Por C. Barroco Esperança
Freitas do Amaral – Faleceu o grande jurista e último líder dos partidos que fizeram a Constituição do regime democrático que os capitães de Abril nos legaram. Conservador e democrata-cristão, foi o fundador do CDS, partido que se radicalizou e o maltratou.
PR – O funeral de Freitas do Amaral, ex-presidente da AG da ONU, evitou a Portugal a vergonha de ver Marcelo ajoelhado em Roma no dia emblemático do regime que dá o nome ao órgão a que preside. Prestou, assim, o seu último serviço ao País.
Jurisprudência – O acórdão da Relação confirmou que parte substancial do terreno que a Selminho reclamava é propriedade municipal. Está de parabéns a Câmara, que ganhou a ação contra o seu presidente e família, proprietários da empresa usurpadora.
Lula da Silva – A Câmara de Paris, ao conceder o título de Cidadão Honorário ao ex-PR, em reconhecimento do seu combate à pobreza e à discriminação racial, censurou a sua prisão iníqua e o golpe de Estado do juiz Moro e de Temer contra Dilma.
Eleições legislativas – A campanha, agitada pela Justiça, ruído da imprensa de direita e redes sociais, sem rosto, não conseguiu alterações sensíveis nos resultados eleitorais. O PR beneficiará da ausência de uma maioria de esquerda coesa.
PCP – A persistente erosão do partido que sobreviveu à clandestinidade e à perseguição fascista, e que mais sofreu na luta contra a ditadura, não resistirá aos modelos em que se revê, e continua imprescindível aos equilíbrios necessários à democracia.
PSD – A derrota mitigada não dará descanso ao líder nem enfraquece os ódios internos e ambições da tralha cavaquista, que apoiava Passos Coelho e lhe disputou a liderança através de Santana Lopes, o Menino Guerreiro que deu os últimos suspiros fora do PSD.
CDS – O retorno ao partido do táxi exige a escolha de novo condutor e uma opção entre a insistência na truculência reacionária de Nuno Melo e Assunção Cristas e o regresso à matriz fundadora, conservadora e civilizada, onde ainda se encontra Mesquita Nunes.
Novos Partidos – A chegada do Livre à AR é uma lufada de ar fresco, mas a do Chega e do IL são o fermento preocupante, respetivamente, do neoliberalismo amoral, com vastos recursos financeiros, e do fascismo, racista, xenófobo e trauliteiro.
PAN – O mais inapto, ignorante e incoerente dos líderes foi o maior vencedor eleitoral, depois de ter alterado os objetivos e acabado a meter no mesmo saco o CDS, o PCP e o Chega. Espera-se dos novos deputados ideias boas e inovadoras para a democracia.
BE – A manutenção do grupo parlamentar é a retribuição justa da combatividade e valia dos seus quadros, mas a perda de eleitorado e, sobretudo, a hostilidade da campanha ao PCP e PS, inimigos principais, deixou marcas pouco saudáveis para a futuro imediato.
PS – A inegável vitória eleitoral não garante um governo estável na turbulência política europeia e mundial, a exigir coesão para enfrentar desafios internacionais e as eventuais ambições do PR.
Marcelo – Foi o vencedor das eleições. A direita superou o terço dos deputados de que carece para intervir na revisão da CRP, o PS não tem a maioria absoluta que temeu e o tornaria irrelevante, agora livre para influenciar a futura geografia eleitoral.
Partidos extraparlamentares – Animaram o folclore eleitoral e remeteram ao silêncio os cromos inevitáveis e os egos insuflados de quem delapidou os últimos resquícios da respeitabilidade do passado e da de quem nunca a teve ou mereceu.
AR – A maior diversidade de partidos devia ser um enriquecimento do pluralismo, mas é a forma de aumentar a turbulência política e dificultar a formação de maiorias, tanto mais necessárias quanto mais incertos os tempos que se avizinham.
Cavaco Silva – Quem pensava que o homem que radicalizou o PSD e manteve intacto o ódio à esquerda, incluída a do nome do seu partido, à custa do qual singrou, enganou-se. Ódio velho não cansa. Foi rápido a pedir a cabeça de Rui Rio e a propor Maria Luís.
EUA – O sacrifício de 10 mil curdos que morreram a derrotar o ISIS de nada lhes valeu. Quando deixou de precisar deles, Trump traiu-os e entregou-os à violência dos turcos de Erdogan que logo iniciaram a perseguição.
Síria – O abandono dos curdos abre a porta às ambições russas, ao regresso à guerra e à imparável tragédia humanitária que estava estagnada. Por sua vez os 10 mil elementos do ISIS, prisioneiros dos curdos, tornar-se-ão o fermento para a reorganização terrorista.
Alemanha – O ataque a uma mesquita e a granada contra o cemitério judaico, quando a extrema-direita ressuscita por todo o mundo, remete-nos ao pesadelo do antissemitismo e à memória pungente de Hitler e do III Reich.
Filipinas – Rodrigo Duterte, na cerimónia oficial em Manila, encorajou o novo chefe da polícia da cidade de Bacolod, ten.-cor. Jovie Espenido, a matar suspeitos de tráfico de droga: “Tens permissão para matar todos”. Um PR louco eleito democraticamente!
Francisco Franco – A trasladação dos restos mortais do genocida, depois de uma longa batalha contra a família do ditador, os Tribunais, os falangistas e a Igreja espanhola, foi, no seu simbolismo, a primeira vitória contra o franquismo.
Banco Central Europeu (BCE) – Mario Draghi, governador, terminou o mandato e vai deixar saudades. Poucos resistiriam tanto, tanto tempo e com tamanha competência, na defesa do euro e na ajuda para salvar o espaço europeu da desintegração.
Brasil – Tudo o que possa esperar-se da ética, incultura e impreparação de Bolsonaro, é previsível, mas se se confirmar a participação do agora PR no assassinato da vereadora carioca de esquerda Marielle Franco, o Estado tornou-se um lugar mal frequentado.
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