30.4.15

Vaticano e terrorismo islâmico

Por C. Barroco Esperança
Na sequência de uma gigantesca operação de combate ao terrorismo, foram detidos, em Itália, 18 suspeitos de planearem um atentado ao Vaticano. Os detidos, de nacionalidade paquistanesa e afegã, estariam ligados à Al-Qaeda.
As detenções, noticiadas no dia 25 de abril p.p., desarticularam uma célula que em 2010 planeou atacar o Vaticano e cujos elementos têm pesado cadastro ao serviço da fé e do terrorismo.
Não há multiculturalismo que resista a grupos de fanáticos, Estado de direito que pactue com terroristas travestidos de imigrantes, delinquentes da fé que não renunciam a impor preconceitos religiosos à sociedade civilizada e democrática que somos.
O Vaticano pode ser uma teocracia negociada entre Mussolini e um papa de turno, mas a sede do catolicismo romano é muito mais do que isso. É o santuário das artes onde se guardam tesouros, local onde o esplendor da arquitetura, pintura e escultura transforma um bairro eclesiástico de 44 hectares em memória da civilização e da cultura mundial.
O Vaticano preserva a Basílica de S. Pedro, a Capela Sistina e os Jardins; abriga o génio de Miguel Ângelo, Rafael, Giotto, Caravaggio e Leonardo da Vinci; guarda memórias das civilizações etrusca, egípcia e grega; é a apoteose do melhor que o espírito humano criou e que sobreviveu a Pio V, inquisidor e santo, avesso à nudez e às heresias, a papas incultos, à erosão do tempo e ao saque das guerras, da época pré-cristã aos nossos dias.
Um atentado contra o Vaticano é uma atrocidade boçal contra a cultura, a civilização e o património da Humanidade. Ali, entre as sotainas e a liturgia, com incenso e água benta, repousa a memória histórica da civilização, o génio dos maiores criadores e o esplendor da memória coletiva europeia e da Humanidade.
O Vaticano é um local de culto, não por ser a sede de uma religião, por ser um museu da cultura greco-romana. Quem ameaça o bairro carregado de arte e de história, não ofende só os crentes, declara guerra à Europa culta, civilizada e democrática.
E não pode haver indulgência.
Ponte Europa / Sorumbático

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26.4.15

ÁGUA DE COCO Os russos faltosos

Por Antunes Ferreira 
“Vêm aí os russos!” era o título duma comédia originária de Hollywood nos anos sessenta. Aqui em Goa já vieram, muitos já cá se instalaram, compraram casas, propriedades e terrenos onde afixaram em inglês e em russo: Proibida a entrada a estrangeiros! Incluindo naturalmente goeses que assim se tornaram “estrangeiros” na sua própria terra! Colvá é disso um mau exemplo: na terra abundam os letreiros em cirílico, desde as lojas de tatuagens até aos restaurantes cujos menus têm listas em inglês e em russo. Para não referir os estabelecimentos de tratamentos aiuvédricos, que se encontram pari passu.
Mas, este ano a cantiga é outra. Russos são poucos, o rublo está de rastos e as sanções impostas pelo Ocidente liderado por Obama. Bem pode Putin, o czar hodierno dizer que a grande Mãe Rússia suporta e suportará as limitações que resultam das restrições que o povo está a sentir na pele e… nos bolsos. A ocupação da Crimeia e o apoio (ainda que “desmentido”, no que quase ninguém acredita…) à guerra fratricida dos ucranianos o que continua a manter o conflito armado que causa cada vez mais mortos, feridos e deslocados, destruições de edifícios e de pessoas, deu como consequência o empobrecimento dos russos
 Diz o povo que “quem não tem dinheiro não tem vícios” – e é bem verdade; no caso particular dos cidadãos russos, “quem não tem divisas não tem férias especialmente em Goa”. E o turismo, como se sabe, é uma das duas fontes fundamentais da economia do Estado mais pequeno da Índia mas que tem (tinha?) o melhor PIB do subcontinente. Mas os réditos estatais também fruto da exploração das minas. Ora estas estão paradas há mais de dois anos à espera de legislação que regule a actividade das legais; as que fugiam aos impostos, ou seja as ilegais estão condenadas.
 Assim toda gente que depende do turismo se queixa da falta de compradores, especialmente dos russos. Desde os choferes de táxis (e até de riquexós) que e são muitos, até aos proprietários das lojas e tendas e empregados do comércio, nomeadamente de souvenirs, todos se lamentam. Obviamente os restaurantes, hotéis, resorts e bares têm as suas receitas drasticamente diminuídas; mas Goa continua a ser um local favorito para o turismo interno: os habitantes de outros estados. Só que não chega.
 Aqui em Colvá temos o nosso condutor especial e quase privativo que, juntamente com os seus três filhos da mesma profissão assegura as nossas deslocações: é o Aleixo Caridade Almeida que fez o sêgundo grau e de quem já falei por várias vezes. O clã Almeida é católico, nas respectivas viaturas há imagens de Cristo, da Senhora de Fátima, e, claro, de São Francisco Xavier. Queixam-se do mesmo mal: a ausência de turistas pelo menos em quantidade muito significativa.
E à volta, em Sernabatim, Benaulim, Majordá, praias lindas, vêm-se muito poucos estrangeiros. E os que se encontram nas ruas que dão acesso à beira-mar são principalmente ingleses e alemães. Eduardo Faleiro, um excelente Amigo dos tempos da Faculdade de Direito, que em 1961 optou pela nacionalidade indiana e foi ministro de Estado das Relações Exteriores e, depois das Finanças, acentua o problema. Militante do Congresso dos Gandhis e por isso opositor do BJP que desde o ano passado é Governo.
Pelas seis da tarde vem buscar-nos no seu carro com condutor ao Ocean Groves, uma magnífica urbanização onde se situa o famoso apartamento (à borla, como já o escrevi por várias vezes) do Francisco Mascarenhas primo/padre da Raquel, para irmos até à praia onde conversamos. Eduardo foi objecto de uma melindrosíssima operação e com o nosso convívio em que relembramos a nossa época de estudantes (aliás ele nasceu em Lisboa…) vai matando o tempo. Está a organizar a sua biblioteca e as horas que está connosco é um verdadeiro refrigério – diz ele. Curiosamente foi contemporâneo da Raquel no Liceu Nacional Afonso de Albuquerque, tendo rumado ambos a Lisboa no mesmo ano 1957. Na beira-mar para onde foram levadas as mesas e as cadeiras dos restaurantes e onde se colocam velas, o espectáculo é inebriante, lindo de morrer. As pessoas vão bebendo os seus copos e conversando, arte por excelência de Goa. O oceano acompanha-as com o marulhar – e nós comungamos a ocasião. Conto as últimas anedotas que o divertem muito, acentuo a minha opinião com o (des)Governo de Portugal e em especial do putativo PR. Eduardo conheceu Cavaco como primeiro-ministro aquando de uma das viagens oficiais que fez ao nosso país. Conto-lhe da incultura do esprito vingativo, das calinadas do autor dos “cidadões” e do “façarei” e ele risse-se. Mas logo acrescenta que não se quer meter – e não se mete – na política portuguesa, o que é natural. Porém há um nome que respeita e admira: Mário Soares que, quando sabe que vou a Goa envia-lhe sempre um abraço de amizade. O pai de Eduardo (defensor da teoria de dois países com a mesma bandeira, a portuguesa) ensinou inglês no Colégio Moderno. Dizem as más línguas que foi o “responsável” pelo macarrónico ou mesmo inexistente do “inglês” de Soares… Eduardo não contesta, solta umas gargalhadas. Para ele a pai da democracia portuguesa é o maior!

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Luz - Um quiosque de jornais, Lapa, Lisboa

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É o quiosque da esquina da rua Borges Carneiro com as ruas da Lapa, dos Navegantes e do Quelhas. Por outras palavras, é o quiosque dos “Quatro Caminhos”. Todos os dias, venho aqui ver as novidades. Todos os dias esta organização zela por mim e faz-me chegar os jornais e revistas. A Maria Irene e o Floriano tratam do negócio e ocupam-se dos clientes como se fossem seus amigos. Declaração de interesses: frequento este quiosque com grande regularidade.

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23.4.15

Conventos, ‘vida’ monástica e liberdade

Por C. Barroco Esperança
As religiões têm casas de reclusão, a pretexto da piedade e da oração, onde encarceram débeis de vontade, fanáticos do divino ou devotos depressivos. Às vezes são as vítimas de famílias que lhes querem confiscar a herança, de coação ou de chantagem. Têm, em regra, uma hierarquia rígida, uma disciplina despótica e um tratamento desumano. Bem sabemos que é para maior glória de Deus e para gozo da Santa Madre Igreja.
Os conventos estão atribuídos a Ordens, consoante as patologias. Uns dedicam-se à contemplação, outros ao silêncio, vários à autoflagelação, quase sempre em acumulação de diversas perversões que, no caso da ICAR, são autorizadas pelo Papa e conduzem em regra o/a fundador/a à canonização.
Admitamos que as vítimas se encarceram de livre vontade, que o desejo do Paraíso as inclina para o masoquismo, que a ociosidade as anula, que a inteligência, a vontade e os sentimentos se consomem na estéril clausura e na violência dos votos. Aceitemos que há seres racionais a crerem que, algures, um deus aprecia a alienação, o sofrimento e a violência. Imaginemos um Deus que se baba de gozo com ambientes concentracionários despoticamente defendidos por madres ou frades ungidos do direito à tirania.
A título de exemplo lembro a Ordem das Carmelitas onde, só a título muito excecional, é permitido falar. E essa magnânima autorização tem fortes grades a proteger qualquer encontro. É nestes ambientes carcerários, privados de nome, de pertences e de memória, que exércitos de inúteis vestidos de forma bizarra se encontram ao serviço do Papa.
Na Irlanda, há anos, o Governo foi constrangido a averiguar o que se passava no campo de concentração «As irmãs de Maria Madalena», tendo fechado a espelunca e libertado as vítimas, condenadas a prisão perpétua pelas próprias famílias, por terem sido mães solteiras ou, apenas, demasiado bonitas, perigosas na sedução dos homens.
Será possível que os Governos democráticos, a quem cabe a defesa da Constituição, o dever de respeitar e fazer respeitar os direitos e liberdades dos cidadãos, se conformem com a renúncia à cidadania e não averiguem se é de livre vontade que bandos de frades e freiras façam de lúgubres conventos o mausoléu da vida?
Ponte Europa Sorumbático

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19.4.15

Luz - O Chef, Lapa, em Lisboa

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É uma formidável loja de “comida pronta”, mas também restaurante, café e casa de chá. Há momentos do dia em que a paz é total, ali se pode ler o jornal, beber o café, descansar ou meditar. É ali que se podem resolver, com mérito e benefício, todos os problemas de refeições fora de horas e de faltas imprevistas no frigorífico. Pode comprar-se e levar para casa, pode comer ali numa mesa a qualquer hora. É uma casa de fidelidades: há pessoas que ali vão, regularmente, há décadas. Há outras que passam quase todos os dias. Há os regulares, a dias certos e a horas exactas. Só falta mesmo dizer que a comida é excelente. Com especial menção para as empadas, os ovos verdes, a massinha chinesa, a massa com camarão, a feijoada, o arroz de pato, os famosos “queques do Chef”… Declaração de interesses: frequento o Chef com grande regularidade.

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2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Por A.M. Galopim de Carvalho
FALANDO DOS SOLOS (12) 
Epipédon, o horizonte de diagnóstico 
Não tem havido, entre os autores, concordância na definição dos diversos horizontes do solo. Por um lado, há grande dificuldade (se não mesmo impossibilidade) de generalizar a clássica e demasiado esquemática nomenclatura ABC, à totalidade das situações existentes nas mais variadas latitudes e altitudes terrestres. Assim, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América criou o conceito de horizonte de diagnóstico, usado na descrição e classificação do solo, com muito pouca ou nenhuma correspondência aos definidos nas nomenclaturas mais antigas atrás referidas. Surgiu, então, o conceito de epipédon (do grego epi, por cima, sobre; e pedón, solo.) descrito como um horizonte do solo gerado à superfície, correspondente à parte superior (A), de tonalidade mais escura (em virtude da presença de matéria orgânica), e ou a parte do horizonte eluvial (E).(...)
Texto integral [aqui]

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18.4.15

Prefácio
Estas Crónicas da Inforfobia devem ser saudadas como um acto de humor, de riso incontido perante as resistências tristemente humanas às mudanças, hoje ao uso dos computadores ou da Internet. O autor fala de dentro da vida das organizações e sabe do que fala. Não dos medos da tecnologia — que o humor justamente ignora — mas das pequeninas fraquezas que toda a tecnologia nova põe a nu: a perda dos poderes miudinhos — o de ser o único a saber, sem partilhar segredos de polichinelo; o de mandar sem controlo; o de privar os outros de informação, logo de liberdade. 
Contra a pequenez medrosa, triste e opressiva, o autor inventou-nos uma sociedade da informação risonha — isto é, nascida do riso e da ironia. 
Se o futuro lhe der razão (oxalá!) o seu livro será, dentro de alguns anos tão incompreensível como hoje é certeiro. É o que sinceramente lhe desejo.
José Mariano Gago
Ministro da Ciência e da Tecnologia
19 de Setembro de 1997
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Esta minha obra só viu a luz do dia graças ao apoio do Mariano Gago, que comprou 500 dos 3000 exs. da edição, além de a ter valorizado com o prefácio que aqui se lê.
O Prof. Galopim, felizmente, escreveu o essencial - aquilo que eu queria aqui escrever sem, no entanto, atinar com as palavras certas.
Um grande abraço, amigo Gago!

JOSÉ MARIANO REBELO PIRES GAGO (1948-2015)

Por A. M. Galopim de Carvalho

QUANDO se chega à minha idade, já o escrevi, o que mais dói é ver partir os amigos e companheiros e olhar para os que resistem e saber que um dia destes nos iremos despedir deles, mais do que se formos nós a transpor essa passagem que todos temos como certa. Mas nestes amigos e companheiros, apenas incluía os da minha geração. Não os que ainda julgamos cheios de vida, como era o Zé Mariano para os amigos. Nestes casos, além dessa dor, há a consciência igualmente dolorosa, da perda de um futuro que no caso deste amigo, era particularmente promissor. Conhecemo-nos, nos anos 80, na Livraria Buchholz, num fim de tarde, em Lisboa, em que falámos de divulgação científica. E ficámos amigos.

Como físico de prestígio, outros mais habilitados do que eu falarão. É dele, como grande impulsionador da investigação científica e paladino da cultura científica, que posso falar com conhecimento de causa.

Em 1987, Mariano Gago, então Presidente da ex-Junta Nacional de Investigação Científica (hoje Fundação para a Ciência e a Tecnologia), lançava o “Programa Mobilizador de Ciência e Tecnologia”, no qual tinha cabimento uma componente dinamizadora das Ciências do Mar apresentada publicamente pelos Profs. Mário Ruivo, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, Michael Collins, da Universidade de Southampton, R. U., e Michael Vigneaux, da Universidade Bordéus I, França. Na sequência desta iniciativa, João Alveirinho Dias, ao tempo o primeiro e único doutorado em Geologia Marinha, António Ribeiro, meu colega na Faculdade de Ciências de Lisboa, e eu criámos e desenvolvemos um projecto de investigação iniciado como estudo da plataforma continental portuguesa, sediado no Museu Nacional de História Natural.

Foram instituições participantes neste arranque para as Geociências do Mar: o Instituto Hidrográfico, como parceiro principal, o ex-Gabinete para a Pesquisa e Exploração de Petróleo, o ex-Instituto Nacional de Investigação das Pescas, o Departamento de Protecção e Segurança Radiológica do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, o Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, os Departamentos de Geologia da Universidade de Évora e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho e a ex-Secção Autónoma de Geologia da Universidade Nova de Lisboa.

Este projecto visou, sobretudo, a formação de jovens investigadores na área da Geologia Marinha, a promoção de acções interdisciplinares, a dinamização da cooperação interinstitucional, a optimização do potencial humano e dos recursos e equipamentos existentes nas diversas instituições envolvidas e, ainda, a criação de um corpo nacional de investigação neste domínio, até então, acentue-se, ausente das nossas universidades. Caracterizado por grande informalismo e por um mínimo de burocracia, constituiu um fórum de permuta de ideias e experiências, de discussão de resultados e de interajuda dos seus aderentes. Com o passar do tempo, evoluiu naturalmente para uma rede de investigação, eficaz e igualmente informal, cujos elementos, dispersos, como se disse atrás, são agora os promotores e os responsáveis pelos seus próprios projectos, em que cada um procura as colaborações mais convenientes e nos moldes que entenda estabelecê-las.

Com o indispensável e sempre disponível apoio do Instituto Hidrográfico, ao tempo do Director–Geral, Vice-Almirante José Almeida Costa e dos Comandantes Vidal de Abreu (Chefe da Divisão de Marés e Correntes) e Torres Sobral (Director-Técnico), o grupo inicial deste projecto de investigação (do qual saíram uma dúzia de doutorados em Geologia Marinha), deixou descendentes, ou seja, fez escola que continua a dar frutos, uma realidade que ficará esquecida se ninguém se der ao trabalho de a registar. Com uma primeira geração de investigadores que, de juniores passaram a seniores, vimos singrar a maior parte destes “filhos”, hoje independentes e a trilharem os seus próprios caminhos, o que nos enche de satisfação e orgulho. Actualmente há “netos” que já nem conhecem os “avós”, mas que só existem porque nós, sempre apoiados pelo já então Ministro da Ciência, José Mariano Gago, tivemos a ousadia de iniciar esta viagem e de segurar o leme deste navio, nas primeiras milhas desta gratificante navegação que conduziu, repito, à introdução das geociências do mar nas nossas universidades, designadamente, nas do Algarve, de Aveiro e de Lisboa, onde os mestrados e os doutoramentos se sucedem.

Pessoalmente, perdi um amigo. Entre muitas recordações guardo dele o prefácio que teve a amabilidade de escrever no meu livro “Como Bola Colorida – A Terra, Património da Humanidade” (Âncora Editora, 1907) e gentileza de ter feito a apresentação do “Dicionário de Geologia” (Âncora Editora, 2011), na Reitoria da Universidade de Lisboa, ao tempo do Reitor António Sampaio da Nóvoa.

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ÁGUA DE COCO - Um condutor/“secretário”


Por Antunes Ferreira


Para se atravessar o estuário do Mandovi há duas pontes e o ferryboat. Pangim estende-se modorrento ao lado do rio, lembrando, salvo as devidas proporções, Lisboa namorando o Tejo. Na outra banda não é Cacilhas nem Almada, nem está o Cristo Rei. Encontra-se lá Betim ou seja o local em que os ferreis atracam e outras localidades das quais a mais importante é Porvorim. Cresceu num instante quando lá foram construídos os edifícios do Governo e da Assembleia de Goa. Deste lado, a marginal leva a um local bonito com uma esplanada, a Riviera pertença do hotel do mesmo rio: Mandovi. Foi o primeiro com traço mais moderno construído nos tempos dos portugueses.

A esplanada é ampla e tem numa segunda zona um espaço para recepções, “pequenos” casamentos ou baptizados, aniversários ou primeiras comunhões, ou seja festas para 400 convidados, mais coisa menos coisa. Convém não esquecer que casamentos e baptizados “normais” andam pelas 1.500/2.000 cabeças. Claro que não é toda a gente que se permite organizar celebrações desta dimensão, católica ou sobretudo hindu. É, naturalmente necessário haver posses para isso. Aliás no Estado há mais recintos preparados para tais eventos. Já estive num em Margão, noutro na quinta Valadares e mais um junto de Mapuçá, que hoje se escreve Mapusa mais tem o mesmo som.


Mais uma curiosidade se mo permitem: o concanim não tem acentos nem cês cedilhados. Por isso esta solução. Por exemplo a segunda urbe é Margao e continua a ler-se Margão. De resto o som ão não falta: patrão é patrao e acabou-se. O concanim é uma língua das 72 que existem na Índia. Poderia pensar-se que é um crioulo. Nem pó. Incorporou bastantes palavras portuguesas, algumas com naturais corruptelas. E também se usa o inglês quando se trata de números. Por exemplo, no meio de uma frase em Concanim aparece para mencionar o tempo 12 pm. O que quer dizer meia-noite. Na verdade em português diz-se 12 horas em vez de meio-dia…


Parecendo que não há em Goa muito dinheiro, tem de corrigir-se a ideia: há, principalmente hindus, mas também católicos e uns quantos muçulmanos… Há muitos Mercedes BMW dos modelos mais recentes e caros, há vivendas de sonho com piscinas e courts de ténis. Há hotéis e resorts de preços altos. Verifica-se aqui o drama que percorre todo o subcontinente indiano; uma diferença abissal entre os muito ricos e os muito pobres, acentuando a bipolaridade: os bilionários e os miseráveis. Corram-se as aldeias e veja-se, da estrada, as condições em que vivem os habitantes de casas a cair de podres.


Isto quer dizer, uma outra vez, que entrando numa casa de um hindu trabalhador se pode dar conta do que se viu de fora. O nosso condutor/”secretário” para quem sou o seu padrinho de seu nome Premanand Ankush Pednekar que nos conduz impecavelmente e sem quaisquer problemas – Sir paga no fim… - teve um problema cardíaco. Operado de urgência, foram-lhe colocados baipasses pois tinha seis obstruções por coágulos. Obviamente ainda não pode trabalhar. E sabe-se lá quando. Por isso ao chegarmos ninguém dava conta dele, de tal maneira que cheguei a recear o pior. Felizmente foi encontrado: sossegámos. Ele já é da nossa família…


Apesar da convalescença ter começado cinco ou seis dias antes, naturalmente depois de lhe ter dado alta, quando soube que estávamos em Goa, um cunhado que também é taxista, transportou-o bem como uma irmã dele para nos visitar. E tal era o desejo de o fazer que subiu os três lances da escada que levam ao nosso apartamento. Foi uma cena patética abraçados os três, a Raquel, eu e ele. Enfim, chorámos todos - da emoção. Vinha magro e esquálido com a faixa de cabedal tipo colete pós operação, ligaduras, gazes e etc. Penso que podem imaginar a cena…


Passei-lhe uma descasca por se ter arriscado e disse-lhe que nunca mais o queria ver a subir tantos degraus. Sorriu, um sorriso amarelo, but Sir, aqui não há mas nem senhor, disse-lhe fingindo-me zangado, mas por dentro o meu coração sangrava. Tinha de o dizer. Sentou-se na nossa sala como sempre o fez. Estava triste mas satisfeito por nos ver e conversámos um pouco; a mulher, que há dois anos conhecíamos, tinha abortado aos cinco meses dum menino. E a filha Babita, um amor de criança, bonita e dada, com dois anitos, não podia estar com o pai porque passava o tempo a tentar sentar-se ao colo dele – o que para já não pode ser porque lhe buliria com os elementos de segurança: colete, ligaduras, pensos et aliud. Ela naturalmente ansiosa da ternura do pai que lhe retribui; adora-a.




A irmã tinha ido ao carro buscar dois caixotes de cartão e um saco de viagem que continham todos os nossos pertences (para que quando voltássemos não gastássemos  rupias com compras desnecessárias - versão do Premanand…) que tínhamos deixado para guardar e trouxe tudo tal como havíamos deixado. Mais um engolir na garganta. Foram-se embora levando as prendas que lhes eram destinadas, incluindo a roupinhas de bebé que trazíamos para o filho afinal perdido. Fica para o próximo disse a Raquel um tanto encavacada… (o termo não tem nada que ver com o suposto PR que ocupa o palácio de Belém, sem contrato de arrendamento, por isso sem pagar renda, electricidade, gás e água!) 


Ontem fomos visita-lo a Fattawada – Nerul, onde na House 18 vive acompanhado por duas irmãs pois a esposa tinha ido com a menina para casa dos pais dela. Foi uma festa à nossa chegada. Como tenho andado apoiado numa bengala cedida pelo Zito Menezes - nomeado, para além de médico, nosso anjo da guarda privativo… - uma delas veio esperar-nos à porta do “quintal” afastou um cão que por ali fazia a sesta e ajudou-me gentilmente a descer os degraus de pedra solta que davam para a casa; nesta, outra escada de pedra introduziu-nos na habitação - eu sempre com a ajuda carinhosa da senhora.


Premanand avisado da nossa chegada aguardava-nos com um sorriso de face a face, estava melhor, ganhara quilos, mas mantinha o colete de cabedal com o qual deveria ficar mais uns tempos, dissera-lhe o médico no hospital na última consulta de controlo da evolução do paciente. Luziam-lhe os olhos, e abraçou-nos comovido mas também orgulhoso da nossa visita. Tive de “ordenar” a paragem da emoção; às vezes é difícil tomar decisões, mas elas têm de vir à luz do dia e tão pronto quanto seja possível. Arriscar a recuperação para nos ver era perigoso e podia ter consequências complicadas.


Ali ficámos mais de uma hora; a casa era pouco apresentável, mas a simpatia das pessoas fazia-nos ignora-la; uma das irmãs trouxe-nos dois copos de sumo de manga, umas bolachas e uma ventoinha de pé alto. Quando um pobre nos dá agasalho com calor humano, mesmo que seja pouca a oferta, ela sabe melhor do que um banquete em casa dum rico. O nosso condutor/”secretário” queria voltar a visitar-nos, proibi-o de subir os lances da escada e combinámos que ele esperaria em baixo e depois iríamos almoçar todos. Acordo alcançado, regressámos a casa.


Pelo caminho a Raquel e eu recordámos o jantar de despedida que Premanand e senhora nos tinham oferecido no ano passado. O que, numa sociedade como esta em que as castas continuam a imperar e o elitismo é regra, motivou uns quantos comentários menos elegantes, Um motorista que sempre se sentou à nossa mesa quando saíamos era um tanto, como direi?, desprestigiante para quem permitia e sobretudo convidava; mais a mais um pacló (português branco,,,)


Estava-me, estou-me e estar-me-ei nas tintas para tais ditos. Para mim os homens são todos iguais, com tonalidades de pele diferentes, com olhos mais ou menos oblíquos, de cores diferentes, com cabelos mais crespos ou mais lisos mas com tudo o resto igual, desde os órgãos internos até às unhas dos pés, avultando o coração e o cérebro os mais importantes e paradoxalmente os mais sensíveis. Digam o que digam os falsos comentadores, enquanto não me provarem o contrário continuarei a pensar que vozes de burro não chegam ao Céu. Dando, obviamente, de barato, que ele existe...   

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16.4.15

Todos somos ateus

Por C. Barroco Esperança
Não há a mais leve suspeita ou o menor indício de que Deus exista, nem qualquer sinal de vida da parte dele. No entanto, o ónus da prova cabe a quem afirma a sua existência e, sobretudo, a quem vive disso.
Cada religião considera falsas todas as outras e o deus de cada uma delas, afirmação em que certamente todas têm razão. Os ateus só consideram falsa uma religião mais e mais um deus, o que, no fundo, faz de todos ateus. E não é no sentido grego, em que ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, é no sentido comum da negação de Deus [com maiúscula para o deus abraâmico] ou de qualquer outro.
Todos somos hoje ateus em relação a Zeus, Osíris ou ao Boi Ápis, como amanhã outros serão em relação a Vishnu, Shiva e Brahma ou ao Pai, Filho e Espírito Santo da trindade cristã. Os deuses de hoje serão os mitos do futuro. Outros serão criados, por necessidade psicológica, para servirem de explicação, por defeito, a todas as dúvidas, e de lenitivo a todos os medos.
A morte, a angústia que desperta, o fim biológico de todos os seres vivos, é o maior dos medos. Deus é o mito bebido no berço, a esperança de outra vida para além da morte, a boia dos náufragos que se habituaram a acreditar desde crianças e se conformaram com a pueril explicação da catequese e se intimidaram com a dúvida. Os constrangimentos sociais ou/e a repressão violenta ao livre-pensamento tem perpetuado mitos milenares.
A crença, em si, não é um perigo nem ameaça, perigoso é o proselitismo, essa demência de quem não se contenta em ter um deus para si e exige que os outros também o adotem e o adorem. A vontade evangelizadora transforma as religiões em detonadoras do ódio e a competição entre elas em rastilho da violência.
A fé, vivida por cada um, é inócua; transformada em veículo coletivo de conquista ou aglutinação de povos, torna-se um instrumento de violência. É por isso que os Estados devem ser neutros, em matéria religiosa, para poderem garantir a liberdade de todos.
Ponte Europa / Sorumbático

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15.4.15

REFLEXÃO À MARGEM DO INQUÉRITO

Por Joaquim Letria
"Tenho andado preocupado com esta situação do BES/GES e as acusações dos lesados de que desconheciam o que estavam a comprar. 
Ora bem, estive a ouvir com toda a atenção Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Costa (do BP), CMVM, etc, e, sinceramente, fiquei esclarecido.
Fiquei a saber que houve uma takeover sobre a PT, o que provocou um downsizing na empresa e impediu o advanced freight.
Sendo assim, o asset allocation baseado num appraisal report, que é o allotment indicado, provocou um average price muito baixo, reduzindo os back to back ao mínimo.
Ora, o bid price provocou um dumping e uma floating rate incomportável com o funding previsto pelos supervisores.
Deixou, pois de existir uma verdadeira hedge, o que levou ao levantamento de hard cash em grande quantidade.
Se considerarmos que o ICVM, ao fim do período estava a deteriorar-se e os pay-out continuavam a baixar, a única solução seria o payable to the bearer de eventuais incomes da empresa.
Voltando um pouco atrás, o pool entre Bes e Ges, fez diminuir drasticamente o portfólio dos clientes, levando inevitavelmente a um revolving credit que abrangeu a maioria dos shareholders de ambas as empresas. 
Como é evidente o pricecut da Rio Forte foi inevitável e a takeover sobre a mesma também. O gross profit baixou significativamente, aumentando o grade period e o bank rate.
Só para terminar e em jeito de conclusão creio que estamos perante uma grande quantidade de filhos da puting, que utilizando a corrupting ao nível central e local, foram delapidanding os recursos do país e continuam em casa riding a situação, deslocando-se de vez em quanding à Assembleia, e fazer de parving o poving em geral. 
Tenho dito.”
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Texto sem autor mas autorizado

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14.4.15

A FORÇA DA TV

Ver o vídeo [aqui]
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Durante anos e anos, todos os 7 extintores da zona de atendimento ao público do Centro de Saúde de Lagos estiveram fora de prazo (desde Setembro de 2010). Para quem tivesse dúvidas, ostentavam, até, etiquetas de REJEITADO (e 3 deles ainda assim estavam na quinta-feira passada)! 
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O "Correio de Lagos" fez eco disso em Fevereiro e Março (com fotos), mas sem qualquer resultado. 
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Agora, e por nossa sugestão (através da página do Facebook Cidadania de Lagos), Joaquim Letria pegou no assunto e resolveu apresentá-lo no programa "A tarde é sua", da TVI, ontem à tarde. 
Para preparar o programa, um jornalista da estação escreveu para a Direcção do Centro de. Saúde e, finalmente, lá resolveram o problema, que já assumia foros de escândalo! 
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Só esta caixa é que, ainda ontem, continuava assim:
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12.4.15

As Pedras e as Palavras

AS PEDRAS e as palavras foram dois universos fulcrais na minha passagem por este mundo. As pedras, modo mais popular de dizer as rochas, com as quais convivi profissionalmente durante mais de meio século, contam-nos a história do nosso planeta. Através dos seus minerais, da textura e de outros atributos falam das causas que lhes deram origem, das condições ambientais (pressão, temperatura, quimismo) em que foram geradas ou transformadas e muitas delas, ainda, da data do seu nascimento.(...)
Texto integral [aqui]

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Luz - Terreiro do Paço, Lisboa

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À espera do autocarro. A imagem é feita a partir do alto do Arco da Rua Augusta, aberto ao público há pouco tempo (talvez um ano…).

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9.4.15

ATENÇÃO ao programa «A Tarde é sua»....

...da próxima segunda-feira, em que Joaquim Letria, por sugestão de Cidadania de Lagos vai falar de um problema já aqui abordado. Será na TVI, a partir das 17h.

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S.N. S. – Os hospitais, as dívidas e as pessoas

Por C. Barroco Esperança
Este Governo, esta maioria e este PR, eles próprios a necessitarem de cuidados especiais de saúde, certos de que não lhes faltarão, apostam na destruição do Serviço Nacional de Saúde. É a bandeira ideológica dos que julgam que o SNS, universal e tendencialmente gratuito, não é um direito mas um bem qualquer, destinado a quem possa pagá-lo. A mais obscena das audácias e a mais vil está na forja de quem assaltou o poder e detém os meios de propaganda. «Os hospitais públicos com dívidas em atraso a fornecedores podem ser impedidos de pagar salários. Esta sanção foi criada pela nova versão da Lei dos Compromissos, publicada a 17 de março em Diário da República, e que prevê que os pagamentos ao pessoal sejam suspensos se não houver dinheiro para pagar despesas assumidas.» – escreve a jornalista Ana Maia (DN, domingo, 5-04-2015, pág. 10). Este Governo exonerou a ética e a legalidade da sua atuação com a cumplicidade do seu PR. A CRP é, tal como o eleitorado, um obstáculo a contornar. Tudo farão para a rever, criando condições para a neutralizar e, se possível, rever. Neste momento não é possível cumprirem a ameaça de não pagarem aos trabalhadores hospitalares. O ministro da Saúde goza a aura da competência e aspira a que os hospitais endividados sejam proibidos de pagar aos funcionários. Desafia a Constituição e entra na chantagem para destruir o SNS dividindo-o entre privados e Misericórdias. Tamanha competência é um misto de propaganda da direita liberal e da unção de uma qualquer prelatura, ambas interessadas no negócio que brota dos destroços a que querem reduzir a mais simbólica conquista de Abril e aquela que mais portugueses beneficiou. O Dr. Paulo Macedo pode babar-se de gozo com o cilício mas tem de ser impedido de o acomodar ao país. Quem, ao serviço do Estado laico, mandou celebrar uma missa para a direção-geral dos Assuntos Fiscais, é capaz de restituir à Providência divina o precoce chamamento das almas, mas não se lhe pode confiar o destino da saúde dos corpos. Restam 113 hospitais públicos quando os privados já somam 107. A agenda ultraliberal está a ser cumprida numa odiosa afronta à saúde dos portugueses. A destruição lenta e obstinada do S.N.S. é um crime silencioso que os portugueses não mereciam. Portugal não é sacristia nem o Governo um grupo de paquetes ao serviço dos interesses  privados. É preciso salvar o que ainda for possível, com outro Governo, outra maioria e outro PR, e retirar aos aparelhos político-administrativos, reduzindo os seus efetivos e sinecuras, os recursos para reparar os rombos do S.N.S. e recuperar a sua eficácia.
Ponte Europa / Sorumbático

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5.4.15

15 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Por A. M. Galopim de Carvalho
FALANDO DOS SOLOS (11)
NA PERSPECTIVA da cartografia pedológica, ou seja, no propósito de delimitar os vários tipos de solo existentes numa dada região, foi criado o conceito de “pédon” (solo, em grego) definido como um solo de determinadas características, com dada espessura média (que pode variar entre alguns centímetros a escassos metros) e ocupando uma certa área. O pédon é normalmente caracterizado pelo perfil pedológico observável em corte vertical entre a superfície e a rocha-mãe, perfil que é definido por uma sucessão de níveis, mais ou menos diferenciados, a que se dá o nome de horizontes do solo. (...)
Texto integral [aqui]

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Como me sinto bem na pele de social-democrata…

Por C. Barroco Esperança
Quando vejo a comunicação social apodar de socialistas cidadãos de direita que um dia usaram o PS na sua promoção, como António Barreto, Henrique Neto, Medina Carreira ou Luís Amado, por exemplo, entendo que haja quem me julgue esquerdista.
Quando vejo o PS a encarar como seus Álvaro Beleza [socialista liberal, uma espécie de vegetariano que almoça leitão à Bairrada e janta chanfana] ou os dois últimos líderes da UGT, João Proença e Carlos Silva, que ninguém me dissuade de que foram infiltrações do PCP para destruírem a central sindical, não me admira que me considerem leninista.
Quando temos um partido, denominado social-democrata, confiscado por um bando de neoliberais, geralmente inaptos, mas obstinados e eficientes a destruírem o que resta do Estado social, era natural que eu próprio duvidasse das minhas convicções.
Quando um partido assume ser do Centro Democrático [e Social!], situando-se na franja mais à direita do eleitorado, tão à direita que, por salubridade, chegou a ser expulso da Internacional Conservadora e Demo-Cristã, onde regressou por nebulosa conveniência e recomendação do PSD, não admira que a incultura política permita a quem é reacionário declarar-se ‘nem de esquerda nem de direita’, sendo seguramente de direita.
Depois admiramo-nos de que o PR, pensando na Constituição que jurou, tartamudeie o aforismo popular «quem mais jura mais mente» e um PM saído das madraça juvenil do mesmo partido, cada vez pior frequentado, seja o paquete dos neoliberais.
O social-democrata que renuncia ao aprofundamento político, económico e social da democracia, deixa de o ser. O que me afasta de alguns que reclamam outros rótulos, de quem me aproximo nas aspirações sociais, é o centralismo-democrático, que repudio.
No jogo de falsos rótulos, há duas posições abomináveis: os que, à direita, se julgam no direito a decidirem quais são os partidos do ‘arco da governação’ e, à esquerda, os que, na sua sobrançaria, se arrogam o direito de atestar a democraticidade de outros partidos.
Dada a iliteracia política, é urgente lembrar a raiz marxista da social-democracia.
Ponte Europa / Sorumbático

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Luz - Depósito de carros eléctricos na Outra Banda, Almada


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Por aqui passei, há vinte ou trinta anos! A estes maravilhosos carros, não sei o que lhes aconteceu. Recordo-me de ter pensado, na altura, que cada carro destes, à espera de destruição e vandalismo, poderia ser recuperado e vendido a cidades e museus que não desprezam os seus carros eléctricos. Naqueles tempos, Lisboa parecia apostada em destruir os carris e as viaturas o mais depressa possível. Era a modernização! Nesses mesmos anos, pela Europa fora, faziam-se esforços loucos para recuperar as linhas similares, em França, na Alemanha, na Suíça… Depois disso, alguma sensatez se desenvolveu nas cabeças dos nossos vereadores, secretários de Estado e Ministros: nem todas as linhas foram destruídas! E já se fala mesmo, hoje, em relançar alguns percursos. Ainda recentemente fiz várias vezes as linhas do 28 e do 25, do princípio ao fim, de ida e volta… Experiência a não perder. Nos percursos onde existem, são estes carros que vou utilizando.

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4.4.15

ÁGUA DE COCO - Religiões de braço dado

Por Antunes Ferreira
Em tempo de Semana Santa volto ao tema Religião, não para enfatizar o catolicismo que por Goa existe – e do qual dei conta noutro artigo deste blogue – mas para apresentar um fenómeno inter-religiões que aqui subsiste. E de que maneira… Para um observador como é o meu caso que uso dizer e escrever que já fui católico, mas curei-me, é interessantíssimo constatar que as práticas religiosas valem o que valem, mas coexistindo têm mais valor acrescentado, para usar linguagem “politicamente correcta” que ninguém sabe exactamente o que é, mas é de bom tom utilizar… 
Em 1980 quando cheguei à “Pérola do Oriente” decorreu a festa de São Francisco Xavier. Uma multidão avassaladora enchia a Velha Cidade onde se encontram diversos templos católicos, num dos quais, a basílica do Bom Jesus, onde num túmulo de prata cravejado de pedras preciosas e de vidro repousa o santo cujo corpo está incorrupto. Tendo morrido na ilha de Sanchoão (China) aí foi sepultado. O corpo foi depois transportado até Malaca, donde saiu para ser colocado no já citado túmulo de prata e vidro. Dizem as más-línguas que a pedraria terá sido roubada e actualmente é falsa. Mas…
O facto indesmentível que vi foi a imensa fila de pessoas aguardando a vez de beijarem a urna com uma paciência verdadeiramente oriental. Católicos, outros cristãos, hindus a constituíam. Vi com os mus olhos (e também com os meus óculos, que as dioptrias não se compadecem com a diminuição da visão. Um verdadeiro exemplo da convivência religiosa, pois até sikhs faziam parte dos que se propunham beijar a urna. Uma demonstração de que os crentes não têm raças nem bandeiras, países ou continentes. Sem grande dificuldade recordei Fátima – mas sem corpo incorrupto, agora múmia ressequida e acastanhada.
Pois bem, passo adiante pois outra prática tem lugar na Semana Santa em Pangim e pela Goa católica. Trata-se das procissões, nomeadamente as da época. A propósito tenho de dizer que o meu Amigo Mário Miranda, o famoso cartunista falecido há dois anos, tem nesta matéria desenhos, muitos, que dão bem a ideia das procissões, naturalmente hábitos que ficaram do tempo dos portugueses. Com características irónicas como era seu timbre deixou para a posteridade registos incontornáveis.
Mas vamos entrar pelo tema das procissões pascais na capital. São duas as principais: a do Senhor Morto e a do Senhor com a Cruz às costas. Delas falarei um pouco mais à frente com os pormenores possíveis: Isto porque tenho de referir já a Procissão das Capas Magnas que decorre na Sé existente na Velha Cidade. É orgulho aliás justificado que o padre Mascarenhas me refere que esta procissão só se realiza em dois sítios no Mundo: no Vaticano e em Goa. Aceito como boa a informação do sacerdote – e de resto não tenho razões para nela não acreditar.
Como já referi por diversas vezes é na Velha cidade que existe a maior panóplia de templos católicos, o Arco dos Vice-Reis reconstruído e mais exemplos da importância da que foi a primeira capital de Goa nos tempos portugueses. Só que descobriram que não tinha bom abastecimento de água o que originou a mudança para Pangim. É um repositório histórico-religioso que não pode, nem deve ser ignorado nas visitas turísticas e outras.
Volto, agora à capital que viu o seu nome mudado para Panaji, ao qual apenas os serviços oficiais respeitam… As duas procissões têm em comum uma originalidade: durante o percurso delas, para além dos altos em capelas e quejandos, também param em dois locais que nada têm a ver com o catolicismo. Um é em frente da casa de um dos homens mais ricos, Caculó; o outro +e perante o templo dos ismaelitas que aqui são chamados kojás. Em ambos manda a tradição que sejam feitas ofertas.
Se fosse preciso – e não é – esta interreliogisidade é marca da forma como eem Goa se respeitam católicos e hindus. Pode acontecer – e acontecem – conflitos entre os membros das duas maneiras de estar no Mundo em quase todo o subcontinente que é a Índia. Os órgãos de informação locais e globais dão conhecimento frequentemente deles.
Mas em Goa não é assim. Acontecem crimes sexuais, violações algumas colectivas. As há que ver que turistas sobretudo europeias e nórdicas para além do cabelos loiros expõem-se a esses actos criminosos porque sabem bem que não lhes permitido o biquíni  reduzido, a tanguinha e o fio-dental. E muito menos e obviamente o monoquíni. E lembro-me da Marylin Monroe: o pecado mora ao lado…

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