29.4.18

Sem emenda - Tentar perceber a saúde

Por António Barreto
Na União Europeia, Portugal é o quinto país, à frente de vinte, com mais médicos por habitante! Muito acima da média! Quase o dobro do Reino Unido e do seu National Health Service!
Na UE e na OCDE, é o quarto país com menos habitantes por profissional de saúde, melhor do que a média! Na União Europeia, Portugal é o país com mais médicos de família por habitante. Mas é verdade que também é um dos países com menos enfermeiros por habitante.
Na Europa, Portugal é um dos países com menos camas hospitalares por habitante, está em sétimo lugar. Mas, abaixo, estão por exemplo a Dinamarca, a Espanha e o Reino Unido!
Os vencimentos dos médicos estão, em termos absolutos, entre os mais baixos da Europa. Em paridade de poder de compra, estão na primeira metade, acima da média. Como parte do PIB, o total dos vencimentos dos médicos está entre os mais elevados da OCDE. Isto é, os médicos têm uma das maiores fatias do PIB. Ganham pouco, mas o PIB é muito pequeno.
Em despesa pública e privada com a saúde, por habitante, Portugal fica ligeiramente abaixo da média, atrás de catorze países e à frente de onze. Mas, em percentagem do PIB, fica em sétimo lugar, acima da média e à frente de mais vinte.
Com todos estes dados, é difícil perceber por que razão há “falta de médicos” e filas de espera para consultas e cirurgias.
As organizações mais credíveis (UE, OCDE, OMS, INE) surpreendem-nos com observações favoráveis e elogiosas, mas os partidos denunciam um verdadeiro inferno e os utentes queixam-se. A esquerda diz que a direita “destruiu” o SNS. A direita garante que a esquerda nada fez de jeito em três anos.
Pelas más razões, a saúde está de novo no centro do debate político e das tensões sociais. O tempo e as filas de espera aumentam. Os custos sobem, os preços também. O orçamento não chega. O défice cresce. Há luta de classes no sector.
Tudo leva a crer que a saúde esteja em crise. Não se conhecem bem as causas, mas parece que tem havido menos investimento. Só que não se sabe se isso é realmente importante. A diminuição de investimento não parece ter sido assim tão grande. E convém não esquecer que a saúde é há muito considerado o sector de actividade onde há mais desperdício e pior gestão.
O debate político sobre a saúde e o Serviço Nacional de Saúde está a ficar insalubre. Com a aproximação de mais um orçamento, do ano eleitoral e da revisão das alianças, os nervos estão tensos. Os ânimos ficam exaltados e a reflexão simples.
Esquerda e direita pensam menos. A primeira é totalmente a favor do Estado e contra os privados. A segunda é o contrário. O que não parece ajudar muito. Este clima não é propício ao rigor dos factos e do diagnóstico. Concretamente, não se sabe por que razões o país tem tão bons indicadores quantitativos (médicos, hospitais, camas, equipamentos, consultas, urgências), alguns muito bons resultados (esperança de vida, mortalidade infantil, vacinações) e tão maus índices de qualidade (espera, acidentes, desigualdades, preços dos medicamentos, horrendas condições de espera e atendimento nos serviços públicos).
Será que um dia, como já aconteceu duas ou três vezes desde 1974, poderemos voltar a tratar da saúde sem fanatismo político? Será que se poderá olhar a sério para a organização dos hospitais? Para a exigência de condições decentes de atendimento? Para as horas de serviço dos médicos e dos enfermeiros? Para a necessidade de estabelecer a exclusividade de funções? Para os efeitos nefastos da acumulação de funções públicas e privadas de tantos profissionais? Para a inflação de custos de medicamentos e equipamentos? Para a diminuta prestação de cuidados continuados e paliativos e de cuidados aos idosos e doentes no domicílio? Para o facto de os blocos operatórios funcionarem poucas horas por dia, muito abaixo dos padrões de segurança e eficiência?
Sem a estupidez do fanatismo político, a saúde e o Serviço Nacional de Saúde poderiam ser a mais formidável realização da democracia portuguesa.

DN, 29 de Abril de 2018

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Sem Emenda - As Minhas Fotografias

Almoço em Alfama, com sardinha e turista Na Casbah lisboeta, ali para os lados de Santo Estêvão, duas senhoras, certamente turistas, mostram ao que vieram. Uma faz contas à vida, depois das sardinhas e da mousse de chocolate. Outra, com parceiro, preparara-se para atacar uma dúzia de sardinhas, o que revela fome e um estômago de respeito! O turismo já mudou as grandes cidades. Agora, a respectiva temporada é quase o ano todo. Há vinte anos, era no Algarve. Há dez, em Lisboa e no Porto, uma novidade. Há cinco, uma alegria. Hoje, já começa a ser motivo de insatisfação: tuk-tuk, enchentes, barulho, carteiristas, preços dos restaurantes, alojamentos, rendas de casa, despejos de inquilinos antigos… É o costume: há sempre alguém que aproveita, há sempre alguém a rosnar!

DN, 29 de Abril de 2018

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DÉFICE NA EDUCAÇÃO

Por A. M. Galopim de Carvalho
A propósito de uma notícia, a circular no FB, de uma situação que, de estúpida, quero acreditar que é falsa, a da proibição de afixação de pautas dos resultados de exames, ocorre-me trazer de novo e uma vez mais, aqui, esta grave situação, no propósito de a não deixar esquecer.
Há pouco mais de um ano, o Primeiro Ministro, na cerimónia de entrega do Prémio Manuel António da Mota, no Palácio da Bolsa, no Porto, disse, preto no branco:
“De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”.

Dito, creio que, de improviso, o que me pareceu estar no pensamento de António Costa, governante que conheço pessoalmente, que estimo e admiro, veio ao encontro do que ando a dizer há muitos anos. (...)
Texto integral [AQUI

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27.4.18

CAMINHOS PARALELOS

Por Joaquim Letria
O meu querido amigo Tony de Matos cantava uma famosa canção de amor daquela época que falava dos desacertos que todos conhecemos, em que às tantas dizia que “as nossas vidas são dois caminhos paralelos”. Hoje, quando se fala nessa genial realidade geométrica, ou nos estamos a referir às economias subterrâneas ou a um aparelho de ginástica aplicada.
Um estudo da Universidade de Linz, na Áustria, usa um indicador seguro para avaliar a situação das ilegalidades financeiras: a chamada economia paralela ou actividades económicas clandestinas. Após pesquisarem e analisarem, com a ajuda da revista britânica The Economist, chegaram a conclusões supreendentes, como aquela que estabelece a Espanha e a Itália no topo desse campeonato.
Ambos os países têm mais de 20 por cento dos respectivos PIBs (Produto Interno Bruto) em economia paralela, ou seja, em actividade produtiva não contabilizada. O estudo debruça-se sobre 17 países cujas economias são cotejadas, baseando-se no pressuposto de que a economia paralela funciona de dinheiro na mão (cash, efectivo, papel) como forma de evitar o controle do fisco.
O curioso é o estudo estabelecer que o reino de Espanha é o rei do paralelo e a nossa querida e vizinha Galiza a sua amada raínha. Segundo os analistas que conferem os prémios nesta classificação, a Galiza está destacada bem à frente do resto de Espanha graças ao contrabando, actividade tradicional dos nossos irmãos galegos.
25 por cento do PIB da Itália são gerados em actividades clandestinas (lembremo-nos da Cosa Nostra, Andrigueta e Gomorra, mais os independentes e os pequenos “empresários”, além de todo o resto dos italianos), seguem-se-lhe a Espanha e a Bélgica, bem acima dos 20 por cento.
A Alemanha, país com fama de cumpridora e de rectos cidadãos respeitadores das leis, em cada sete marcos um foge ao Fisco, valor semelhante ao registado em França. Abaixo dos 10 poor cento só temos os Estados Unidos, o Japão a Áustria e a Suiça.
Pena que Portugal não apareça no estudo. Mas tão apertadinhos que nós andamos, mesmo tirando as feiras e a venda à beira das estradas e os arrumadores de automóveis não deve escapar grande coisa aos cofres do Estado. Só aquilo que o Estado quer que escape e convém a alguém.

Publicado no Minho Digital

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26.4.18

LAGOS - 25 de Abril de 2018


De nada adiantou pedir-se, no jornal da cidade, que a reparação fosse feita a tempo.

LAGOS - 25 de Abril de 2016

Monumento a Salgueiro Maia, com uma luz desligada (por economia, segundo lá se podia ler) e outra fundida. Após protestos lá ligaram as luzes... no dia 27!

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Almeida e o 25 de Abril – Crónica

Por C. Barroco Esperança

Tenho o raro privilégio de poder dizer o que penso, de ser lido e de incentivar quem, por modéstia ou timidez, cala testemunhos relevantes da nossa vida coletiva. Alguns julgam que outros o fazem e, assim, levando memórias, partiram muitos, sem se darem conta de que a História também se faz de retalhos da vida de cada um de nós.
Hoje recordo Almeida, concelho onde a Pide perseguia e torturava emigrantes, quando os prendia por fugirem à miséria, a tentarem chegar àquela Europa onde o nazi/fascismo findara em 1945, para lá dos Pirenéus. Prendia-os em Vilar Formoso, ali onde a Europa começa a ser Portugal.
Em 25 de Abril presidia à Câmara Municipal o Dr. Crisóstomo, notário, professor do colégio, indefetível salazarista e acrisolado fascista. Afirmava que considerava inimigo pessoal quem não fosse salazarista. Os adversários chamavam-lhe, por isso, “o Inimigo Pessoal”, enquanto os alunos do colégio o apelidavam de “o pai da nossa filha”, por ser habitual referir-se à filha, durante as aulas, por “a nossa filha”, aliás, colega deles.


No mês de agosto de 1974, em nome do MDP/CDE, tive a honra de presidir a todas as sessões de esclarecimento e comícios que se fizeram em Almeida, tendo várias vezes a ladear-me duas figuras de enorme dimensão política e histórica, o Dr. João Gomes, pelo PS e o Dr. Mário Canotilho, pelo PCP, assumindo a dupla função de membro do MDP e moderador, em sessões de esclarecimento. O PSD ainda não existia ali, e a legitimidade revolucionária era caucionada pelo capitão do MFA, Augusto Monteiro Valente, que recusou sempre integrar a mesa ficando entre a multidão, intimidado pelas ovações que recebia, ele que teve a coragem de sublevar sozinho o RI5 da Guarda, prender o comandante e seguir para Vilar Formoso a cumprir a missão do MFA, prender os pides e encerrar a fronteira.
Foi, aliás, no dia 25 de Abril, já com a fronteira fechada pelas tropas do MFA, que três professoras de Almeida regressavam das compras em Fuentes de Oñoro e uma delas se dirigiu ao aspirante miliciano que vigiava a fronteira terrestre, em tom autoritário, para dizer ao comandante que era a esposa do Sr. Presidente da Câmara, e que queria entrar. O aspirante sorriu, a dizer-lhe que era melhor não invocar essa qualidade, e lá foi com os nomes das docentes a obter o “Autorizo a entrada”, na mesma folha de papel pardo em que tinha escrito os nomes, folha assinada pelo capitão, na gloriosa data, e entregue, quando entraram, à professora Conceição Vilhena que a guardaria afetuosamente.
Num desses comícios foi decidida a destituição do presidente da Câmara e ovacionada a Comissão Administrativa, encabeçada pelo veterinário José Luís Terreiro, seguido do prof. Alberto Vilhena e de outros cidadãos do concelho, aceites por consenso, durante a noite anterior, em casa do comerciante António Ferreira. Na mesa, foram meus vogais o velho capitão Barroco e o padre Inácio Vilar, hoje advogado na Guarda, integrando a Comissão Administrativa o irmão, Francisco Vilar, atual arcipreste e abade de Almeida, dois padres de sólida formação democrática, cuja participação foi determinante.


Coube-me elaborar a ata do comício que, depois de aprovada, foi enviada ao Governo Civil da Guarda com a descrição da decisão popular e os nomes dos membros da futura Comissão, a ser homologada pelo MAI. Foi-me devolvida, para incluir menos nomes, manobra dilatória a que não cedi e que visava impedir a demissão do ‘Inimigo Pessoal’.
Foi um período de ansiedade, quando os reacionários procuraram difamar os membros propostos e apelidaram de garotos os ativistas, entre os quais fui especialmente visado. O Dr. Crisóstomo ainda foi a uma procissão com as insígnias de Presidente da Câmara, convicto de que os ‘inimigos pessoais’ tinham fracassado no seu município.
Graças ao empenho do dirigente do MDP, Carlos Ferreira, que logo levou a despacho a lista, esta foi homologada pelo MAI, Dr. Magalhães Mota, na última aprovação havida, antes de Sá Carneiro conseguir impedir a forma expedita de destruir o aparelho fascista das Câmaras Municipais.
Foi a mais saborosa recordação do PREC, a fazer esquecer o comício na Miuzela, onde me aguardaram familiares e amigos e, quando enalteci, na defesa da democracia, entre outras virtudes, a liberdade religiosa, vi abandonar o salão cheio, perante o gáudio geral, o António Amaro, aos gritos: Viva Cristo-Rei! Viva Cristo-rei! Abaixo o comunismo!
O José Luís Terreiro e, depois da transferência deste por razões profissionais, o Alberto Vilhena presidiram à comissão democrática até às primeiras eleições autárquicas livres, que deram a vitória… ao CDS, enquanto o Dr. Crisóstomo procurou nova comarca onde certamente encontrou ‘amigos pessoais’.


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23.4.18

UMA REFLEXÃO SOBRE O MODERNISMO NA PINTURA, AO ALCANCE DE TODOS

Por A. M. Galopim de Carvalho
O Modernismo foi um  importante movimento cultural e artístico surgido no 3º quartel do século XIX e bem afirmado na primeira metade do século  XX, com conhecidas expressões na literatura, pintura, esculturaarquitecturateatro, dança e música.  Grandemente influenciado ou apoiado nas ideias filosóficas a circularem na Europa (Auguste ComteJohn Stuart Mill, Friedrich Nietzsche e outros), nos múltiplos e admiráveis progressos científicos  (lembremos as contribuições de William Kelvin, Alfred Nobel,  Niels Bohr, Pierre e Marie Curie, Henri Becquerel, Rutherford Hays, Max Planck, Albert Einstein e muitos outros)  e tecnológicos de então, o Modernismo ou Movimento Modernista surgiu como uma atitude intelectual de rompimento com a tradição e, ao mesmo tempo, de abertura a  uma nova  relação do homem com o mundo. Dito de outra maneira, o Modernismo, não só recusa os padrões antigos, como busca ideias na Revolução Industrial e da Fábrica,  como nos notáveis avanços da ciência e da tecnologia, nomeadamente, a máquina a  vapor, o comboio, o automóvel, o avião, a fotografia e o cinema.   
No que se refere à pintura, os artistas acompanharam esta revolução na sociedade, criando  novas respostas plásticas definindo  movimentos mais restritos,  geralmente referidos por estilos ou escolas. De entre eles, os historiadores e críticos de Arte, falam de Realismo, Impressionismo, Fauvismo, Futurismo, Cubismo, Neoplasticismo, Simbolismo, Expressionismo, Suprematismo, Dadaísmo, Surrealismo, Raionismo, Construtivismo. Nomes que os historiadores, críticos de Arte  e outros eruditos “tratam por tu”, que “assustam” os muitos que nada sabem deste domínio da criatividade humana (e a Escola nada nos ensinou nestas matérias), mas que podem ser perfeitamente explicados por palavras que todos entendem.
Não é raro encontrar aspectos comuns entre alguns destes estilos ou escolas, havendo, porém, diferenças que os caracterizam e, até mesmo, os mostram como antagónicos..
O movimento modernista assentou na afirmação de que as formas tradicionais de vida do dia-a-dia das gentes estavam ultrapassadas e que, assim,  havia que abandoná-las e substitui-las por outras entendidas como novas. Os modernistas propunham uma nova cultura, reexaminando  todas as vertentes da vida em sociedade, do comércio à filosofia e à política, no caminho do progresso, numa convicção de o que era novo era, também, bom e belo, duas apreciações subjectivas, propícias à sempre salutar discussão. O Modernismo foi uma luta contra o passadismo, apontado como sério  obstáculo à livre criação dos artistas, dirigida contra os padrões académicos das escolas de então e em luta pela abertura de novos horizontes. 
A recusa à tradição  que transparece no Impressionismo (o  termo radica no nome do quadro a óleo   Impression, soleil levant, de Claude Monet, Paris,1872), faz deste estilo de pintura um dos primeiros movimentos ou escolas a incluir no âmbito do Modernismo. De início mais interessados no trabalho feito ao ar livre, do que no realizado nos “ateliers”, os impressionistas pioneiros defendiam que o que era dominante na nossa percepção dos objectos era a luz que reflectiam.
Impressionistas, com destaque para Pierre-August Renoir, Paul Cézanne, Edgar Degas, Paul Gauguin, Vincent Van Gogh desinteressados das temáticas nobres ou o retrato fiel da realidade, afastaram-se do Realismo e do  Academismo, pondo nas suas pinturas a obra em si mesma. Executavam-nas de preferência ao ar livre, procurando transportar para a tela as variações de cores que observavam na natureza.

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