Independência
AMANHÃ celebrar-se-á pela última vez, tanto quanto está previsto, o feriado da restauração da independência de Portugal.
E é sintomático que o Governo tenha sacrificado o feriado da independência nacional como um simbólico penhor da subordinação do País ao jugo dos agiotas. Um país que é forçado por outros a pedir emprestado, pagando de juros 50 por cento do valor concedido, é um país ocupado pela usura.
Nunca Portugal foi tão dependente. Durante a maior parte da ocupação dos Filipes, à qual a revolução de 1 de Dezembro de 1640 pôs fim, Portugal podia, pelo menos, cunhar moeda e governar-se em autonomia política e administrativa. E quando deixou de ser assim, e passou a depender, como agora, de um poder centralizado pelos burocratas estrangeiros, que em tudo metem o bedelho e sobre tudo dão ordens e aplicam sanções, os portugueses de bem revoltaram-se e expulsaram o ocupante e respectivos colaboracionistas. O mais desprezível dos colaboracionistas foi expulso pela janela.
A Europa deixou de ser uma União, como antes deixara de ser uma Comunidade, para ser um continente ocupado por agiotas. A próxima etapa desta deformada União, gizada no papel, é a divisão da Europa num subcontinente de pobres que alimenta o clube dos ricos. O lugar de Portugal, país dependente, sem voto na matéria, é obviamente no subcontinente dos Zé-Ninguém.
Sucede que os acontecimentos podem prever-se e determinadas causas podem produzir previsíveis efeitos. Mas a História escreve-se depois dos acontecimentos e à distância. E quem sabe se o abolido feriado da independência nacional passa a ser o toque a rebate por um País soberano, livre e justo, em incessante busca de "um dia inicial inteiro e limpo" (Sophia de Mello Breyner Andersen).
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