31.10.13

O talentoso Blatter e o tosco Cristiano

Por Ferreira Fernandes
Aquilo do Blatter com Cristiano Ronaldo? Não, não vou lá por indignação patriótica. Sim, suspeito que os países menos ricos como Portugal sejam desprezados pela multinacional FIFA. É a vida, sorte a nossa não sermos o Burundi, ainda mais desprezado. Não, o que retiro da cena de Joseph Blatter, falando entre universitários de Oxford, é outra coisa. Um homem barrigudo levanta-se e permite-se mimar um jovem que quando tira a camisola faz suspirar milhões de mulheres. Um careca permite-se criticar os gastos no cabeleireiro de um ídolo mundial. Um incompetente que marca um evento desportivo para o Qatar com temperaturas a 60 graus, esse (cuja única desculpa à tolice só pode ser o suborno), permite-se criticar um tipo que não sei se é o primeiro ou quarto dos melhores, mas que é, seguramente, um admirável profissional com ganas de perfeição (tudo o diz quando joga, sobretudo quando falha)... 
Então, porquê, o desaforo de Blatter? Aí já não são suspeitas que tenho, são certezas. Um dia, Marilyn, lindíssima e trágica, cantou no Madison Square Garden uma canção ao seu amor. À volta de John Kennedy, hoje esquecidas dondocas sorriam, julgavam saber de tudo e desdenhavam. A mesma coisa com Blatter. A história mundial da infâmia está cheia de poderosos sem qualidades, que não querem reconhecer a sorte de privarem com gente que sabe, faz bem e fascina. No fundo é bem prudente essa ingratidão: sem ela, como aguentariam a sua inferioridade?
"DN" de 31 Out 13

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NOTAS SOLTAS - OUTUBRO/2013

Por C. Barroco Esperança
Governo – Foram mais eficazes os swaps a exterminar secretários de Estado do que os inseticidas a eliminar os mosquitos das praias algarvias durante o verão. A ministra das Finanças foi em busca de lã e voltou tosquiada. Ficou da dependência de Portas.
 SLN – Quando a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento comprou ações da SLN ao dobro do preço do seu presidente, e este conseguiu para si o mesmo preço que o PR e a filha Patrícia, não houve crime, mas é lícito pensar que não eram bonitas ações.
 5 de Outubro – A eliminação do feriado identitário do regime é um atentado à memória do povo, ao respeito que o cargo de presidente exige e uma provocação que nem Salazar ousou. Ficou mais descaracterizado o País e desonrado o Governo. (...)
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30.10.13

Apontamentos de Lisboa

Rotunda de Entrecampos - 29 Out 13
Em matéria de "descolagens", os cartazes do BE batem a concorrência da Lufthansa!

Cortes já chegaram aos quadrúpedes

Por Ferreira Fernandes
PORTANTO já sabem: são, no máximo, quatro animais por apartamento. E, atenção, cães, só dois; gatos é que podem ser quatro. Não, não podem ser três chihuahua, nenhum conta por gato, nem chamando Bichana ou Sissi ao terceiro. 
Enfim, os nossos governantes mostram que não estão desatentos às mudanças da sociedade portuguesa. Ontem havia que controlar as entradas dos estudantes nas universidades. Agora que a juventude se vai embora, a prioridade é o numerus clausus dos animais nos apartamentos. Se isto não é a reforma do Estado, o que é uma reforma do Estado?! Estamos, pois, perante uma legislação pensada e cirúrgica, embora desta vez dedicada só aos pequenos quadrúpedes. As carraças (oito patas) num fox terrier até podem ser 36, mas só conta o cão. Esse fox terrier e um labrador com pulgas (seis patas) também só contam como duas pessoas jurídicas, dois cães, portanto, dentro da norma. Porém, se o Bobi e a Laica tiverem uma ninhada, evidentemente os cachorros têm de sair da sua zona de conforto e emigrar para outro apartamento. 
As atuais e tão necessárias medidas devem ser consideradas somente as precursoras de um pacote que se estenderá em breve à cabra na banheira do 5.º direito e ao burro na varanda, símbolos da economia subterrânea que tem de ser combatida. Os peixinhos de aquário aguardam outra abordagem porque o direito marítimo, como se sabe, é muito específico. Caso bicudo vai ser com as lagartas: quando virarem borboletas herdam o precedente direito ao apartamento.
«DN» de 30 Out 13

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Reforma do Estado?

O governo pode ter medo da troika e de muitas outras coisas. Mas do ridículo não tem, com certeza.

O Presidente e o Governo estão surdos

Por Baptista-Bastos
JÁ NINGUÉM confia no Governo." A frase é lugar-comum, mas adquire um peso maior quando dita por alguém como Luís Campos e Cunha, da SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), e junta--se ao grande coro de indignações que percorre a sociedade portuguesa. Entretanto e por outro lado, Freitas do Amaral esclarece que o Executivo está a defrontar o Tribunal Constitucional no intuito de sair airosamente de uma situação degenerada. Também D. José Policarpo, patriarca emérito de Lisboa, manifesta o descontentamento que lhe provoca esta gente, lamentando que as alternativas não aparecem. Por último, numa notável entrevista a António José Teixeira, no programa A Propósito, da SIC-Notícias, Carlos do Carmo dizima a actividade do dr. Cavaco, como primeiro-ministro e como Presidente da República, acusando-o de causador de todos os males que nos afectam, por inépcia e falta de percepção histórica. Poucas vezes o nosso drama foi tão claramente enunciado como o fez o grande cantor, claramente emocionado.
A pátria está de pantanas, por uma governação aparentemente impune e alegremente estouvada. Os gritos de desespero que a fome e a desgraça despertam não são ouvidos em Belém. O crime terá, mais tarde ou mais cedo, de ser punido, e cada vez mais se acentuam as responsabilidades políticas e morais de um Governo que o não é, e de um Presidente que não há. Todos os dias da semana há protestos nas ruas, os governantes andam com um batalhão de "gorilas" a resguardar-lhes o corpo, os suicídios aumentam, milhares de famílias não têm pão para pôr na mesa, o País despovoa-se da sua juventude e temos a gelada sensação de que ninguém nos ajuda. Nas Jornadas Parlamentares do PSD-CDS, Paulo Portas, cuja imagem, distorcida e embaciada, está cada vez mais parecida com a do espelho em que se revê, abriu a sessão garantindo que já se vislumbra melhorias na economia. Mas que é isto? Vivemos nesta mentira, neste embuste, nesta pouca--vergonha que degrada a ética republicana e provoca amolgadelas maiores nos valores e nos padrões morais do nosso modo de relação social.
António José Seguro permanece ofuscado por qualquer problema que se desconhece. Nada diz, nada faz, em nada age. Cumplicia-se com o silêncio tenaz dos que se não querem comprometer. E as hostes agitam-se, cada vez mais, no PS, adquirindo proporções de que se registou uma pálida ideia na sessão de lançamento de um livro de José Sócrates. Esta agitação impeliu o antigo ministro Catroga ao beligerante comentário de que o ex-primeiro-ministro do PS deveria ser julgado. Bom. Neste caso e decorrências, o Catroga passaria ao lado? Ele, os que o antecederam e sucederam são santos impolutos e criaturas intocáveis?
O mal-estar que envolve o País tem muito a ver com este distúrbio, da natureza da consciência e de uma identidade própria que eles desagregam.
«DN» de 30 Out 13

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29.10.13

Entrevista ao «i» de 25 Out 13

NOTA (CMR): Dado não ser fácil afixar aqui a entrevista completa, a mesma será enviada, em formato PDF (tamanho 4 Mega), a quem o solicitar. Bastará mandar um e-mail para medina.ribeiro@gmail.com indicando, em assunto, entrevista ao 'i'.

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Perguntas abertas a Manuel Maria Carrilho

Por Ferreira Fernandes
Se me mandassem entrevistar Manuel Maria Carrilho eu ia. O escândalo agora protagonizado por Carrilho é assunto para ser falado. Mais: deve ser falado. Há é que perceber qual é o assunto, qual o escândalo. Eu julgo saber qual é, tenho lido, tenho visto as televisões. Então, eu chegava a Carrilho e perguntava-lhe o que se segue. 
Como é que o senhor explica dizer aos jornais que a sua mulher toma cinquenta comprimidos de medicamentos? E dizer, sempre a jornais e sem autorização dela, que ela se encheu de silicone? Que, aos 40 anos, ela queria competir com meninas de 18? Que ela cai de bêbeda? Que ela se mete na cozinha com o pai - a quem o senhor chama de alcoólico - e bebem seis garrafas? Que a mãe dela "é muito fraca e não tem estrutura psíquica"? E como se permite o senhor sugerir, de forma ligeira, que o padrasto a tentava violar? O senhor é ou não responsável (embora não único, neste caso) por uma jornalista ter lançado ontem à sua mulher e na presença do vosso filho de 9 atentos anos: "O seu marido diz que o seu padrasto a tentava violar..."? 
Essas eram algumas perguntas que eu poria a Carrilho. Todas elas saídas do espanto: como é possível?! O divórcio deles não me interessa, está em marcha e ponto. Agora, aquelas palavras ditas a jornais por Carrilho (não o que elas dizem, mas terem sido ditas) são o escândalo. À jornalista atrás referida, a voz quebrou-se a meio, de vergonha. A voz de Carrilho vai continuar sem ela?
«DN» de 29 Out 13

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28.10.13

“Eu não tenho amigos!”

Por Antunes Ferreira
“Ó SR. DEPUTADO, eu não tenho amigos!”,  afirmou Pedro Passos  Coelho, em resposta a Jerónimo de Sousa. “Não admira!”, exclamou de imediato o líder da bancada comunista, num aparte bem audível no plenário. E a oposição rompeu em gargalhadas, o que motivou que Coelho corrigisse logo a seguir, “Eu não tenho amigos… no Banif”. Assim respondia ao secretário-geral do PCP que afirmara que o (des)Governo só tinha mãos largas para os amigos. Referia-se ao estranho caso do BPN. E perguntou ainda se estava “em condições de garantir que os portugueses não vão ser chamados a pagar outro BPN no caso do Banif”.
Coelho não gostou da pergunta do líder do PCP. Mas nos minutos que tinha para responder a Jerónimo o chefe do Governo acabou por não dizer se o Banif já liquidara ou não as tranches das ajudas estatais que recebeu. Teve de esperar até ao final do debate para, com um papel na mão, dizer que o Banif “já devolveu 150 milhões de euros com o primeiro reforço de capital que foi realizado”. (...)
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Apontamentos de uma cidade desumana

Não é difícil adivinhar 'o que' está dentro do embrulho de plástico preto que se vê em 1.º plano:
um sem-abrigo, às 11h de uma 3ª-feira (22 Out 13), numa paragem da Carris, no Saldanha...

Oh, o anjo loiro afinal era cigano (2)

Por Ferreira Fernandes
Alguns leitores contestaram o título da crónica de ontem, "Oh, o anjo loiro afinal era cigano...", lembrando-me que a menina aparecida na Grécia não "era" cigana, "é" cigana. Ora não foi descaso da minha parte, foi mesmo essa a ideia central da crónica: é irrelevante Maria ser cigana. Como, aliás, não o ser. Alguns, quando viram a menina loira entre pais de pele morena, logo embalaram para a hipótese de estar ali a prova do secular mito de roubo de crianças por ciganos - e, com o mistério de Maddie ainda a pairar, o interesse por Maria explodiu. Outros, depois de se saber que Maria era mesmo filha de ciganos (não dos primeiros, gregos, mas de búlgaros), aproveitaram para denunciar os habituais ataques ao modo de vida dos ciganos. Entre tornar-se esperança de outras crianças serem encontradas e ser pretexto para se provar que os seus são perseguidos, Maria mais uma vez foi desapossada de ser vista como uma pessoa com direitos. Mais uma vez ela não pôde ser simplesmente Maria. Ontem (hoje limito-me a repetir) eu escrevi que ela é a protagonista de uma história em que o resto é irrelevante até que nos convençamos todos desta lei: cigana ou não, é inadmissível que uma criança seja vendida. Logo, o essencial é ela, Maria. Dito isto, podemos passar a ela ser mais do que ela. Maria não devia levar-nos a interessar pelas crianças (ciganas ou não) que mendigam nos cruzamentos das nossas cidades? Trabalham para quem?
«DN» de 28 Out 13

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27.10.13

Luz - Madrid, Plaza Mayor, Jogo de luz e sombra

Fotografias de António Barreto- APPh

Clicar na imagem para a ampliar
Esta bela praça virá do século XVII, mas realmente do XVIII. Vem do tempo do Habsburgos. Está situada na Madrid de los Austrias, como eles lhe chamam. Apesar da confusão, das hordas de turistas, dos vendedores de tudo e nada, dos carteiristas e dos grupos de escolas, é um local encantador, bonito e muito equilibrado. Não fora o barulho e o rebuliço, seria um local formidável para o descanso, a leitura, a conversa, o namoro, a reflexão, a admiração do belo… (2012)

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Oh, o anjo loiro afinal era cigano...

Por Ferreira Fernandes
PARECE que Maria, loira e olhos verdes, afinal não é das nossas. É mesmo filha de ciganos, não grega, é certo, como era a família onde ela foi encontrada, mas de ciganos búlgaros, pais tão escuros como os tais gregos mas com uma prole de matizes diversas, incluindo os cabelos dourados e os olhos de mar de Maria. Pronto, ela não é das nossas, concluiu-se com um suspiro, misto de alívio e desesperança. Alívio porque talvez o homem do saco seja um mito, talvez ele não ande por aí a raptar os nossos filhos; desesperança porque, para os pais de filhos desaparecidos, Maria anunciava outros achamentos... 
Chegado aqui, apetece limpar-me desta telenovela barata. Entre os preconceitos profundos (o medo do raptor errante) e o ligeiro politicamente correto (o receio de suspeitas sobre uma etnia) há que dizer do que estamos a falar quando falamos de Maria. Isto: dela, de Maria. Ela é a protagonista desta história, o Norte e o Sul, o céu e a terra. Há mais personagens e todas elas mergulhadas na miséria mas o essencial desta história é a salvação de Maria. Fosse ela negra ou esquimó, comprada e usada, em família sueca, ela era a nossa. Merecedora do que a história europeia diz ter reservado para as crianças: prioridade no respeito. 
Maria não é uma esperança para a Maddie, ela é a Maria. Maria não é refém das misérias da verdadeira mãe que a vendeu e da falsa mãe que a comprou, ela é a Maria. E tendo sido salva é salvação para nós todos.
«DN» de 27 Out 13

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Do sedimento à pedra dura (2)

Por A. M. Galopim de Carvalho
A MAIORIA dos calcários, como os que pisamos na calçada portuguesa vemos nas cantarias e na estatuária, começaram por ser sedimentos soltos ou móveis acumulados em fundos marinhos de pequena profundidade, nas chamadas plataformas carbonatadas, com águas mornas como os que actualmente temos na zona intertropical, bem conhecidas pela espectacularidade dos seus recifes,. Com muito menor representação à escala do planeta, conhecemos calcários marinhos de águas muito profundas e calcários lacustres. (...)
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Alguém viu e quer comentar?

26.10.13

A malta do «É igual ao litro»?

Porque será que, na capa deste livro, a bandeira portuguesa aparece desenhada ao contrário? Será porque - como parece - já estava rasgada do lado do verde?

No Reino do Absurdo

Praça de Alvalade, ontem

Não é novidade: ninguém nos escuta!

Por Ferreira Fernandes
NINGUÉM espia o levantar do Sol. Não é nenhum segredo, é sempre ali. Portugal é igualmente previsível. Não que a NSA, a tal agência de segurança americana que escuta toda a gente, não quisesse espiar também os portugueses. Mas teve de desistir porque era sempre detetada: os portugueses ouviam o agente americano a bocejar. 
Esta semana, começou com o Hollande indignado pelos 70,6 milhões de chamadas francesas gravadas e acabou com a Merkel surpreendida por o seu próprio telemóvel ter sido escutado pelos americanos. 
Ontem, na cimeira europeia, em Bruxelas, parecia a Casa dos Segredos, todos a saberem que os seus cochichos tinham sido gravados. Todos, não: Passos Coelho disse que não tinha "informações específicas" sobre escutas dos EUA a portugueses! Olha, talvez tenha sido uma retaliação americana: também eles não ouviam nenhuma "informação específica" quando espiavam os portugueses. Fartos de tantos "eh pá, sei lá!", "vamos a ver..." e "seja o que Deus quiser", desligaram-nos as escutas. Ninguém espia Portugal pela mesma razão de que ninguém corre atrás do comboio já apanhado. Os únicos segredos que temos são os de justiça. Mas mesmo estes não necessitam de aparelhagem sofisticada para os apanhar. Basta ir aos quiosques. 
Portugal, que já era o único país do mundo onde se passam horas no restaurante a pedir a conta, tem, para ser tomado a sério, de ir manifestar-se para a embaixada americana, acenando com os telemóveis.
«DN» de 26 Out 13

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Andar por aí

Por Antunes Ferreira
PEDRO SANTANA LOPES criou a frase que ficou nos anais da história política de Portugal: “vou andar por aí…” Numa remake deturpada, Aníbal Cavaco Silva, quando confrontado pelos jornalistas para que esclarecesse a sua enigmática declaração sobre a possibilidade de enviar ao Tribunal Constitucional o Orçamento de 2014, afirmou com um sorriso (o que é raro, e os que exibe são no mínimo forçados) que face à questão, pedissem ao ministro Poiares Maduro que elucidasse o que ele, Cavaco tinha querido dizer, pois “ele anda por aí”. (...)
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25.10.13

Apontamentos de Lisboa

De vez em quando, mostram-se imagens de painéis com preços de combustíveis, nas autoestradas portuguesas, em que os valores indicados são iguais até ao milésimo de euro.
Em contraste, vejam-se estes 2 painéis, fotografados no mesmo bairro de Lisboa com poucos minutos de intervalo.
Há diferenças superiores a 13 cêntimos por litro!

Eu estou cá para dar soluções

Por Ferreira Fernandes
COM TODA a consideração que Paulo Bento merece, se o nosso objetivo é ir ao Mundial do Brasil - porque é Mundial e, sobretudo, porque é no Brasil - quem deve dar a tática é Rui Machete. Está bem, Machete é capaz de ser mau exemplo, mas o que eu quero dizer é que isso de nos apurarmos é assunto do Palácio das Necessidades. E qual é a nossa necessidade mais premente? Ir ao Mundial. A FIFA, a organizadora, tem mais membros (209) do que a ONU (193). Um só Estado onusino, o Reino Unido, tem quatro seleções: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Ora, se é possível dividir para reinar (o Reino Unido quando não tem uma equipa, tem outra na fase final), mais razão há para ser possível unir. 
Dizem-nos, agora: ou vai Portugal ou vai a Suécia. Pois nós respondemos: vamos os dois, os dois em um, Portuécia ou Suégal. Para efeitos de 2014, o Reino da Suécia e a República Portuguesa tornam-se um só país e abdicam do play-off. Argumentos não faltam: a rainha Sílvia da Suécia é a nossa Sílvia, descendente de Afonso III, e o nosso desporto mais tradicional é a sueca. Era nosso destino que as duas seleções se unissem e nem sei como só me lembrei disso, esta semana, ao ver um tipo de rabo-de-cavalo a desatar a marcar golos na Champions
Unidade política resolvida (espero que a ideia não chegue tarde), falta a composição da equipa. Fifty-fifty: entra o Zlatan Ibrahimovic para o lugar do Postiga e o resto é a nossa habitual.
«DN» de 25 Out 13

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24.10.13

Alguém viu e quer comentar?
26 Out 2013 / 16h
Pavilhão do Conhecimento, Lisboa

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O homem das peúgas devia subir a ministro

Por Ferreira Fernandes
ÁLVARO COSTA tem uma fábrica de peúgas em Barcelos e não diz que exporta "strumpor" para a Suécia. Diz "peúgas". Homem simples, ele não fala sueco e inglês pronuncia mal. Se calhar, Álvaro Costa também não lê jornais económicos, daqueles que explicam os swaps, assim: "No fundo é como no casino. Apostamos no vermelho mas às vezes sai o preto." Ora quem vai ao casino sabe onde entra, há luzinhas à porta a apagar e a acender. Mas, em 2008, quando o gerente de um banco falou ao fabricante de peúgas, não trazia na cabeça luzinhas a apagar e a acender. O bancário propôs um "contrato swap", o que ficou entendido como trocar para taxa fixa os juros do empréstimo que o empresário fizera. Troca, pensou este, dentro de um risco razoável entre gente séria. Mas veio a crise e Álvaro Costa descobriu que, afinal, até era mais do que roleta, era jogar a vermelhinha com aldrabões: "Eu ainda hoje não percebo muito bem o que é um contrato suópi", diz. Ignorante? Sim, como todos, até a nossa ministra das Finanças, que também fez swaps (ela pronuncia bem) sem calcular o risco todo. Mas se Álvaro Costa era ignorante em swaps, não era tanso. Pagou os juros que o banco lhe pedia, mas meteu-o em tribunal. Ganhou. O Supremo anulou o contrato e obrigou o banco a devolver o abuso.
Infelizmente, os sapateiros que subiram acima do chinelo e chegaram a ministros não têm, com o nosso dinheiro, o mesmo interesse que o fabricante de peúgas tem com o dele.
«DN» de 24 Out 13

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Apontamentos de Lagos

Lagos -  Farol da Ponta da Piedade
As duas primeiras imagens são fotos turísticas, que mostram como este farol tem sido divulgado (e muito bem, pois vem gente de longe para o ver).
As seguintes, tiradas esta semana, mostram o trambolho que lá foi recentemente colocado (além do parque de estacionamento, que não podia estar em melhor local...) - tudo, decerto, para valorizar o conjunto...

Portugal, a fé e os partidos

Por C. Barroco Esperança
A LONGA ditadura fascista fez que a democracia se alicerçasse mais nas crenças do que na razão. Os cidadãos, perdido o medo, correram a matricular-se nos partidos e a fazer a profissão de fé no que lhes pareceu melhor, enquanto outros procuraram adivinhar o que lhe traria maiores conveniências.
Os oportunistas foram os melhor sucedidos, confiscando empregos, obtendo benefícios e promoções, alcançando prestígio e poder, enquanto os heróis de Abril eram remetidos para os quarteis e tratados como insurretos. (...)
Texto integral [aqui]

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23.10.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
A ÚNICA interrupção de um Conselho de Ministros que se arrastou por 17 longas horas foi para Paulo Portas explicar uma medida que omitira uma semana antes – o corte nas pensões de sobrevivência – quando anunciou que não avançaria a ‘TSU dos pensionistas’.
Medida da qual se soube através de uma «fuga de informação irresponsável», nas palavras de Portas, e que punha em causa a transparência das suas comunicações e a lisura dos seus processos. O problema não era da informação em si, mas da fuga da dita informação, que trouxe comprometedoramente a público o que fora omitido.
Portas viu aí a oportunidade para fazer reverter a situação a seu favor e levar a cabo um dos seus típicos ‘números’ de política mediática. Aproveitou, pois, para dar a boa notícia de que só 25 mil dos 800 mil abrangidos com a pensão de sobrevivência iriam ser afectados e verberar os mal intencionados que «quiseram assustar e alarmar os idosos». A seu lado, sem proferirem uma palavra, sentavam-se Maria Luís Albuquerque e Mota Soares.
Ora, esta encenação política é bem o espelho do estado a que chegaram o Governo e a coligação. Porque, num Orçamento para 2014 que retira mais 3.900 milhões de euros aos bolsos dos portugueses e que corta 3.200 milhões na despesa do Estado, a única comunicação que mereceu uma paragem no Conselho de Ministros diz respeito a um corte de... 100 milhões – 32 vezes menos importante do que o total do enorme aperto que funcionários públicos e reformados, em particular, vão sentir na pele em 2014.
Portas soube fazer da questão marginal das pensões de sobrevivência ‘o caso’ do Orçamento. Deixando sem referência os novos e violentos cortes nos salários, a redução das pensões da CGA e outras nas despesas com pessoal e prestações sociais – que representam 2,2 mil milhões na consolidação orçamental. Bem mais do que ‘o caso’ dos 100 milhões.
Passos Coelho e o Conselho de Ministros deixaram Portas levar à cena, mais uma vez, o seu ‘número’ de arauto das boas notícias. À ministra Maria Luís Albuquerque coube o papel de dar as más notícias e a cara pelo Orçamento mais difícil dos últimos anos. O país tem um Governo ou dois Governos?
«SOL» de 18 Out 13

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Os pinta-paredes (79)

De saudar: a limpeza (das paredes e das linhas) feita na estação de Tunes. Aqui ficam imagens actuais - que contrastam, pela positiva, com outras aqui afixadas, há algum tempo, dos mesmos locais.

Figuras de estilo e figura de urso

Por Ferreira Fernandes
PODE sobrar-nos mês depois do ordenado, mas não nos faltam figuras de estilo. O ministro Pires de Lima lançou um eufemismo. Vocês sabem, aquela conversa suave para atenuar uma verdade catastrófica, tipo "entregar a alma ao criador" em vez de esticar o pernil. Ele não podia falar de novo resgate para um público já farto de ser refém. Então, dourou a pílula e falou de "programa cautelar". Parece caldo de galinha, não faz mal a ninguém... Em todo o caso, um belo eufemismo. 
Ao mesmo tempo, um grupo fez uma manifestação em Lisboa dizendo-se de apoio à troika. À partida, manifestar contentamento por se albardar o País à vontade da burra (a troika, comprovadamente incapaz) parecia masoquismo, mas não, não era nenhum distúrbio psíquico, era outra figura de estilo. Desta vez, ironia. Coisa bem difícil de fazer e por isso geralmente só utilizada, fininha, por queirosianos de boquilha e chapéu alto. Ver a ironia trazida para rua e por gente irada foi das poucas coisas boas que a crise nos trouxe. Sendo contra, diziam-se por, havia cartazes ("Abaixo as reformas" e "Vamos trabalhar mais"), gritos ("Acabou a mama") e discursos louvando "os nosso credores fofinhos internacionais"... 
Provavelmente o eufemismo do ministro e a ironia da manifestação não levam a nada, mas, pelo menos, preocuparam-se com o estilo. Bem melhor do que a figura de urso de Paulo Portas que fez esta frase rasa e indigna: "Os mais pobres não se manifestam."
«DN» de 23 Out 13

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Os pinta-paredes (78)

Claro que é de louvar que tenham sido limpos os grafitos nesta praça. Mas repare-se como os 'artistas', para marcarem posição, gatafunham a própria placa onde a Junta de Freguesia anuncia os seus louváveis esforços.

O Governo é burro

Por Baptista-Bastos
PAULO PORTAS chegou, falou e disse: "Os pobres não se manifestam, nem vão à televisão." Por antinomia, deduz-se que quis afirmar: quem se manifesta são os ricos, assim como são eles que vão à televisão. Como sabemos que o presidente do CDS-PP não é tolo inclinamo-nos para a triste e dura hipótese de que ensandeceu. A verdade é que não tem andado bem: os direitos, os deveres e as características de quem governa têm sido espezinhados, com faustosa leviandade.
Ele, eles não sabem o que fazem. E a proibição de a CGTP organizar a manifestação na Ponte 25 de Abril, sob a alegação dos perigos a haver foi o absurdo dos absurdos. O processo intentado contra os valores que definem a democracia tem sido contornado com maior ou menor êxito. E o caso da Ponte 25 de Abril demonstrou que a imaginação possui uma força que o poder permanentemente ignora. A desorientação dos habituais panegiristas do Governo, que procuraram minimizar a importância do acontecimento não obstou a que ele tivesse a monta desejada. O Marcelo chegou a ser grotesco; Marques Mendes, coitado!, exteriorizou a habitual pungente mediocridade; Sarmento conseguiu fazer-nos entediar mais do que costuma, levando-nos, de novo, a perguntar o que faz ali a funesta criatura.
Luís Delgado salvou a honra do convento, criticando a decisão eruptiva do Executivo com a veemência de quem condena uma indesmentível burrice. Depois, surgiu o Portas, com o brilho fanado pelas "incongruências problemáticas" de um homem ferrado pelas irresoluções de carácter. Não compreende, ou faz por isso, que a pequenina ascensão do CDS resulta da queda do seu parceiro de coligação. No meio desta baderna, entre a asnada, a incompetência, a sobranceria desesperada dos que naufragam, o dr. Cavaco, no estrangeiro, assevera que não vai levantar pendências ao Tribunal Constitucional sobre as evidentes inconstitucionalidades do Orçamento.
Claro que todos estes incidentes são sintomas do mal-estar da sociedade portuguesa, e da degradação da democracia, em que o sentido da dignidade é amiúde mortificado pela "indiferença actuante" de um Presidente da República que o não sabe ser, fazendo pender o prato da balança para um só lado.
Sabe-se que a política, lato senso, foi substituída pela "gestão" e esta comandada pela finança e pelos interesses de grupo. É total o contraste entre a exigência de justiça e de equidade social e a evidência falsa e inútil do discurso dos dirigentes. Há poucas vozes protestatárias na imprensa e a grande rábula da "independência" e da "imparcialidade" ficou amplamente comprovada, como rábula e ardil, naquele abjecto programa na RTP, no qual o Passos Coelho "respondeu" ao País, sem responder a nada.
Como disse um teólogo, "vivemos mergulhados no mal da alma", e se a pátria tem passado por interregnos terríveis, sempre surgia uma luz, que nos conferia esperança. Agora, é isto.
«DN» de 23 Out 13

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22.10.13

Pergunta de Algibeira

Além do matagal existente entre as cadeiras, estas bancadas ostentam uma outra curiosidade. 
Qual é? Alguém sabe onde é isto?

Apontamentos de Lisboa

No Reino do Absurdo: Apesar de esta estação dos CTT (na Av. dos EUA) ter sido encerrada há imenso tempo, mantém-se esta proibição - ainda por cima com um 'pequeno' erro de ortografia...

Os pinta-paredes (//)

De saudar: a limpeza dos grafitos destas paredes do edifício da TMN, junto ao chafariz de Entrecampos.

"Allô! Allô!", os americanos escutam

Por Ferreira Fernandes
DEPOIS das revelações sobre o Brasil, o México e a Alemanha, soube-se que também a França foi alvo de espionagem maciça feita pela NSA, a agência de segurança americana. 
A América é mesmo democrática, com ela nem há um mais igual do que os outros, todos levam com as escutas. Ontem, o jornal Le Monde explicou o que a palavra maciça faz nesta história: num mês, entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro de 2013, foram gravadas 70,3 milhões chamadas telefónicas francesas! É gravação a mais só para os terroristas de um país (aliás, aliado). A curiosidade americana estendeu-se a todos os que em França mandam alguma coisa, das finanças à política, e até a todos que tenham dito ao telefone alguma frase ou expressão considerada suspeita. Atendendo aos números astronómicos avançados, é provável que na sede da NSA, em Fort Meade, no estado de Maryland, se julgue que a tão popular interjeição francesa "oh là là" seja um termo em código para "Ahmed, passa-me a bomba..." 
Ontem, o embaixador americano em Paris foi chamado a prestar contas e espera-se que não tenha tentado desanuviar o encontro dizendo ao ministro dos Negócios Estrangeiros francês: "Já sei que o Presidente Hollande lhe telefonou muito zangado..." Entre os do meio, a sigla NSA era conhecida por "No Such Agency", o que traduzido dá "Isso Não Existe". O erro, pois, não está na espionagem, está no escândalo. Nada menos profissional do que um espião apanhado.
«DN» de 22 Out 13

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20.10.13

Luz - Barcelona, passagem de peões

Fotografias de António Barreto- APPh

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Barcelona, passagem de peões… (2012)

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Dos sedimentos à pedra dura (1)

Por A. M. Galopim de Carvalho

QUANDO andamos pelo campo e temos oportunidade de observar conglomerados, brechas, arenitos e xistos, materiais que aprendemos a considerar como rochas sedimentares, mas que, com escola ou sem ela, toda a gente reconhece como pedras, entidades mortas, coesas e quebradiças.
Geradas à superfície da Terra, nas condições de pressão, temperatura e quimismo aí reinantes e em contacto com a água, o ar e os seres vivos, este conjunto de rochas sedimentares, ditas detríticas, clásticas ou terrígenas, é o produto da deposição gravítica de detritos ou clastos maiores ou menores resultantes da erosão de outras rochas preexistentes. (...)
Texto integral (aqui)

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18.10.13

Apontamentos de Lisboa

Alvalade, Campo Grande e Alameda - 16 dias depois das eleições

Apontamentos de Lisboa

Av. EUA
Não, não é Arte Urbana; apenas um absurdo, pelos vistos inevitável: a maior parte dos cabos estão desligados (e vão ficar assim), e a maioria deles é da ZON. As sucessivas promoções levam os consumidores a mudar de operadora, e o resultado é este...

17.10.13

Apontamentos de Lisboa

A carrinha da direita, em baixo, ostenta as palavras misericórdia de Lisboa - um apelo muito apropriado!

Cadeiras desde 500€...

Está assim há 2 anos (ou mais...) e, pelos vistos, ainda não venderam tudo. Porque será?

A indústria da santidade ao serviço do fascismo

Por C. Barroco Esperança  
PARA vergonha da Igreja católica, descontados os crimes de eras recuadas, que podem sempre ser atribuídos aos costumes bárbaros da época, mas comprometem a inspiração divina de que se reclama, bastava a cumplicidade e o silêncio perante um dos maiores genocidas da Humanidade – Francisco Franco –, para exigir o pedido de perdão sincero de quem herdou o ferrete da ignomínia. 
Todos sabemos que a violência atingiu na Guerra Civil espanhola limites inauditos de crueldade dos dois lados da barricada. Não houve bons e maus, só maus. Não podemos esquecer a violência cruel do anticlericalismo dos anarquistas e liberais e, em menor medida, dos marxistas, cujo ódio à Igreja, implicada com a pior direita, rivalizou com o empenhamento do clero nos crimes mais perversos. (...)
Texto integral [aqui]

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16.10.13

Não soa lá muito bem...

«Dito & Feito»

Por José António Lima
COM UM sorriso nos lábios, Paulo Portas anunciou, há uma semana, o resultado das 8.ª e 9.ª avaliações da troika e as suas consequências no Orçamento do Estado para 2014, assegurando que «em nenhuma circunstância estamos perante um pacote de austeridade».
E sublinhou, com ar triunfal, que «a TSU dos pensionistas não avançará», sendo substituída por um conjunto de «pequenas e médias medidas». A seu lado, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, de semblante fechado e preocupado, ainda avisou que «todas as medidas de carácter excepcional serão mantidas no próximo ano». Mas passou a imagem de que, no essencial, o Governo tinha boas notícias para dar aos portugueses sobre o que os espera em 2014.
Acontece que, logo no dia seguinte, se veio a saber que o OE para 2014 vai contemplar um corte de 100 milhões de euros nas pensões de sobrevivência. Uma espécie de TSU da viuvez que Portas omitiu deliberadamente na sua comunicação, apesar de estar farto de saber que a troika impusera essa medida para compensar parcialmente a retirada da TSU dos pensionistas. O vice-primeiro-ministro desculpar-se-ia, depois, dessa calculista omissão dizendo que «o desenho em concreto da medida não estava terminado». Portas já tinha o retrato, mas faltava-lhe o desenho.
Pior, no entanto, é a mensagem enganosa de Portas afirmando que «não estamos perante um pacote de austeridade», quando o OE de 2014 vai ser o mais duro de que há memória para os portugueses. Com cortes de mais de 3 mil milhões em salários, pensões, despedimentos e por aí fora. Só em novas medidas que não se fizeram ainda sentir este ano – cortes nas pensões da CGA, de sobrevivência e nas tabelas salariais da função pública – o Estado vai retirar aos bolsos dos portugueses mais 1.285 milhões de euros.
Passos Coelho, que passou a semana a alertar para as dificuldades e sacrifícios que traz o OE para 2014, veio queixar-se de um comprometedor «choque de expectativas».
Só podia estar a referir-se ao seu colega de Governo, Paulo Portas. Que não se cansa de espalhar ilusões, de premeditar omissões e de divulgar falsas expectativas. Um verdadeiro artista da governação em crise. 
«SOL» de 11 Out 13

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Apontamentos analfabéticos

Rua Morais Soares

Soares subiu a parada

Por Baptista-Bastos
A DIREITA, a Direitinha e a Direitona congraçaram-se num alarido contra a entrevista que Mário Soares deu a João Marcelino e a Paulo Baldaia, editada no DN de domingo, pp., e transmitida pela TSF. É um documento importante, sobretudo pelo facto de Soares ter aumentado a parada das suas indignações. E as razões são poderosas. Perdoamos-lhe tudo o que a outros nunca esquecemos porque ele simboliza as nossas idiossincrasias, as nossas peculiares malícias, as nossas capacidades de improviso.
E que disse ele para suscitar tanto alvoroço? Nada mais do que a esmagadora maioria de nós pensa: que este "é um Governo de delinquentes"; que "não tem rei nem roque, nem sabe o que quer, nem sabe para aonde vai (...), só sabe que quer mais austeridade e que quer cada vez dar mais dinheiro à troika (...) Mas pode ser que suceda como na Argentina, quando o presidente do Governo disse que "nós não pagamos", e não se passou nada."
As iras de Soares correspondem, afinal, ao aumento das decisões do Executivo, que estabelecem a negação de qualquer projecto constitutivo (apenas direi: humanista) da nossa identidade. Quando reclama que "estes senhores têm de ser julgados depois de saírem do poder", exige o termo da impunidade, e que a sua sustentação tem sido causada pela cumplicidade da "alternância". Nada de significativamente grosseiro. Por menos, o primeiro-ministro islandês, Geir Haarde, foi parar à cadeia. A frase popular "eles fazem tudo e nada lhes acontece" assumiu foros de abjecção e explica a relutância dos portugueses para com o exercício da política.
Ao criticar o dr. Cavaco, acusando-o de inutilidade e de não saber o que fazer, Mário Soares repete o que tem dito ao longo dos anos, não nos devendo esquecer que as suas críticas sobre as responsabilidades do actual Presidente vêm desde que este foi primeiro-ministro. O dr. Cavaco não presta.
O alvoroço destas Direitas consiste na circunstância de haverem perdido o sentido das coisas. O Marcelo, classificado por Soares como ""entertainer" (...) porque diz coisas engraçadas acerca de toda a gente e de tudo", não encontrou outra resposta que não aquela, mal-educada, de aludir à idade do entrevistado do DN, como nota da sua "radicalização."
Antigo, velho, idoso não são categorias; são noções de tempo que apenas distinguem essa ordem. A criação de um novo conceito não diferencia a relação social, e que só acontece o contrário quando as sociedades entram em crise, estimulando o antagonismo entre jovens e velhos. Porém, convém não iludir as questões, colocadas pelos tempos actuais e pela teologia do sistema, quando a noção de "cabelos grisalhos" está a adquirir uma peculiar "luta de classes." A beligerância contra os mais velhos faz parte da ideologia que nos assoma. É, também, contra essa ideologia que a entrevista de Mário Soares se defronta. Quem não entendeu, que entenda.
«DN» de 16 Out 13

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15.10.13

Pergunta de algibeira

90 anos separam estas duas fotos que, no entanto, têm algo em comum. O quê?
A resposta será dada em actualização, com a afixação de uma 3ª imagem.
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Aqui fica uma dica: a foto de onde se extraiu a imagem de cima é a seguinte:
Resposta: Era uma máquina para arrancar tôcos de árvores. Não percebo bem como funcionava, mas era mais eficiente do que as da CML 90 anos mais tarde - tanto que arrancou 40 mil (!!), em 28 hectares, para a construção do autódromo de Monthléry, em França.