31.5.13

Apontamentos de Lisboa

Supostamente, a foto de cima, que ilustra a notícia, foi tirada num dia de greve, mas as outras foram-no em dias "normais", nas avenidas novas. De facto, e pelo menos em Lisboa, as greves do pessoal da limpeza urbana só não são "igual ao litro" porque a autarquia poupa largos euros em salários que, nesses dias, não paga...

O caso da bilheteira explosiva

Por Ferreira Fernandes
ONTEM à tarde, a polícia alemã preveniu os passageiros de que há bilheteiras a explodir nas estações de comboio. Desde abril, no estado de Hesse, um bando tem tapado todas as saídas das máquinas e injeta-lhes gás. As caixas explodem e os gatunos recolhem notas e bilhetes. Mas a tentativa de roubo falhou em alguns casos e há máquinas prenhes de gás, não se sabe onde. Daí o conselho: cuidado. 
A notícia deixou-me perplexo. Abstenho-me de comentários sobre a pancada que os criminosos alemães têm pelo gás. O que a notícia tem de extraordinário é isto: desilude quem acredita na organização germânica. 
Recapitulemos: há perigo de explosão das máquinas bilheteiras; conselho policial: tenham cuidado. Ai, é?! O passageiro fica a olhar, com risco de perder o comboio? Espera que outro passageiro se chegue à frente? E se o passageiro é alemão, exige o procedimento oficial de quando há problemas explosivos e manda à frente os gregos, portugueses, espanhóis que estejam no cais? Ou o passageiro alemão arma-se em português (cito as palavras, também de ontem, do presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos: "Portugal habitou-se a confiar na sorte") e aposta meter a moeda (cara, bilhete para Frankfurt, coroa, bilhete para o Além)? 
Alemães sem solução para uma questão de transportes é preocupante. Mas esperemos que tenham aprendido pelo menos uma lição: quando se fecham todas as saídas, há risco de explosão. 
«DN» de 31 Mai 13

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30.5.13

As ossadas da avó? Ao pé das cebolas...

Por Ferreira Fernandes
HÁ MEIA dúzia de anos, da Venezuela, escrevi sobre os cangalheiros que recusavam velórios noturnos quando o morto era jovem e bandido. Tornara-se hábito nos gangues juvenis levar o falecido para uma última ramboia pela noite de Caracas. E o que incomodava os cangalheiros nem era tanto o desrespeito pelo corpo mas as carrinhas funerárias serem também levadas na procissão festiva... Afinal, corpos a passear como última homenagem até pode ser aceitável: um dos maiores sucessos de Jorge Amado é A Morte de Quincas Berro d"Água, a história baiana de um copofónico militante que morre. Velado por amigos também da confraria da cachaça, foi aparecendo um sorriso no morto, noite adentro. Daí a ser arrastado para comemorar a ressurreição foi um passo que levou ao belo romance. A amizade redimiu a violação do tabu que é não respeitar os mortos. Essa atenuante parece não ter o casal que vai agora a julgamento por guardar na despensa o cadáver da avó durante quatro meses. Não, não os moveu a dor da separação. Foi mesmo só vigarice, uma complicada troca de ossos para processar a junta de freguesia... O advogado de defesa só tem uma escapatória: convencer o tribunal de que não foi despensa. Com as ossadas levadas para a salinha de estar, para a velha senhora continuar a ver a telenovela preferida, esta história sórdida ganharia a generosidade dos bandidos caraquenhos e bêbados baianos. Na despensa, é só uma história de netos rascas. 
«DN» de 30 Mai 13

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Portugal europeu: 25 anos - Valeu a pena?

Por António Barreto 
QUASE trinta anos: é tempo mais que suficiente para formarmos um juízo sobre a integração europeia de Portugal, ou antes, sobre a nossa pertença por inteiro à União Europeia. Distingo deliberadamente uma e outra. Na verdade, a integração europeia de Portugal é fenómeno mais vasto e iniciou-se, para todos os efeitos (enquadramento, trocas, circulação e convergência), nos anos 1960. Formalmente, com a adesão à EFTA (European Free Trade Association), de que fomos fundadores em conjunto com a Áustria, a Dinamarca, a Grã-Bretanha, a Noruega, a Suécia e a Suíça. Um pouco mais tarde, em 1972, Portugal assina um acordo de associação com a Comunidade Económica Europeia. Em 1986, Portugal torna-se membro de Comunidade Europeia, ulteriormente designada União Europeia. Finalmente, em 2002, Portugal integra o grupo que adopta o euro como moeda comum e única. (...)
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A minha primeira crónica

Por A. M. Galopim de Carvalho
Olá! Bom dia a todos! 
Como diriam os brasileiros, cheguei! 
Chamo-me Francisco como o actual Papa. Era para ser António, como o meu avô paterno, mas este argentino que, em boa hora tomou as rédeas de uma Igreja, em tantos domínios, afastada da palavra de Cristo, revelou-se, de imediato, como uma fonte de amor e solidariedade. Neste desgraçado mundo, em que o dinheiro domina e, tantas vezes, perverte os que escolhemos e não escolhemos para nos governarem, o papa Francisco tornou-se uma luz de esperança para muitos, católicos ou não. (...) 
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A Constituição, o Governo e o PR

Por C. Barroco Esperança
NÃO SEI se é, neste Governo, maior a incompetência, a desfaçatez ou o atrevimento. Em relação à Constituição tem duas posições: ou a viola toscamente ou legisla ao arrepio do que ela prevê. Depois de dois chumbos em outros tantos Orçamentos de Estado, em vez da prudência que a experiência aconselharia, levando-o a refletir na legislação que produz, quiçá na presunção da cumplicidade do PR, reincide na asneira, retoma a provocação e manda o ministro Maduro condenar a CRP, a moldura insubstituível do ordenamento jurídico. (...)
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29.5.13

Olhares em vias de extinção

Por Ferreira Fernandes
MARIO De Biasi foi o grande repórter fotográfico do levantamento de Budapeste, em 1956, mas foi outra foto sua que me ficou estampada na memória. De Biasi é o autor da foto que teve o mesmo papel das alcachofras alla giudia, os contos de amores difíceis de Italo Calvino e as cores velhas de Roma - o de formar a minha ideia de Itália. Ele deu àquela foto um nome irónico: "Os italianos voltam-se" (1954). Com uma exceção, a do homem com o jornal dobrado no bolso, toda a multidão de homens não se volta (pelo menos, ainda): encara uma mulher. Todos, o da lambreta, os que sorriem e os que a medem, o operário gingão e o burguês engravatado, de barba cinzenta e cuidada, todos (mais de 20 capazes de serem reconhecidos) olham-na de frente, a ver chegar a Dama de Branco. Ela vai para eles. No centro da foto que lhe presta homenagem, ela, toda de branco, sapatos, malinha de mão e vestido que, justo, lhe vem da meia perna, subindo, coleante. As curvas, outra ironia, são também evocadas por uma tabuleta naquela praça: "Zucca". Em italiano quer dizer melancia. Não sabemos se os italianos se vão voltar; provavelmente, vão. E ela talvez goste do efeito que causa, há uma satisfação sugerida pela inclinação da nuca. De Biasi morreu esta semana, em tempos em que é raro o que aquela foto mostra. Caiu em desuso olhar assim e gostar de ser olhada assim (e por algumas boas razões). Mas uma coisa é certa: o objeto daqueles olhares é soberbo.
«DN» de 29 Mai 13

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Palhaço?

Por Pedro Barroso
PALHAÇO?... palhaço era o meu querido Raul. Trapalhão, gago, inventivo, genial nas horas, certeiro na seta acerada e pronta da critica mordaz. 
Esse sim sempre habitou Belém, como eu, que sofro do mesmo mal do coração.
Palhaço era o Luciano, honrado funileiro de profissão com quem ainda actuei na Serra da Estrela um dia - era ele um velho senhor com mais de oitenta anos já, de uma honradez e humildade imensa. E me explicou de onde vinha o termo "augusto soiree". Hoje "palhaço" - profissão de fazer rir. ...e também era do Belém...
Palhaço era o Añuka, no Coliseu da minha infância, que nos fazia rir e ganhava sempre em esperteza aos palhaços ricos de cara pintada. 
Palhaço era Popov, que, com um simples uivo denunciava o abuso, soltava a imaginação e despoletava o riso e a ternura.
Palhaço sou eu; são os artistas todos do mundo, cada vez que sobem a um palco e se expõem no que pensam; e circunstanciam o verbo à inteligência possível e dobram as palavras sentidas do poema e tocam as tangências sensíveis da harmonia. 
Mas o simples facto de habitar Belém ainda não é suficiente para atingir essa dignidade. 
Não ofendam os palhaços.

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Apontamentos de Lisboa

Av. EUA, junto ao n.º 57
As duas imagens de cima são antigas (de 2008 e 2012) e mostram uma triste realidade: junto a um estabelecimento de apoio a doentes, os 2 lugares de estacionamento destinados a ambulâncias estavam sempre ocupados por carros particulares.
As outras quatro fotos, tiradas já este mês (e em dias diferentes), mostram o que mudou: depois de muitos protestos (nomeadamente das tripulações das ambulâncias), a fiscalização passou a actuar - mas agora são os anteriormente prejudicados que desprezam os lugares que a comunidade lhes oferece...

A resistência cultural

Por Baptista-Bastos
UMA ONDA de loucura está a assolar Portugal. Ninguém acredita nas possibilidades de regeneração do Governo, e a presença dos estrangeiros que o elogiam torna-se numa afronta inqualificável. O que estes cavalheiros, mandatados por interesses cujo fito é a hegemonia económica, propagandeiam é a boa consciência da mentira. E o problema maior, entre todos os grandes problemas que nos afligem, constitui a aquiescência cúmplice de quem tem por dever repudiar o enredo. O presidente do Eurogrupo, de nome impronunciável, e é "muito amigo" de Vítor Gaspar, viajou para Lisboa, a fim de manifestar o aplauso comovido pelas orientações até agora seguidas, e insistir que continuar com o "ajustamento" conduzir-nos-á a uma felicidade incomparável. Temos de empregar todos os meios para precipitar a nossa queda o mais fundo possível para, mais tarde, acedermos a uma sociedade tão jubilosa como igualitária.
Este escândalo de se procurar a felicidade pelo terror "explica-se" pela necessidade de socorrer o capitalismo a qualquer preço, "custe o que custar", na conclusão brutal de Passos Coelho. Nada é respeitado, tudo é permitido. O milhão e meio de desempregados; as 69 mil crianças em iminente perigo; a sonegação aos fracos rendimentos dos reformados e pensionistas; o êxodo do melhor da nossa juventude, toda esta criminalidade obedece à mesma lógica de depredação que obriga um grupo tão importante como o Teatro Aberto, de grande tradição cultural e ética, a estar ameaçado de fecho. Uma absurda "grelha de avaliação" colocou a companhia em 39.º lugar, com as consequências inerentes à perda de apoios, necessários à sua sobrevivência. João Lourenço, um homem de rara qualidade moral, que já venceu várias guerras e que testemunhou várias alterações históricas, veio dizer-nos que ele e o grupo sempre procuraram uma verdade que justificasse as obsessões do presente e aclarasse a natureza de uma agressão que fere todos nós.
O encenador evocou as etapas de um empreendimento generoso, que tem submetido à nossa reflexão alguns dos grandes temas das sociedades e dos problemas essenciais do homem. A disponibilidade de João Lourenço em romper com o imobilismo, numa época em que a decência quase não tem direito de cidadania, corresponde a uma denúncia da mentira.
A noção de que a colectividade portuguesa está em escombros tem de encontrar, na resistência de quem recusa a capitulação, o conforto de uma afirmação de coragem e de dignidade. O projecto de uniformizar as diferenças e a natureza díspar das nossas sociedades está em marcha. O Teatro Aberto, tal outros grupos, denegou a inocência como justificação para a cumplicidade. Não o esqueçamos.
«DN» de 29 Mai 13

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Os pinta-paredes (59)

Ao menos, não podiam gatafunhar sem erros?! É que, ainda por cima, esta parede é de uma escola de Lisboa...

28.5.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
A CHAMADA taxa especial sobre as pensões de reforma, mais conhecida por ‘TSU dos pensionistas’, teima arreliadoramente em não sair de cena da actualidade política e em não dar sossego ao ministro Paulo Portas e ao CDS. Apesar de Portas ter solenemente assegurado que essa taxa representa uma «linha vermelha» que ele «não deixaria ultrapassar» – o que parece não ter sido suficiente para convencer a troika, o ministro Vítor Gaspar e a própria taxa.
Incomodado com a capacidade de sobrevivência político-mediática da ‘TSU dos pensionistas, Portas voltou à carga esta semana, dizendo-se agora «politicamente incompatível» com a taxa sobre as pensões, uma definição criativamente inovadora ainda que de compreensão difícil. E insistiu: «Sei que há um limite, trabalhei para que esse limite não fosse ultrapassado e não foi». O limite era eliminar a ‘TSU dos pensionistas’ do pacote de medidas do Governo e do memorando da troika? Mas continua lá prevista... Era tornar a taxa opcional e não obrigatória? Mas isso não é um limite, é uma hipótese. E muito escorregadia...
Em socorro de Portas veio, uma vez mais, o seu mensageiro António Pires de Lima a assegurar que «aquilo que a troika queria, que era a imposição dessa medida como parte do processo de aprovação da 7.ª avaliação, caiu». Caiu mesmo? Ora ainda bem... Pires de Lima aproveitou ainda para transmitir uns recados de Portas dirigidos a Vítor Gaspar: que «o ministro das Finanças, com a personalidade e o peso que tem, torna muito ingrata a tarefa do ministro da Economia» e ainda que «seria muito mau sinal se chegássemos à conclusão de que o ministro das Finanças é uma espécie de bloqueio à boa governação». É só simpatia e amizade no seio do Governo, como se vê.
Entretanto, o jovem ministro Poiares Maduro veio repisar, na terça-feira, que a já famigerada taxa «especial de sustentabilidade das pensões só será aplicada em último recurso». Afinal, poderá ser aplicada, ainda que em último recurso? Não caiu já? Era bom que se entendessem no Governo. Pelo menos, os ministros entre si. Neste caso, Portas, Gaspar e Maduro.
«SOL» de 24 Mai 13

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O artista antes conhecido como Sheen

Por Ferreira Fernandes
NO ROMANCE O Vendedor de Passados, José Eduardo Agualusa vai na esteira de uma ideia magnífica: na Angola ambiciosa, um espertalhão vende árvores genealógicas à burguesia nascente. Ser "primo de", isto é, ter um passado chegado ao de poderosos, é meio caminho andado para garantir um futuro. Se um nome não é para nos catapultar, para que serve imprimir cartões de visita? Agora, Charlie Sheen decidiu mudar o nome. No seu último filme, Machete Kills, aparece no elenco como Carlos Estévez. Mas, de facto, o que vai acontecer é, pela primeira vez, ele usar o seu verdadeiro nome: foi o seu pai, o também ator Martin Sheen, que abandonou o nome galego com que fora batizado (Ramón Estévez)... Por Charlie Sheen ter delapidado com escândalos o seu patronímico de duas gerações e por os nomes "latinos" serem hoje mais aceites nos EUA, assistimos a este regresso ao passado, oportunista como deve ser para quem está no mercado da fama. 
Não mereceria menção aqui, se não fosse dar-me mais uma oportunidade de evocar uma das mais belas histórias que conheço do cinema. Karl Malden (1912-2009) nasceu Mladen Sekulovich mas mudou por razões óbvias, para não atrapalhar a carreira. Mas quando se tornou famoso e ganhou um Óscar, nos contratos obrigava a haver alguém no filme com o nome do seu pai, imigrante sérvio em Chicago. Por isso há um "Sekulovich" - em cenas breves mas há - em O Homem de Alcatraz, em Patton, em Há Lodo no Cais...
«DN» de 28 Mai 13

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27.5.13

Alguém sabe explicar isto?

Lisboa - Rua Conde de Sabugosa
(A resposta será aqui dada com recurso a mais fotos)
.
Actualização:
À intervenção feita por baixo da calçada (canalização?) seguiu-se, naturalmente, a reposição das pedrinhas - serviço esse que, pelos vistos, foi entregue a um semi-analfabeto (ou seria um brincalhão?), no meio do riso de alguns passantes e vizinhos. Vamos agora ver quando (e se...) será corrigido.

"A minha mãe é uma gaja do caraças"

Por Ferreira Fernandes
JÁ SE FALA da "nova forma de terrorismo", dos lobos solitários, jihadistas com armas da cozinha. Depois dos chechenos das panelas de pressão, em Boston, os dois terroristas de Londres que despedaçaram um soldado na rua, a golpes de cutelo. 
No terrorismo sempre houve os que dão o corpo ao manifesto e os terroristas armados de boca, gente geralmente resguardada - no caso de Londres, lá apareceu o pregador muito surpreendido com a ação dos seus filhos espirituais... Essa novidade dos lobos solitários é só formal, mas alimentou a costumeira reação defensiva: como os métodos são domésticos, as pessoas comuns sentem-se mais em perigo. Medo, pois. Ora, precisamente, aconteceu em Londres uma novidade a sério: nem todas as potenciais vítimas foram comandadas pelo medo. Ingrid Loyau-Kennett, de 48 anos, ia de autocarro, viu o corpo do soldado e saiu. Pensava ser um acidente, ia dar ajuda, mas logo percebeu: pôs-se a falar com o terrorista das mãos ensanguentadas. Há foto: ela de pé e o terrorista de faca. "Queria afastá-lo das outras pessoas", explicará ela depois. Mais duas mulheres agiram da mesma forma. Quando veio a polícia, Ingrid meteu-se no autocarro e foi-se embora. O filho reconheceu-a pelas fotos e escreveu no Twitter: "My Mum is a motherfucking badass" (traduzo com cautelas: "A minha mãe é uma gaja do caraças"). Ela e as outras duas, a novidade. Tresloucados sem medo já havia. A novidade é a coragem do lado certo. 
«DN» de 27 Mai 13

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26.5.13

Apontamentos de Lisboa

Arte urbana...

Luz - Egipto, Luxor 2006

Fotografias de António BarretoAPPh
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Breve apontamento num templo de Luxor. A temperatura rondava os 40 graus. Mesmo um egípcio habituado procurava refúgio na sombra das colunas. (2006).

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A Alemanha tem de mudar de Wagner

Por Ferreira Fernandes
PENSANDO na célebre frase do ministro das Finanças alemão Schäuble ("A União Europeia é uma coisa simples, 27 países a tentar fugir da austeridade durante 90 minutos, e no fim ganham sempre os alemães"), ontem vi o B. Dortmund-Bayern na final da Champions. Em ópera eles são bons. No palco de Wembley, neste ano de bicentenário de Verdi e de Wagner, nenhuma equipa latina e duas alemãs. A Europa cantada num hectare de relva. Entrou o Dortmund e foi como se ouvíssemos o seu treinador Jürgen Klopp, com a voz de baixo-barítono do personagem Wotan: "Quando os poderes audaciosos se enfrentam, eu aconselho a guerra", na ópera A Valquíria
Abriu-se, pois, com a cavalgada das valquírias, poderosas e sem cordialidade. Os outros, os do Bayern, são mais conhecidos pela ópera ligeira, até mesmo música de cabaré, por muito que nos custe imaginar o Ribéry com as pernas da Marlene Dietrich. São mais jeitosos, quase latinos, como prima-donas. Mas o Dortmund impôs o seu jogo germânico até aos adversários e no segundo ato já eram anéis de nibelungo dos dois lados: movimento, drama, vontade. Admirável de ver (ganda jogo!, gritava o plebeu que há em mim quando desligava a música clássica). 
Viva, então, o sistema alemão? Não, empatou todos. Como resolver, insistir nas cavalgadas? Não, mudar de Wagner: passou-se para a sua ópera O Holandês Errante, sobre a redenção do amor. No último minuto, o holandês errante Robben resolveu. Com um toque subtil.
«DN» de 26 Mai 13

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Do cristal-pedra de Teofrasto à física do estado sólido

Por A. M. Galopim de Carvalho
2ª parte
SÉCULOS XIX E XX
NA ALEMANHA, o mineralogista e cristalógrafo Christian Samuel Weiss (1780-1856), professor da Universidade de Berlim, encontrou maneira de definir matematicamente qualquer face de um poliedro cristalino. Para tal concebeu os coeficientes de derivação (parâmetros de Weiss) m=a’/a, n=b’/b e p=c’/c, em que a’ b’ e c’ indicam as distâncias a que essa face corta os eixos cristalográficos X, Y e Z, e a, b e c indicam as distâncias correspondentes à face tomada por unitária. Estes coeficientes põem em evidência a vertente matemática da cristalografia que se praticava na época. Weiss definiu o conceito de “zona cristalográfica” como o conjunto de planos paralelos a uma direcção cristalográfica designada por “eixo de zona” e foi o autor de uma lei fundamental da cristalografia morfológica, conhecida por Lei das Zonas.  (...)
Texto integral [aqui]

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25.5.13

Apontamentos de Lisboa

Não sei se este é um hábito exclusivamente lisboeta: fazer a limpeza das escadas e da entrada do prédio e, no fim, atirar a água (suja, e com sabão...) para o passeio. O que sei é que, sendo a calçada portuguesa, já de si, escorregadia, há decerto alguns trambolhões à conta desta forma de higiene...

Cavaco Silva e o insulto do cronista

Por Ferreira Fernandes
QUEM não se sente não é filho de boa gente. Cavaco Silva tem razão em indignar-se por aquilo que um cronista fez publicar ontem num jornal. Uma coisa é criticar, e todos somos passíveis de que não gostem de nós, mesmo injustamente. Mas há palavras e palavras. Pode dizer-se que Cavaco Silva não é brilhante a falar e que se engasga em público mais do que seria de esperar num político. Mas não se pode dizer aquilo. Quer dizer, poder dizer, pode-se: em matéria de opinião, pode dizer-se tudo. Mas isso em conversa de tribunal, onde a liberdade de opinião (e felizmente) está defendida. Dito isto, não se diz aquilo que foi dito e publicado, ontem, sobre Cavaco Silva. Uma coisa é chamar-lhe "burlesco" ou "cómico" ou qualquer outra palavra similar, tanto essas palavras estão - infelizmente, mas é assim - conotadas com os políticos. Mas o que o cronista disse ontem fere o homem público no âmago do que ele faz, desqualifica-o na sua função: "Sozinho, completamente sozinho, o dr. Cavaco Silva conseguiu arruinar a Presidência da República. A Presidência da República não tem hoje autoridade, influência ou prestígio", foi dito por Vasco Pulido Valente, ontem, e publicado no Público. É opinião e eu já disse aqui várias vezes que processar uma opinião é como tentar caçar o vento. Só enobrece Cavaco não ter perguntado ao Ministério Público se há ou não matéria para processo no maior insulto que lhe fizeram esta semana. 
«DN» de 25 Mai 13

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24.5.13

Então, recapitulemos...

Por Ferreira Fernandes
JACQUES Canetti é um judeu dos nossos que partiram, sefardita que nasceu na Bulgária, na margem do Danúbio, irmão de Elias Canetti, Nobel de Literatura, que escrevia em alemão mas morreu cidadão britânico, na Suíça. Jacques, esse, tornou-se francês, patrão artístico dos discos Polydor, para proveito do mundo pelo que fez por Brel, que era belga, e Serge Gainsbourg, filho de russos, e por ter convencido o francês, nascido em Reggio nell' Emilia, Itália, Serge Reggiani, então com 41 anos, a começar a cantar. Isto deu: Ma Liberté, Votre Fille a Vingt e Sarah, canções oferecidas por um grego, nascido no Egito, Georges Moustaki. 
Há uns anos, em 2008, eu escrevi uma crónica sobre Aznavour, que cantara na véspera em Lisboa. Uma crónica sobre um rapaz batizado Shahnourh, filho de arménios, que virou Charles e símbolo de França, porque nasceu num porto, num cruzamento do mundo, em Paris. E dele parti para a canção de há quarenta anos, Le Métèque, que não era dele, era de Georges Moustaki. A canção do meteco, palavra do grego metoikos, como os atenienses chamavam aos que não eram da cidade, que viviam nela mas tinham vindo de longe. Meteco como Moustaki, filho de Alexandria, e que desaguou em França para a inundar de belas canções. Meteco como Aznavour. Este fez 89 anos anteontem. Moustaki morreu ontem. Ambos amantes de Édith Piaf, filha de uma berbere... 
Onde é que eu estava? Ah, já sei, a Europa. É grande. 
«DN» de 24 Mai 13

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Apontamentos de Lisboa

A Av. Pascoal de Melo já aderiu à moda dos "tocos". Seguir-se-á, como é habitual nestes casos, a fase das "crateras"...

23.5.13

Lello escreve curto e pensa também assim

Por Ferreira Fernandes
O FRANCÊS Pierre Desproges era um humorista individualista e cínico. É dele a frase: "A mais de quatro, é-se um bando de imbecis; por maioria de razão, a menos de dois, é o ideal." Como não sabia fazer mais nada, ele foi para jornalista e, no L' Aurore, jornal conservador, puseram-no a redigir as pequenas notícias, o que ele fazia com toque especial. Por exemplo: "Ontem, um maluco gritou "sou o rei do mundo!" ao saltar para a fossa do tigres no zoo de Oklahoma City. Um instante depois, abdicava." Conto isso, caso leitores não o conhecessem, para que se possa medir melhor a sua frase sábia: "Pode rir-se de tudo, mas não com toda a gente." Quer dizer, mesmo o provocador Desproges sabia que, apesar do humor não ter baias, é indecente espicaçar o riso dos canalhas. 
Muita gente que frequenta os Facebook, Twitter e outras redes sociais, pensando ser só ouvida por peixe amigo, esquece-se do conselho prudente. Que, aliás, poderia ser estendido às grosserias, despropósitos e outros maus gostos, admissíveis quando o círculo de ouvintes é controlado mas que se tornam perigosos quando atirados a toda a gente. 
Ontem, o deputado José Lello escreveu no Twitter: "Pai de Passos diz que "filho está morto por se ver livre disto." Os portugueses estão desesperados por se verem livres dele. Morto ou vivo!" Lello conseguiu fazer um tweet, que só pode ter 140 carateres, em 139, e conseguiu, a menos de dois, sozinho, ser um bando de imbecis.
«DN» de 23 Mai 13

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Apontamentos de Lisboa

Variações sobre um logótipo

A reunião do Conselho de Estado e o Comunicado

Por C. Barroco Esperança
O PRESIDENTE da República presidiu na segunda-feira à reunião do Conselho de Estado, tendo como ordem de trabalhos o tema “Perspetivas da Economia Portuguesa no Pós-Troika, no Quadro de uma União Económica e Monetária Efetiva e Aprofundada”.
O comunicado emitido é tão pobre na forma e medíocre na substância que não merece a leitura. A reunião anunciada na televisão por Marques Mendes, com larga antecedência, e comunicada aos conselheiros por email, ignorou o feriado da Região Autónoma dos Açores cujo presidente é conselheiro por inerência e que, por isso, não pôde assistir. (...)
Texto integral [aqui]

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22.5.13

Apontamentos de Lisboa

Av. Almirante Reis, 21 Mai 13 
E já que falamos de armadilhas para peões...

Martim, Raquel e o combate pífio

Por Ferreira Fernandes
O ÚLTIMO Prós & Contras honrou o seu nome de duelo: à minha direita, Martim, de 16 anos, empresário de sucesso; à minha esquerda, Raquel, investigadora, esquerdista. 
Martim expôs a carreira (começou aos 15): a ideia (roupa desejada e barata), a execução programada (colegas para divulgar, garagem para as primeiras encomendas, subcontratar empresas...), o futuro radioso (já exporta...). 
Foi então que sobre o nosso Mark Zuckerberg das camisolas lhe saltou ao caminho Raquel, como numa greve selvagem: "Tens ideia donde as camisolas são feitas? Na China, com trabalhadores a dois dólares por dia?..." Martim: "Não, numa empresa portuguesa..." Raquel: "Com trabalhadores que ganham o ordenado mínimo que não é suficiente..." Martim: "É preferível ter o ordenado mínimo a não ter emprego." Vitória de Vanderbilt sobre Karl Marx, por KO. 
Mas, como isso tem sido a notícia dos últimos 150 anos, mais valia termos ouvido outro debate. De Martim, aplaudo-lhe a iniciativa e espero que ela perdure para lá de tão verdes anos, mas não aplaudo mais porque tanto sucesso em tão curto tempo me parece herdar qualquer coisa que não só dele (e de que não se falou). E, não apesar, mas justamente por ter 16 anos, a pátria espera dele outras lições que não vender camisolas. 
À Raquel aconselharia não cuspir sobre o ordenado mínimo: 
1) porque é mesmo melhor do que não ter emprego e 
2) se não fosse ele havia quem não pudesse sair à rua e ir ao Prós & Contras.
«DN» de 22 Mai 13

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Apontamentos de Lisboa

Praça da Figueira
No blogue Cidadania Lx, que sigo sempre com atenção, são abordados, quase todos os dias, problemas de Lisboa. Desta vez, o tema é o que se mostra na imagem de cima (estão lá duas outras fotos, tiradas de outros ângulos), e questiona-se o que são os trambolhos que à direita se vêem.
Pois bem; aproveito para juntar a foto de baixo (de arquivo, e que tirei há muito tempo no mesmo local), para evidenciar algo que as imagens também mostram, e que dispensaria palavras:
Mais do que uma vergonha e um nojo, estas crateras são um perigo, e não só para os cegos que por ali passam. E são também uma clara demonstração da consideração que tem esta gente (a quem entregamos a gestão do espaço público e cujo ordenado pagamos) por quem anda pelas ruas. A sua arrogante incúria talvez se explique pelo facto de as alternativas não serem melhores nem piores.

O tema absurdo, a reunião inútil

Por Baptista-Bastos
PARA QUE serviu o último Conselho de Estado? O tema [Portugal no pós-troika], além de absurdo pela inoportunidade, quando o País está a cair aos pedaços, mereceu de muitos conselheiros, entre os quais o prof. Jorge Miranda, e Carlos César, ex-presidente do Governo Regional dos Açores, críticas acerbas. O tom geral dos comentários é o de que o homem está débil de meninges. Outros dizem que a desorientação política em que se encontra, depois da miséria do discurso de 25 de Abril, levou-o a ensaboar a própria representação, na vã tentativa de recuperar a visagem. E, ainda, uns terceiros ou quartos que os sombrios desígnios da ideologia dominante, as contradições de um tempo intrincado que não consegue decifrar, impeliram-no e à sua cabecinha a múltiplas atitudes injustificáveis em quem desempenha tão altas funções.
Ninguém sabe o que se passou nas sete horas da magna reunião. Um comunicado de três parágrafos resumiu, desajeitadamente, o que eles entenderam ser justo o povoléu saber. O "não", violento pela secura, ao anúncio do que se passou entre os dezassete parceiros, constitui outra prova do desprezo que as "instituições" por nós dão testemunho. E a verdade é que temos o direito de conhecer o que a todos, sem excepção, diz respeito. Mas o sigilo, o silêncio e a escusa a que nos habituou este simulacro de democracia está a adensar-se, de modo que só uma pequena clique é sabedora dos enredos.
É claro que ninguém acredita que as sete horas decorreram em pacífico paleio. A conversa, em alta voz, entre Passos e Bagão Félix, ocorrida na escadaria, após a iluminada concentração de sábios, é de molde a perceber-se que as águas estiveram agitadas.
É impossível, pelo menos numa situação equilibrada, não colocar em discussão o terrorismo, sob o qual estamos submetidos. A Europa da solidariedade não passa de um território no qual se digladiam, com ferocidade inclemente, claros jogos hegemónicos e imposições de servidão. A escolha dos lugares a que entendemos dever pertencer é uma das questões fundamentais da nossa época. E a principal obrigação a que temos a imposição moral de atender é a de reconhecer este totalitarismo mascarado. Na Europa, as divisões, como sempre historicamente aconteceu, representaram o conflito entre dominantes e dominados. A Alemanha, ontem como hoje, tem desempenhado um papel sinistro neste xadrez sem regras. A obediência à lei do mais forte corresponde a uma ideia messiânica, que embala a boa consciência dos mentirosos e dos canalhas. Quando ouvimos o "Acordai!", de Lopes-Graça e José Gomes Ferreira, talvez percebamos o que nos liberta e o que nos acorrenta. Tudo, na vida, são preferências que comportam uma posição ética. O tema escolhido pelo dr. Cavaco para discussão no Conselho de Estado define um critério e projecta um carácter.
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo acordo ortográfico)
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«DN» de 22 Mai 13

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21.5.13

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De frase em frase, enchendo-se de focos

Por Ferreira Fernandes
GAIA deve estar encantada com Carlos Abreu Amorim (CAA). O que ele faz para a ter! Lady Macbeth, para ser rainha da Escócia, traiu e assassinou. Amorim vai por aí, já enfiou uma faca nas costas de Gaspar e, se não conseguiu ter direito a uma frase de Shakespeare ("É o pio da coruja, sentinela fatal que augura a mais sinistra noite!"), pelo menos plantou uma no Twitter: "Magrebinos: curvem-se perante a Glória do Grande Dragão!" 
Admiro um português capaz de tudo para conseguir ser alcaide. Ao arriscar meter-se com magrebinos, ele que é do tipo, digamos, mais gordobino (visto de perfil, parece ter mais fome do que sede de poder), CAA revela ser um autêntico herdeiro de suevos do Norte. Mas receio que a sua trajetória - tão idêntica à dos portucalenses que, descendo, se mestiçaram com árabes e tuaregues - o leve a destino idêntico: candidato legislativo por Viana do Castelo, agora já é candidato à Câmara de Gaia, para cá do Douro. Um dia, acaba candidato a presidente da Junta de Ferragudo, Algarve. Quem, benfiquista de Gaia, se sentir ofendido por ser tratado de magrebino deve fazer como a direção do PSD que lhe pediu explicações pela traição a Gaspar. "A polémica foi resolvida internamente", disse-se, então. Os gaienses benfiquistas que resolvam também internamente, na câmara de voto, o seu contencioso. Por cá, pelas dunas do Sul, sou suficientemente camelo para ansiar por mais uma frase do nosso Hermenerico das polémicas.
«DN» de 21 Mai 13

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20.5.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
NA SUA ingenuidade de novato nestas andanças da alta política, o recém-eleito líder da UGT, Carlos Silva, já se havia descaído e revelado, há uns bons dez dias, que Passos Coelho «assumiu perante a UGT que essa questão da taxa sobre as pensões não vai para a frente».
Carlos Silva adiantou mesmo: «A ideia é que o CDS, que lançou essa sugestão pela voz do seu líder, se vê obrigado a apresentar uma alternativa que tenha os mesmos resultados orçamentais». Caso transitoriamente arrumado? Sim, pensou-se. Não, entendeu Paulo Portas. Que decidiu radicalizar inesperadamente a sua posição no passado fim de semana.
O que terá incitado o líder do CDS a extremar a sua exigência de retirar desde já a ‘TSU dos pensionistas’ do relatório da 7.ª avaliação da troika – quando já tinha o compromisso de princípio de Passos Coelho de a deixar substituir por medidas alternativas? O que terá levado Portas ao ponto de quase ter provocado a demissão do primeiro-ministro e a queda do Governo? Que só a intervenção superior e moderadora do Presidente da República terá evitado, já in extremis?
Haverá, pelo menos, duas ordens de razões. A primeira é que Portas pretendia ter desde já nas suas mãos a bandeira do paladino contra a ‘TSU dos pensionistas’. Para assim camuflar a duplicidade da sua posição em relação aos pensionistas da Segurança Social, nos quais não tolera um corte de 436 milhões de euros, e aos pensionistas da Caixa Geral de Aposentações, nos quais já acha perfeitamente admissível um corte de 740 milhões. E para poder arvorar essa bandeira desculpabilizante no momento melindroso em que se tornarem claros os cortes, que caucionou, de 10% ou mais nos reformados da CGA – juízes, militares, professores, médicos, etc. – que irão ver as suas reformas mensalmente reduzidas em 200, 300, 400 euros ou mais.
A segunda ordem de razões é que cabe a Portas, como confirmou inadvertidamente o líder da UGT, o incómodo e impopular encargo de apresentar cortes alternativos à ‘TSU dos pensionistas’. Tal como lhe cabia a ele a incumbência de dar à luz do dia o célebre guião de cortes estruturais na despesa do Estado. Que vem adiando de semana para semana. Percebe-se bem porquê.
«SOL» de 17 Mai 13

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Pergunta de algibeira

Sendo que estas duas cenas de O Grande Gatsby se passam no mesmo dia, parece que há algo que não bate muito certo...

Gaspar deve sair mais depressa do que fala

Por Ferreira Fernandes
EM FACTOS, a austeridade é fatal há dois anos. Mas faltava uma voz insuspeita e prudente que dissesse que não podemos continuar assim. Os factos é que nos determinam, mas as vozes é que nos mudam. 
Antes, perante a crise financeira mundial, que vinha de 2008, era preciso um sobressalto nacional em busca de uma solução que tinha de ser comum - esses, os factos - mas, apesar disso, nem o PS, entorpecido pelo cerco, nem o PSD e CDS, encandeados pelo pote próximo, souberam encontrar vozes lúcidas e unificadoras. 
Na crise das últimas legislativas (2011), o País dividiu-se entre uns e outros, sem pontos de contacto. Um país, dois mundos. Dois mundos e duas explicações, e assim ficámos - apesar de a realidade evidenciar que não era esse o caminho. Faltou uma voz. O que se seguiu, o gasparismo - uma não-política (porque política são compromissos) só possível pelo sectarismo atrás descrito -, também parecia ir beneficiar das claques separadas por trincheiras: os seus, a favor, os outros, contra. Ora, na semana passada, ergueu-se uma voz contra entre os que, até aqui, eram por. António Lobo Xavier, insuspeito de ser da oposição e prudente por natureza, fez uma crítica radical: o apelo à troika de 2011 podia não ter existido. Disse ele: se não fosse a sofreguidão pelo pote, estaríamos como Espanha, combatendo a crise sem perder a soberania. 
Pronto, houve voz. Mudem-se os factos. O que já não é possível com este Governo.
«DN» de 20 Mai 13

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19.5.13

A malta do "É igual ao litro"

Luz - Memorial do Holocausto, Berlim 2010

Fotografias de António BarretoAPPh
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Este memorial, que não é bem um monumento, mas acabará por sê-lo, é comovedor. No meio da cidade, bem perto da Porta de Brandeburgo, a poucos metros da avenida Unter den Linden e das grandes embaixadas (americana, russa, inglesa…), quase em cima do terreno que era, há poucos anos, fronteira entre Leste e Oeste, é um sítio de memória que pesa nos espíritos e nos corações. O silêncio impõe-se. Mesmo com centenas de carros a toda a volta, com pessoas a passar, turistas e correr, crianças a brincar, comerciantes a vender souvenirs e intenso barulho da cidade, mesmo assim, o silêncio tem o primado e sente-se melhor do que se ouve o ruído. Só quando, anos depois, estive em Jerusalém, percebi de repente a semelhança entre este memorial e os cemitérios de Jerusalém, nomeadamente os judeus. Os blocos de Berlim são praticamente iguais aos túmulos de Jerusalém. Com duas diferenças notáveis pelo menos: em Berlim, os blocos de pedra são escuros, quase negros, entre a ardósia e o chumbo, enquanto as pedras tumulares de Jerusalém são calcárias, cor de argila clara ou de barro de areia. Em Berlim, por outro lado, os blocos encontram-se totalmente despidos, vazios e limpos. Em Jerusalém, como se pode ver na fotografia da semana anterior, os túmulos estão carregados de pedrinhas, aquelas espécies de flores da eternidade! (2010)

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Um problema enrolado e fino

Por Ferreira Fernandes
HÁ POVOS delicados. Por cá, queixamo-nos da falta de papel (que papel? O papel: pilim), mas os venezuelanos exigem-no mais fino: "A revolução trará para o país 50 milhões de rolos de papel higiénico para que o nosso povo compreenda que não deve deixar-se manipular por campanhas mediáticas dizendo que há escassez", disse esta semana o ministro do Comércio venezuelano, Alejandro Fleming. Aparentemente a manipulação dos venezuelanos gira sempre à volta de produtos ligados à celulose: ontem, eram votos, mal contados, segundo a oposição; agora, o papel higiénico, sujeito a boatos, segundo o Governo. Esta última questão lança uma dúvida terrível sobre a inteligência dos venezuelanos: se a escassez é um boato, como é que o povo não teve olho para notar que o produto, afinal, havia? Aliás, é ingénuo acreditar em jornalistas que propagandeiam a falta de papel higiénico quando eles próprios são fornecedores de um produto concorrente. Em todo o caso, fica bem ao Governo venezuelano, apesar de ciente de que tudo era campanha, insistir em importar o papel higiénico (quase dois rolos por venezuelano). 
Mais uma vez o contraste connosco é notório: os nossos governantes fazem o problema a montante, já os governantes bolivarianos ajudam a resolvê-lo a jusante. E engana-se quem considera que esta questão nem devia ser noticiada: tal como a liberdade, só nos damos conta da verdadeira importância do papel higiénico quando não há. 
«DN» de 19 Mai 13

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Do cristal-pedra de Teofrasto à física do estado sólido

Por A. M. Galopim de Carvalho
DA ANTIGUIDADE AOS FINAIS DO SÉCULO XVIII
ARISTÓTELES (384-322 a. C.) chamava cristal ao gelo (krystallos, em grego) e é sabido que, desde então e até ao século XVIII, se acreditou que os cristais de quartzo hialino, isto é, o incolor e transparente, eram ocorrências de água no estado sólido, num grau de congelação tão intenso que era impossível fazê-los voltar ao estado líquido. E foi assim, sob este nome, que a variedade hialina de quartzo passou aos domínios da alquimia, primeiro, e da mineralogia, depois.
Theofrasto (372-287 a. C.) distinguia o cristal-água (o gelo) do cristal-pedra (o quartzo hialino). Os romanos mantiveram este entendimento, latinizando o nome para cristallus, como se pode ler num dos 38 volumes da “História Natural”, de Plínio, o Velho, (23-79 d. C.). (...)
Texto integral [aqui]

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18.5.13

O artista acabou, o "reality show" continua

Por Ferreira Fernandes
DAVID Beckham anunciou o fim da carreira e a semana ficou histórica. Estamos a falar de um dos 538 melhores jogadores do futebol mundial. Não pensem que é pouco, se o tamanho da crónica permitisse alinhava aqui o nome de outros 538 futebolistas maravilhosos, de quem nunca ouviram falar. Eu nunca tinha ouvido falar de Andrade, o uruguaio das Olimpíadas de 1924, e Eduardo Galeano - esse, o único o melhor cronista mundial de futebol - garante que ele era maravilhoso. Colocar Beckham entre os 538 melhores do mais universal dos desportos é uma homenagem. E entre os futebolistas com tatuagens, Beckham talvez tenha sido um dos 97 melhores da História. Não esquecer, ainda, que a sua mulher, Victoria, foi umas das cinco maiores Spice Girls de sempre. Ontem, o Times de Londres publicou uma foto do casal com os três filhos rapazes, estes posando já como Beckhamzinhos, cientes de serem três dos quatro maiores filhos de David Beckham de sempre (há ainda Harper, menina, que não aparece na foto). Tim Crow disse: "Na sua geração, houve Beckham e depois todos os outros." Crow sabe, foi ele que organizou a campanha do Manchester United, em 2002, em que a cara de Beckham foi usada para se venderem 1,6 milhões de lâminas de barbear no Japão, em quatro semanas. 
Andrade morreu na miséria em Montevideu. Se Beckham acaba com uma boa reforma graças às lâminas, ainda bem. Mas eu, sinceramente, gostava era de vê-lo a marcar livres. 
«DN» de 18 Mai 13

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17.5.13

O Governo Quântico

Por Carlos Fiolhais
EM 1935 o físico austríaco Erwin Schroedinger exibiu as dificuldades conceptuais da teoria quântica, então recente, criando um paradoxo que ficou conhecido por “gato de Schroedinger”. De que dificuldades se trata? Nessa teoria, que governa o comportamento do mundo microscópico, um estado de um sistema pode ser uma sobreposição ou mistura de dois estados possíveis, mas opostos. Contudo, quando se efectua uma observação, encontra-se, não o estado de mistura, mas sim um ou outro dos estados opostos. Só podemos a priori conhecer probabilidades de obter um estado ou outro. No exemplo de Schroedinger, o gato está fechado dentro de uma caixa e um dispositivo quântico pode matá-lo. Antes de abrirmos a caixa, o gato está numa sobreposição de vivo e morto. Mas, quando a abrimos, verificamos que o gato está vivo ou morto e não as duas coisas ao mesmo tempo. Schroedinger interrogou-se sobre esse mistério quântico: como pode um gato estar vivo e morto ao mesmo tempo?

O actual governo de Portugal é quântico, quer dizer, parece-se com o gato de Schroedinger. Se não observarmos está entre o vivo e o morto. Assim uma espécie de zombie. Quando o observamos está, por vezes, vivo e, noutras vezes, morto. Numas ocasiões está a seguir fielmente o que diz a troika - o governo está vivo – e noutras ocasiões protesta contra os “senhores da troika” – e está morto. Olhamos para Vítor Gaspar, ministro de Estado e das Finanças – e o governo está vivo; mas olhamos para Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros – e o governo está morto. Portas esclareceu que uma coligação não é uma fusão. Pois não: é uma confusão.

Esta característica quântica do governo levanta uma questão semelhante à de Schroedinger em relação ao seu gato: como pode um governo estar vivo e morto ao mesmo tempo? Se aceitarmos a ideia de sobreposição de contrários, estará mais vivo do que morto ou mais morto do que vivo? Nos últimos tempos, está, sem dúvida, mais morto do que vivo. Luís Marques Guedes, ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, referiu-se por um lapso que é revelador, ao seu colega Paulo Portas como “líder do principal partido da oposição”. O governo tem a oposição dentro de si, enquanto a oposição cá fora, apesar de ruidosa, é inofensiva.

Lili Caneças afirmou um dia, numa frase que ficou célebre, que “estar vivo é o contrário de estar morto”. Ora isto é sabedoria clássica, ultrapassada pela sabedoria quântica. Não foram os portugueses que descobriram a teoria quântica, mas existem, na nossa língua, expressões quânticas como estar “mais morto do que vivo”, o que, de facto, significa, estar mais vivo do que morto, embora por pouco, isto é, às portas da morte. Também dizemos “mais para lá do que para cá” para descrever o mesmo tipo de situação. Temos, portanto, um lado quântico em nós que vai além do nosso lado Lili Caneças. Mesmo o fado cantado por Amália Rodrigues, “É ou não é”, que, a avaliar pelo título parece clássico, pois não há justaposição de opostos, é afinal quântico a avaliar pelo final do refrão, que contém uma reviravolta surpreendente: “Digam lá se é assim ou não é?/ Ai, não, não é! / Digam lá se é assim ou não é?/ Ai, não, não é! Pois é!”

Pois é. A lógica quântica não é fácil de perceber. Como é que um governo pode diminuir as pensões aos reformados da função pública e, ao mesmo tempo, garantir o pagamento integral das mesmas pensões? O porta-voz do “maior partido da oposição”, João Almeida, tentou explicar a confusão. Mas tudo ficou ainda mais confuso: ele tem a "profunda convicção de que a medida nunca será aplicada", pois "o cenário de ela ser aplicada seria contrariar uma decisão do Conselho de Ministros". Acontece que a extraordinária medida de aumentar a austeridade dos depauperados pensionistas foi mesmo aprovada em Conselho de Ministros (extraordinário) e enviada à troika para garantir o pagamento da próxima tranche do empréstimo. Mas mais: sabemos, por  Vítor Gaspar, que o referido corte será aplicado em caso de “absoluta necessidade”, coisa que  não nos tem faltado. Por um lado, há a “absoluta convicção” do porta-voz e, por outro, a ”absoluta necessidade” do ministro. Vamos ver se ganha a convicção ou a necessidade. Aceitam-se apostas.

O que falta hoje ao governo? Obviamente um rumo claro. Mais austeridade ou crescimento económico? Mais miséria ou sensibilidade social? O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que tem estado do lado de Vítor Gaspar, não pôs na ordem Paulo Portas quando este, com evidente quebra do dever de lealdade, se demarcou publicamente de um documento aprovado em Conselho de Ministros. Passos Coelho perdeu uma boa oportunidade de afirmar a sua autoridade face à oposição interna. E um governo sem liderança só pode andar ao acaso, não podendo nós adivinhar para onde vai. 
«Público» de 15 Mai 13

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É mau terem partido. E péssimo voltarem

Por Ferreira Fernandes
ÀS VEZES, a ferida dolorosa não deixa ver chegar uma doença mortal - no dia em que temos um panarício não nos apetece ir fazer análises ao cancro do cólon. As manchetes só sobre crise económica tapam-nos a mecha a ir para o paiol. Já ouviu falar dos belgas na Síria? Jovens de Bruxelas e Antuérpia partem para a guerra santa. Segundo a universidade londrina King"s College, há 500 europeus na Síria a combater. Desses, diz o jornal Le Monde, 300 são belgas. Depois da cerveja e chocolates, a outra especialidade: ser mobilizado pela Al-Qaeda. De facto, os combatentes belgas vão para a brigada Al-Nosra, o principal grupo djihadista sírio. Termo de comparação: aquele Abu Sakkar que arrancou o coração de um soldado governamental e o trincou (há vídeo) é só chefe da brigada Al-Farouq, que é perseguida pelos da Al-Nosra por serem moderados. 
Os emigrantes muçulmanos belgas estão desolados com a facilidade de recrutamento dos seus filhos em Bruxelas - é conhecido o caso de dois rapazes de 14 e 16 que partiram. Esses pais, naturalmente, anseiam pelo regresso. Ora, isso não será uma boa notícia para todos. A Argélia ganhou uma guerra civil com os seus jovens regressados do Afeganistão. Desta vez, não serão só jovens combatentes que partiram de cabeça quente e voltarão com ela a ferver. É que voltam para o coração da Europa, para o Estado e nação mais frágeis da União. Junte-se a isso a demografia: em 2030, Bruxelas tem maioria muçulmana. 
«DN» de 17 Mai 13

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Nesta enfiada de carros, vê-se um que está estacionado de forma "diferente" dos outros todos. 
Sabendo-se que é o único com matrícula estrangeira, pergunta-se: 
Será o único que está bem, ou o único que está mal
Ou, colocando a questão de outra forma: qual das imagens é a original e qual é a espelhada?

16.5.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
A COMUNICAÇÃO de Paulo Portas ao país, no passado domingo, a propósito dos novos cortes na despesa do Estado, foi um prodígio de encenação política e malabarismo partidário. O líder do CDS presenteou-nos com mais uma originalidade – a de os ministros virem cá para fora relatar as posições que se tomam em Conselho de Ministros – e aproveitou para desancar na inflexibilidade da troika visando, de facto, atingir a insensibilidade de Vítor Gaspar.
Mas o objectivo central desta intervenção de Portas era o de aparecer aos portugueses, e em particular à larga fatia de idosos da base eleitoral do CDS, como o ‘polícia bom’, com preocupações sociais e de soberania nacional, em contraste com os ‘polícias maus’ deste Governo de cortes e austeridade (Passos e Gaspar, claro). Por isso, a propósito da «TSU dos pensionistas», como lhe chamou, o ministro Portas enfatizou: «Num país em que grande parte da pobreza está nos mais velhos, o primeiro-ministro sabe e creio que essa é a fronteira que não posso deixar passar». Muito comovente e conveniente.
Acontece, porém, que enquanto o líder do CDS se mostrava muito indignado com os 436 milhões de euros que o Estado ia retirar em 2014 aos pensionistas da Segurança Social (tendo já o compromisso de Passos de haver margem de recuo desta medida) já não revelava qualquer incómodo com os 740 milhões de euros que o Governo decidiu cortar em 2014 a outros pensionistas, os da Caixa Geral de Aposentações.
Portas diz querer «uma sociedade que não descarte os mais velhos», mas parece haver velhos – os pensionistas públicos da CGA – mais descartáveis que outros, na óptica do CDS. Os cerca de 3 milhões de reformados da Segurança Social, que iriam perder em média 146 euros por ano com a ‘TSU dos pensionistas’, nem pensar! – estão para cá da fronteira delimitada por Portas. Mas os 600 mil aposentados da CGA, que vão ficar em média sem 1.226 euros anuais (oito vezes mais do que a taxa que tanto transtornou Portas), não incomodam o líder do CDS, que acha tal medida «inevitável» e «satisfatória». Mesmo que ela implique «uma espécie de cisma grisalho» dos pensionistas públicos.
Percebe-se que 3 milhões são muitos mais do que 600 mil e que, por ironias eleitorais, uma das pastas de ministros do CDS é precisamente a da Segurança Social. Mas a duplicidade de fronteiras de Portas, para pensionistas públicos e não públicos, roça a demagogia e o descaramento. Vá lá, desta vez não pôs António Pires de Lima a falar por ele.
«SOL» de 10 Mai 13

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