Entrevistas e Entrevistadores
Por Joaquim Letria
Ao cabo de quase 60 anos de vida profissional creio ter feito centenas de entrevistas, para jornais, revistas, rádio e televisão. Além disso, como professor de Ciências da Comunicação este foi um género que sempre muito estudei, observando talvez milhares de entrevistas e estudando centenas de entrevistadores.
Em Portugal, a entrevista é um género muito mal tratado. Muitos entrevistadores procuram apenas chamar a atenção para si próprios, outros querem mostrar a sua independência contrariando o entrevistado a todo o custo e o resultado é mau para o público a quem a entrevista deve ser dirigida no sentido de o esclarecer, acabando por se assistir a uma algazarra desagradável que não entretém e donde é difícil tirar informação.
Não me refiro a nenhuma entrevista nem a nenhum entrevistador em particular. Apenas reflicto sobre um estado geral dum género jornalístico muito mal tratado, a maior parte das vezes por impreparação e por falta de reflexão quanto ao que perguntar, o estilo a utilizar e a perda de vista do objectivo essencial que é informar o público.
Vi e estudei dezenas de entrevistadores, quer em Londres ao trabalhar para a BBC que além do mais nos dava cursos de formação, quer nos Estados Unidos e Brasil a trabalhar para a Associated Press. E aprendi a distinguir os estilos de cada um e a comparar os resultados.
Desde Sir Robin Day, talvez o maior entrevistador, mais respeitado pelo público e pelos entrevistados que punha a Grã Bretanha a ver televisão quando anunciavam uma entrevista sua a Michael Parkinson com o seu modo simpático e envolvente a David Frost que era o mais duro, seco e cujas entrevistas eram consideradas um castigo a quem a elas se submetia.
Apreciei-os a todos antes de nos Estados Unidos ver Jonh Carson, Opprah Winfrey, Larry King, Susan Ammanpour, David Letterman, Walter Kronkite muito diferentes entre si, tal como diferentes eram Jay Leno, Stephen Colbert e Dick Cavett, assim como a equipa que hoje em dia alimenta o Hard Talk da BBC. Todos eles, de maneira diferente, visavam um objectivo quase sempre atingido: entreter, mas principalmente informar, esclarecer e fazerem aos entrevistados as perguntas que o público, de quem eram intermediários, gostaria de fazer se tivesse essa possibilidade. No Brasil, anos e anos a fio, Jo Soares fez um dos “talk Shows” mais interessantes do mundo, incluindo entrevistas das mais bem feitas que vi fazer. Curiosamente nenhuma desta gente era jornalista.
Não escrevo esta crónica motivado por alguma entrevista ou entrevistador em Portugal me darem esse pretexto. Temos, aliás, alguns bons entrevistadores que poderiam melhorar espectacularmente se estudassem e reflectissem mais, assim lhes dessem tempo para isso, como aconteceu no passado com Margarida Marante e Carlos Pinto Coelho. Apenas escolhi este tema para a minha crónica desta semana porque à minha volta ouço muita gente a dizer mal de entrevistas, muitas vezes sem motivo para tal e outras vezes carregadinha de razão.
Publicado no Minho Digital
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