sugeri-lhe que lá metesse a mão, para me tranquilizar.
Porque será que recusou?

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SNS e ideologia

Por C. Barroco Esperança

Quem entrou na função pública sem a mínima assistência médica ou medicamentosa, o que sucedeu ainda na maior parte da década de sessenta do século passado, exceto para a tuberculose, com um desconto obrigatório, sentiu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), preconizado pelo MFA, e institucionalizado na Lei nº 56/79, universal e gratuito, era a continuação da Revolução de Abril, que conduziu Portugal aos melhores índices de saúde dos países civilizados, deixando os mais vergonhosos lugares na mortalidade infantil e materno-fetal terceiro-mundistas a que se resignara.
Foi, aliás, na educação, com apenas quatro anos de escolaridade obrigatória, e na saúde, que as maiores conquistas foram alcançadas.
Foi difícil instituir o SNS, onde tubarões da medicina, alguns do PS, tudo fizeram para o impedir. Opuseram-se os deputados do PSD e do CDS, incluindo Marcelo Nuno Rebelo de Sousa, homónimo do atual PR, o que não invalida o papel decisivo do secretário de Estado da Saúde, Albino Aroso, que defendeu a saúde materna e reprodutiva da mulher, com forte animosidade dentro do seu partido (PSD).
A Lei de Bases de 1990, com Cavaco Silva, travou a gratuitidade do SNS estabelecendo o carácter “tendencialmente gratuito”, com introdução de taxas moderadoras, e o tempo encarregou-se de a desatualizar, pelo que a sua atualização se impõe.
Nunca tantos deveram tanto a uma lei, a que o nome do ministro, António Arnaut, ficou justamente ligado.
Há, no entanto, algumas perplexidades que rodeiam a nova Lei de Bases da Saúde que a ministra Marta Temido, com notável currículo académico e sólidos conhecimentos do setor, apresentou.
- Surpreende que a presidente da Comissão de Revisão da Lei de Bases da Saúde, Maria de Belém Roseira, depois de ter apresentado o seu estudo pretenda pressionar a ministra a executar as suas propostas como se a Comissão se mantivesse depois de as apresentar, não tivesse meros efeitos consultivos e devesse ser totalmente aceite por uma ministra que nunca esteve ligada ao setor privado da saúde e é insuspeita de defender interesses de grupos privados.
- Surpreende o PR, sem funções executivas, a exercer uma pressão indevida ao querer que a lei, ao contrário da do consulado de Cavaco Silva, tenha o apoio dos dois partidos mais representativos do espetro político (só falta referir-se ao PSD).
Já é tão difícil contornar os interesses parasitários e ideológicos que querem transformar o SNS num mero pagador da medicina privada e da de IPSSs, que se dispensava o ruído do PR e da ex-candidata presidencial que ornamentou a última corrida a Belém.
A saúde de todos é incompatível com muitos interesses e, sobretudo, com uma ideologia neoliberal.
Ponte Europa / Sorumbático

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24.12.18

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Tenho uma enorme colecção de anúncios que, sendo hoje em dia considerados "politicamente incorrectos", ninguém se atreveria a publicar. O curioso é que não são tão antigos como possa parecer... Atendendo à quadra, começo por estes dois. Estão preparados para mais?

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23.12.18

Pois é...


Muitas pessoas vivem numa espécie de "Planeta Marvel", em que tudo se resume aos BONS (os do seu partido) e aos MAUS (os outros, os do "inimigo").

Tropeçamos nisso todos os dias, e vamos continuar a tropeçar, porque o Ser Humano é mesmo assim.

O problema só é grave quando a cegueira leva a negar o óbvio, a torcer a verdade ou, no mínimo, a omiti-la. Daí até à desonestidade intelectual vai um pequeno passo — e é com tristeza que vejo alguns amigos prontos a dá-lo.

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22.12.18

"FELIZ NATAL"

Por A. M. Galopim de Carvalho
É difícil afastar das festividades desta quadra natalícia (convertidas num consumismo desenfreado que, embora compreenda e tenha por inevitável, me desgosta) tanta dor que   grassa por este nosso mundo.
Este flash de  fim de vida, intensamente estampado nesta excelente montagem fotográfica de Jorge Vieira, cala bem no fundo da nossa sensibilidade, não pela sombra do companheiro que partiu, já liberto e descansado das dores do corpo e da alma, mas pela irreversível e imensa solidão de quem ficou.
Tudo dói na crueza desta imagem. É a expressão no rosto da velha senhora, é o seu cabelinho ralo e desalinhado e o seu corpo, que se adivinha ressequido, escondido numa roupa que, por isso, ficou vários números acima. São os sapatos e as meias, de quem não tenciona sair à rua. É aquela mão descarnada e é, ainda, a toalha, grande demais para a pequena mesa a dois, agora dobrada e a dizer que, estendida, serviu uma família inteira que se esfumou. Pelos vincos bem marcados, esta toalha, talvez de linho, que ela própria bordou em tempos de jovem casadoira, a juntar ao enxoval, mostra que acabou de sair de um velho baú, com anos e anos de dobrada e adormecida ao lado de um saquinho de alfazema...

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Pois é...

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Uma ilusão-de-óptica... mas não só

O quadrado A é cinzento escuro e o B é cinzento claro. No entanto, ao estar abrangido pela sombra projectada pelo cilindro, o quadrado B fica tão escuro como o A.
Só acreditei quando limpei tudo à volta, e coloquei um ao lado do outro:
É uma boa metáfora para os que vêem o mundo a preto-e-branco...

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21.12.18

Que Europa é esta?!

Por Joaquim Letria
A gente já não acredita no Brexit, na Sra. Teresa May, nem acreditamos na França de hoje e dificilmente podemos levar a sério o presidente Macron depois das cedências às manifestações e protestos dos coletes amarelos e dos jovens estudantes liceais. Temos igualmente dúvidas acerca da A.K.K., a próxima substituta de Angela Merkel, e desdenhamos daquela tribo ridícula e incompetente que rodeia o sr. Juncker e os outros funcionários e burocratas da União.
Que Europa temos nós, afinal de contas!? Temos uma Europa que é um rosário de hesitações inqualificáveis, contradições de bradar aos céus, erros estratégicos e recusas sucessivas de encarar a realidade, tudo em acumulações nos Conselhos Europeus ou mesmo em simples declarações de algumas das mais importantes personalidades da hierarquia europeia.
Há quem se interrogue sobre a perversidade ou a ambição enorme de certos líderes, sobre a competência e a integridade de outros, ou acerca do desfalecimento político das gerações dominantes.
Os resultados, manifestados sem dúvidas nos elementos da evolução da economia europeia, demonstram que se continua a levar a cabo uma política auto-destrutiva que caracteriza a pouca inteligência de quem se não preocupa com os danos próprios desde que estes possam ser inflingidos a outros.
O problema não se resolverá com as políticas actualmente a serem aplicadas, nem poderemos esperar com razoável esperança os erros que nos são dados ver com suficiente clareza a ponto de contrariar a nossa razão.
Publicado no Minho Digital

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20.12.18

Feridas da guerra colonial

Por C. Barroco Esperança
A guerra que o desvario de um ditador fascista e os interesses da CUF e outras empresas alimentaram durante 13 anos deixaram feridas cujas cicatrizes se mantêm nos povos que lutaram pela autodeterminação, nos militares obrigados a combater numa guerra injusta e inútil e nos portugueses que, depois da longa guerra, foram obrigados a deixar os seus haveres numa debandada inevitável nas grandes convulsões.
É preciso não ter sentimentos para ignorar os dramas do regresso de muitos portugueses e a vinda de alguns que nunca tinham vindo a Portugal. Foi a catástrofe comum a todos os países colonialistas, o destino fatídico de um milhão de portugueses, depois da morte de 7481 jovens, 1852 amputados, 220 paraplégicos e mais de 50 mil sobreviventes que transportam ainda os traumas e a memória dolorosa da guerra sem sentido.
Há, no entanto, numerosas tragédias dentro da tragédia que foi a guerra colonial, em três frentes, mulheres e namoradas que abandonaram os involuntários emigrantes armados, filhos que esqueciam o pai, pais que envelheceram à espera do regresso, algumas vezes substituído por um telegrama a anunciar a morte “ao serviço da Pátria”, na pátria alheia, e o drama irreparável de quem viu morrer alguém com a bala que disparou.
É difícil fazer a catarse de todos os dramas e compreende-se a necessidade de falsificar a História para aliviar a consciência, para esquecer os que morreram do outro lado e, sobretudo, dos que, aliciados ou coagidos, lutaram ao lado do exército de ocupação e lá ficaram provisoriamente vivos.
É tempo de contar a verdade, porque “só a verdade liberta”, e dizer às gerações que não sofreram o exílio forçado para uma guerra que devia ter sido evitada, com proveito para todos, o que verdadeiramente aconteceu.
É tempo de Portugal revelar os países que forneceram armas à ditadura, as armas proibidas foram usadas, os produtos lançados dos aviões e helicópteros e os massacres cometidos contra populações indefesas.
Bastavam os massacres de Batepá, em S. Tomé, e o de Wiriyamu, em Moçambique, este instigado pela Pide, para cobrir de opróbrio um regime cujo branqueamento está em curso.
Em 16 de dezembro de 1972 pelo menos 385 pessoas foram mortas pela 6ª Companhia de Comandos da ditadura salazarista, sem contar os dos três dias seguintes na "limpeza" do local, ou nos interrogatórios posteriores, na Pide.
Foi há 46 anos. É tempo de contar a verdade.
Ponte Europa / Sorumbático

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18.12.18

Apontamentos de Lagos - «Quanto Vale uma Vida?»

Fez 4 anos, no passado dia 17 de Outubro, que alguém foi atropelado mortalmente na Rua Lançarote de Freitas. As estatísticas oficiais da sinistralidade rodoviária nada mais nos dizem — nem o local exacto, nem as circunstâncias, nem sequer o sexo, a idade ou a nacionalidade da vítima. 

Mas vá-se até lá, observe-se a rua, e repare-se no que devia envergonhar qualquer lacobrigense, responsável ou não: uma centena de metros, com uma faixa de rodagem de cerca de 4 m de largura e dois “passeios” vergonhosos (o da direita chega a ter menos de 20 cm!), que, de tão estreitos, não se podem utilizar — na prática, pode-se dizer que são inexistentes! 
Se foi nesse troço, ou não, que se deu o desastre (aquilo a que os portugueses gostam de chamar “acidente”), não sabemos. O que sabemos é que a rua, que actualmente tem apenas um sentido, é suficientemente larga para comportar, em toda a sua extensão, passeios dignos desse nome. E também sabemos que prover espaço para os peões circularem em segurança é uma das TAREFAS MAIS BÁSICAS de qualquer autarquia, pois está em jogo a VIDA das pessoas. Então, estão à espera de quê? Que morra ali mais gente? Estaremos enganados se aventarmos que essa obra custaria uma pequena fracção do que todos os anos se gasta em festas e bailaricos?
Quanto à resposta à pergunta que está em título... responda quem souber.
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CMR - Colaboração no CORREIO DE LAGOS de Nov 18

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17.12.18

Apontamentos de Lagos - «De Esopo aos nossos dias»


Alguns dos mais saborosos capítulos de “D. Quixote de la Mancha” são os que contam como Sancho Pança governou a sua Ilha Barataria — o que fez com grande sucesso, não só por ter usado abundantemente o senso-comum que o caracterizava, como por ter seguido à risca os conselhos do seu estimável amo.

Ora, e no que a estes respeita,o autor salienta que o “Cavaleiro da Triste Figura” só disparatava quando estavam em causa assuntos de cavalaria, sendo muito assisado no respeitante a todos os outros. E esses sábios conselhos versavam tudo e mais alguma coisa, desde a forma correcta de andar, comer, vestir, cavalgar e falar, até à higiene das unhas, sendo um perfeito manual de comportamento que, em muitos aspectos, nada perdeu em actualidade.

Ora veja-se este:
«Não faças muitas leis, e, se as fizeres, procura que sejam boas, e sobretudo que sejam respeitadas e que se cumpram; que as leis que se não respeitam é o mesmo que se não existissem; antes mostram que o governante que teve discrição e autoridade para as promulgar, não teve valor para fazer com que se cumprissem, e as leis que atemorizam e não se escutam vêm a ser como o cepo, esse rei das rãs, que ao princípio as espantou, e depois menosprezaram e treparam para cima dele».
Trata-se da fábula de Esopo “O Rei das Rãs”, com mais de 2600 anos, que nos fala de umas rãs que, irritadas com a anarquia que reinava lá no charco, pediram a Zeus que lhes mandasse um rei que metesse ordem na casa. Não as levando a sério, o Rei dos Deuses atirou-lhes um cepo que, caindo no meio da água com grande fragor, as assustou e manteve em respeito. No entanto, “foi sol de pouca dura” pois, a breve trecho, todas viram que daquela “autoridade-da-treta” não vinha qualquer perigo e, saltando-lhe para cima, voltaram à anarquia habitual.
Como todos sabemos, a fábula não só é certeira como é perfeitamente actual, pois não faltam povos com uma atracção irresistível pelas leis-da-treta, vivendo uma farsa colectiva que abrange o legislador que as produz, o cidadão que as desrespeita, as autoridades que não actuam e os tribunais que também não ajudam muito.
Quanto a nós, consolemo-nos com o facto de que essa comédia não é só de agora, e muito menos uma especialidade caseira — note-se que, já no século XIX Mark Twain gozava com a inércia da polícia de Nova Iorque quando, em “O Pretendente Americano”, propunha que se substituíssem os respectivos agentes por MORTOS, alegando que estes fariam o mesmo que os VIVOS... e por metade do preço.
Só as limitações de espaço me impedem de relatar os inúmeros casos que conheço, de terras com autoridades a mais (que se estorvam, ou até se anulam umas às outras), de outras com autoridades a menos (ou sem meios), e de outras, ainda, com autoridades em número correcto... mas cuja principal actividade consiste em assobiar para o lado. 
Ah!, reparo agora, mesmo no fim do espaço disponível, que dissertei sobre muita coisa, mas não falei cá da terra, o que seria o corolário de tanto circunlóquio. Mas não é grave; talvez possa deixar essa parte ao cuidado dos leitores, não acham?
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C. M. Ribeiro / "Correio de Lagos" de Novembro de 2018

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16.12.18

CONVERSA COM O PRESIDENTE TEÓFILO BRAGA, EM TORNO DO POSITIVISMO DE AUGUSTE COMTE

Por A. M. Galopim de Carvalho
Foi no Alto de São Bento, em Évora, uma colina essencialmente granítica, que a Autarquia está a valorizar como um núcleo museológico, envolvendo áreas do conhecimento que vão da Geologia à Etnografia, passando pela Arqueologia, pela Botânica e pela História.
O dia começara ameno, depois de uma daquelas raras noites tropicais que, lá de quando em vez, ocorrem em terras alentejanas. Não havia ninguém por perto, nem vento, e o silêncio só era quebrado aqui e ali pelo cantar de um passarinho.
Eu estava a ultimar a observação da superfície rochosa do topo deste pequeno relevo, onde no passado, cinco moinhos de vento transformaram cereal em farinha. (...)
Texto integral [AQUI]

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14.12.18

A assobiar ou a ouvir o cochicho

Por Joaquim Letria
Vocês repararam bem naquela notícia que dizia que o presidente da Câmara do Montijo abre e lê a correspondência de todos os seus vereadores e de outros!? Notícia, aliás, que o distinto autarca não só confirmou como justificou, qualificando a sua decisão e acção como um muito democrático gesto em favor da transparência!? Pois!
No Montijo, o PS, agremiação a que pertence o cavalheiro, tem fama e proveito da maior seriedade, desde que ali perto o procuraram atingir com a vergonha do Free Port. Se bem se recordam, o Free Port é um enorme out let de luxo em Alcochete, que fica próximo do Montijo, cujo pagamento da licença para a construção numa antiga fábrica de pneus uns senhores ingleses diziam ter sido feito por baixo da mesa àquele senhor que deixou o país na miséria e hoje diz viver com o dinheiro que um amigo do coração  lhe dá para poder habitar na casa dum bilionário angolano muito amigo dum primo também arguido no processo da Operação Marquês. Agora andam a ver se atingem a agremiação com os negócios do novo aeroporto e a transferência da base aérea, tudo a verificar-se precisamente no Montijo do Sr. Canta.   
Além de ler a correspondência dos outros, este ilustre autarca do Montijo, Nuno Canta de seu nome, também manda apagar as gravações das sessões camarárias dando origem a uma grande trapalhada com as actas.
Que engraçado que eu acho observar a democracia e ver  o respeito constantemente manifestado e seguido pelas leis do nosso país, assistindo à tranquilidade com que grandes democratas como estes cometem irregularidades e crimes, ficando uns  a assobiar para o lado e outros  a ouvir alguém a trautear o  cochicho.
E agora pergunto eu: violação de correspondência não é um crime previsto na lei?! O Ministério Público anda distraído?! Os juízes continuam em greve, que não deviam fazer mas que é mais do que justa?!
Publicado no Minho Digital

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13.12.18

E a derrocada aconteceu como eu previra

Foto: Sintra Notícias
Por A. M. Galopim de Carvalho
Na sequência do alerta que lancei no passado dia 16, o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, com base na vistoria conjunta desta Câmara, da Agência Portuguesa do Ambiente IP e da Capitania do Porto de Cascais, acaba de proferir o Despacho nº 65-P/2018. Que reza:
“Determino o imediato encerramento da arriba sul da Praia Grande do Rodízio (Sintra) devendo os serviços dotar de imediato as necessárias medidas de execução do presente Despacho.
Paços do Concelho de Sintra, 28 de novembro de 2018
Assina o Presidente, Dr. Basílio Horta
A escada foi fechada no dia 29 e, no dia 30 deu-se a derrocada,
mesmo por cima do patamar concebido como ponto de observação das pegadas, mas, felizmente, a escada já estava interdita ao trânsito. 

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Allah Akbar!

Por C. Barroco Esperança

“A jihad [guerra santa] é o teu dever sob qualquer governante, seja ele ímpio ou devoto” (hadith, geralmente invocado para justificar ataques aos infiéis e apóstatas).
“Deus é grande” não é só o grito selvagem que precede uma carnificina, é a apoteose da demência mística, o sintoma da intoxicação divina pelo mais boçal dos livros sagrados.
Deus podia ter sido uma ideia interessante, mas converteu-se num pesadelo cujo nome, em árabe, remete para o mais implacável dos homólogos que alimentam o proselitismo dos desvairados da fé. Alá consegue ser o pior dos avatares monoteístas.
O islamismo, plágio tosco do judaísmo e do cristianismo, ditado pelo arcanjo Gabriel ao “beduíno analfabeto e amoral”, como lhe chamou Atatürk, ao longo de vinte anos, entre Meca e Medina, deu origem à mais sombria mutação do deus abraâmico.
O islamismo já foi mais tolerante do que o judaísmo e o cristianismo, o primeiro com a única vantagem de não ser prosélito, mas a decadência da civilização árabe transformou o monoteísmo do condutor de camelos no mais implacável e anacrónico dos três, e fonte da raiva e ressentimento contra o Ocidente.
Hoje, o cristianismo, impregnado pelo Renascimento e o Iluminismo, graças à repressão política do clero, é a religião mais pacífica, apesar do aguerrido proselitismo de algumas Igrejas evangélicas e de raras seitas católicas radicais.
O primarismo ideológico da religião, que se fundamenta em cinco pilares pueris e cuja violência seduz cada vez maior número de pessoas, exige vigilância policial e impõe um combate ideológico determinado, sem medo das fatwas e do clero que expele versículos e hadiths nas mesquitas e transmite os alegados ensinamentos do profeta nas madraças.
A Europa, onde progressivamente recruta bandoleiros de deus, deve obrigar ao respeito pelo ethos civilizacional que a moldou e defender a laicidade sem contemplações com a pedofilia, a poligamia, a opressão da mulher e outras taras especialmente islâmicas.
Podem os crentes rezar as 5 orações diárias, urinar em sentido contrário ao das orações, manter o ódio ao toucinho e aos cães, mas não podem atropelar, esfaquear ou explodir infiéis numa demencial orgia mística que lhes assegure a viagem rumo ao Paraíso.
O respeito pelos Direitos Humanos é a exigência comum a todos os homens e mulheres, sem qualquer discriminação, nesta Europa que afrouxa a defesa dos seus valores.

Ponte Europa / Sorumbático

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7.12.18

Fazer Mais e Melhor

Por Joaquim Letria
Escrever no Minho Digital vai sendo cada vez mais exigente e prazenteiro porque, como nas equipas de futebol, os craques vão chegando, treinando, conquistando lugares na titularidade e quem aqui já não tem canelas, o melhor é ficar no banco e ver jogar até que o “Mister” os mande entrar, se assim entender.
Eu gosto desta exigência ou, como dizem os comentadores e os radialistas, desta pressão que, obrigando-nos a ser todos melhores, nos ajuda a elevar o nível da equipa e a aumentar o gosto e a procura do público.
No caso do Minho Digital permitam-me que cumprimente o nosso “mister” Manso Preto por ter posto a jogar duas estrelas em que acreditou e a quem reconheceu valor inegável e imediato: a jovem Vanessa Reitor que dá cartas com um grande sorriso e ideias bem arrumadas e o experiente Jack Soifer, que escreve bem do que muito sabe, sem dúvidas, rodriguinhos e com verdade. Dois grandes craques que darão muito que falar no futuro e que me dão o prazer de alinhar a seu lado neste Minho Digital que vai alargando a sua influência e número de leitores graças à visão estratégica e experiente do seu Director.
E aqui estou eu neste triste cinzento suburbano em que habito. Com a alegria que o MD me faz chegar através das suas colunas digitais e que aqui deixo registada e com a tristeza e preocupação pelo futuro do martirizado Convento da Saudação, em Montemor-o-Novo, que apesar de monumento nacional leva décadas de abandono e foi gravemente afectado pela tempestade Leslie. A gestão é do município, mas a Direcção Geral do Património Cultural promete ajudar. Ali funciona um dos mais vibrantes projectos culturais portugueses com reconhecimento internacional na sua multidisciplinariedade. Dezenas de programadores e directores de companhias de artes performativas com reconhecimento e prestígio em todo o mundo ali se acolhem, entre os seus pares.
Oxalá haja a vontade, a ideia prática e o desejo de recuperar e fazer ainda mais e melhor. Sentimentos que palpitam neste jornalzinho online, como eu dizia no início desta crónica.
Publicado no Minho Digital

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6.12.18

Jornalistas – Apesar de…, apesar de…, apesar de…

Por C. Barroco Esperança
Sem jornalismo independente não há democracia e, sem o contributo de jornalistas para a investigação dos factos, não há notícias nem opinião pública esclarecida.
Por muito que surpreenda ainda é dos EUA que nos chegam notícias fiáveis e os jornais mais independentes. The New York Times e The Washington Post resistem à campanha de Trump contra eles, com uma tenacidade sem paralelo.
Foi The Washington Post que conseguiu, secundado pelo New York Times e o britânico The Guardian, transformar o assassinato do seu jornalista saudita, Jamal Khashhoggi, no consulado do seu país, em Istambul, numa notícia à escala global.
Sem a coragem e independência dos jornais referidos, a morte e o desmembramento do jornalista, a mando do núcleo do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, estaria esquecido o contrato de promessa de compra e venda de armas com os EUA, avaliado em 110 mil milhões de dólares (cerca de 96.000 milhões de euros) e que representa o melhor seguro de vida de Mohammed bin Salman, o príncipe-herdeiro que mantém o apoio de Trump e assassina os rivais, enquanto conduz o genocídio dos iemenitas.
Desta vez, a Turquia também estava interessada na denúncia do crime, por interesses de Erdogan, o déspota que em março do corrente ano tinha presos 270 jornalistas, além dos desaparecidos, mas a notícia não teria o mesmo eco sem os referidos jornais. Este crime ter-se-ia diluído no turbilhão dos casos diários, e os aliados de Riade seriam poupados à divulgação da infâmia de tão comprometedoras ligações.
O que faz a força e a independência desses jornais é o facto de as receitas provirem dos leitores, de que dependem, e não do Estado ou de empresas de outras áreas de negócios.
A desculpa da nossa cumplicidade com a morte dos jornais que dão notícias, em vez de opiniões pagas, está na substituição da informação, que custa dinheiro e sacrifica vidas, por mentiras grátis.
Não faltam jornalistas capazes de correrem riscos e de se empenharem na descoberta da verdade, minguam leitores que queiram pagar por isso. E quando os jornais morrem, é a verdade que vai a enterrar, é a opinião pública que fica mais vulnerável, é a consciência cívica dos povos que amolece, enquanto ficamos reféns de centrais tóxicas da Internet.
Sem jornais independentes, e credíveis, não teria podido escrever este texto.

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