Por Maria Filomena Mónica
TODOS os dias surgem notícias de que há licenciados escondendo as
suas habilitações a fim de arranjar trabalho. Não me venham dizer que não preveni
os meus compatriotas: fi-lo, não uma, nem duas, mas uma centena de vezes. De
quê, perguntar-me-ão? Dos perigos de se imaginar que mais escolaridade significava
automaticamente mais desenvolvimento. Acredito que o engº Sócrates
e o Doutor Cavaco Silva – à sua maneira, ambos analfabetos – não me tenham lido,
mas lamento que a elite intelectual não dedicasse algum do seu precioso tempo a
reflectir sobre a relação entre escola e crescimento. Só a Historia é capaz de
explicar os motivos por que um país se desenvolve e por que outro estagna, mas
em vez de assim terem analisado a questão, os políticos preferiram olhar
devotamente as correlações que um punhado de economistas lhes pôs diante do
nariz. O resultado está à vista: os adolescentes estão desesperados, os seus
pais melancólicos e Portugal inteiro atónito.
Quem imaginou que o
desenvolvimento económico se obtém apenas aumentando a escolaridade – a proverbial
tese da esquerda – estava enganado. Em 1909, Léon Poinsard, um pioneiro da
Sociologia, veio a Portugal. A conclusão a que chegou foi a seguinte: «A nação
portuguesa é pequena e, além disso, pobre». Em grande medida, o diagnóstico
mantem-se. Com raras e nem sempre honrosas excepções, a atitude oficial foi a
de que o atraso nacional derivaria da existência de uma mentalidade retrógrada,
susceptível de ser tratada a doses crescentes de instrução. A ser isso verdade,
o recente investimento público no campo da educação deveria ter dado frutos. De
facto, nos quarenta anos, entre 1970
a 2010,
a percentagem do PIB conferida ao sector passou de 1,5%
para 5%, um aumento significativo. E que vemos? Uma crise sem precedentes.
Num livro intitulado «Does
Education Matter?», Alison Wolf critica os mitos relacionados com a educação,
comparando dois países - o Egipto e a Coreia do Sul – que haviam investido
somas avultadas neste sector. No final, verificou que tinham obtido taxas de
crescimento bastante diferentes: entre 1960 e 2000, o primeiro apenas crescera
2% ao ano, enquanto, no segundo, a taxa ascendia a 7%.
Deus, ou alguém por Ele, dotou-nos de um solo infértil,
de rios pouco navegáveis e de um mercado nacional desprezível. Isto para não
falar da classe dirigente. Basta recordar D. Afonso Henriques, um jovem, como
hoje se diria, problemático, para se notar quão antigo é o problema. Passada a
febre do oiro, do incenso e da mirra, logo o dinheiro começou a rarear. Em
1974, o país estava, como de costume, na chamada cauda da Europa.
A terminar, peço que não
me venham maçar com a acusação de que defendo o analfabetismo. O que digo, o
que sempre disse, foi que a escola pode, e deve, oferecer muitas coisas, mas que,
por si só, não conduz à riqueza das nações. Quem tal apregoou devia ser
investigado pela DECO.
«Expresso» de 21 Jul 12
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