30.6.09

A hora dos funerais

Por Joaquim Letria

ESTE NOSSO VERÃO está marcado por mortes e funerais. Se entre a variedade de mortes e sua expressão pública se pode escolher, eu prefiro a de Omar Bongo, antigo presidente do Gabão que morreu em Paris e foi enterrado em Libreville depois de velado por centenas de milhares de cidadãos, dezenas de milhares de funcionários, milhares de políticos, dúzias de reis e diversos presidentes entre os quais Sarkozy, Chirac, Giscard D’Estaing, além de primeiros ministros e ministros de muitos países africanos e europeus.

Durante as 24 horas dos quatro dias de luto, uma multidão desfilou na impressionante sala dos banquetes forrada a mármore, liderada pelos seus chefes e patrões, cerimónia transmitida pelas tvs francesas e africanas durante 16 horas por dia.

Por entre vestidos e camisas de florzinhas, e fatinhos tipo delegação olímpica, uma infinidade de T-Shirts, umas agradecendo ”Obrigado camarada pela sua obra imensa”, outras chorando”O vazio é tão grande que jamais será preenchido”.

Cânticos religiosos ou patrióticos completavam o ambiente de dor e nos terraços do palácio presidencial, face ao oceano, pilhas de coroas de flores desembarcadas dos aviões da Air France, da Air Afrique, da SAA da África do Sul esmagavam o ambiente perfumado por incenso queimado em discretas piras. Que Omar Bongo descanse em paz.

«24 horas» de 30 de Junho de 2009

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Alegretes

Por João Paulo Guerra

Metade dos portugueses não usufrui do período total de baixa médica sem ter que fazer grandes restrições ao orçamento familiar. E uma percentagem superior a 13 por cento admite não conseguir comprar todos os medicamentos de que necessita.

OS INDICADORES de privação, agora divulgados, revelam que bastante mais de metade da população tem um orçamento familiar inferior a 900 euros. E apenas 17,5 por cento dos agregados familiares têm rendimentos superiores a 1500 euros. Cerca de 62 por cento dos portugueses não consegue pagar uma semana de férias fora de casa. Os indicadores em referência confirmam que se alargou a exposição à vulnerabilidade, afectando grupos bastante diversos. Ou seja, os portugueses têm empobrecido ainda mais ultimamente com uma política que, já antes da crise, em vez de criar riqueza criava ricos mas, acima de tudo, produzia novos pobres. Muito provavelmente, aos olhos do poder, francamente preocupante é que tenham desaparecido 700 dos 10.400 milionários portugueses.

Para tudo isto, e para além das políticas fundadas na desigualdade, muito contribui um certo atavismo português, enraizado pelo chamado Estado Novo, segundo o qual a riqueza não traz a felicidade e a pobreza é uma fonte de alegria. Pobretes mas alegretes, dizia-se, segundo uma filosofia de vida propagandeada em filmes e canções ligeiras. O próprio sátrapa de Santa Comba apresentava-se cultivando a imagem da humildade e da sovinice, um forreta que criava galinhas e plantava couves na residência de São Bento, para que Dona Maria servisse aos convivas a comidinha dos pés-rapados lá da aldeia.

E ainda perdura. A democracia não ensinou nada aos portugueses. Os pobres são felizes na pobreza e os chico-espertos prosperam por conta de habilidades.

«DE» de 30 de Junho de 2009

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Passatempo «Casa de ferreiro...»

Público de ontem
ESTA CURIOSA rábula remete-nos para um tipo de humor que nunca falha: o polícia que é multado, o vigarista que é vigarizado, etc.
Pergunta com prémio: qual o título do filme dos irmãos Lumière que explora esse filão?
Cada leitor poderá dar uma única resposta. O prémio, a atribuir ao primeiro que der a resposta certa (ou, pelo menos, a pretendida...) será um exemplar do livro cuja capa se pode ver [aqui].
Como a solução é demasiado fácil, introduziu-se a dificuldade que já vai sendo habitual: as respostas só serão possíveis a partir de um determinado momento-surpresa que ocorrerá durante o dia de hoje.
Actualização (18h05m): a resposta certa já foi dada, pelo que o passatempo terminou.
Já agora: o pequeno filme pode ser visto [aqui].

29.6.09

A diversificação

Por Joaquim Letria

ESTAMOS SUJEITOS ao bom e ao mau. Fazemos bem e fazemos mal. Ganhamos aqui e perdemos ali. É a vida, como dizia o outro.

Perdemos a Qimonda e vemos a Auto-Europa a escorregar-nos por entre os dedos. Uma e outra eram as nossas principais exportações. Ganhávamos o pão que amassávamos a fazer as coisinhas dos outros. Neste caso, a montar semi-condutores e automóveis alemães.

Mas se estas exportações já não rendem, temos actividades que até se mostram florescentes e em que somos do melhor que há. É o caso do convite do Supremo Tribunal de Justiça do Brasil a banqueiros e gestores das mais importantes empresas portuguesas para deporem no célebre processo de corrupção “Mensalão”, que engloba ministros e assessores de Lula da Silva, acusados de receberem dinheiros indevidos através de empresas portuguesas.

Também a Comissão de Concorrência da África do Sul veio pedir que a cimenteira portuguesa Cimpor esclarecesse as suas ligações à Afrisam, empresa controlada pela Lafarge e as circunstâncias da posse que ambas apresentam da Pretoria Portland Cement, empresa visitada pelos investigadores que ali fizeram buscas no sentido de esclarecerem o imbróglio que envolve esta empresa portuguesa e uma das suas principais accionistas, a Lafarge.

Estamos a andar para trás!? Nuns sectores, sim. Mas a gente tem muito “know-how” e somos sempre dos melhores naquilo que fazemos. E que bem diversificamos! Em ilícitos e irregularidades, como se vê, já damos cartas.

«24 horas» de 29 de Junho de 2009

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Um desafio muito simples

UMA VEZ colocadas estas 4 cartas em cima de uma mesa, pegar na 2ª e colocá-la em cima da 1ª por forma a tapar apenas uma 'pinta'. Depois, pegar 3ª e colocá-la sobre a 2ª por forma a cobrir, também uma das 5 'pintas'. Finalmente, fazer o mesmo com a 4ª, por forma a tapar uma das 'pintas' da 3ª.
Em princípio, uma vez isso feito, as três primeiras cartas ficarão com - apenas - 4 'pintas' visíveis, mas a última carta mostrá-las-á todas.
E o desafio que se coloca é: como dispor as 4 cartas por forma a que todas elas mostrem apenas 4 'pintas'?
NOTA: Se alguém quiser ilustrar a resposta com uma imagem (desenho ou foto) poderá enviá-la para sorumbatico@iol.pt.

Actualização (18h45m): vários leitores deram a resposta correcta (uns com imagem, outros com "texto"). Ver cinco [aqui].

Delongas

Por João Paulo Guerra

Portugal está muito mais relutante a acolher prisioneiros libertados de Guantanamo, do que esteve em fechar os olhos ou até mesmo permitir o trânsito de voos da CIA com presos sem culpa formada para os campos de concentração americanos.

PELO MENOS 54 VOOS transportaram presos, arrebanhados dos seus países, através de espaço aéreo e território português. As facilidades foram tantas que - sabe-se agora - os carcereiros da CIA até estabeleceram bases de actuação em hotéis de cidades portuguesas, permitindo-se abdicar de elementares normas de secretismo. E talvez para "compensar" a rebaldaria face à ilegalidade e à desumanidade, Portugal encheu-se agora de picuinhas e implicâncias em relação a uma solução justa e humanitária.

Lá no fundo, muito provavelmente, "quem de direito" em Portugal entende mesmo que as pessoas presas por todo o mundo, levadas à força e mantidas sob sequestro em Guantanamo, sem acusação, torturadas e submetidas a toda a espécie de arbitrariedades, violências e vexames são potenciais e perigosos "terroristas", cujo lugar certo seria uma gaiola de aço em Guantanamo. Mas enfim, há que responder às brisas da História dando-se alguns ares. No domínio dos princípios, Portugal declarou-se rapidamente disposto a acolher prisioneiros libertados de Guantanamo.

O pior é quando se chega aos finalmente. São só entraves, dilações, entreténs, faz que anda mas não anda.

Autoridades que jamais assumiram a cumplicidade com a brutalidade dos novíssimos campos de concentração estão agora a delongar os trâmites do processo de acolhimento dos presos libertados. Na verdade, esta é a atitude mais coerente com os antecedentes. Depois de arquivar o crime, nada mais adequado que deixar prescrever a redenção.

«DE» de 29 Junho de 2009

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Ardósia da minha infância

Por A. M. Galopim de Carvalho

PARA ALÉM do granito que conheci ao sentar-me nele, na soleira da porta da casa da minha avó, na rua de Frei Brás, em Évora, a pedra com que privei de perto foi a ardósia, uma espécie de xisto compacto que se deixa laminar permitindo talhar aqueles delgados rectângulos emoldurados, a que chamávamos, simplesmente, pedra, e nos quais as crianças da minha geração aprenderam a escrever as primeiras letras e os primeiros algarismos. Esta mesma ardósia ou lousa, aparada para fazer as vezes de telhas, exportámo-la para Inglaterra com o nome de "soletos", um aportuguesamento popular da palavra inglesa slate, com o mesmo significado. Acrescente-se que na ardósia, que todas a crianças levavam para a escola, se escrevia com lápis da mesma pedra, sendo curioso assinalar que lápis, do latim, lapis, quer dizer, precisamente, pedra. (...)

Texto integral [aqui]

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28.6.09

Futilidades

Por António Barreto

É EXTRAORDINÁRIA a maneira como, entre nós e desde que os partidos políticos entrem em cena, qualquer pequeno problema de menor importância assume rapidamente as dimensões de catástrofe ou de espectro ameaçador. Ou de grande divisor de razões e sentimentos. Agora, foi a vez das datas das eleições. O que já se disse deixa invejoso um escritor de ficção científica! Partidos, comentadores e analistas multiplicam-se em sofisticadas reflexões acerca das vantagens e dos inconvenientes de 27 Setembro e de 4 e 11 Outubro. O nó da questão era a simultaneidade das eleições autárquicas e legislativas. Questão fútil e sem consequências, mas que teve a capacidade de excitar o condomínio fechado em que se transformou a política nacional. A marcação da data, pelo Presidente da República, pôs termo à discussão. Mas o que foi dito, durante semanas, não desapareceu. E revela o modo como se pensa a democracia.

Um conjunto de argumentos põe em relevo as vantagens partidárias. Se os votos forem separados, ganham uns partidos, se forem no mesmo dia, ganham outros. (...)

Texto integral [aqui]

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FOI ACTUALIZADO o blogue Arroz Doce, de Joaquim Letria, com a crónica Confidencial deste fim-de-semana.

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Dito & Feito

Por José António Lima

BEM PODE José Sócrates garantir a pés juntos que nada sabia sobre a entrada da PT na TVI e que em nada interfere na linha de informação da televisão dirigida por José Eduardo Moniz. Ninguém o leva a sério.

Não tem o Governo uma golden share na PT? Não se interessou em esclarecer as notícias que vinham há dias nos jornais apontando o negócio da PT com a Media Capital? Não é ele quem, obsessivamente e sem descanso, vem atacando a TVI, desde a insólita declaração no Congresso do PS, passando pela desnorteada entrevista à RTP da «caça ao homem» e acabando na involuntariamente reveladora intervenção no Parlamento, na quarta-feira, em resposta ao CDS: «Está preocupado com alguma coisa? Ou acha que a linha editorial da TVI se deve manter tal como está, não tirarem de lá ninguém?!». Foi o primeiro-ministro no seu melhor. E sem rodeios.

Sócrates tem um conceito restrito e utilitário de liberdade de imprensa e independência da informação. Vê qualquer crítica ao seu desempenho ou à sua pessoa como uma injúria, qualquer apreciação negativa do Governo socialista como uma ofensa, quaisquer factos incómodos e mal esclarecidos do seu passado como calúnias. É a sua lógica, simplista e redutora, mas útil.

E a entourage socratista não tem pruridos nem escrúpulos em utilizar o poder na aplicação desse conceito. Pressionando e condicionando accionistas, receitas de publicidade, financiamentos na banca. Ameaçando com processos judiciais. Sabem-no bem os responsáveis do SOL, do Público ou da TVI.

É o estilo Chávez, o exemplo do seu amigo que vê a democracia como a eternização no poder, e se empenha a fechar televisões e a silenciar vozes incómodas.

O afastamento de Moniz só poderia ser explicado por razões políticas. Porque não há argumentos empresariais que a Media Capital possa invocar contra quem levou a TVI a uma lucrativa e consolidada liderança das audiências. Só faltaria colocarem no seu lugar Emídio Rangel, por agora arrumado numa prateleira televisiva de S. Bento. E que se transformou numa espécie de Augusto Santos Silva de segunda, mais primário na defesa cega de Sócrates e menos fluente na oratória. Aí fechava-se o círculo. E começava o circo.

«SOL» de 26 de Junho de 2009

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27.6.09

Passatempo-relâmpago


AS ELEIÇÕES autárquicas não se efectuarão na mesma data das legislativas; ora, como o voto electrónico é coisa que não anda nem desanda, inúmeras pessoas vão ter de se deslocar centenas de quilómetros para votar - não apenas uma, mas duas vezes, e no espaço de poucos dias.

A pergunta com prémio (um livro policial, para o primeiro leitor que der a resposta certa) é a seguinte:

Qual terá sido a associação de ideias que me levou, no seguimento dessa decisão, a afixar aqui o filme do macaco Gervásio?

Actualização: a resposta certa foi dada no comentário das 19h53m.

Podia ter sido pior

Por Antunes Ferreira

DEIXEM QUE VOS DIGA que estes míseros 14 dias de ausência corresponderam às melhores mini-férias que gozei nos últimos 15 anos. Em cheio, com gente amiga e boa – vai sendo um tanto difícil conciliar estes dois adjectivos – palavras ao correr do descorrer, leitura diversificada, galhofa q.b., de papo para o ar regaladamente, e no respeitante a cómidas e bóbidas, ignorando O Livro de Pantagruel e o Guia Michelin, por absolutamente desnecessários. Um mimo.

Saí – saímos, a Raquel e eu – logo após termos votado, cumprido o ritual do costume, sem grande resultado do procedimento cívico, como depois se constatou, e jurei (ámos) que não ligaríamos peva à política, com uma excepção óbvia: conhecer os resultados das urnas. O que se revelaria quase fatal. Mas, bem diz o Povo, o homem põe e Deus dispõe. Acontece mesmo ao mais pintado, e que fizera esse solene propósito de procedimento. (...)

Texto integral [aqui]

NOTA (CMR): O desenho, da autoria de José Abrantes, foi feito para ilustrar «As Aventuras de Salvador, o Consultor», publicadas na revista Valor.

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26.6.09

Passatempo Calimero


A QUALQUER momento, o Sorumbático promoverá mais um passatempo destinado exclusivamente aos leitores que nunca tenham ganho nenhum dos que aqui têm sido propostos. Desta feita, o prémio vai ser o livro que sobrou do Passatempo de S. João, pois o 2.º prémio não foi reclamado por quem o ganhou.
*
Actualização (20h53m): então lá vai: qual é a 1ª letra do texto da contracapa?

Cada leitor poderá dar uma única resposta, terminando o passatempo às 20h de domingo, 28. Nessa altura se verá quem mais se aproximou da resposta certa (considerando-se o alfabeto com 26 letras) - a menos que, entretanto, ela tenha sido dada.


Actualização (28 Jun 09/20h48m): o passatempo terminou. Daniela tem agora 24h para escrever para sorumbatico@iol.pt indicando morada.

Como Avaliar os Professores?

Por Maria Filomena Mónica

ANTEONTEM [Fev. 2008], a Ministra da Educação declarou no Parlamento que na Universidade de Harvard os alunos avaliam os professores, dando a entender ser esta uma boa prática. Além de perigosa, a afirmação é parola. Nem tudo o que se pratica naquela universidade, certamente uma das melhores do mundo, é positivo, porque o ensino dos EUA está infectado pelo «politicamente correcto».

Se há alguém no mundo que não pode nem deve avaliar os professores são os alunos: nem os das universidades, nem, muito menos, os do ensino básico ou secundário. Porque tal prática destrói o cerne da relação pedagógica, a qual se baseia no facto de o docente saber mais do que o estudante e de, por isso, ter obrigação de, no final, lhe dar uma nota. Tudo o resto são cedências às ideologias que dominam as Ciências da Educação. Há ainda um pormenor não despiciendo: Harvard é uma universidade privada e o que lá se passa apenas diz respeito ao seu conselho escolar. Ora, o que está em discussão em Portugal é um plano a ser aplicado no ensino público, ou seja, nas escolas pagas com o nosso dinheiro. (...)

Texto integral [aqui]

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COM O TÍTULO genérico «Carris», foram publicados, no blogue O Carmo e a Trindade, três posts abordando a forma como, em Lisboa, os transportes públicos são acarinhados.

A colocação e os produtos

Por Joaquim Letria

O NOSSO BEM AMADO primeiro-ministro disse em Bruxelas, para os jornalistas portugueses que lá trabalham e para os outros que levam e mandam ir daqui, que “as acções do Governo começam a dar fruto”.

Nós, por cá, não sabíamos, mas este atraso agrícola devia ser um problema de adubo. Bem podia José Sócrates ter aproveitado o estrume de quatro anos de governo para ter mais sucesso e mais rapidamente, possivelmente com mais duma colheita anual. Mas sem desfazer o “suspense”, o nosso querido chefe adiantou que “os resultados (das acções do governo) não tardarão a aparecer”.

Todos nós vimos o primeiro ministro a dizer estas coisas na TV. O que, de modo nenhum, não temos o direito de estranhar. Desde Maio que os canais generalistas portugueses de TV assinalam a presença de publicidade no interior de certos programas.

Como eles próprios explicam, trata-se da “auto-regulação da colocação de produtos”. Portugal foi o primeiro Estado europeu a definir como as suas TVs podem fazer publicidade encoberta. No Reino Unido, tal prática é totalmente proibida. Cá, não nos podemos queixar. Só precisamos de arranjar produtos que não nos envergonhem.

«24 horas» de 26 de Junho de 2009

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25.6.09

Verão

Por João Paulo Guerra
Ora aqui está uma notícia como deve ser: em Évora, um estudante alcoolizado mordeu um polícia.

O FACTO TORNA-SE ainda mais pitoresco por o polícia pertencer ao Corpo de Intervenção e Cinotécnico. A notícia, porém, não dizia se o cão-polícia se virou ao estudante, em defesa do tratador, ou se o agente resolveu a ocorrência por meios próprios.

O que é certo é que o Verão chegou em força às notícias. Abriram as épocas dos fogos e balnear, há cada vez mais namoradas de Cristiano Ronaldo prontas a despirem-se de preconceitos nas páginas dos jornais e revistas, os festivais de rock atropelam-se uns aos outros, está na época dos santos da casa se tornarem populares, Sílvio Berlusconi ri-se enquanto o mundo se entretém com escândalos de prostituição e consumo de cocaína e as novidades sobre transferências do futebol mostram que a crise, quando chega, não é para todos. Se não fosse a recessão, o mundo estaria no melhor e mais despreocupado dos mundos.

Mas até mesmo a crise tem dias porque o discurso miserabilista e deprimente não ajuda um país de eleições como Portugal. E há maneiras portuguesas mais suaves de dizer que o desemprego continua a crescer. Diz-se, por exemplo, que está a crescer embora um pouco menos, no que poderá vislumbrar-se uma vela a tremeluzir no fundo de um túnel por fazer. Ou será apenas um caga-lume de passagem? Seja o que for é certamente de bom augúrio.

A par da notícia do estudante alcoolizado que mordeu um polícia, a mais palpitante novidade para os portugueses deve ter sido a de que em breve haverá telemóveis para falar debaixo de água. Assim há no horizonte pelo menos uma garantia: mesmo que o país vá ao fundo, os portugueses vão poder continuar a falar, falar, falar...
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«DE» de 25 de Junho de 2009. NOTA (CMR): O desenho, da autoria de José Abrantes, foi feito para ilustrar «As Aventuras de Salvador, o Consultor», publicadas na revista Valor.

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Passatempos

1 - Já está disponível [aqui] a solução do «Passatempo de S. João», juntamente com o nome dos 4 vencedores. Atenção ao prazo de 24h para reclamar os prémios (hora-limite: 23h15m de hoje, dia 25).
Actualização (26 Jun 09/10h53m): o 2.º prémio não foi reclamado, pelo que reverte para outros passatempos.

2- Às 20h de hoje terminou o passatempo que pretende premiar o melhor comentário feito à crónica «A Trabalheira», de Alice Vieira. Aguarda-se agora a opinião da autora.
Actualização (26 Jun 09/11h01m): o resultado acaba de ser afixado.

A transição

Por Joaquim Letria

ANA LOURENÇO fez a melhor entrevista a José Sócrates em TV desde que este se fez primeiro ministro. O que é interessante é que, sem se poderem queixar que Sócrates foi mal tratado, os avençados e prosélitos do costume insinuam que Ana Lourenço fez um frete ao chefe do Governo. É mentira!

O que eles não conseguem disfarçar é Sócrates a patinar e a escorregar sozinho no seu próprio vómito. Que jeito voltariam a dar aqueles jornalistas que até parecem muito agressivos, “se aquilo é maneira de tratar um primeiro-ministro”, para terem um chefe de governo vitimizado, tadinho do Sócrates, interessam lá as respostas!

Pois é. Ana Lourenço não foi nessa, mostrou-se tal qual é e deixou Sócrates na transição de lobo mau da floresta para cordeirinho do vale. A gente estranha, porque não está habituada a ver a Lydia Barloff a fazer de Natasha Semmynova, passando por Valéria Vanini.

Isto com um Sócrates, ó para ele, tão humilde e bonzinho. Ai, mas querem agressividade? Entreguem-no à Moura Guedes, se ele for homem para isso.

Ainda vemos o Sócrates na noite dos travestis! Só não sei se será antes ou depois das eleições. A gente, num caso ou noutro, vai gostar de o ver, em grande estilo Drag Queen, quer ganhe, quer perca! Podemos lá passar sem ele…

«24 Horas» de 25 de Junho de 2009

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Ao Tio Zé (José Afonso Brardo)

Por C. Barroco Esperança

A VIDA É ISTO, esta passagem breve de Eros a Tanatos, a viagem de uma aldeia da Beira Alta, onde poucos sobreviviam às maleitas e à água inquinada das fontes que secavam no Verão, para acabar em Lisboa, cheio de anos e de saudades, a ver todas as manhãs a estátua de santo António que o tempo se encarregou de tornar menos feia.

Eu já esperava que o octogenário se finasse antes de nova visita. Vi como as forças lhe faltavam naquela cadeira onde, há um mês, ainda cultivava sonhos e afectos e desfiava memórias. Era uma cabeça a quem o corpo já desobedecia, com olhos muito abertos para levar consigo a imagem do primeiro sobrinho que agora perdeu o último tio. Que raio de vida. Que injustiça. Não mais vaguearemos pela Avenida de Roma nem iremos tomar café à Suprema. (...)

Texto integral [aqui]

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Luz - LXII

Fotografias de António Barreto - APPh

Peregrinos - Fátima
Respeito os peregrinos, com certeza, mas faz-me impressão o esforço físico, o sacrifício doloroso, que cada peregrino faz para pedir uma graça ou agradecer um favor da Providência! E creio que os sacerdotes deveriam ser mais activos em denunciar esses esforços sobre-humanos e em explicar aos fiéis que há limites para tudo! (1998).

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24.6.09

Antes más que nenhumas

Por Joaquim Letria

AGORA ANDAM TODOS
contra as sondagens. Não me façam rir que tenho os lábios gretados!

A razão desta indignação foi a de nenhuma das sondagens conhecidas se aproximar da verdade dos resultados das últimas eleições. Parece que só uma é que acertou mas, num gesto abnegado, quem a pagou, mostrou-a só ao PS antes de a meter na gaveta para não prejudicar o partido do governo.

As sondagens foram sempre utilizadas para enganar a opinião pública. O que não quer dizer que não haja boas sondagens e gente séria a fazê-las e a servir-se delas. Mas sempre houve manigâncias. Lembram-se das sondagens encomendadas em Espanha para vigarizar a nossa opinião pública nas pausas de reflexão?!

Há por aí um zum zum que fala de proibirem sondagens durante os prazos das campanhas.

Deixem estar. A golpada nestas últimas não resultou. O PS perdeu, o PSD ganhou, o PCP subiu e o CDS não desapareceu, ao contrário do que mandaram as sondagens prever. Quer isto dizer que o povinho é mais esperto do que aqueles que lhe mentem e o vigarizam.

Mantenham lá as sondagens, mesmo maradas! Prefiro más sondagens e maus jornais a nenhuns. Com más sondagens e maus jornais, a gente vai vivendo. Com maus políticos é que é mais difícil!

«24 Horas» de 24 de Junho de 2008

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Ainda a propósito do S. João
(Do blogue Humor Antigo - Ano de 1936)

Ilusionismo

Por João Paulo Guerra

Portugal é um país digno de confiança ou o tratamento e apresentação dos dados merece tanta credibilidade como uma sondagem eleitoral?

NÃO É QUE ESTEJAM EM CAUSA as estatísticas. Mas o critério político-propagandístico com que certos dados são coligidos, tratados e exibidos é fonte das maiores e mais fundadas incertezas. O exemplo clássico é o dos números do desemprego que afligem o país e que não são os números do desemprego real, mas o número de desempregados inscritos nos centros de emprego. E é assim que a taxa de desemprego em plena crise está agora para chegar aos 10 por cento, valor do desemprego real três anos atrás.

Parece até que Portugal se tem vindo a especializar numa modalidade de ilusionismo que consiste em cobrir a nudez forte da verdade com o manto diáfano da fantasia, como dizia o grande Eça que faz cá muita falta para zurzir a situação como ela merece. O mais recente sucesso dessa política, exibida em parangonas nos jornais, é a redução do índice de mortalidade em acidentes rodoviários resultante... de terem deixado de ser contabilizados como "mortos na estrada" todos os que não morrem no local do acidente. A marosca não é nova: já o fascismo camuflava uma parte dos mortos em combate nas guerras coloniais desviando-os para a parcela dos "mortos em acidentes com armas de fogo" (tiros) ou "acidentes de viação" (minas accionadas pelas viaturas).

Outro imenso sucesso português é a elevação da média das notas nos exames de Matemática para 12,5 valores, agora que os exames do 9.º ano têm perguntas do 3.º. Mas diga-se que esta empresa de ilusionismo na educação, ao contrário de outras, tem um objectivo de futuro. Portugueses semi-analfabetos serão mais fáceis de convencer e de governar.

«DE» de 24 de Junho de 2009

NOTA (CMR): a foto, que em tempos tirei, mostra a parte principal do grupo escultórico referido no texto, já 'devidamente' vandalizado - ver pormenores [aqui], onde há links para mais fotos e para as reportagens que dois jornais fizeram, no seguimento do post.

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Av. Guerra Junqueiro - a finesse das avenidas novas
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Campo Grande - anunciando um radar inexistente
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Rua Rodrigo da Fonseca - Local de 'abrigo' de sem-abrigo
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Rua Braamcamp - Zona verde
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À MEDIDA que se aproximam as eleições autárquicas, oiço cada vez mais apelos à unidade da esquerda (ou, ao invés, da direita). Gostaria de enviar aos seus autores imagens como estas, e perguntar-lhes:

«Sabem dizer-me, sem ser por palpite, quem é que governava a capital - a esquerda ou a direita? - quando estas fotografias foram tiradas?»

Meus caros, no que toca à insensibilidade face aos problemas concretos que infernizam o dia-a-dia dos munícipes alfacinhas - se a opção for só entre António Costa e Santana Lopes (e eventuais penduricalhos), então delegarei no Diabo a árdua tarefa de escolher.

O fado de todos nós

Por Baptista-Bastos

JOSÉ SÓCRATES continua o "animal feroz" que disse ser, ou é o "português suave", agora investido? O comoventíssimo problema tem queimado as meninges dos augustos comentadores da política nacional. Está mais sereno, está mais humilde, está mais modesto e menos arrogante - disse-se e escreveu-se. Há duas semanas que esta gente tem agido segundo os princípios de um pensamento feito de frivolidades e de absurdos; e o próprio primeiro-ministro, tão reservado em assuntos realmente graves, não resistiu à tentação da irresponsabilidade e respondeu-lhes. Não há prova histórica da mudança: "Eu sou o mesmo" e "não mudo de rumo". Parece um fado e, se calhar - "Chorai guitarras, chorai" -, é o nosso próprio e redondo destino.

Estas minudências são o retrato oval de uma democracia de superfície, que nos incita à renúncia de pensar. Eis o que nos sussurram: as coisas são como são, e deixem a política para os políticos. Não é bem assim. Há muitos anos, conversando com o saudoso prof. Pereira de Moura, disse-lhe, a páginas tantas, que não percebia nada de economia. Respondeu-me: "Mas sabe a tua mulher quando vai à praça." (...)

Texto integral [aqui]

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23.6.09

Passatempo-relâmpago de S. João

QUALQUER pretexto pode servir para promover um passatempo aqui no Sorumbático. Hoje, pode ser por causa do S. João, e o desafio é o do costume: adivinhar quantos gramas indica a balança.
Cada leitor poderá dar uma única resposta até às 20h de amanhã, dia 24. A solução aparecerá automaticamente [aqui] às 20h01m.
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Actualização (23h22m): o link com a solução não estava activo, mas o problema já está resolvido e já fiz algumas contas. Espero que estejam certas...

Obras

Por João Paulo Guerra

Lisboa e arredores, como eventualmente grande parte do país, estão transformados em estaleiros de obras, neste ano de eleições triplas. Santa Engrácia é a padroeira em Portugal das obras a mais e das derrapagens orçamentais.

E AS OBRAS ARRASTAM-SE sem ter em conta quer os gastos suplementares das derrapagens no tempo e no custo, quer os incómodos para os cidadãos e os prejuízos para a economia. A inauguração a tempo das eleições dá no entanto uma imagem da propaganda que vale mais que mil palavras de protesto.

Agora o que se discute é a oportunidade e o centro de decisão das grandes obras públicas estruturantes para o futuro do país. O futuro de Portugal em democracia tem sido sempre determinado pelas eleições seguintes. Faz-se mais uma ponte, mais uma auto-estrada, como se tudo isto fosse uma soma de decisões isoladas. E hoje o país é uma manta de retalhos sem ponta de estratégia. A par de um interior desertificado e deprimido, há auto-estradas às moscas e auto-estradas paralelas a outras auto-estradas, numa demonstração do peso do betão na democracia portuguesa. Um peso tal que arrasta a democracia para o fundo e a submerge acorrentada a uma sapata de cimento.

A magna questão das obras é estratégica mas a discussão mais parece uma arrematação de interesses entre o PS / Ruquita-Feirense e o PSD / Garcia Joalheiros, ou vice-versa, para usar uma terminologia que se celebrizou no ciclismo. Mas para além disso há a questão da calendarização das obras, arrastando-as ou acelerando-as em função do calendário eleitoral. E no entanto seria fácil aos eleitores identificarem e sancionarem os responsáveis pelos atrasos, incómodos e gastos das obras a mais: são aqueles que vão protagonizar a inauguração da obra.

«DE» de 23 de Junho de 2009

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AGORA que se aproximam as eleições, veja-se [aqui] como António Costa (sem mexer uma palha - ou por isso mesmo!) ajuda Sócrates a cumprir a promessa de criar 150 mil postos de trabalho.

Alguém viu?

«Ligações Perigosas»

UM JORNAL diário de Washington, onde sobressai um seu jornalista veterano (Russel Crowe), começa a investigar o mundo negro dos negócios que florescem à conta das guerras do Afeganistão e do Iraque - com redobrada atenção a partir do momento em que é assassinada a secretária de um congressista que andava a meter o nariz onde não devia.
Mas será que as coisas são mesmo o que parecem? É que neste género de filmes costuma haver surpresas no fim - e este não foge à regra.

Alguém já o viu e quer comentar?

O Hermitage em Amesterdão

Por Joaquim Letria

O FAMOSO MUSEU russo Hermitage abriu um polo permanente em Amesterdão. Com nove mil metros quadrados, menos da décima parte da casa mãe de São Petersburgo, o museu enriquece a cidade que já alberga, entre outros, o Rjlkesmuseum e o Van Gogh, com mais um auditório, um centro de estudos e, principalmente, com uma rica colecção para ser visitada por crianças, um novo pólo de grande atracção do museu fundado em 1764 por Catarina da Rússia.

Mikahil Piotrovski, o homem que mandou Lisboa passear para a localização deste projecto, desejado por Isabel Pires de Lima, acusa o Governo de Sócrates de “ter maltratado uma das melhores exposições que o Hermitage fez na Europa e não ter feito com que o museu russo se sentisse mesmo desejado”.

O Hermitage vai levar em regime rotativo, a estas instalações recuperadas dum velho asilo de Amesterdão, agora inauguradas por Medvedev e pela rainha da Holanda, grande parte das fabulosas peças adquiridas pelos czares ao longo da História. A próxima colecção trará a Amesterdão obras de Braque, Matisse e Picasso e deverá atrair centenas de visitantes. A exposição de Lisboa, em 2007, levou à Ajuda mais de 100 mil visitantes em quatro meses. A Rússia suspendeu as restantes exposições acordadas para Lisboa. Recorde-se que o Hermitage disputa com o Louvre, de Paris, a primazia da melhor colecção de arte do mundo.

«24 Horas» de 23 de Junho de 2008

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A procura inteligente

Por Nuno Crato

O SENHOR A. escreveu-me de Viseu com um pedido. Por razões legais, precisava de saber a cubicagem de um poço existente na sua propriedade e não se lembrava como se calcula o volume de um cilindro. Tinha-o contudo medido e sabia que tinha 2,5 metros de diâmetro e 5 de profundidade. Fiz-lhe com gosto os cálculos, que são muito simples, mas fiquei a pensar como poderia o assunto ser resolvido pelo próprio, sem interferência de outrem.
Evidentemente, o senhor A. sabia bastantes coisas. Sabia que se tratava de um cilindro e que bastava conhecer o diâmetro de uma secção e a sua altura para calcular o volume. Não sabia dar os passos seguintes. (...)

Texto integral [aqui].

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FOI actualizado o blogue Arroz Doce, de Joaquim Letria, com a crónica Confidencial do passado fim-de-semana.

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22.6.09

A contas com as continhas

DURANTE ANOS e anos, numa empresa portuguesa bem conhecida, as encomendas eram ganhas, amiúde, com lucro ZERO. A ideia (não totalmente descabida) era que, depois, no decorrer das obras, seria possível obter os lucros necessários - o que umas vezes sucedia, outras não.

Ora, um belo dia, a administração mudou - e os novos big-bosses quiseram ver algumas dessas contas muito bem explicadas. E foi assim que veio, pela hierarquia abaixo, uma terrível directiva:

No dia tal, às tantas horas, no anfiteatro tal, os responsáveis pelos maiores projectos vão ter de apresentar, perante representantes dos accionistas, a análise custo/benefício desses empreendimentos. E deverão estar preparados para responder a tudo, tim-tim por tim-tim...

Foi o pânico total!

EXPLICAR OS NÚMEROS?! Mostrar que as obras são rentáveis? Mas onde é que isso já se viu?!

Foi um verdadeiro drama (que, em muitos casos, assumiu aspectos de comédia), e é dele que me lembro quando, hoje em dia, alguém pede, perante a estupefacção de alguns pândegos e a indignação de outros, para 'ver as continhas', as 'explicações dos números' deste e daquele empreendimento mais vultuoso...

Milhões

Por João Paulo Guerra

A transferência de Cristiano Ronaldo do Manchester United para o Real Madrid, a crédito, e a corrida à liderança do Benfica - que à partida pareceria pacífica – vêm confirmar que o futebol não é mais o jogo da bola mas o jogo do monopólio.

RONALDO VALEU 94 milhões não por ser "o melhor do mundo", mas pelo dinheiro que movimenta em venda de camisolas e outro ‘merchandising', promoções, direitos de imagem, publicidade, transmissões. E as eleições no Benfica não são uma corrida à liderança do "Glorioso" por amor à camisola, mas um grande negócio de direitos televisivos.

Mas é verdade que a paixão do futebol existe e que continuará a não haver hoje maior espectáculo no mundo.

Em países de hábitos mais saudáveis os estádios continuam a encher-se, a qualquer hora do dia, e não é apenas pela mira da conquista de um título. Qualquer equipa inglesa do meio ou do fundo da tabela tem casa cheia e adeptos torcedores que apoiam o clube nas vitórias como nas derrotas. A absoluta ganância de ganhar, que leva com frequência à adulteração da verdade desportiva, é própria de terceiros mundos, onde a bola compensa frustrações individuais e colectivas e sustenta projectos de poder de meios e fins mais que duvidosos. Diz-se que no futebol a bola é redonda e são 11 de cada lado. Nem sempre é verdade.

A paixão do futebol foi apropriada pelos interesses. E os apaixonados nem sabem as forças que os manipulam. Aliás, o seu papel no sistema não consiste em saber. Actualmente nem sequer é fundamental que vão ao estádio, de cachecol ao pescoço, sofrer com as peripécias do jogo, vibrar com as emoções da competição. Em casa, no sofá, de pantufas, em frente da pantalha, jogam-se tantos ou mais interesses que com as chuteiras nos pés.

«DE» de 22 de Junho de 2009

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Mais fósforos... Passatempo-relâmpago


ONTEM, decorreu [aqui] um passatempo-relâmpago em que os leitores foram desafiados a identificar o título e o autor do livro que se vê à esquerda. Alguém quer fazer o mesmo, hoje, para o outro? O regulamento é o habitual, e o prémio é um exemplar do livro que é objecto do passatempo.

Actualização (19h55m): a resposta certa já foi dada, como se pode ver [aqui].

A trabalheira

Por Alice Vieira

JÁ DEVE SER para aí a terceira vez que a oiço dizer a mesma coisa, mas não entendo.
Longe de mim dar parte de fraca, a linguagem dos adolescentes muda todos os dias, eu já devia saber, e por isso continuo na conversa, e ela vai falando.

Ela, que ainda há tão pouco tempo se alimentava da “little Kitty”, e do “meu pequeno poney", e dos livros da Miffy - e agora troca de t-shirts comigo, e entra nos meus segredos e eu nos dela.
Ela que, num dia de crise (minha) me deu o sábio conselho de que “nenhum homem merece que se engorde por causa dele”.
Ela, em tantas coisas tão adulta, vai falando das amigas, da escola, do grupo de teatro, e da “seca” que foi ter de ler o Garrett.
Armo em avó pedagógica, lá saio em heróica defesa do Garrett, mas ela repete “uma seca” e, logo a seguir, a misteriosa palavra. Interjeição? Onomatopeia? Grunhido? (...)

Texto integral [aqui].

NOTA: a propósito de Garrett, será atribuído um exemplar de Frei Luís de Sousa ou de O Arco de Sant' Ana (*) ao autor do melhor comentário que seja feito a esta crónica até às 20h da próxima quinta-feira, dia 25.
(*) - ver capas [aqui].

.
Actualização (26 Jun 09/11h00m): a autora decidiu premiar 'Dana_Treller' e 'Nunormg'. Neste momento, há 1 ex. de Frei Luís de Sousa e 2 ex. de O Arco de Sant' Ana. A partir deste momento, poderão escrever para sorumbatico@iol.pt dizendo qual dos livros preferem. No caso de ambos escolherem o Frei Luís de Sousa, ele será enviado a quem primeiro o indicar...

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Paleontologia rejuvenescida

Por A. M. Galopim de Carvalho

TEVE LUGAR em Torres Vedras, de 07 a 10 de Maio, o “VII Encontro de Jovens Investigadores em Paleontologia” (EJIP), última edição de um projecto iniciado no país vizinho, sob a designação de “Encuentros de Jóvenes Investigadores en Paleontologia”. Ao contrário dos congressos científicos, tradicionalmente participados por especialistas, onde se apresentam e discutem as contribuições mais recentes para o progresso do saber, estes encontros têm com objectivo primeiro aproximar os estudantes e os recém-licenciados aos problemas inerentes à investigação deste importante ramo da Geologia, nas suas diversas vertentes. (...)

Texto integral [aqui]

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Alto e pára o baile!

Por Joaquim Letria

TRINTA PRESTIGIADOS economistas, da esquerda e da direita, dos quais mais de 10 foram ministros da Economia, alguns em governos socialistas, incluindo um respeitado ministro das Finanças de Sócrates, assinaram um manifesto em que se pede que se reavalie os grandes investimentos e se trave os projectos de transportes. A maioria dos signatários é composta por professores universitários de universidades portuguesas e estrangeiras.

“A insistência em investimentos públicos de baixa ou nula rentabilidade, com fraca criação de emprego em Portugal” é a principal linha de argumentação, unânime em considerar que o plano de investimento público defendido por este governo deve ser parado e repensado, sobretudo no que diz respeito à área dos transportes.

Os signatários do documento, que pagaram para que vários jornais o publicassem sob a forma de anúncio, não fosse o diabo tecê-las, entendem que esta pausa que antecede as próximas eleições deveria ser utilizada para reavaliar os investimentos anunciados.

Bem vistas as coisas, o que eles estão a dizer, alto e bom som, é “alto e pára o baile”! O bastante para quem tivesse vergonha na cara se pôr discretamente a andar, sem causar mais prejuízos à Pátria que nos contempla.

«24 Horas» de 22 de Junho de 2008

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21.6.09

Um mistério policial

QUEM costume passar pelas avenidas novas de Lisboa talvez esteja em condições de decifrar o enigma policial que se apresenta [neste] post do blogue «O Carmo e a Trindade».
Actualização (22 Jun 09): o passatempo já terminou.

Hoje, dia 21 de Junho...

NUM CALENDÁRIO como o nosso, em que há dias para os santos todos (ou santos para os dias todos), deve haver uma injustiça para aquele - não sei qual - a quem foi atribuído o 29 de Fevereiro. Independentemente desse facto, há um outro senhor (o mais idoso dos que se vêem à esquerda) que, se calhar, bem merecia um lugar no calendário - mais concretamente, no 21 de Junho.
De quem se trata, e porque é que ficou associado ao 'dia de hoje'?
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A imagem que aqui se afixa foi truncada, pois a parte que falta daria uma boa pista para a solução do enigma. O prémio, a atribuir ao primeiro leitor que der a resposta certa, será um livro de Leslie Charteries; da série «O Santo», evidentemente!

Actualização (18h30m): a resposta certa já foi dada, como se pode ver [aqui], onde a imagem aparece completa.
E, já agora, que tal dar a palavra a Carl Sagan, em «Cosmos»? A ver [aqui].

Democracia e competência

Por António Barreto

O “MANIFESTO" DOS ECONOMISTAS,
propondo um período de reflexão sobre os grandes projectos de obras públicas, foi bem aceite. O que sugerem é razoável. Nada acrescentou ao que muitos, incluindo eles próprios, vêm dizendo há meses. Mas, desta vez, o facto assume nova dimensão. Na verdade, fizeram-no em conjunto, em papel escrito e assinado, com um suplemento de responsabilidade. São treze antigos ministros do PS e do PSD: oito das Finanças, dois da Economia, dois da Indústria e um da Agricultura. Quase todos professores universitários. Sem demagogia, fazem o diagnóstico severo da economia e das finanças. Pedem seriedade e rigor. Alertam para a hipoteca que, graças ao endividamento, pesa sobre as gerações futuras. Propõem uma avaliação dos grandes investimentos.
Sobre os fundamentos desta tomada de posição, pouco há a dizer. O governo deveria ouvi-los, ler o “manifesto” com atenção e seguir o que eles dizem. Sem orgulho, nem machismo. Sem teimosia, nem cruzada do tipo “Incineradora”. Consta, aliás, que é a operação em curso neste fim-de-semana: suspender o TGV e outras grandes adjudicações. É, evidentemente, o resultado das eleições europeias e a proximidade das legislativas. Mas também é um alívio. Sem dinheiro, inseguro quanto às decisões e temendo a ratoeira da sua propaganda, o governo queria pretextos para suspender. Entre o esforço de parecer um falso devoto de doçura e diálogo e a leitura atenta deste “manifesto”, o governo encontrou a saída.
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O mais interessante é o acto em si próprio. Tem todo o aspecto de ser um gesto de “profissionais sérios”. De “gente competente”. De professores honestos e isentos, preocupados com o interesse público. Parece e é. Mas faz logo pensar num velho fantasma: o do governo das competências. Por que razão não são estes homens responsáveis por decisões de grande envergadura? Por que não estão todos, ou quase todos, no governo ou no Parlamento? Por que motivo os ministros e os deputados não os ouvem? Será que os competentes se querem substituir ao governo e aos políticos? (...)

Texto integral [aqui]

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JÁ TODA
a gente 'viu o filme': em Portugal, há uma bizarria chamada «época de fogos», e, quando o calor se lembra de aparecer fora do período que a lei estipula, acontece o que toda a gente sabe - e de que o Público de hoje nos dá conta. Nessas alturas, não falta quem lance 'achas para a fogueira' (salvo-seja!) a propósito do aquecimento global, e também quem apele para um aumento das penas para os crimes de fogo-posto. E há também quem diga que essa história da época de fogos é algo sem pés nem cabeça, pelo que devia ser repensada ou mesmo abandonada.
Mas a ideia, hoje e aqui, nada tem de polémica, pois trata-se apenas de identificar o título e o autor do livro policial cuja capa se vê na imagem. O regulamento é o habitual, e o prémio será um exemplar do livro.

Actualização (14h09m): a resposta certa já foi dada, como se pode ver [aqui].

20.6.09

Passatempo-relâmpago de 21 Jun 09


Tradução /adaptação de J. I. de Araújo
UM RECENTE acontecimento político e mediático, com contornos de esquizofrenia, remete-nos directamente para uma das mais famosas obras de Robert Louis Stevenson.
(O comentário que, acerca do tema dos professores, Vasco Pulido Valente fez ontem à noite na TVI pareceu inspirado nesta fábula de La Fontaine...)

Pergunta dupla, com prémio: qual o livro de Stevenson em causa e a que propósito vem?
O regulamento é o habitual, sendo o prémio um exemplar do livro que se vê [aqui]; no entanto, as respostas só serão possíveis a partir de um momento-surpresa, que ocorrerá durante o dia de amanhã.

Actualização (21h47m): devido a uma imperdoável falta de atenção da minha parte (pois não bloqueei os comentários!), a resposta certa acabou por ser dada [aqui]. Assim, só me resta penitenciar-me e avançar, amanhã, com outro passatempo-relâmpago.

Exames e Radicalismos

Por Filipe Oliveira

NOS ÚLTIMOS ANOS temos assistido a formidáveis avanços científicos com relevância para a Educação. (...)

Como a última avaliação internacional encomendada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia parece demonstrar, a grande maioria dos Centros de Investigação em Ciências da Educação portugueses parece não acompanhar estes progressos. Depois de amplamente denunciado, o discurso dito “eduquês” - caracterizado por um arrevesado discurso hermético pejado de termos obscuros sem significado tangível - tem-se vindo a esbater progressivamente. No seu lugar permanece uma doutrina vaga, fortemente ideológica, opinativa e recheada de falácias e argumentos incongruentes. É o retrato de uma comunidade fechada, auto-referenciada, distante da comunidade científica internacional e sem soluções para o Ensino pré-universitário português. Uma comunidade em que muitos se recusam liminarmente a dialogar com os especialistas das áreas a que se propõem ensinar a ensinar, apesar das suas manifestas fragilidades nesses campos.

Exemplo de tudo isto é a entrevista dada à revista Guia do Estudante por Leonor Santos, professora do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. O artigo descreve-a como uma especialista em avaliação desenvolvendo investigação nessa área há cerca de vinte anos.

Vejamos em que consistem as suas posições:

Do estudo e do não-estudo

À pergunta “Para que servem os exames?” Leonor Santos responde:

“A questão dos exames é uma polémica recorrente e há quem seja a favor e quem seja contra. Para mim, é muito mais importante discutir as razões que são apontadas com maior frequência para justificar a existência de exames.(…)”

É um início de entrevista algo enigmático. Será que Leonor Santos quer dizer que antes de se tomar uma posição sobre um determinado assunto há que medir os argumentos de um dos lados (o que seria de uma evidência desconcertante se fosse de ambos os lados)? Ou estará a querer dizer que mais importante do que tomar uma posição é discutir os diferentes argumentos envolvidos, à imagem de um médico a quem se pergunta se fumar faz mesmo mal e que responde “Bem mais importante do que dizer se faz mal é discutir por que algumas pessoas pensam que faz bem.”? (...)
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Texto integral [aqui]

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Ronaldo e o paradoxo do turista russo

HÁ DIAS, afixou-se [aqui] um aparente paradoxo, segundo o qual uma injecção de €100 numa pequena economia em crise resolveria os respectivos problemas - com a vantagem suplementar de que, no fim, nem mesmo esses €100 eram gastos! Recentemente, o leitor Ricardo S., pegando nesse exemplo, colocou a seguinte questão:

Os muitos milhões que o Real Madrid pagou por Cristiano Ronaldo não terão, pelo menos na economia do mundo da bola, um efeito benéfico semelhante?

Uma análise pormenorizada desse problema concreto pode ser lida em O Valor das Ideias, [aqui], num texto que se recomenda vivamente.

A propósito da crónica anterior - Passatempo-relâmpago

NA SUA CRÓNICA de ontem, Joaquim Letria refere os poemas de amor que Shakespeare compôs, alguns dos quais (nomeadamente os que dedicou a uma enigmática personagem) levaram Oscar Wilde a escrever uma pequena obra de ficção que gira em torno do mistério da identidade do inspirador.

Qual o seu título?

O regulamento será igual ao do último passatempo, sendo o prémio um exemplar da versão portuguesa dessa obra.
NOTA: Os sonetos de Shakespeare, em tradução de Vasco Graça Moura, foram publicados pela Bertrand, sendo essa a versão usada no livro que é objecto deste passatempo.

Actualização (13h40m): a resposta certa já foi dada, como se pode ver [aqui].

19.6.09

Uma grande dívida

Por Joaquim Letria

O NORTE-AMERICANO Richard Zenith,que há mais de 20 anos vive entre nós, deu a conhecer mais um notável trabalho seu, pelo qual Portugal tem a obrigação de lhe demonstrar o seu reconhecimento.

Investigador e tradutor, Zenith tem sido também o promotor e editor de Fernando Pessoa no Mundo e deu-se ao trabalho, durante sete anos, de traduzir uma boa parte da lírica de Camões, que acaba de ser editada para os leitores de língua inglesa, até agora confinados aos Lusíadas.
Neste seu trabalho, apresentado e “autenticado” por Vasco Graça Moura (tradutor de mérito e camonista indiscutível) Richard Zenith apresenta-nos 40 sonetos, uma dúzia de cantigas, odes, sextinas e as maravilhosas redondilhas de “Sóbolos rios que vão”.

Num extenso e rico prefácio desta obra bilingue que merece uma edição portuguesa, resume-se ainda o pouco que se conhece da vida apaixonante de Camões. Zenith compara Camões a Dante pela importância de ambos na formação do vocabulário e na firmeza da sintaxe das respectivas línguas e sublinha a variedade de temas nos sonetos de Camões, dedicados ao desconcerto do Mundo, ao destino, encerrando episódios do passado e do seu próprio exílio, enquanto Shakespeare escreveu sonetos quase só de amor.

Pelo que lhe devemos, Richard Zenith devia ser parte integrante do próximo dia de Camões, na secção de penduricalhos. É o mínimo!

«24 Horas» de 19 de Junho de 2009

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