28.2.13

Psiquiatria de pacotilha

Por Helena Matos
Apesar da crise, Portugal e Espanha estão a escapar a aumento do suicídio - A SOCIO-PSIQUIATRIA de pacotilha que reina nas redacções levou anos a impingir-nos a tese do suicídio enquanto maleita dos ricos. Nesta cosmovisão do mundo os povos do norte da Europa suicidavam-se porque não tinham razões para lutar pela vida. Agora temos o suicídio enquanto consequência da crise. O suicídio é um assunto demasiado sério para ser tratado nesta espécie de jogo de causas e consequências entre a pobreza e a  riqueza.
In Blasfemias.net

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A força da palavra coisificada

Por Ferreira Fernandes
HENRIQUE Manuel Pereira (HMP), professor na Universidade Católica do Porto, escreveu ontem, no Público, sobre o bispo Carlos Azevedo. A sua segunda frase é: "Também me são quase indiferentes os comentários de quem se confessa ateu ou agnóstico." 
Acho ousado quase varrer a opinião de tanta gente, mas não é esse absurdo que aqui me traz. Há dias, foi revelado que o bispo Carlos Azevedo foi acusado por um antigo seminarista de o ter assediado sexualmente. E HMP vem testemunhar sobre o amigo que conhece há vinte e sete anos: "Conheci o atual bispo Carlos Azevedo era ele padre, diretor espiritual e eu seminarista, no Seminário Maior do Porto. De forma próxima e íntima, durante cerca de quatro anos, vivi com ele na mesma casa." E mais à frente: "Seria incapaz de contar as vezes em que, no meu quarto ou no seu gabinete de trabalho, a sós, ficámos a trabalhar noite dentro. Em contexto privado e ao longo dos tempos, recebi dele inúmeras manifestações de afeto, mas em nada diferentes das que para comigo teve também em público." 
HMP escreveu isto sobre o seu amigo. Testemunhos sobre amigos atingidos por escândalos há muitos, comoventes, precipitados e até salvadores. Neste há uma característica rara, porque é próprio dos escândalos a peçonha de contaminar: é um testemunho substantivo. Vou tentar memorizar a foto de HMP, pois atravessarei a rua para lhe estender a mão pela coragem. Se é que ele aceita cumprimentar um ateu.
«DN» de 28 Fev 13

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Notas soltas: fevereiro/2013

Por C. Barroco Esperança
Remodelação – Com a contratação do novo secretário de Estado, Franquelim Alves, ex-administrador da SLN, Passos Coelho há de julgar-se o Oliveira e Costa do Governo mas bastava-lhe o ministro Relvas para não precisar de justificação.
TGV – Já Durão Barroso, parco na ética e na coerência, usou o TGV como arma de arremesso eleitoral, para depois assinar com pompa e circunstância, cinco linhas. O atual sucessor, menos perspicaz e mais perigoso, segue a mesma estratégia. (...)
Texto integral [aqui]

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27.2.13

Os pinta-paredes (50)

Aqui ficam dois exemplos opostos:
Num caso, os pinta-paredes nem sequer respeitam os estores do rés-do-chão (os dois do lado direito são periodicamente limpos pelo morador, e novamente gatafunhados logo a seguir).
Já nas imagens de baixo se nota mais civismo: os artistas apenas pintam as paredes, deixando os estores em paz... talvez porque não existam...

E tu, Falâncio, não avanças?

Por Ferreira Fernandes
UM POUCO como se nas legislativas de 2043 tivéssemos o Falâncio dos Homens da Luta a preparar-se para formar Governo... É aí que estão os italianos. 
Há trinta anos, Beppe Grillo era um humorista de televisão a dar show em dia de eleições. Ontem, apareceram vídeos desses tempos passados, em que os humoristas contavam piadas e os políticos contavam votos. Numa noite eleitoral de 1983, de descalabro da já falecida Democracia Cristã (DC), Grillo saltou para a cena: "Calma! Ainda faltam os votos da Nossa Senhora de Lurdes e de Fátima!" 
Ontem, Beppe Grillo era o líder e profeta do Movimento 5 Estrelas, 26 por cento, primeiro partido de Itália e, se contarmos as coligações, a terceira força italiana e aquela sem a qual não se governa. Nessa posição de força, a que apelou o Movimento 5 Estrelas? A um método não muito diferente do humorista Grillo de 1983, que gozava com a mania de a DC em acreditar em milagres: se não reza às santas, confia na Internet! É, as decisões do partido charneira da política italiana vão ser avalizadas por consultas online. Cada aprovação de lei vai pedir a aprovação, não do digníssimo público, como se diz nos circos, mas aos cibernautas. 
Beppe Grillo, o italiano que tem um dos dez blogues mais influentes do mundo, tem o teclado poderoso. Vivemos um admirável mundo novo e os perigos são evidentes. Aos estúpidos e venais da classe política podemos agradecer o laboratório onde nos meteram.
«DN» de 27 Fev 13

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Apontamentos de Lisboa

Esta rua, a Eduardo de Noronha, vai entroncar na Av. D. Rodrigo da Cunha (v. fotos anteriores). Há alguma diferença, não há?

O conclave acelerado

Por Antunes Ferreira
NUNCA ao longo dos séculos em que existe a Igreja Católica Romana e Apostólica se verificou um Conclave tão acelerado. Sinal dos tempos, das pole positions, dos bólides, da Fórmula Um? Pelos vistos nada disso contribui para a aceleração por parte de Bento XVI da reunião dos cardeais que vão eleger o próximo Papa. Há já diversas teses, muitas opiniões e avultadas coscuvilhices a propósito dessa velocidade e das causas da renúncia do que se classificou de Panzerpapa. O passado do ex-cardeal Joseph Ratzinger esteve (e quiçá continue a estar) num assunto enevoado. O que veio a lume é que ele pertenceu à Juventude Hitleriana.
Mas, deixe-se de parte este enigmático e sinistro episódio – durante o nazismo todos os jovens com mais de 14 anos tinham obrigatoriamente de se enquadrarem na organização juvenil do regime. No Portugal salazarista recorde-se que também havia a Mocidade Portuguesa – para abordar, antes do mais, a renúncia do Papa. Eduardo Febbro, um jornalista em Paris escreveu A história secreta da renúncia de Bento XVI da qual aqui fica extraído um passo importante:
«Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba.
Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro.
O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.
Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas(…)»
Todo o artigo desenvolve, por exemplo as relações da Cosa Nostra com o Vaticano, cujo novo patrão, Messina Dernaro, tem o seu dinheiro em contas no IOR, e as intervenções na trama que tinham envolvido o americano Monsenhor Marcinkus, o «suicídio» do Presidente do Banco Ambrosiano, em1982, bem como as «fugas de informação» do secretário de Bento XVI, Monsenhor Bertone, numa amálgama tenebrosa que incluía ainda o anterior Papa João Paulo II. De tudo isto se pode compreender a renúncia do antigo cardeal Ratzinger.
Já no que respeita à velocidade «supersónica» da convocatória do Conclave, há mais razões a considerar: o papa Bento XVI fez uma alteração na lei vaticana para permitir mais rapidez na eleição do seu sucessor. Anteriormente, o Conclave deveria começar pelo menos 15 dias depois da resignação papal. Contudo Bento XVI alterou essa disposição para que as reuniões prévias ao conclave possam começar já a 1 de março. Caberá então aos participantes desses encontros definirem a data de início da eleição.
Mas há mais. Três dias antes da sua renúncia, Benento XVI aceitou a demissão do único cardeal-eleitor do Reino Unido, O'Brien, que já não participará no Conclave pois ter-se-ia comportado de «forma inconveniente» para com padres ao longo de 30 anos Alguns cardeais querem também que o início da reunião (que terminará com o fumetto bianco), seja rápido para reduzir o período de acefalia da Igreja num momento muito difícil.
Outros, porém, acham que a antecipação do conclave dará a  vantagem aos cardeais que já estão em Roma, trabalhando na Cúria, que é a administração do Vaticano, foco das acusações de incompetência e escândalos sexuais que diversos órgãos da comunicação social especulam que poderiam ter levado à renúncia do papa. Claro que a Santa Sé negou tudo. Mas, o que é certo é que, logo após a renúncia, já há cardeais que fazem consultas informais por telefone e e-mail. Ou seja o progresso e a globalização já marcam a reunião.
Acentua-se, portanto, o imbróglio que se vive no Vaticano e que ninguém sabe onde ele irá parar. O prestígio de que gozava a Igreja Católica Apostólica e Romana parece estar a ir-se ao fundo. Mas, sendo este talvez o pior momento que vive, ela sempre conseguiu emergir da procela. Atenção pois aos próximos capítulos desta telenovela eclesiástica.

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Apontamentos de Lisboa

19 e 22 de Fev 13
Recentemente, ao ler uma História de Lisboa, deparei-me com um apontamento de um viajante estrangeiro que dizia que a cidade lhe parecera muito bonita - vista de longe, ao entrar o Tejo. Mas, depois, vendo-a rua a rua e praça a praça, a sujidade, o caos e a miséria deram-lhe dela uma imagem bem diferente.

Lembrei-me disso ao entrar, um dia destes, na Av. D. Rodrigo da Cunha - vindo dos lados do aeroporto.
Como se vê pela primeira imagem (a tal "vista de longe"), ela tem tudo para ser uma rua-modelo,  simpática e acolhedora: é espaçosa, tem árvores e ajardinamentos com fartura, espaço de sobra para os contentores do lixo, passeios largos, estacionamento abundante...

O mito escangalhado

Por Baptista-Bastos
TUDO INDICA que o Grande Manitu das finanças portuguesas não passa de uma fraude. O homem, tido e havido como um génio sem par, não lhe acerta uma. De cada vez que se põe a prever, a projectar números e concepções, sai tudo errado; pior: acontece o contrário, com a consequência nefasta de afectar milhões de nós. Só agora, as indignações e os vitupérios começaram a surgir. E posta em causa a competência de Vítor Gaspar. Não se lhe exige que seja uma pitonisa de Delfos, dispondo de poderes premonitórios quase divinos. Mas pede-se-lhe, unicamente, que faça bem o seu trabalho: analise, compare, estatua as previsibilidades do mercado. A experiência ideológica aplicada a Portugal, de que ele é um obediente serventuário, conduz a um esvaziamento do próprio animus colectivo, resultado de um empreendimento de sujeição baseado no medo, na violência e na unilateralidade de pensamento.
No domingo, durante o programa Prós e Contras, de Fátima Campos Ferreira, um dos melhores que vimos, o general Loureiro dos Santos referiu que, nas Forças Armadas, um oficial superior que se enganasse tanto e tantas vezes, já tinha sido despedido. Aliás, durante a sessão, as críticas às definições e às decisões do Governo foram das mais lúcidas interpretações que tenho ouvido acerca da maneira e do modo como estamos a ser conduzidos e governados. Todo o poder encontra sempre uma resistência, sobretudo quando actua admitindo não haver possibilidade de escolha e de alternativa. As decisões são aceitas e tomadas em conjunto.
É, pois, preciso não esquecer de que a desgraça que nos atinge estende-se, na sua imperiosa e grave crueldade, à culpa de todos os membros do Executivo. Nenhum é inocente e cada um e todos terão de ser punidos, para lá do que as urnas disserem. A correlação entre acção e indulgência, que se tornou uma absurda normalidade, tem de ser interrompida, e os governantes responsabilizados. Recordo que a França, após a Libertação, criou a figura jurídica de "indignidade nacional" aplicável aos que haviam tripudiado sobre "a honra da pátria e os direitos de cidadania."
O lado "punitivo e ideológico", de que fala a eurodeputada socialista Elisa Ferreira, foi por eles criado e desenvolvido com inclemência e zelo. Resgatar a tragédia aplicando-lhes o mesmo remédio é uma tese que faz caminho, como resposta de justiça, nunca como retaliação ou vingança. Justiça, pura e simplesmente
O que este Governo nos tem feito representa a mais grave contraconduta social, política, cultural e humana verificada em Portugal desde o salazarismo. O discurso oposicionista não pode, somente, ser "diverso" e incidir, apenas, na "actualidade" portuguesa. Os sicários deste projecto encontram-se espalhados transversalmente por todos os sectores da actividade europeia, mas não há batalhas inúteis, nem lutas sem sofrimento.
«DN» de 27 Fev 13

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26.2.13

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Bunga-bunga? Ainda não viram nada...

Por Ferreira Fernandes
QUANDO escrevo ainda os resultados eleitorais italianos estão uma trapalhada. Ótimo, é quando eles espelham melhor o país. Ontem, a Itália, como sempre, parecia um maluco felliniano em cima de uma árvore a gritar "eu quero uma donna!", Alberto Sordi a aldrabar um polícia e Vittorio Gassman a pôr o seu ar de Il Mattatore
Itália excessiva, como pensávamos que era só o cinema italiano, quando é a Itália, ponto. Por exemplo, nos outros países o centro político é um mito a atingir, ali é uma praça romana circulada por lambretas e Fiats 500: o centro-centro de Mario Monti, o centro-esquerda PD de Bersani e o centro bunga-bunga PDL de Berlusconi. 
Monti apostou no registo de professor modesto e estampou-se, só 10 por cento (não viram Benigni em A Vida É Bela? - em Itália os professores querem-se é gloriosamente aldrabões). Os outros dois aproveitaram e ligaram o complicómetro: o Parlamento estando dividido em Câmara de Deputados e Senado, o PD e o PDL partilham-nos em vitórias tangenciais. No final, talvez já tenham invertido as posições, mas não no essencial: já é certo que a Itália ficou ingovernável. Isto porque este circo ganhou um palhaço: Beppe Grillo, grilo que, mais do que falante, tuíta e bloga. Com cerca de 25 por cento de votos, Grillo é o grande vencedor das eleições e o seu Movimento 5 Estrelas tornou-se o fiel da balança política. 
Pedir a um humorista e provocador para ser fiel, só mesmo em Itália.
«DN» de 26 Fev 13

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25.2.13

Estes livros são interessantes e não são caros - comprei 4.
Fica apenas a pergunta: o que é que pode levar um livreiro a afixar estas etiquetas que, como se vê, não saem?

Seria pior com Gaspar marceneiro

Por Ferreira Fernandes
AINDA fevereiro não acabou e Vítor Gaspar já confessa um erro: a recessão não vai ser a que previra, mas o dobro. E um dobro provisório (no ano passado ele teve de retocar as contas várias vezes). E depois? Porque se há de julgar uma pessoa pelos erros, insistindo em não lhe reconhecer os méritos? Gaspar faz erros de contas? Faz, mas conta-o devagar. É de uma comovedora inocência dar-nos tempo para ler-lhe nos lábios os números enganados. Reconheço que os erros dele podem fazer mal a muitas pessoas, mas temos de lhe agradecer por ter ido para ministro das Finanças, onde esses males só ganham dimensão ao fim de um, dois anos... Se Gaspar tivesse ido para marceneiro faria as portas das discotecas a abrir para dentro e, aí, os erros dele matariam centenas de pessoas numa madrugada. 
Reparem, também não foi para copiloto. Uma vez, no Verão de 1983, um Boeing 767, da Air Canada, reabasteceu-se em Montreal. Devia ter posto 22300 quilos de fuel, mas o copiloto mandou encher 22300 libras, menos de metade. Típico de Gaspar, se lá estivesse. A meio caminho o avião teve DE planar. Será que anunciaram devagarinho aos passageiros as perspetivas em baixa (oh, quanto!) dos depósitos? Felizmente o avião pôde aterrar num parque industrial em Gimli, no Manitoba. 
Trago este exemplo para mostrar que os erros nem sempre são trágicos. Às vezes, até são gloriosos: Colombo enganou-se nos cálculos, supondo a Índia, descobriu a América... 
«DN» de 25 Fev 13

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24.2.13

O estudo das rochas ígneas portuguesas (2) - (século xx)

Por A. M. Galopim de Carvalho

É NUM AMBIENTE de franco desenvolvimento da petrografia alemã e também da francesa, com evidentes reflexos em Portugal, que ganha relevo a figura do português Engº. Vicente de Souza-Brandão (1863-1916). Para além do nome e do prestígio que lhe são devidos como mineralogista, este petrógrafo de muito saber, entre outras cadeiras, estudou em Coimbra, Mineralogia, Geologia e Arte de Minas, onde teve como professor o ilustre lente Doutor Gonçalves Guimarães. (...) 
Texto integral [aqui]

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Afinal, nem tudo é asno

Por Ferreira Fernandes
ONTEM a SIC mostrou-nos o Centro de Acolhimento de Burros em terras de Miranda do Douro. Os burros, vivendo 35 anos, a dada altura ficam velhos para o mercado de trabalho. Para explicar a um burro imprestável, cujos olhos pestanudos mostram não entender nada do que lhe sucede, havia que lhe lançar a fórmula moderna: "Qual é a parte de 'não há dinheiro para ti' que não entendes?" Mas os burros são burros e os seus donos geralmente não têm licenciatura em Comunicação Empresarial. Acresce que muitos dos donos dos burros velhos já estão tão velhos quanto eles, se é que também não tão burros, e não procuram obter com os quadrúpedes o derradeiro lucro. Na verdade, há um mercado para a compra da carne velha de burro, para ser deitada às matilhas de cães. Mas não, aos burros, falo agora dos bípedes, custa-lhes o desprezo pelos últimos dias do seu burro. Então, sem ligarem ao provérbio da Escola de Chicago "a mula com mataduras (mazelas) nem cevada nem ferraduras" - isto é, nada de gastar em reformas -, os donos vão levar o burro ao Centro de Acolhimento, em Duas Igrejas, para descansados últimos dias. Ali, recolhem-se burros velhos, limam os dentes pontiagudos, cuidam dos cascos e deixam-nos passear sem precisar de arrastar o arado. Embora me pareça desperdício a manicura para improdutivos, confesso que a dado passo da reportagem me comoveu a visita semanal de um casal de jarretas ao seu velho companheiro. 
«DN» de 24 Fev 13

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Luz - Jordânia, Wadi Ram 2012

Fotografias de António BarretoAPPh
Clicar na imagem para a ampliar
A Sul de Petra, fica este deserto famoso. É um dos locais mais áridos da Terra. O Wadi Ram (também se escreve Wadi Rum ou Wadi Ramm em línguas ocidentais) termina na cidade de Aqaba, na costa do Golfo do mesmo nome. O litoral e o respectivo porto é dividido em duas partes, uma Jordana, outra Israelita. Este é o deserto longamente mencinado por Lawrence da Arábia no seu livro “Os sete pilares da sabedoria” e teatro de cenas excepcionais no respectivo filme. Foi este deserto que Lawrence teve de atravessar duas vezes seguidas para salvar um amigo (que depois teve de castigar com a morte...). Ao atravessá-lo, hoje, no conforto de um jeep com toldo e garrafa de água fresca, não se pode deixar de pensar naquela aventura que se transformou em lenda. Curiosamente, foram dois filmes e dois actores que “colocaram no mapa” (horrível cliché contemporâneo...) Wadi Ram e Petra. Peter O’Toole e Lawrence no primeiro; Harrison Ford e Indiana Jones, na segunda. Em ambos os locais e arredores, são numerosos os posters e as alusões aos dois heróis. (2012)

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A procuradora Cândida

Por Alberto Gonçalves
PARA que serviu a excelentíssima senhora procuradora Cândida Almeida, agora enxotada das funções no DCIAP? Para, entre outras coisas bonitas, chefiar a investigação a uma série de casos duvidosos ligados à política e à finança, do Freeport aos submarinos, do Monte Branco às Parcerias Público-Privadas, e, no fim, concluir jovialmente que "os nossos políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos, Portugal não é um país corrupto".
Cândida, de facto. O Índice de Percepção da Corrupção, elaborado pela Transparência Internacional (TI), coloca-nos em 33.º lugar na matéria em 2012, três degraus acima do lugar de 2011 mas, ainda assim, nos fundilhos do Ocidente. Salvo pelo último ano, Portugal mostra uma tendência longa e inabalável para se afundar na tabela, onde por exemplo em 2006 ocupava o 26.º posto. De resto, mesmo sem a ajuda de instituições externas, o cidadão médio é capaz de concluir sem dificuldades que os negócios caseiros assentam mais na impunidade do que na honestidade. Ou o cidadão médio é idiota e a TI trapaceira ou a excelentíssima senhora procuradora não procurou bem.
«DN» de 24 Fev 13 (parte)

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23.2.13

«Google + » Como anular?

Em tempos, fiz um Álbum Picasa que se apresentava como em cima se vê. Tem imagens e legendas, e era exactamente o que eu queria. As pessoas chegavam lá fazendo uma pesquisa em «Moinho do Gandaia» e, escolhendo a 2ª resposta (Picasa Web Album), iam ter ao endereço picasaweb.google.com/102479557804250937487/Moinho 
Até aí, tudo bem. No entanto, a partir de certa altura, uma coisa chamada «Google +» passou a redireccionar esse endereço para outro (https://plus.google.com/photos/102479557804250937487/albums/5508542232539146321?banner=pwa ), e o resultado é o que se vê em baixo: fotos enormes, cada uma de seu tamanho, e sem legendas. Alguém sabe como desactivar essa coisa do «Google +» (onde devo ter 'entrado' por engano)? 
Actualização:
Nos comentários indica-se como se resolveu o problema. Mais uma vez obrigado ao Luís Bonito!

Diário "de" Notícias Diário "da" República

Por Ferreira Fernandes
ONTEM, o Expresso titulava: "Cavaco deteta erro na lei de limitação de mandatos". O artigo dizia que o texto publicado, em 2005, no Diário da República sobre a lei da limitação de mandatos não corresponde ao que foi aprovado pela Assembleia da República. E citava "fonte de Belém" que dizia que os serviços da Presidência ao "detetarem" o erro - a troca de um "da" por um "de" - "alertaram" a presidente da AR, Assunção Esteves. 
Ora, há três semanas, a 30 de janeiro de 2013, publiquei, aqui, uma crónica intitulada "O eterno lobby da vírgula." Nela, eu perguntava: "Não conhecem a história do "da" que virou "de"?" E eu contava como, em 2005, a proposta de lei sobre mandatos, desde que foi apresentada pelo Governo, até ao decreto de publicação da AR, passando pelo que foi votado, falava sempre em "presidentes da câmara". E denunciei o facto de a lei, ao aparecer no Diário da República (Lei 46/2005 de 29 de agosto), falar em "presidentes de câmara"... Sobre a diferença entre a preposição "de" com ou sem o artigo definido "a" disse, então, o que tinha a dizer e é assunto que agora apaixona os partidos (ontem, choveram declarações). Mas, hoje, quero lembrar aquele meu patrício luandense que prendeu um gatuno. Quando este estava a ser levado pela polícia, o meu patrício insurgiu-se: "O gatuno é meu!" Belém não diga que "detetou" no Diário "da" República o que pescou aqui no Diário "de" Notícias. Obrigado.
«DN» de 23 Fev 13

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22.2.13

Distinguir é preciso

Por Helena Matos 
D. JANUÁRIO, que andava calado há muito tempo, voltou desta vez não para falar de guerras civis, revoluções e tumultos [mas] para se pronunciar sobre as acusações a D. Carlos Azevedo: 
“Em declarações à TSF, D. Januário Torgal Ferreira disse que já há muito ouviu acusações de que D. Carlos Azevedo «tinha tido um comportamento homossexual».”  
Que D. Januário padece de óbvias confusões é público e notório, e esta é apenas mais uma, mas convém lembrar que o facto de se ser homossexual ou heterossexual não é chamado para o caso. Qualquer homossexual ou heterossexual pode ser acusado de factos da natureza daqueles que agora imputam a D. Carlos Azevedo.
In Blasfemias.net

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Uma porta bonita e um cão de categoria!

Que mais nos irá acontecer?!

Por Ferreira Fernandes
O JORNALISMO anda atrapalhado - sem dinheiro e sem entender como ganhar com o online - mas, nestes dias, tem-lhe caído dos céus o melhor dos subsídios: notícias extraordinárias. 
O mais carismático dos governantes, o Papa, cuja função é marcada pela tradição estrita, quebra um tabu secular. Ainda nesses domínios celestes, surgem dois fenómenos, um asteroide e um meteoro, no mesmo dia e sem nada terem a ver um com o outro. Ontem, o jornal La Repubblica revela escândalos no Vaticano que levaram à renúncia de Bento XVI e a Visão anuncia o fim das ilusões cardinalícias de um dos mais brilhantes bispos portugueses. Um estranho e famoso atleta olímpico, Oscar Pistorius, mata a namorada. No campo da música, ressuscita espetacularmente uma canção datada, Grândola. E Miguel Relvas anda por aí, o que dá sempre notícia (e que não ande, dá sempre: ontem, António Costa vê-se obrigado a defendê-lo contra os ataques violentos de Pacheco Pereira e Lobo Xavier). 
É o que eu dizia, estes dias são para os jornais como certos anos bissextos para o Barca Velha, uma sucessão de raras circunstâncias que permite um néctar. Pode faltar-nos emprego e crescimento, dinheiro para a renda e esperança para os filhos mas em manchetes vivemos regalados. O estupor de hoje faz esquecer a surpresa de ontem. Percebo a crise em geral, o petróleo está mais caro e crédito não há, mas não vejo desculpa para a crise dos jornais, com tanta, oferecida e excitante matéria-prima. 
«DN» de 22 Fev 13

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Apontamentos de Lisboa

Um bom recanto...
(Av. Gago Coutinho)

21.2.13

Pergunta de algibeira

Desafia-se os leitores a responderem à seguinte pergunta - em menos de 30 segundos e fazendo a conta "de cabeça":
Um chocolate e um rebuçado custam 1,10€. Sabendo-se que o chocolate custa 1€ mais do que o rebuçado, quanto custa o rebuçado?

A malta do "é igual ao litro"

Lisboa, Rua da Prata

Bernardino Soares, Relvas e os gritos

Por Ferreira Fernandes 
ONTEM, o deputado comunista Bernardino Soares disse dos gritos a Miguel Relvas: "O sr. ministro, logo ele, vai para uma universidade discursar, vai à procura dos acontecimentos." Enfim, Relvas estava a pedi-las... Perigoso hábito, esse, de proprietário de direitos, distribuindo e regateando. Há quem, "logo ele", não possa ir discursar para as universidades, é? Então, deixem-me recordar um episódio em que os comunistas estiveram para ser vítimas desse erro. Em maio de 1968, o jornal comunista francês L'Humanité denunciou o movimento estudantil, acusando-o de ser manobrado "por grupúsculos do anarquista alemão Cohn-Bendit." A 9 de maio, em Paris, a Sorbonne foi ocupada pelos estudantes. Um homem de cabelos brancos, o grande poeta Louis Aragon, comunista, pediu a palavra. Mas chovem insultos, impedindo-o de falar, ainda estava vivo o repúdio pelo editorial indecente do L'Humanité. Cohn-Bendit ergueu-se e impôs: "Todos têm direito à palavra, até os traidores", e estendeu o megafone ao poeta. É uma das fotos icónicas do Maio de 68: é capa do livro do fotógrafo Serge Hambourg, Aragon com o megafone a falar, com o ruivo Cohn-Bendit a ouvi-lo. 
Relvas deve ser tão mau a fazer poemas como a cantar a Grândola. Mas deveria ter falado sobre "Como vai ser o jornalismo nos próximos 20 anos?", para que fora convidado. E o mais sábio dos estudantes gritadores deveria ter aproveitado para mostrar que o ministro não pesca nada do assunto. 
«DN» de 21 Fev 13

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Convite

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A política, a economia, a ecologia e o futuro

Por C. Barroco Esperança
ENQUANTO, em nome de uma certa visão de desenvolvimento, se delapidam recursos que encurtam a sobrevivência do Planeta, há quem persista no caminho do abismo e impeça a procura de novas soluções. 
Não há neste assunto, como em nenhum outro, unanimidade de opiniões, mas há já um largo consenso sobre o que não pode ser feito. Desde a bomba demográfica, que ameaça deflagrar antes de qualquer medida séria para a contrariar, até à obstinação em exaurir os combustíveis fósseis e ao envenenamento dos recursos hídricos, tudo aconteceu no espaço de duas gerações. (...)
Texto integral [aqui]

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Os pinta-paredes (49)

Bem... sendo numa galeria de arte, talvez já seja aceitável...

20.2.13

Tomar no traseiro

Por Antunes Ferreira
O TÍTULO desta crónica não é exatamente o que o ex-secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, escritor e apresentador televisivo, escreveu sem margem para dúvidas: vá tomar no cu. Há que dizer, antes do mais, que a expressão é um brasileirismo: entre nós usa dizer-se levar no cu. Para um governante que até há pouco fez parte do (des)Governo do Coelho, ainda por cima sobraçando a pasta da Cultura, o escrito parece ser pertinente. O Acordo Ortográfico em vigência não se refere a expressões desse jaez, reporta-se principalmente à ortografia, tanto quanto sei.
Mas, vamos a factos e para tal permito-me transcrever a notícia saída a terreiro no diário «Público», faz hoje oito dias, mesmo sem ter pedido autorização ao referido quotidiano.
«Francisco José Viegas dedica esta quarta-feira um post no seu blogue ao actual secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, onde lhe deixa um aviso sobre o que fará se for abordado por um agente da Autoridade Tributária e Aduaneira. (...) 
Texto integral [aqui]

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Os pinta-paredes (48)

 
Nesta notícia está tudo dito e compreendido:
Antes de mais, as autoridades e a autarquia de Lisboa só agora saíram da sua letargia (se é que saíram...) - quando já não há nem mais um metro quadrado para pintar e, por coincidência, em ano de eleições.
Depois, atiram-nos com um enjoativo "grupo de trabalho" que vai estudar o que está mais do que estudado em todo o mundo.

Pegando de cernelha boicotes a Relvas

Por Ferreira Fernandes
UM GRUPO de rapazes marcou uma sessão num clube de Gaia para cantar Grândola. Cantaram mal. Não gostei mas guardei a viola no saco: os rapazes estavam no seu clube, organizaram aquela sessão. Tinham direito a desafinar à sombra de uma azinheira ou na sua sala de Gaia. Mas Miguel Relvas apareceu e boicotou a reunião, cantando maviosamente. Repudio, claro, a atitude do ministro: os rapazes cantadores da Grândola têm direito a desafinar, no dia e local que marcaram para o fazer. Cito a canção: "Em cada rosto igualdade." Com rosto, o Zeca referia-se mais a garganta. "Em cada garganta igualdade" (bela ideia). Os gargarejos dos rapazes não podem ser abafados pelo ministro, lá porque ele canta melhor. Digo-o com a convicção de quem, se um dia a voz do ministro for calada, serei o primeiro a defendê-lo. Cito outra vez: "Terra da fraternidade." Quer isto dizer, ninguém cala ninguém. Ora, isso não entende Miguel Relvas, que, no dia seguinte, ontem, voltou à carga no ICSTE. Aqui, outro grupo de rapazes marcou uma sessão para mostrar cartazes e gritar palavras de ordem. Contumaz, Relvas apareceu e boicotou, com o seu silêncio, a liberdade de expressão dos gritadores. 
Volto a dizer, a liberdade de expressão de Relvas acaba onde começa a dos outros. E volto a repetir: fossem de Relvas as sessões em Gaia e no ICSTE, e delas ele tivesse sido expulso por intrusos, eu estaria aqui a defendê-lo. Aliás, é o que dizem as palavras de Grândola
«DN» de 20 Fev 13

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A propósito da crónica anterior (pelo menos em parte...)

Mas António Costa tem sorte em várias coisas - que o poderão levar à reeleição: 
1ª - Mais uma vez, as eleições autárquicas estão a ser anunciadas como teste ao Governo. Alinham nesse coro (absurdo e abusivo) jornalistas, políticos e comentadores, pelo que os autarcas dos partidos da oposição ao Governo, por mais incompetentes que se tenham mostrado, vão ganhar algumas eleições - e "com toda a injustiça". 
2ª - Todos os partidos (do CDS ao BE, incluindo independentes) têm tido responsabilidades directas na gestão da cidade, e no que toca à maior parte dos problemas referidos no texto não há diferenças significativas entre eles. Santana Lopes, p. ex., é como se não existisse como chefe da Oposição. 
3ª - Inúmeros munícipes de Lisboa (e são tantos que chegam a parecer maioria - e, se calhar...) são os primeiros a ajavardar a cidade em que vivem, tratando-a sem uma gota de estima. 
4ª - A alternativa que se perfila é Fernando Seara que, tal como Luís Filipe Menezes, salta de uma câmara para outra para contornar a limitação de mandatos - sendo essa a imagem mais marcante que dá a sua candidatura.
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Assim sendo, preparem-se os lisboetas para mais uns anos de António Costa. É justo, e merecem-se bem uns ao outro.

Socialismo: procura-se e deseja-se?

Por Baptista-Bastos
AO CONTRÁRIO do que dizem línguas bífidas, o conclave de Coimbra, que reuniu distintos socialistas e alguns menos distintos, forneceu certos motivos de reflexão. Exactamente pela circunstância de nada de relevante haver servido de pábulo a uma Imprensa tão deserta de ideias quanto a melancólica vida geral portuguesa. Os jornais desejavam zaragata: o previsível "duelo" entre Seguro e Costa foi água chilra. António Costa saiu apoiando um triste documento de intenções, cujas essas, as intenções, eram alegremente nulas. Apelidado, apressadamente, de Documento de Coimbra, o virtuoso testemunho (diz-se por aí) devorou horas a graves pensadores do PS e nada exprime que suscite um debate, um sobressalto, uma inquietação, uma expectativa. Seguro pode descansar. Costa, muito astuto e politicamente mais preparado, fez umas negaças, recreou correligionários cabisbaixos com o rumo do PS, recuou e aguarda o momento propício para atacar de frente. E este não é o momento. Ninguém sabe quando o será, acaso nem o próprio Costa. Afinal está a proceder como Seguro o fez com Sócrates. Histórias de chacais emboscados. Saiu de Coimbra caído nos braços do secretário-geral, e muito feliz com aquela miséria toda. Quem estará realmente interessado em dirigir uma nave de loucos? Todos aguardam, nenhum sabe bem o quê.
Passos Coelho prossegue na tarefa de demolição a que se propôs. Ignora que não se altera um Estado e as suas estruturas sociais, culturais e morais com contas de subtrair. Galbraith, hoje esquecido, provou-o com os exemplos do nazismo e do fascismo. É impressionante a desfaçatez com que este homem nos mente, falando como quem se dirige a mentecaptos. 17 por cento de desempregados não o comovem nem demovem. Ameaça que a praga não vai parar. Estamos a morrer como pátria, como nação e como povo mas coisa alguma emociona estes macacos sem fé e sem sonhos. Ri, alarvemente, com o Vítor Gaspar ("um génio" na expressão dessoutro "génio", António Borges), e chega a ser comovente o preguiçoso desdém com que Paulo Portas é tratado pela parelha.
Chegados a este ponto, é lícito perguntar: até onde a democracia pode admitir e sustentar estas indignidades? E onde pára o dr. Cavaco?, auto-omitido por natureza, mas obrigado, pelas funções constitucionais, a fazer algo que impeça a ruptura total. E os socialistas, que "socialismo" ambicionam, se é que ambicionam algum "socialismo"? E, depois de Mário Soares o ter colocado na gaveta, não sufocou definitivamente?

A tempo: confesso-me extremamente sensibilizado com as manifestações de simpatia e, até, de estima, por mim recebidas, durante uns percalços de saúde que me obrigaram a hospitalização. Uma vez ainda, a minha gratidão a todos, e à mística de humanismo de todos aqueles que trabalham e defendem o Serviço Nacional de Saúde. Bem hajam!
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
«DN» de 20 Fev 13

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19.2.13

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O suspeito

Por Helena Matos
Se assaltarmos alguém e lhe roubarmos quatro mil euros seremos sempre alegados assaltantes que praticaram um alegado furto, que quiçá alegadamente agrediram a alegada vítima e teremos direito a defesa oficiosa e a muitas explicações psico-antropológicas sobre o que nos levou ao acto que alegadamente praticámos.
REGRA geral, as culpas pelos alegados actos vão para a "sociedade actual", eterna suspeita, ou desde que, para azar das mulheres, Freud descobriu o divã, para aquilo que as nossas mães fizeram quando dávamos os primeiros passos. Mas se, enquanto empresários ou trabalhadores por conta própria, devermos mais de 3500 euros à Segurança Social podemos acabar na prisão. E, como é óbvio, no universo do contribuinte não há alegados. Apenas criminosos.
Ninguém é inocente até prova em contrário mas sim naturalmente culpado. Primeiro paga-se. Depois contesta-se. Sem psicologias nem sociologias. E muito menos sem os garantismos do Direito porque em matéria de justiça tributária e contestação fiscal apenas os muito ricos conseguem não ser tratados à partida como culpados.
A polémica em torno da obrigatoriedade das facturas apenas evidenciou este facto consumado: vivemos numa sociedade que tem uma retórica de crescentes direitos para o cidadão, sujeito activo de direitos, cujo reverso implica uma tirania para o contribuinte, sujeito passivo de deveres. Aos imprescindíveis direitos à vida, à liberdade, à propriedade, ao trabalho... foram-se juntando outros direitos que em vez de garantirem que cada um podia fazer com a sua vida o que quisesse independentemente da sua cor, sexo ou religião, procuraram garantir uma panóplia de bens e serviços de que entre nós ficará como símbolo o cheque-bebé.
A política tornou-se num catálogo de promoções: a esquerda mais radical depois de prometer económicos amanhãs cantantes na pátria socialista passou a defender o dispendioso investimento público e o tudo gratuito para todos nas terras do nefando capitalismo. A direita para não ficar atrás no ofertório prometia, piedosa, um País sem pobres e o centrão, cheio de complexos de culpa por não prometer tanto, ia prometendo o que não podia e garantindo que amanhã ainda podia prometer mais. Enquanto esta girândola rodava uma figura foi-se agigantando até atravancar por completo as nossas vidas: o contribuinte de cujos bolsos sai aquilo que os políticos dizem que dão e também o dinheiro para sustentar essa máquina redistributiva que cada vez distribui menos porque gasta tudo consigo e que dá pelo nome de Estado.
Hoje em dia cada um de nós é uma espécie de Olívia costureira versus Olívia patroa, número criado por Ivone Silva para dar conta dos paradoxos vividos nos tempos em que a luta de classes era o motor da História. Agora a luta de classes está no museu e a luta trava-se entre o cidadão que perde direitos e o contribuinte que não consegue pagar mais. Desgraçadamente um e outro são a mesma pessoa.
«DE» de 19 Fev 13

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Às vezes não temos resposta nenhuma

Por Ferreira Fernandes 
É DAQUELAS notícias que não dão para tirar uma lição: a culpa não é dos do Governo de agora, nem é dos de antes. É só uma notícia de domingo com passeios quase sem gente. 
O nepalês Narenda Giri, de 40 anos, subia a pé a lisboeta Conde Redondo. Podemos adivinhar a facilidade, um nepalês é da terra de trilhos e de xerpas. Diz a Internet: Nepal, retângulo quase perfeito como Portugal, medidas parecidas, 800 km de comprimento, 200 de largura. Só que deitado, não de pé como nós, em Norte-Sul, deitado para descansar antes de atacar os Himalaias. Ia Narenda, subindo, e veio uma carrinha do Exército, desgovernada. Podia ter varrido o passeio quase solitário mas atacou-o a ele. A carrinha arrastou Narenda e cortou-lhe as pernas contra a montra de uma loja chinesa. A loja chamava- -se Mercado da Amizade. Pouco depois - a família morava por ali - chegou a mulher, Gecta, e as duas filhas, Dibya e Dikshya, adolescentes. Dibya, de 15 anos, disse que tinham chegado a Lisboa nem há uma semana. A notícia, além de não mostrar culpados fáceis, é curta. Porque vem uma família de nepaleses para Lisboa? Se calhar também foram à Internet e acharam graça aos retângulos parecidos. Mas porque é que um nepalês que ainda há uma semana estava no teto do mundo há de se pôr entre uma carrinha desgovernada e a montra chinesa do Mercado da Amizade? 
Perguntas ociosas... Eu fujo é de outra: que vai fazer este nepalês, Narenda Giri, sem as duas pernas? 
«DN» de 19 Fev 13

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18.2.13

A malta do "é igual ao litro"

Alguém perguntou a Seguro por Beatriz?


Por Ferreira Fernandes  
HÁ DIAS, num hotel luxuoso de Cascais, uma jovem socialista de cabelo à la garçonne e voz insinuante partiu os pratos num encontro entre os seus. A espanhola Beatriz Talégon, de 29 anos, líder internacional dos jovens socialistas, baralhou o tradicional calendário - "revolucionário, aos 20 anos, social-democrata, aos 40" - e, a meio caminho, interpelou, com ganas radicais, os velhos socialistas: "A sério, queremos falar aos cidadãos a partir de um hotel de 5 estrelas de Cascais e chegando em carros de luxo?!" Os "velhos" Seguro, Papandreu, Ségolène Royal e outros antigos, atuais e futuros governantes não deram devida conta ao discurso da jovem, mas ele caiu no YouTube e tornou-se viral, visto por centenas de milhares de pessoas. A cara fresca ajudou mas a exposição da contradição foi o principal: como é que estes tipos nem tentam enganar? 
Ter Talégon falado numa reunião da Internacional Socialista potenciou o escândalo (esquerda e luxo fazem maior contraste), mas o grito dela podia ser para todos os políticos, também os de direita, que pretendem convencer o povo: como é que vocês, nestes tempos de crise, nem fazem pelo menos de conta?! 
Neste sábado, Beatriz Talégon foi a uma manifestação contra os despejos de inquilinos, em Madrid. E foi expulsa pelos extremistas que viram nela só a militante de um partido do centrão... Só se confirmam as palavras da jovem espanhola: os tempos estão perigosos e os de cima, cegos. 
DN» de 18 Fev 13

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17.2.13

Luz - Perto da Porta de Damasco, Jerusalém 2012


Fotografias de António BarretoAPPh

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Dois Judeus ditos “ortodoxos” acabaram de sair do Muro das Lamentações, dirigem-se para a Porta de Damasco. Vão talvez tomar o autocarro. Os dois estranhos chapéus, os caracóis do cabelo, as barbas, os casacos, as calças.. Tudo neles revela a ortodoxia dos rituais e dos uniformes. O telemóvel que um usa pode chocar de repente, pela modernidade, mas tal não será o caso. Esta “ortodoxia” nada tem de comum com artesanato, atavismo ou conservadorismo técnico: há muitos “ortodoxos” que usam as mais modernas tecnologias imagináveis. Nada de semelhante com os “Hamish”, nas comunidades americanas. (2012)

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O estudo das rochas magmáticas em Portugal (1)

Por A. M. Galopim de Carvalho 
MUITO antes do conhecimento das rochas ocupar lugar de ciência, é interessante lembrar as observações e descrições vulcanológicas levadas a cabo nos Açores, no século XVI, pelo português Gaspar Frutuoso (1522-1591). Nomeado vigário da Igreja Matriz, na Ribeira Grande, S. Miguel, em 1565, este estudioso deixou-nos essas importantes memórias na sua obra, “Saudades da Terra”, em seis volumes, publicada em 1966 pelo Instituto Cultural de Ponta Delgada. (…)
Texto integral [aqui]

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Sinais sobre o próximo Papa

Por Ferreira Fernandes
COM o atrevimento próprio de um ignorante que há dias, aqui, confundiu a diocese do último Papa demissionário antes de Bento XVI - em 1415, Gregório XII foi nomeado bispo de Porto-Santa Rufina, arredores de Roma, e não Porto, Portugal (como me ensinou um leitor) -, volto ao assunto da semana. 
Leigo mas fascinado, tento ler sinais. Nem tanto do que salta dos céus - na segunda, um cardeal fala da demissão do Papa como um "raio num céu sereno", nesse dia um relâmpago ilumina a cúpula de São Pedro e, na sexta, uma chuva de meteoritos cai na Rússia - mas sinais escritos na História. Hoje, há menos europeus do que papabili vindos de fora: um ganês, dois brasileiros, um canadiano, um hondurenho, um filipino... 
A última vez que um não europeu ocupou a cadeira de S. Pedro foi com o sírio Gregório III, de 731 a 741, filho de um país onde os cristãos estão hoje na véspera de desaparecer. Por ironia, no ano seguinte à tomada de posse do sírio Gregório III, em 732, Carlos Martel parou em Poitiers a ocupação muçulmana da Europa. Depois, há esta pescadinha de rabo na boca: Gregório III foi quem mandou São Bonifácio evangelizar a pagã Baviera, de onde viria Joseph Ratzinger - agora, talvez o predecessor do primeiro Papa não europeu ao fim de mais de mil anos. E outra coisa: Gregório III foi o primeiro Papa a proibir a hipofagia, comer cavalo. 
É o que eu dizia, ouvir telejornais esta semana é ser assaltado por sinais.
«DN» de 17 Fev 13

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16.2.13

Alguém sabe o que o LETS quer dizer?
Resposta:

A malta do "é igual ao litro"

Mandam carregar no botão azul. Mas... qual deles é?!
(Lisboa, parquímetro da EMEL)

Os pinta-paredes (47)

Trokas e baldrokas?
(Lisboa, Rotunda do Aeroporto)

Os céus são bazófias comparados connosco

Por Ferreira Fernandes
COMO no álbum A Estrela Misteriosa, de Tintim, ontem um asteroide passou-nos uma tangente e um meteoro caiu algures na Terra. Sem ousar abusar da imaginação, Hergé juntou ambos: o meteoro era um fragmento do asteroide que prosseguira viagem (no fundo, foi um único fenómeno). Mas, no acontecido ontem, a realidade pôde permitir-se uma extraordinária coincidência: de manhã, uma chuva de meteoritos espalhou-se pelos Urais e, à noite, sem ter nada a ver com o fenómeno matinal, o asteroide 2012 DA14 cruzou-se connosco. Foi como se duas estrelas de Hollywood, Clooney e Travolta, sem combinarem, se encontrassem por mero acaso num café em Mogadouro. 
O asteroide de ontem foi o que mais se aproximou da Terra sem com ela chocar. E a chuva de meteoritos foi a que mais feridos causou, mil. Antes dela, só consta um cão morto por um meteorito em 1911, no Egito, e um miúdo ugandês ferido, em 1992. 
Os céus, apesar de ameaçadores, não passam disso. Já os fenómenos cá de baixo têm sido mais eficazes. O álbum A Estrela Misteriosa foi publicado em 1942, na Bélgica, e um seu quadradinho mostra um velho desesperado a bater num gongue: "Vem aí o fim do mundo! Arrependei-vos!" No quadradinho seguinte, o judeu Isaac diz ao judeu Salomão, esfregando as mãos: "Que bom negócio, assim não vou ter de pagar aos fornecedores..." Nesse 1942, em Auschwitz, os chuveiros de gás Zyklon B matavam mais do que até hoje as chuvas de meteoritos. 
«DN» de 16 Fev 13

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15.2.13

Apontamentos de Lisboa

Mais um troço de passeio que abateu. É na Rua do Ouro, e o buraco tem cerca de 2 metros de profundidade... Em volta, numa extensão de vários metros, o piso está inclinado, denunciando a iminência de mais novidades.