29.11.16

Apontamentos de Lagos


Imagens de um curioso passatempo, que consiste em equilibrar pedras umas por cima das outras.
Na 1ª, alguém usou 3 pedras das ruínas de um cemitério medieval, aqui em Lagos.
Se fosse há alguns anos, eu diria que é de mau gosto. Mas hoje em dia já não digo nada, pelo que me limito a deixar as fotos.
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NOTA: A imagem do meio é da praia de Porto de Mós (onde chegou a haver centenas destas curiosas construções), e a de baixo é tirada de um vídeo de um especialista nesta matéria.

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28.11.16

Sem Emenda - As Minhas Fotografias

A Batalha, o tempo e o skate – O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, do gótico tardio, é um dos mais belos monumentos portugueses. As suas “Capelas imperfeitas”, que nem os homens nem o tempo terminaram, são considerados exemplos importantes do “Manuelino”. O mosteiro está hoje bem conservado, acolhedor e sempre a oferecer surpresas de pontos de vista e de novos segredos. É um dos mais visitados de todo o país. Aqui se vê o tempo que passou, na sua versão de escultor. A cor da pedra, as imperfeições e o desgaste do tempo aumentam a beleza do edifício e conferem-lhe peso da história. A pedra parece quase um ser vivo que envelhece, se escurece e suaviza. Na sua frente, outro paradoxo do tempo. Um jovem de skate parece levitar, certamente familiar com o sítio e o seu espírito, passa ao lado, desprevenido, sem dar sinais de estar comovido com uma das jóias da arquitectura monumental e religiosa portuguesa e europeia. Lá dentro, em repouso do tempo, para sempre, D. João I e Dona Filipa de Lencastre com seus filhos Fernando, Henrique, Duarte, Pedro, Isabel e João… A “Ínclita geração”, segundo Camões.

DN, 27 de Novembro de 2016

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27.11.16

Sem emenda - O tempo…

Por António Barreto
O tempo, esse grande escultor… É um belo livro de ensaios de Marguerite Yourcenar. A autora alude ao tempo que constrói e modifica, que transforma os objectos e as obras de arte e que lhes dá nova vida depois de criados. Muito do seu pensamento é também metáfora. O tempo também constrói carácter e sentimentos. Também pode trazer sabedoria.

Mas não é esta a única maneira de olhar para o tempo e os seus efeitos. Outra ideia é a que faz da passagem do tempo a fonte da amnésia, que tudo faz esquecer e tudo torna relativo, sem importância. Pode haver sageza nesta concepção. Mas oportunista. Pode tratar-se de uma boa solução para evitar ansiedade e que nos ajuda a ver que há muitos problemas que não existem, que são só aparência e que se esfumam com uma breve e judiciosa espera. É um velho princípio: o que esquecemos não existe.

Há mais. Por exemplo, a convicção ou a esperança em que a passagem do tempo tudo arranja e tudo repara. Não faz esquecer, mas ajuda a consertar. O tempo esbate a precipitação, o tempo traz serenidade e sabedoria. O tempo permite pensar e agir com segurança. O tempo ajuda a sobreviver.

 Mas não é sempre bem assim. O adiamento é tantas vezes mortal! O que não se faz em seu tempo nunca se fará. Ou far-se-á nas piores condições. Ou faz-se mal… Os últimos anos foram férteis em situações de adiamento desaconselhado, mas inevitável. Os ajustamentos financeiros, por exemplo. Cinco anos antes, tudo teria sido mais fácil, mais eficaz e menos doloroso. Já hoje podíamos estar longe da austeridade dos últimos anos e da aspereza dos próximos. O tempo foi a arma dos covardes.

A Constituição é mais um caso exemplar. A sua revisão, à espera há anos, com tanta matéria que poderia ser examinada serenamente, acabará finalmente por se fazer um dia, ninguém sabe quando, sem a preparação suficiente, sem o tempo necessário ao estudo e ao debate. E possivelmente em más condições. As anteriores, embora atrasadas e sob intensa polémica, fizeram-se em tempo útil. A próxima, há muito uma necessidade, até já foi tentada, sem resultado. Quando chegar a vez, será seguramente tarde. Ou já teremos enveredado definitivamente por caminhos constitucionais que impedirão novas políticas. O tempo é a resposta dos fracos.

Os famosos processos judiciais, “les causes célèbres”, que alegadamente envolvem figuras conhecidas da política e da economia e têm a corrupção como actividade criminal, arrastam-se sem decoro, a ponto de se extinguirem, de os crimes prescreverem, de os ânimos arrefecerem e de as influências se exercerem com o intuito de alterar o curso da Justiça. Antigos governantes e deputados poderosos, antigos altos funcionários e antigos banqueiros e empresários esperam e receiam que Justiça seja feita. E quanto mais esperam, menos Justiça há. A Justiça precisa de tempo. Mas o tempo mata a Justiça.

A Caixa Geral de Depósitos é talvez o exemplo mais actual do modo como o tempo torna tudo mais difícil. Com o tempo, quase todos ficaram a perder. Quase todos ficaram a merecer epítetos e julgamentos severos, sempre adequados. Uns por imperícia. Outros por má fama e reputação. Outros ainda por incompetência. E outros finalmente por calculismo e interesse político. Quaisquer que tenham sido as promessas do governo, as exigências dos gestores, as garantias dadas e não cumpridas, as imposições dos partidos e as contradições entre diplomas legais, as conclusões parecem simples: os gestores têm de cumprir a lei, justa ou injusta; o governo tem de corrigir o que disse e fez; os gestores têm de cumprir ou ser substituídos. O que é certo é que quase toda a gente saiu mal. A Administração da Caixa fica ferida de reputação. O ministro e o secretário de Estado ficam feridos de palavra. O Parlamento fica maculado por incompetência e oportunismo. A sabedoria precisa de tempo. Mas o tempo destrói a sabedoria.

DN, 27 de Novembro de 2016

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Terrorismo em Lisboa?

Por Antunes Ferreira
A ameaça terrorista tornou-se uma constante suspeita no quotidiano de quase todo o Mundo. O terror é isso mesmo: tem por finalidade o desassossego dos homens onde quer que se encontrem sobretudo nos centros urbanos onde para os criminosos é mais fácil levar a cabo os seus hediondos propósitos. E as medidas de segurança, por maiores e mais fortes que elas sejam, só muito dificilmente podem impedir que esses actos criminosos possam alcançar os objectivos a que se propõem.
É ponto assente que é impossível colocar um polícia ou um soldado junto de cada cidadão para prevenir qualquer movimento suspeito que ele possa demonstrar mesmo que disfarçadamente. Seria meio mundo a vigiar a outra metade… Portanto, mesmo em hipótese irrealizável, uma tal utopia redundaria em anedota universal não fora o caso da realidade sangrenta que a negaria.
Em Portugal, mais propriamente em Lisboa, viveu-se anteontem, sexta-feira, 25, uma ocorrência que disse bem do sentimento de suspeita, mas também de medo que se enquadra no terrorismo. Felizmente sem consequências graves no que toca às pessoas. Mas podia ter sido pior. Para quem – como nós os portugueses – costuma dizer que aqui não acontecem coisas dessas, foi um exemplo de que, sim senhor, podem acontecer. E de extrema gravidade.
O assunto conta-se em algumas linhas. Socorrendo-me, mais uma vez do que informou a comunicação social, passo a transcrever.”Um pacote suspeito foi encontrado na conservatória de Lisboa. Meios da PSP já estão no local. A circulação automóvel foi hoje cortada cerca das 15:30 na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, entre o Saldanha e a Avenida António Augusto de Aguiar, devido à presença de um pacote suspeito num edifício. Pelas 16:45, o perímetro de segurança foi alargado até à rotunda do Marquês de Pombal, por "questões de segurança", (…)  Para o local foram já mobilizados agentes especializados em minas e armadilhas.”
Entretanto e como outra medida de precaução foram ainda evacuados o prédio onde fica a Conservatória e outros contíguos, tendo, assim sido estabelecido um perímetro de segurança. Finalmente, a equipa de inactivação de explosivos fez a avaliação e concluiu que o objecto não tinha produto com conteúdo explosivo, e portanto não havia ameaça. Foi retirado, reaberto o trânsito, voltaram as pessoas aos locais donde tinham sido evacuadas. Não tinha sido nada…
Veio depois a saber-se que o embrulho continha… brinquedos, coisas próprias do Natal que se vai aproximando. Brinquedos que tinham sido enviados de fora de Lisboa e que o destinatário talvez por esquecimento deixara abandonados originando toda esta confusão. Podia ter sido pior, mas não foi. Felizmente não foi.
O que não quer dizer – de forma nenhuma – que os cuidados não tenham de ser redobrados, porque Portugal, de acordo com o Daesh, faz parte do “Califado Ibérico”. O que pode significar, pelo menos, que o nosso país pode vir a ser um objectivo importante a alcançar pelo auto-intitulado Exército do Isis. Como atrás se disse o terrorismo é assim chamado porque vive do terror, de aterrorizar as pessoas, de limitar as suas vidas, de as empurrar para o pânico.

Como vencê-lo? Esse é o busílis da questão. Pela força armada, por maior que ela seja, por melhor equipada que esteja é muito difícil, quase impossível. Um só homem, um terrorista, pode pôr em causa um país, um continente, o Mundo. Contra tal a segurança e a comunicação entre homens, organizações e estados é fundamental. Pelo menos é o que se pode arranjar, para já. Para o futuro – o futuro dirá.  

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24.11.16

O perigo vem do Oeste

Por C. Barroco Esperança 
Em 20 de janeiro de 1981, Ronald Reagan, ao tomar posse como presidente dos EUA, afirmou que “a solução dos nossos problemas não está no Governo, o Governo é o problema”. O ex-ator secundário de Hollywood juntava-se nesse dia à sua alma gémea inglesa, Margaret Thatcher, eleita sete meses antes, e ao papa João Paulo II que, desde outubro de 1978, dirigia o Vaticano e seria um dos seus indefetíveis sequazes.
 A contrarrevolução, conservadora nos costumes e ultraliberal na economia, falhou nos costumes, mas desregulou a economia, precarizou o trabalho e deixou o destino social, económico e político dos povos ao setor financeiro, num frenético avanço do poder do capital sobre o trabalho, à escala global. A via democrática, quando falhou, foi trocada por ditaduras sangrentas que impuseram os objetivos ultraliberais.
 Hoje, mais de oito anos depois da falência do banco Lehman Brothers e da tragédia que adveio da desregulação dos mercados, não se repensou o capitalismo nem a manutenção de um módico de justiça social e de manutenção das liberdades. Face o abismo, deu-se um passo em frente. Nos escombros dessa política, os países mais pobres, arruinados e endividados, veem o garrote dos juros a estrangular a economia, depois de alienarem os seus setores-chave. 
 Multiplicam-se guerras regionais, explode a bomba demográfica, exacerbam-se pulsões xenófobas, criam-se jihadistas e impede-se a sobrevivência a cada vez maior número de pessoas, perante o aquecimento global e a incapacidade de regeneração do Planeta.
Vinte e cinco anos depois de Reagan, vai tomar posse Donald Trump. Desenha-se uma aliança protofascista de geometria e consequências imprevisíveis. O Reino Unido e os EUA, que há 71 anos foram indispensáveis para a derrota do nazi-fascismo e promoção da paz e prosperidade da Europa Ocidental, são hoje as suas maiores ameaças.
 Em 1945 tivemos a grandeza épica de Franklin Roosevelt e Winston Churchill; em 1980 o poder financeiro desregulou os mercados com Ronald Reagan, Margaret Thatcher e o seu aliado útil, no Vaticano; 2017 começará com a insânia de Donald Trump e Theresa May (RU), agora com a hostilidade do papa, e numerosos protofascistas que a memória curta dos povos levou ao poder, e de outros que esperam o ressentimento dos eleitores.
 Pelo meio, ficou a ‘apagada e vil tristeza’ de George W Bush e Tony Blair e o mal que fizeram. Agora, a esquizofrenia atingiu o paroxismo. E o terror vem do Oeste. 
 Ponte Europa / Sorumbático

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23.11.16

Convite


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21.11.16

Sem emenda - O mundo que criámos

Por António Barreto
O mundo que nós fizemos é fonte inesgotável de amor e decência. De honra e bondade. De beleza e inteligência. Mas também é verdade que a sociedade que criámos, com similares contributos de todas as correntes políticas, exibe abundantes razões de infelicidade e desespero.

Substituímos a liberdade e os direitos individuais pelos direitos colectivos e sociais. Destruímos o “ethos” do trabalho, em troca da obsessão da competitividade. Habituámo-nos à desigualdade social e ao desemprego crónico. Não denunciamos o racismo dos outros pelo risco de sermos nós apelidados de racistas. Aceitamos a vigilância dos indivíduos pelo Estado. Cultivamos a transparência, mas destruímos a privacidade. Deixamos que a vida cultural obedeça às regras da publicidade e da propaganda.

Fomos brandos perante ideias nefastas. A noção de que a identidade nacional é fantasia reaccionária. A certeza de que a igualdade é fonte de liberdade. A crença que o sistema democrático gera sempre a liberdade. A convicção de que basta querer para que um pobre e um desempregado deixem de o ser. A certeza contrária: se um pobre e um desempregado são o que são, é por culpa da sociedade.

Criámos uma sociedade de direitos sem mérito, de garantias sem esforço e de privilégios sem valor. Dissemos a todos que podiam aspirar a tudo, à gratuitidade, à assistência, à estabilidade vitalícia, a toda a educação, cultura e ciência e criámos classes médias prontas para tudo, desde que o consumo seja ilimitado e o crédito infinito. Fomentámos a substituição da família pela escola. Demos à política o direito de tudo dominar, a economia, a cultura, a ciência e a moral. 

Dissemos a muitos que podiam aspirar a tudo o que quisessem, que podiam ser imensamente ricos, que a imaginação, a força e o êxito eram os grandes critérios de triunfo, que a especulação era permitida e a ambição festejada! Fizemos ricos, bilionários e proprietários disformes capazes de tudo e convencidos de que podem enganar e esmagar quem contrarie tão ilustres seres. Desprezámos quem ganhou dinheiro, quem quis ganhar dinheiro e quem quis subir na vida. Não soubemos distinguir entre ganhar dinheiro de forma decente e honesta e acumular dinheiro de modo corrupto e desonesto.

Fizemos ou deixámos fazer um Estado monstruoso. Uma carga de impostos desmoralizadora. O despotismo do Estado democrático. A indiferença perante o endividamento. O favorecimento pelo Estado de negócios ilícitos, favoráveis aos amigos. A promiscuidade e a corrupção inevitáveis. A ideia de que o dinheiro não tem pátria, odor ou origem. A transformação do partido político em casta de sacerdotes da democracia. A tolerância perante a corrupção, a mentira e a promiscuidade.

A substituição de valores de identidade nacional por abstracções internacionais. A intolerância perante os diferentes, os outros e os que não pensam como nós. O mau convívio com as religiões. A ficção democrática da União Europeia e o embuste do défice democrático e dos falsos remédios para o curar. A dependência da Europa parasita dos Estados Unidos em tudo o que respeita à defesa.

Em nome da competitividade, deixámos destruir empregos estáveis e decentes e aproveitámos as piores condições de trabalho e de vida dos países pobres e das ditaduras. Queixamo-nos da globalização, que gostaríamos de travar, lamentando os desempregados europeus, sem preocupação pelas centenas de milhões de asiáticos que devem à globalização a sua sobrevivência e que deixaram de morrer de fome. 

Populistas, nacionalistas, reaccionários, comunistas e revolucionários: criámos os espectros que nos ameaçam. Ou deixámos criar.
DN, 20 de Novembro de 2016

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Uma notícia estranha, no "Diário de Notícias"...

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20.11.16

Sem Emenda - As Minhas Fotografias

Varandas de apartamentos na Zona G de Chelas, Lisboa – Estas construções, de iniciativa pública, têm trinta ou quarenta anos. Resultam de modas e reflexões dos anos sessenta. Esta Zona tem uma designação menos interessante do que a do Pica-pau ou da Pantera Cor-de-rosa! E não teve, como a Zona J, honras de ficção e filme. Toda esta área foi objecto de planeamento intenso. Vivíamos então os momentos altos das grandes migrações. Todos os dias chegavam a Lisboa populações da província. Era necessário encontrar alojamento para milhares de pessoas vindas de África (e ainda regressados ou retornados), tal como era urgente destruir barracas e reordenar clandestinos. Estes bairros foram “experimentais”, no sentido que se tentava concretizar teorias inovadoras sobre a organização social da vida urbana, o convívio, a privacidade, a relação entre residência e trabalho e a luz. Nem tudo resultou muito bem. Pelo que se vê hoje, as teorias não deram muitos frutos e é difícil imaginar que aquele urbanismo e aquela arquitectura tenham constituído exemplos a seguir… 
DN, 20 de Novembro de 2016

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18.11.16

Ganhar e perder

Por Antunes Ferreira 
O actual presidente do Partido Social Democrata Pedro Manuel Mamede Passos Coelho, cargo que desempenha desde 2010, nesta última semana tem-se visto em palpos de aranha para conseguir ligar para o senhor Belzebu. Ou porque as linhas têm estado trocadas (parece que ainda não há ligações directas via Intelsat 905), ou porque a operadora está de baia por parto, ou porque – dizem – o patrão dos demónios manda dizer pelo secretário que ele não está…
Isto tudo porque o ex-primeiro-ministro vinha avisando que as múltiplas asneiras cometidas pelo governo de António Costa levariam a que os Portugueses chegassem a uma situação dos diabos. Ou seja a diabolização estava a caminho e muito em breve chegaria a Portugal como se fora uma das sete pragas que assolaram o Egipto conjuradas por Moisés. Uma não – as sete. E não havia como escapar.
Havia, mas para isso o Dr. Passos Coelho tinha de voltar a S. Bento (de onde nunca devia ter saído) para continuar a ensinar o povo como baixar a cabeça, as calças e… ser feliz. Com mais uns impostos? (não, ele nunca faria isso!) Com mais uns descontos nas pensões (não, ele nunca faria isso!) Com mais austeridade? (não, ele nunca faria isso!) E como o prometido é sempre devido o Demónio dignar-se-ia a descer do Inferno para ajudar o Dr. Pedro Manuel Mamede Passos Coelho a institucionalizar o Paraíso em Portugal.
No entanto mesmo os mais salutares propósitos como é o caso vertente têm sempre as suas adversativas que só servem para os atrapalhar e mesmo, veja-se a desfaçatez, para os inviabilizar. É o caso do que aconteceu nesta semana que, além do mais veio provar o conluio entre Lisboa e Bruxelas. Quem diria? Mas, pior ainda: veio provar que Her Wolfgang Schäuble estava errado. Quem? O todo poderoso ministro das Finanças alemão em cadeirinha de rodas. Estava. Podia lá ser? Podia. Foi o que pode dizer uma “semana louca” Depois dos dados sobre o crescimento económico do terceiro trimestre, revelados pelo INE e dos dados do emprego e desemprego, o Governo chegou à quarta-feira passada com mais “três excelentes notícias”: a luz verde que Bruxelas deu ao Orçamento do Estado para 2017, a decisão de não avançar com a proposta de suspensão dos fundos comunitários, e ainda a previsão da Comissão Europeia sobre o défice português para 2016, que deverá ficar abaixo dos 3%. Para Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, que reagiu no mesmo dia às notícias, “estão reunidas as condições para encarar 2017 com redobrada confiança”.
No mesmo sentido se pronunciou o primeiro-ministro (mal parecia se assim não fosse) que sublinhou que os Portugueses só podem “estar otimistas relativamente a 2017 quanto ao sinal que isto representa em termos de confiança nas finanças públicas portuguesas” E ainda fez duas referências: uma quanto às famílias; outra sobre as empresas. De acordo com o líder do executivo, "as famílias podem começar a olhar para o seu dia-a-dia com maior tranquilidade, sem sobressaltos de cortes ou de aumentos de impostos". "As empresas portuguesas podem olhar com confiança para as condições de financiamento e o país pode olhar com confiança e tranquilidade quanto ao seu relacionamento com as instituições europeias"
E agora veja-se o que disse o ex-primeiro-ministro. Pedro Passos Coelho afirmou que é “positivo” que a proposta de Orçamento do Estado para 2017 tenha recebido a luz verde de Bruxelas. “O importante é que o projeto de orçamento não tivesse sido rejeitado, como poderia ter chegado a acontecer”. Para Pedro Manuel Mamede Passos Coelho o que aconteceu significou, portanto, que não é do lado da Comissão Europeia que haverá dificuldades para que o país possa ter o seu orçamento aprovado. Isso é sempre positivo e deve-se saudar que seja assim.”
Não deixou, porém de acentuar que “a Comissão chama atenção para alguns riscos que são efetivos”, tal como “o conselho de finanças públicas e a UTAO já tinham chamado atenção”. E lembrou que há “outros aspetos relevantes”, para além dos propósitos da redução do défice, “que têm que ver com as opções que queremos fazer para atingir essas metas”, mas que cabem aos países.
Ou seja para o líder da Oposição a questão é muito simples e muito complexa: quem foi primeiro – a galinha ou o ovo? Saber ganhar é ma grande virtude; mas saber perder ainda o é mais.

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17.11.16

A Bulgária e as eleições presidenciais

Por C. Barroco Esperança 
Para a História, ficaram rivalidades contra o império otomano e, depois, contra a Sérvia, Grécia e Roménia, sucessivamente. Foi e deixou de ser Estado independente em épocas diferentes. No século passado as suas fronteiras sofreram de geometria variável e a sua população de alterações étnicas, ao sabor da força das armas e da geoestratégia mundial.
 A Bulgária foi um país aliado do nazismo durante a guerra de 1939/45. Esteve depois sob o domínio da URSS até à implosão desta. Em 2004 passou a integrar a NATO e, em 2007, a União Europeia.
 No último domingo, o candidato da oposição socialista ao Governo, Rumen Radev, um general pró-russo apoiado por ex-comunistas, venceu as eleições presidenciais contra a rival apoiada pelo primeiro-ministro conservador, Boiko Borisov.
 Não se trata de mera alternância do poder. O candidato socialista, ao vencer as eleições presidenciais, provocou a demissão, já anunciada, do PM conservador e as divergências atingem o consenso precipitado da União Europeia em relação à integração da Crimeia na Rússia.
 Rumen Radev, vencedor das eleições, defende essa integração que a UE contestava num alinhamento com a política da NATO cujo futuro fica agora dependente do imprevisível e pouco recomendável presidente Trump.
 A localização da Bulgária na instável região balcânica, a sua tradição beligerante com os países vizinhos e a crescente deriva autoritária do Irmão Muçulmano turco, Erdogan, aliada à manifestada intenção de alargamento territorial, no rescaldo da destruição síria, são ingredientes bastantes para tudo o que possa correr mal à Europa, corra ainda pior.
 A Moldávia elegeu também um Presidente pró-russo, Igor Dodon, que já prometeu um referendo à UE.
 Pior e mais inquietante cenário do que o que ora se desenha, é impossível.
 Ponte Europa / Sorumbático

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14.11.16

Sem Emenda - As Minhas Fotografias


Sala de leitura da Biblioteca Pública de Boston – Também se poderia dizer “A tramp in a Library”. Mas é melhor evitar alusões e mal entendidos! A imagem pode resumir muito. Não creio que haja muitos países no mundo onde eu pudesse fazer esta fotografia, encontrar um mendigo (será um Sem abrigo ou Homeless, um Vagabundo ou Bum…) numa biblioteca pública, a escolher os seus livros para ler, a seleccionar os vídeos para ver e os CDs para ouvir. Lá fora, na rua, era Inverno e fazia frio a valer: vários graus negativos. As ruas estavam cobertas de neve. Dentro desta Biblioteca Pública, as grandes salas de leitura do rés-do-chão estão abertas a toda a gente. Nos andares superiores, há instalações para investigadores, universitários e leitores de documentos especiais. Mas aqui, a abertura total é surpreendente e atraente. Crianças e famílias, jovens e velhos, mendigos e artistas. Os livros das estantes são para serem retirados directamente, sem requisição nem funcionários de permeio. O silêncio é total. O respeito pelos outros é a regra. Dá prazer ler e estudar!

DN, 13 de Novembro de 2016

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