30.11.08

Debate sobre nada

Por António Barreto
FOI APROVADO o Orçamento. Logo veremos, em 2009, a sua consistência e a adequação aos tempos de crise. O debate poderia ter sido um momento propício para uma reflexão séria sobre a crise internacional e nacional. Mas não foi. A chicana é hoje o supra-sumo do pensamento político e da retórica parlamentar. Ministros e deputados aos berros, troca de culpas e de acusações fúteis: o espectáculo não faz bem à cabeça de ninguém. Sobretudo à dos que lá estão. A superioridade moral da oposição é detestável. Uns disseram mesmo que a crise portuguesa é de exclusiva responsabilidade do Primeiro-ministro e do Governo! A auto-satisfação convencida do Governo é abominável. Nunca argumenta, decreta!
*
O GOVERNO CONTINUA a distribuir Magalhães, na convicção, fingida ou não, de que com tal gesto está a estimular a alfabetização, a cultura, a curiosidade intelectual, o espírito profissional, a capacidade científica e a criatividade nacional. Será que nas áreas do governo e do partido não há ninguém que explique que isso não acontece assim? (...)
Texto integral [aqui]

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De Humor Antigo - Ano de 1929
ANIMAIS A LAMENTAREM-SE da sua triste sina aparecem em inúmeras fábulas, como «O Burro, o Boi e o Lavrador» (a primeira de «As 1001 Noites»), «O Burro Vestido com a Pele de Leão» e «O Burro e os Donos» - estas de La Fontaine. A última, numa adaptação para português de Curvo Semedo, pode ser lida [aqui].
Em todas sobressai, como triste moralidade, que os explorados que protestam ou tentam mudar de vida... ainda ficam pior do que antes!

Onze meses

Por Nuno Brederode Santos
DECORRIDA QUE FORA mais de meia legislatura - talvez já perto dos três quartos - escrevi aqui, creio que sob o título "A meio do Rio", uma espécie de balanço in itinere, aberto o todos os futuros. Não me proponho agora prossegui-lo ou emendá-lo. Apenas o evoco, para os efeitos que seguem.
Temos hoje uma maioria absoluta, que é, na Europa, a solução mais corrente de governo. No nosso caso, ela é monopartidária (como já o foram duas experiências anteriores do PSD), mas isso tem sobretudo a ver com a sobrecarga ideológica de um processo revolucionário que é relativamente recente e com o lado traumático da experiência do bloco central. Porque o modelo mais corrente de formação das maiorias governamentais europeias há muito que o não exige.
(...)
Texto integral [aqui]

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29.11.08

Luz - XXXII

Fotografias de António Barreto - APPh.
Clicar na imagem para a ampliar

RIO DOURO. Espelho de água visto da quinta do Crasto.

Esta quinta tem estado muito na imprensa, estes dias. Um vinho seu (“Vinhas velhas, Reserva, 2005) ficou em terceiro lugar na famosa lista dos TOP 100 da revista Wine Spectator. Uma das vinhas desta quinta, vinha Maria Teresa, além de ser lindíssima (vinhas velhas plantadas à maneira antiga, segundo as curvas de nível), produz um outro vinho, o “Maria Teresa” justamente, muito bom (mas muito caro!).

À esquerda da fotografia, vê-se a linha do comboio, mesmo à beira rio. É uma das mais maravilhosas linhas de caminho-de-ferro do mundo, pela paisagem que atravessa e pela distância que percorre. Esta linha já foi reduzida, deixou de haver movimento entre o Pocinho e Barca d’Alva. Como já tinha deixado de haver prolongamento para Espanha. Agora, fala-se de novo em terminar o trajecto de Pinhão ao Pocinho. Quem sabe se um dia a linha desaparece simplesmente. É triste e lamentável. Qualquer outro país faria tudo para preservar e manter esta linha.

Acrescente-se que as linhas dos vales afluentes tiveram o destino fatal. A do Sabor está fechada definitivamente. A do Tua, com o recente acidente e a ulterior barragem, fechada está. A do Corgo terminou entre Vila Real e Chaves, agora limita-se ao percurso Régua a Vila Real. Qualquer destas linhas é de uma beleza impressionante.

Quanto a este espelho de água, lugar de tranquilidade, resulta evidentemente das albufeiras das barragens. Até aos anos sessenta, não era assim. Este rio, em múltiplos locais, era bravo e selvagem. Perigoso mesmo. Com as barragens, foi pacificado. Domesticado, como dizia Miguel Torga. Deixou de ser o que era, ganhou um novo carácter. Mas ainda se impõe aos nossos sentimentos.

NOTA (CMR): ver, [aqui], duas dezenas de fotos da Linha do Tua enviadas pelo leitor R. da Cunha

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No reino do absurdo

ESTA É APENAS mais uma cena igual a tantas outras que se vêem todos os dias: numa tarde de um dia de semana, e numa artéria de grande movimento, um condutor (M/F) despreza o lugar de parqueamento disponível, estaciona o carro - bloqueando uma faixa de rodagem e provocando o caos -, e vai à sua vidinha.
Contudo, ainda mais irritante do que a incivilidade desta gente, é a sua calma, a exibição ostensiva da sensação de impunidade de quem se julga dono do mundo - o que, diga-se em abono da verdade, parece ter toda a razão de ser...

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De Humor Antigo - Ano de 1929

Quem não sabe jogar decreta

Por Ferreira Fernandes
QUARTO ÁRBITRO já há, quinto árbitro (as imagens gravadas) está para vir, não pára a vontade de mais árbitros. E o sexto árbitro é Bruxelas! Foi discutido em Biarritz, França, pelos ministros dos Desportos: a União Europeia não devia meter-se mais no futebol?
Agora que soltaram da mão as cenouras tortas e os tomates disformes, apeteceu aos funcionários europeus meter mais pé na bola redonda.
A França tem um ministro, Benard Laporte, que não perdoa os sucessivos Waterloos com que o Manchester United e outros Chelseas castigam os clubes franceses de que não me lembro dos nomes. Daí que Laporte, jogando em casa, tenha avançado para o encontro de Biarritz com a intenção de ganhar na secretaria.
Queixa: é injusto que a Inglaterra compre todos os bons jogadores e treinadores, desvirtuando o resultado final. E este é: nas quatro últimas finais da Liga dos Campeões houve sempre equipas inglesas e nenhuma francesa.
Lá saiu uma resolução para estudar um mínimo de nacionais nas equipas de futebol. Ora eu gosto do Leixões, que quase só tem portugueses, e do Manchester, que quase não tem ingleses, por razões que escapam as controlo de passaportes.
«DN» de 29 de Novembro de 2008

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JÁ FOI anunciada a decisão do júri do passatempo «Acontece...» [aqui]. Termina às 20h de hoje o que premiará o melhor comentário feito à crónica de Alice Vieira [aqui]; às 20h de amanhã, o que premiará o melhor comentário feito à de António Barreto [aqui]; às 20h do dia 2, o que premiará a melhor resposta dada à questão: «Porque é que - e cada vez mais! - só apetece fugir de Lisboa?»[aqui].
Actualização: os resultados dos passatempos Alice Vieira e António Barreto já estão anunciados nos respectivos posts.

Uma teoria dos tomates

Por Antunes Ferreira
A AMIZADE NÃO SE COMPRA nem se vende. Vive-se. E os Amigos não são bons nem maus. São apenas e só Amigos. O resto é conversa para encher pneus, como dizem os Brasileiros. Os Amigos são, também e ainda, para as ocasiões. Alto lá. Não se veja aqui qualquer intenção exclusivista, não se infira oportunismo, muito menos calculismo. Não é que eu seja um anjo celestial. Ninguém ainda me encontrou com um par de asas. De ases sim, mas noutras ocasiões.
Sempre considerei, considero e continuarei a considerar que uma das melhores coisas da vida são os Amigos. Uma minúscula parentética: não me vou repetir no patético e as Amigas. A generalidade diz-me que me fique pela expressão uni – Amigos. Diz-se, a propósito ou a des, que quem tem filhos tem cadilhos. Com o, para que não haja mal entendidos, nem bancos envolvidos. Negócios à portuguesa. Mas também se afirma que quem não tem Amigos morre mouro. Inch’Allah.
(...)
Texto integral [aqui]

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28.11.08

O Grande Número... 2

EU 'ESTOU-ME NAS TINTAS' para as guerras e tricas entre o BE, Sá Fernandes e António Costa - de que agora tanto se fala.
O que eu gostava de saber é quando será que os "quem de direito" (que deve haver, e com fartura, lá para os lados da CML) se enchem de vergonha, levantam os rabos das cadeiras, e tratam de resolver alguns problemas simples, como os que se vêem nestas fotos [aqui] - quanto mais não seja porque é suposto receberem o ordenado para isso.
No entanto, é por haver a noção exacta de que tal não vai suceder tão cedo, que é assustador pensar que Costa (que demonstra total insensibilidade para as coisas simples que infernizam o dia-a-dia do cidadão) nos é apresentado, de vez em quando, como sendo «O número dois do PS» - podendo, um dia, vir a suceder a Sócrates.
Tendo em conta a "amostra" de Lisboa... só não digo «Chiça!» porque é um nome feio.
NOTA: Este post está também n' «O Carmo e a Trindade» [v. aqui], onde os melhores comentários (que venham a ser feitos até às 20h da próxima terça-feira) serão premiados com exemplares dos clássicos «Cidade Escaldante» (de Chester Himes) e «Este Homem é Perigoso» (de Peter Cheyney).

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Livros de amigo

Por Joaquim Letria
ESTA MINHA SEMANA foi preenchida pela biblioteca dum velho amigo, forçado a mudar de apartamento em Londres, trocando uma vasta casa de incrível pé alto em Victoria, por um encantador mas diminuto apartamento em Chelsea.
O trágico resultado são mais de 200 caixotes de cartão carregados de excelentes livros portugueses, britânicos, alemães e americanos, entre os quais algumas interessantes primeiras edições, uns milhares de vinil e uma colecção de brinquedos antigos, tudo a caminho dum armazém de aluguer.
- Se houvesse em Portugal uma escola que quisesse, uma biblioteca, eu oferecia…- sugeriu, comovido, o meu amigo.
Meti-me ao trabalho de arranjar destino para tão generosa oferta, convencido ser uma questão de horas.
As respostas foram de “não temos verba para pagar o transporte” a “não estamos interessados”, passando por “e o trabalho que isso dá!?” e “agora, com a Internet, isso não interessa a ninguém".
Obrigadinho, ficamos nesta!
«24 horas» de 28 de Novembro de 2008

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De Humor Antigo - Ano de 1929

Os Taxistas

Por Maria Filomena Mónica
VIAJEI RECENTEMENTE acompanhada por uma mala pesando trinta e cinco quilos. O taxista britânico que me foi buscar a casa carregou-a da porta até ao carro com um sorriso. Ao longo dos setenta quilómetros que separam Oxford de Heathrow, não ligou o rádio nem meteu conversa. Tudo em nítido contraste com o que se passaria no aeroporto de Lisboa. Ao ver o rótulo «Heavy» na mala, o taxista ficou especado, esperando que alguém – eu, o polícia, o passageiro seguinte? – a metesse na bagageira. Como ninguém se voluntariasse para a tarefa, conduziu-me pela cidade a uma velocidade incrível.
Uma época houve em que a Câmara Municipal de Lisboa condicionava o número de alvarás, o que contribuía para que o uso de táxis implicasse uma luta feroz entre os clientes. Nos últimos anos, porém, o número de carros aumentou, o que deveria ter feito com que as leis da oferta e da procura se alterassem a nosso favor. Não foi isso que aconteceu.
Os taxistas nacionais dividem-se em três grupos: os que gostam de falar dos problemas da Pátria, os que conduzem com o rádio aos berros e os que se comportam civilizadamente. De acordo com o primeiro, o mais numeroso, não fora a classe dos políticos, e as soluções - fuzilar os drogados, envenenar os velhos e expulsar os imigrantes - estariam à vista. Numa vã tentativa para não os matar, recordei a frase de Terêncio «Homo sum, humani nil a me alienum puto». Tentei depois encontrar uma explicação para o seu comportamento. Talvez a causa do mau humor fosse o trânsito, mas deparei-me com um problema insolúvel: e se fosse a profissão a atrair os seres mais perturbados e não o contrário? Até que percebi que todas estas reflexões eram inúteis, pelo que tomei a decisão de só dar uma gratificação aos taxistas que demonstrassem ser prestáveis. Se o não faço no caso dos condutores de autocarros, dos maquinistas da CP e dos pilotos de avião, qual o motivo que me leva a dar-lhes gorjeta? Se a quiserem, doravante terão de a merecer.

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TERMINAM em breve os seguintes passatempos com prémio: melhor título para foto da autoria de Carlos Pinto Coelho: hoje [aqui]; melhor comentário a crónica de Alice Vieira: sábado [aqui]; idem, de António Barreto: domingo [aqui].
Actualização: todos estes passatempos já terminaram, estando os nomes dos respectivos vencedores indicados nas "actualizações".

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27.11.08

A DECO e o BPN

Por Joaquim Letria
UMA IDOSA SOLITÁRIA, minha simpática e desorientada vizinha, montou-me uma espera por causa do escândalo do BPN. A história é simples. O desfecho pode ser mais complicado.
A senhora não sabia que fazer com as economias de uma vida e uns dinheiritos duma viuvez. Tudo o que tem. Uns diziam-lhe para investir nisto, outros para comprar aquilo ou para fazer assado. Perante tanta sentença, a senhora foi à DECO pedir conselho. E a DECO aconselhou-a a fazer um depósito a prazo no BPN.
- E agora?? - pergunta-me ela, chorosa.
Sugeri-lhe que ficasse quieta e rezasse para que o Estado volte a ser pessoa de bem, pois o banco havia sido nacionalizado.
- E a DECO dar-me um conselho destes, não acha suspeito?
Disse-lhe que não. Limitaram-se a fazer contas e a ver qual era o melhor rendimento para o consumidor. Devia ser o depósito do BPN. O azar foi a DECO não saber o que se dizia cá fora, como acontecia com o Banco de Portugal e com o Dias Loureiro.
«24 Horas» de 27 de Novembro de 2008

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Al-Khan-Tarah

Por Manuel João Ramos

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Manuela a estrebuchar no vazio

Por Alfredo Barroso
A DOUTORA Manuela Ferreira Leite continua a estrebuchar no vazio de ideias políticas, ideológicas e programáticas que a caracteriza. Nem sequer tem a decência de fazer jus ao nome do partido que ainda dirige – partido social-democrata – e continua a arremeter cegamente contra tudo o que é investimento público, mais do que nunca indispensável para relançar o emprego e reanimar a economia tão vergastada pelo combate ao défice.
O pior cego é aquele que não quer ver. Será que ela ainda não viu que o neoliberalismo foi chão que deu uvas?! A presidente do PSD afoga-se no seu próprio discurso político. Porventura à espera que, das profundezas do seu próprio partido, surja alguém que lhe vibre a última machadada. Se não for ela própria a vibrá-la num desesperado acto de masoquismo político. Não seria a primeira vez que um líder do PSD faria «harakiri»...
NOTA: Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue Traço Grosso.

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TERMINAM, às 20h de hoje, os passatempos com prémio a propósito do Dia Nacional da Cultura Científica [aqui] e do Casino de Lisboa [aqui]. Actualização: os nomes dos vencedores já estão indicados nos posts correspondentes.

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Ladram os cães de Pavlov…

Por Alfredo Barroso
HÁ CRÍTICOS cuja insolência e mediocridade não merecem resposta. Mas ficaria de mal com a minha consciência se não afirmasse que só um imbecil é capaz de proclamar que não leu, ou leu mal, um texto que se atreve a criticar com um palavreado idiota.
Diga-se igualmente que não é só nas fileiras da esquerda totalitária que deparamos com reflexos políticos condicionados. Nas hostes da direita mais reaccionária e mais estúpida do mundo, os cães de Pavlov também salivam e ladram quando ouvem tocar a sineta da livre crítica, se esta se dirige aos seus ícones favoritos ou aos seus egrégios avós.
Não respondo a insultos e ofensas pessoais. São filhos da falta de argumentos de quem os profere. Mas sempre direi a essas criaturas que a teoria da conspiração, a mania da perseguição e o complexo do cerco não servem para alterar a verdade dos factos.
Ora, é um facto que o doutor Dias Loureiro foi um dos colaboradores mais próximos do professor Cavaco Silva, no PSD e no Governo. É um facto que o doutor Dias Loureiro é um dos cinco conselheiros de Estado designados pelo actual Presidente da República. É um facto que o doutor Dias Loureiro tem andado a fazer em público uma triste figura. É um facto que a triste figura que ele anda a fazer incomoda muito o Chefe do Estado.
Isto são factos do domínio público, e não insinuações urdidas por conspiradores que só querem o mal da Pátria, da República e do professor Cavaco Silva. O Chefe do Estado não pode ser julgado pelos amigos que tem, mas tem a obrigação de os pôr na ordem e demarcar-se deles quando fazem em público tristes figuras. Sejam eles o doutor Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional da Madeira e líder do PSD na Região, ou o doutor Manuel Dias Loureiro, conselheiro de Estado e ex-secretário-geral do PSD.
Em democracia, ninguém está acima de qualquer crítica ou de qualquer suspeita. Nem mesmo o Chefe do Estado, seja ele quem for. O professor Cavaco não é uma flor de estufa. E o doutor Dias Loureiro não é flor que se cheire. Bem podem os seus apoiantes mais caninos desfazer-se em insultos. Os cães de Pavlov ladram e a caravana passa.

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Espanha – Recuperação da memória histórica

Por C. Barroco Esperança
ANTONIO MARÍA ROUCO VARELA, cardeal de Madrid, presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE) e pirómano político que açulou manifestações contra o Governo democrático, apela à reconciliação.
De que reconciliação fala o agitador que descia à rua a abanar a mitra e a brandir o báculo, à frente de manifestações do PP, sempre que eram votadas leis que chocavam os interesses clericais e afligiam os sectores mais conservadores?
O que pretende o velho franquista, que nunca teve um gesto de arrependimento perante os assassinatos de Franco, que ainda venera, e que só por recato se abstém de propor à elevação aos altares, acrescentando-o às centenas de beatos e santos com que dividiu os espanhóis, ajudado pelo Vaticano?
O cardeal do Opus Dei deseja evitar a «recuperação da memória histórica», isto é, a averiguação sobre centenas de mortos que jazem em valas comuns, tombados pela fúria assassina do franquismo com a cumplicidade da ICAR y la gracia de Dios.
(...)
Texto integral [aqui]

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SERÁ PREMIADO, com um exemplar deste clássico da pedagogia («A Civilidade Pueril», de Erasmo»), o autor do melhor comentário que seja feito à crónica Políticas Educativas [v. aqui] até às 20h de 30 Nov 08, domingo.
Os comentários tanto poderão ser afixados aqui como no Jacarandá.
Actualização (1 Dez 08/12h40m): os premiados foram Carlos Ponte e Brit Com. Como só há 1 exemplar deste livro, adicionou-se um outro prémio: o livro humorístico «A Escola explicada aos pais, aos alunos e (sobretudo) aos profes», de P. Antilogus e J-L. Festjens. A sua atribuição será feita da seguinte forma: os premiados deverão indicar, NESTE post, qual dos dois livros preferem, sendo os pedidos 'atendidos' por ordem de chegada. Terão 48h para escrever para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio.

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26.11.08

Chibar com arte

Por Joaquim Letria
NÃO SOU DOS QUE CRITICAM Dias Loureiro por em 2001 pedir ao Banco de Portugal “uma especial atenção para com o BPN”. Ele explicou que “não era por nenhum facto concreto”. Chibou “apenas pelo que ouvia cá fora”. Lá dentro ele nem sabia de nada.
Então a segunda figura dum Banco e suas empresas, ex-super-ministro das bófias, que polvilhou o BPN dos seus super-polícias, dá um lamiré destes e o Banco de Portugal, em mais de 7 anos, não faz nada!? Esta a grande denúncia, agora feita com arte! A de 2001 era só para tirar o cavalinho da chuva…
Sem moeda para emitir, nem preocupações cambiais, principescamente pagos para lerem relatórios do BCE, da OCDE e do INE, com duas horas para almoço e tempo para preencherem o euromilhões, fazerem o sudoku, jogarem o tetris e esperarem, de limusina, motorista e cartão dourado, pelas 5 da tarde e pelas reformas milionárias, não fazem nem um telefonemazinho para a Judite?
Claro que Oliveira e Costa é culpado! Não é por nenhum facto concreto. É pelo que se diz cá fora!
«24 Horas» de 26 de Novembro de 2008

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De Humor Antigo - Ano de 1929

Resíduos tóxicos do cavaquismo

Por Alfredo Barroso
O CAVAQUISMO EXISTIU, durante dez anos (1985-1995), e alguns dos seus resíduos mais tóxicos ainda hoje infectam a paisagem política portuguesa. Para quem já se esquecera dos escândalos que então rebentavam semanalmente nas primeiras páginas dos jornais, aí estão mais alguns exemplos edificantes que ajudam a refrescar a memória.
Sempre pensei que o cavaquismo era assim uma espécie de salazarismo democrático, em que o seu mentor era um poço de virtudes morais, o seu aparelho político um saco de gatos e boa parte dos seus apoiantes mais firmes e mais ilustres uma cambada de oportunistas e arrivistas em busca de sucesso material rápido e a qualquer preço.
A rigidez autoritária do poço de virtudes morais sufocou o espírito crítico e deu asas ao negocismo infrene como emblema de progresso, afinal efémero e ilusório. A verdade é que o «monstro» nasceu e começou a alimentar-se no seio do cavaquismo e que a «má moeda» prosperou no interior das suas hostes. A memória do povo é que é curta.
Os resíduos tóxicos do cavaquismo perduram. E contaminam todo o «bloco central». Os interesses sobrepuseram-se às ideias e aos programas abrindo a via ao pragmatismo sem princípios e à política sem alma. Nos dois pólos do «bloco central», Belém e São Bento, vicejam os eucaliptos que criam o deserto à sua volta. Por isso não espanta que Manuel Dias Loureiro e Jorge Coelho sejam uma espécie de expoentes do sucesso da coisa.
NOTA: Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue Traço Grosso.
Actualização (CMR): esta crónica suscitou diversos comentários em blogues, a que o autor responde [aqui]

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A inútil declaração

Por Baptista-Bastos
VIVEMOS ENTRE O ABSURDO, a omissão, a calúnia e a perplexidade. Os caprichos do momento contrariam, violentamente, as categorias da cultura, subvertendo não apenas a ética como a identidade. Alguma coisa está desarticulada, no tecido social português, quando um presidente da República vem a terreiro dizer que nada tem a ver com determinada instituição bancária. Nada fazia prever a inusitada declaração. Não conheço nenhuma notícia, insinuação, boato que conectasse o residente no palácio de Belém aos acontecimentos que transformaram um banco em assunto de primeira página. Talvez a circunstância de alguns altos dirigentes do PSD terem desempenhado cargos importantes no BPN estivesse na origem da aflição e do sobressalto presidenciais. É um despropósito. Cuja natureza o prof. Marcelo entendeu elogiar. Fez o elogio do nada.
A confusão instala-se, cada vez mais, em Portugal. Se a não-notícia, contida neste boato inexistente, suscita o grave comunicado, torna-se imperioso o cotejo com a afronta, de que o dr. Cavaco foi objecto, na ilha da Madeira, quando o dr. Jardim o impediu de visitar o Parlamento da região. Aí, sim, o exercício do poder pela indignação encontrava razão de ser. (...)
Texto integral [aqui]

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25.11.08

No liceu, há 50 anos

Por Alice Vieira
NESTES TEMPOS escolarmente muito conturbados, lembro-me muitas vezes dela.
Não me lembro do nome, mas nunca hei-de esquecer a sua voz mansa, o cabelo todo branco (embora ainda fosse nova), o casaco comprido castanho, e a malinha enfiada no braço.
Tinha vindo de outra escola, e também não aqueceu ali o lugar: eram tempos complicados, e pensar pela própria cabeça ( e — pior do que isso — pôr os alunos a pensar pela deles) pagava-se caro.
Nunca soubemos o que lhe aconteceu. Como na cantiga, “às duas por três chegou/ às duas por três partiu”.
A primeira vez que entrou na nossa sala de aula, olhou para todas como se não soubesse o que havia de nos dizer.
Depois abriu a malinha.
Da malinha tirou um livro.
(...)
Texto integral [aqui]
NOTA: o melhor comentário feito a esta crónica até às 20h do próximo sábado será premiado com um exemplar de «O Que é Ser Professor de Literatura», de Carlos Ceia. No entanto, se houver 8 comentários (ou mais), haverá um 2.º prémio, podendo então o vencedor escolher entre o livro atrás referido e «A Peste», de Camus; o 2.º classificado ficará com o outro. V. [aqui] as capas e contracapas dos prémios.
Actualização (29 Nov 08/ 21h17m): o resultado do passatempo já pode ser visto [aqui].

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Mais uma dos bancos

Por Joaquim Letria
DEPOIS DO ESCÂNDALO DO BCP, da vergonha do BPN, das prementes aflições do BPP e da falta de senso do Banco de Portugal, veio recentemente a público, embora a outro nível, mais um caso envolvendo um banco que, naturalmente, pode ter consequências nefastas para além das que já provocou.
Refiro-me àquela história da funcionária da mais importante instituição de socorros mútuos que se abotoou com 30 mil euros desviados de uma conta de solidariedade duma criança com um tumor cerebral, a necessitar de urgente intervenção clínica, a qual só foi possível com tempo perdido e depois dos pais venderem a casa onde viviam.
Para além dos males irreparáveis provocados à criança, este caso retira a vontade e a confiança de futuros donativos para casos mesmo daqueles que fazem chorar as pedras das calçadas. Quem nos garante agora que o nosso dinheiro vai chegar à pessoa certa?! Que tristeza, este País do vale tudo!
«24 Horas» de 25 de Novembro de 2008

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«Acontece...» - Passatempo com prémio

Por Carlos Pinto Coelho.
Procura-se um título para esta imagem
.
Como habitualmente, o prémio será um livro, desta vez a atribuir ao autor do melhor título que venha a ser proposto até às 20h do próximo dia 28, sexta-feira.
NOTA: Esta fotografia, como todas as outras aqui afixadas em posts com o título genérico «ACONTECE...», é da autoria de CPC.
Actualização (29 Nov 08/11h00m): o júri decidiu premiar os títulos «O apelo da ménade» (de João Rodrigues) e «A fonte do desejo» (de Ana). Pede-se agora a ambos que, nas próximas 48h, contactem sorumbatico@iol.pt, indicando morada para envio dos prémios. Obrigado a todos!

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Poluição sonora

Por Nuno Crato
NÃO SEI SE O LEITOR costuma ir ao supermercado. Quem vai de manhã, pouco depois da abertura, e procura um carrinho, repara que eles foram estacionados em filas paralelas, mais ou menos do mesmo comprimento. Durante algum tempo, as filas vão diminuindo ao mesmo ritmo e mantêm-se de comprimentos semelhantes. Mas se o leitor passar pelo mesmo sítio umas horas depois, reparará que há filas de carrinhos muito mais longas que outras e que o comprimento das mais longas vai aumentando.
(...)
O problema tem sido estudado matematicamente e sabe-se que apenas ao princípio do dia o sistema tende a um equilíbrio. Nessa altura, corrige-se a si próprio — é estável. Quando o ritmo de depósito aumenta um pouco, torna-se divergente ou instável, como se diz.
(...)
Texto integral [aqui]
NOTA (CMR): Ver [aqui] como o problema pode ser facilmente resolvido!

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24.11.08

Hoje, 24 de Novembro, é o Dia Nacional da Cultura Científica, um bom pretexto para atribuir mais um dos vários livros que a Gradiva oferece aos leitores deste blogue. A imagem mostra, em cima da já habitual balança, os que ainda não foram entregues: «Porque é que o Ganso não é Obeso», «E=mc^2 - A Biografia da Equação Mais Famosa do Mundo», «O Acaso – A Vida do Jogo e o Jogo da Vida», «A Criação – Um apelo para salvar a vida na Terra» e «A Física em Banda Desenhada».
Quem mais se aproximar do valor que a balança indica poderá escolher um dos 5 livros (*). Cada leitor tem direito a 2 "palpites", terminando o passatempo às 20h da próxima 5ª-feira, dia 27.
(*) Haverá um 2.º prémio se o número de 'apostadores' for igual ou superior a 12.
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Actualização: a solução e os nomes dos vencedores já estão [aqui].

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Pés descalços à gestão!

Por Joaquim Letria
DEVERIA ESTIMULAR-SE o aparecimento de empresários de pé descalço.
Os pés descalços sobrevivem com 3 euros por dia, dão mostras de saberem gerir e são capazes de tirar partido de muito pouco dinheiro. Criam milhares de micro-empresas e não nos custam os olhos da cara, como os gestores encartados.
Foram os miseráveis que descobriram o aluguer de telemóveis chamada a chamada e inventaram as bancas de comida nas ruas e outros exemplos de distribuição.
O Banco Grameen, do Bangla Desh, não só se apresenta de mãos limpas como foi a única instituição de crédito mundial a receber um Prémio Nobel. A sua gestão já arrancou 25 milhões de pessoas da miséria, principalmente mulheres, que se mostram mais aplicadas e criativas.
Tenho a certeza de que um pé descalço nos entenderia melhor do que um gestor de conta. E não borrava a pintura, como o BCP, BPN, Lehman Brothers, Citigroup e tantos outros.
«24 Horas» de 24 de Novembro de 2008

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Está a decorrer, até às 20h de 5ª-f, n' «O Carmo e a Trindade» [aqui], um passatempo relacionado com as barafundas que envolveram o Parque Mayer e o Casino de Lisboa. Se o vencedor for leitor do Sorumbático, terá direito a um prémio suplementar.

«Berlusconis» lusitanos

Por Alfredo Barroso
SE AS VERDADES POLÍTICAS são como as carecas, então poderá dizer-se que alguns barões predadores da democracia portuguesa estão a ficar com as suas fortunas ao léu.
Como é que eles conseguiram acumular tão rapidamente pés-de-meia tão grandes, se não à custa dos seus contactos políticos e de um escandaloso tráfico de influências?!
Guardadas as devidas proporções, seguiram o exemplo de Berlusconi, o barão predador italiano que singrou na politiquice e nas negociatas graças à extraordinária habilidade de vendedor de carros em segunda mão e ao charme de cançonetista de cruzeiro estival.
Como explicou há um século o grande economista americano Thorstein Veblen, estes barões predadores constituem uma «classe ociosa» que não hesita perante a mentira, a fraude, a falsificação, a manipulação e a corrupção, para acumular lucros especulativos e riquezas improdutivas. A sua divisa é o lema de Ivan Boesky, um dos mais célebres vigaristas a singrar em Wall Street: «Greed is good» («A ganância é uma coisa boa»)!
O problema é que, como diz o escritor italiano Andrea Camilleri, Berlusconi «limita-se a interpretar perfeitamente o mau humor e o mal-estar das pessoas» e a convencê-las de que, qualquer dia, também podem vir a ser como ele. Em suma, parafraseando Veblen, o que as pessoas desejam é imitar os «Berlusconis» de trazer por casa, numa irresistível atracção pelo exibicionismo, o narcisismo e a afectação típicos da «classe ociosa».
Ainda há dias vimos um Berlusconi lusitano a tentar justificar em público a sua fortuna, com a arrogância, a displicência e o sentimento de impunidade típicos de um arrivista. Não hesitou em contradizer-se e em mentir. Só lhe faltou cantar o «Only You»!
NOTA: Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue Traço Grosso.

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Há 95 milhões de anos, na região de Carenque

Por A.M. Galopim de Carvalho
HÁ CERCA DE 95 MILHÕES DE ANOS, no Cretácico, esta região e, como ela, parte da actual Estremadura, era baixa, ribeirinha, plana e alagadiça, numa transição do meio continental para o marinho. O clima era quente e húmido e a vegetação abundante. O oceano Atlântico não tinha ainda, na sua progressão de abertura para norte, separado suficientemente os continentes norte-americano e euro-asiático, havendo, sim, no que é hoje a orla ocidental de Portugal, uma penetração do mar limitado, a Oeste, por terras actualmente do lado de lá do Atlântico, na Terra Nova e no Labrador, e a Leste, pelo bordo ocidental da Ibéria. É nesta espécie de estreito e extenso golfo que se passa grande parte da história geológica desta orla onde, 15 milhões de anos mais tarde, começou a formar-se a Serra de Sintra.
Ao deslocarem-se nas margens dos rios, lagos ou lagunas litorais, os animais deixaram impressas as suas pegadas no chão húmido, ou mesmo na vasa do fundo de zonas pantanosas. Esses sedimentos, ao secarem, e sempre que o acaso permitiu a sua cobertura por novos depósitos, ficaram protegidos e, com eles, as pegadas. (...)
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23.11.08

Por exemplo

Por António Barreto
A ESCOLA ADRIANO ZENÃO, pública, tem cerca de 500 alunos do ensino básico e secundário. Pertence à autarquia. O director da escola, Dr. Fabrício, é gestor, especialista em administração escolar e principal responsável pela escola. Foi nomeado pelo Conselho Escolar, sendo este composto por um terço de professores, um terço de pais de alunos e um terço de membros da comunidade (autarcas, empresários e outros). O contrato do director tem a duração de cinco anos e pode ser renovado. A sua nomeação ocorreu após um processo de selecção iniciado um ano antes. A aprovação do seu contrato teve de obter pelo menos dois terços dos votos do Conselho Escolar. O director é assessorado pelo Conselho de Gestão, formado por ele, um técnico e dois professores. Estes três membros do conselho de gestão foram nomeados, sob proposta sua, pelo Conselho Escolar. (...)
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Seleccionada de Humor Antigo - Ano de 1929

Da boa ou má Criação

Por Nuno Brederode Santos
"Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia": eis a frase que antecedeu e contextualizou o verdadeiro detonador da escandaleira. E este foi: "Até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia."
Manuela Ferreira Leite falou estes dez segundos e, durante três dias, a balbúrdia das indignações chutou para canto os remansos da razão. Indignaram-se à esquerda com o apelo à suspensão da democracia. Aproveitou o CDS para também se indignar um bocadinho. Indignaram-se o secretário-geral e o líder parlamentar do PSD com a indignação de todos os indignados.
Sempre achei que a indignação é um pedregulho atravessado no caminho da inteligência. Mas o facto é que ela foi arvorada em direito e eu sou pró: se a criação de um direito não vier prejudicar outros mais importantes, sou sempre a favor. Mas uma coisa é tê-lo e outra usá-lo. O direito à indignação deve ser usado com grande e sábia parcimónia, senão só atrapalha quem o exerce. Eu gostaria até de reservá-lo para os seis meses sem democracia.
(...)
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22.11.08

A NOTÍCIA DO FECHO da BYBLOS é uma notícia triste - e não apenas para Lisboa. No entanto, e como sempre sucede em circunstâncias semelhantes, tal não se deveu a um único motivo, mas sim a uma acumulação de vários. Pelo menos os seguintes já se notavam há muito tempo:
A falta de dinheiro nos bolsos dos compradores-tipo; o facto de ser obrigada a fechar aos domingos à tarde (tendo mais de 2000 m2 era tratada como uma loja de electrodomésticos); o ambiente pouco acolhedor, apesar de agradável (não, não é um paradoxo...).
Finalmente (e talvez o mais importante), a má localização - tornando-a quase totalmente dependente dos frequentadores do C. C. Amoreiras. Neste último aspecto, veja-se [aqui] como se fazia o acesso a partir do referido Centro Comercial...

Humanidade e o cavalo do inglês

Por Joaquim Letria
NO MUNDO, mais de 4 mil milhões de pessoas vivem com 3 euros por dia. Mais de metade desta gente vive com um único euro e, destes, mil milhões de pessoas vivem só com 70 cêntimos diários.
40% da população mundial vivem de 5% do rendimento do planeta e 10% dos mais ricos vivem de 54% dos recursos. Em cada hora que passa, 1200 crianças morrem de fome ou de doença, no mundo.
Perante isto, os super ricos tomaram uma decisão comovente: até 2015 juntarem 200 mil milhões de Euros e gastarem-nos a ajudar estes desgraçados. Pode parecer muito, mas não é: trata-se apenas de 1,6 de todos os ricos a gastarem 10 por cento do rendimento de um ano, ao longo de seis anos.
Entretanto, em cada ano que passou, diminuímos 60 cêntimos o nosso apoio à luta contra a pobreza. Pena a humanidade fazer como o cavalo do inglês. Quando já não come, morre!
«24Horas» de 21 de Novembro de 2008

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Seleccionada de Humor Antigo - Ano de 1929

A desafinação nacional

Por Antunes Ferreira
PECADO CONFESSADO é pecado meio perdoado, diz quem sabe, neste caso o Povo, de cuja voz também se afirma que é a de Deus. Máxima que parece ter caído em saco roto, apesar de alguns, mais crentes, ainda a aceitem. Mas, convenhamos, o que era ontem pecado, hoje já não é – e, em certos casos, é até uma quase virtude. Quer se queira, quer não, as coisas já não são o que eram. Por uma segunda vez consecutiva, falo de futebol. O que para nós Portugueses não é óbice, dado que é o tema nacional por excelência. Mas, não só.
Já no que respeita à voz do Povo ser a voz de Deus, nada mais desactualizado, no mínimo. Os decibéis do Povo serão iguais ou, no mínimo, semelhantes aos que a Divindade utiliza? Creio bem que não. Nesta época em que os sintetizadores são reis, as vibrações vocálicas andam um tanto abastardadas. Há uns anos falava-se no dó de peito. Agora, comenta-se que metem dó. Prismas.
(...)
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21.11.08

A despedida

O homem tinha dito:
- Seja franco, doutor!
O médico saiu detrás da secretária, vagarosamente, pôs-lhe uma mão sobre o ombro e quase sussurrou.
- É cancro.
- Quanto tempo, doutor? - perguntou o homem sem o olhar, mas com aquele grau de cumplicidade no tom de voz que antecipava que ambos sabiam bem do que estava a falar.
- Um ano, ano e meio, no máximo - respondeu o médico.
Saiu do consultório devagar, numa confusão de ideias e de sentimentos, observando aqueles com quem se ia entrecruzando com uma sensação danada de inveja e, ao mesmo tempo, de raiva. «Porquê eu?!», perguntava, repetida e impessoalmente, sem ter propriamente entidade competente a quem dirigir a questão.
(...)
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Passatempo-relâmpago (com prémio)

NUMA ALTURA em que tanto se fala de criminalidade de alto-lá-com-ela, vem bem a calhar um passatempo cujo prémio é este clássico, que tem duas particularidades interessantes:
A primeira é que não se trata de um livro policial, mas sim sobre gangsters - os polícias que aparecem têm um papel de meros figurantes, e nem sequer têm direito a nome - são referidos, genericamente, por pasmas...
A segunda é a espantosa tradução, da autoria de Mário-Henrique Leiria (1923-1980), que teve de se haver com um problema delicado: é que não são só as personagens que falam um calão por vezes impenetrável; a própria narração é toda ela feita na mesma linguagem de bas-fond!
No entanto, o autor de Contos do Gin-Tonic meteu mãos à obra e arranjou mais de uma centena de expressões portuguesas (algumas deve mesmo ter inventado ad hoc), que figuram num glossário no fim do livro.
Pois bem; o Sorumbático oferece um exemplar de Rififi a quem der a resposta mais correcta à seguinte pergunta: sendo x o número de páginas do livro (é um múltiplo de 16) e y o seu peso (em gramas), quanto vale x+y?
NOTA-1: cada leitor poderá dar 2 respostas; o passatempo termina às 20h de 22 Nov 08. NOTA-2: a resposta vai ficar visível [aqui] a partir das 20h01m de 22 Nov 08. O vencedor poderá, de imediato, escrever para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio do livro. NOTA-3: no mesmo endereço, [aqui], estará também a questão que dará direito ao prémio adicional: um exemplar de A Mulher Cega, de Ross Pynn.
Actualização (20h18m): o Prémio Rififi foi ganho por R. da Cunha. O Prémio Ross Pynn foi ganho por Ana.

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A Quadratura do Circo - Carta Aberta a Carlos Queiroz

Por Pedro Barroso
Carlos,
Meu querido e bom amigo
Eu avisei-te a tempo. Não ouviste.
Isto do Futebol depende de toda a tua ciência e de todo o teu estudo, mas também da inspiração do momento e da cabeça fria. A dos dirigentes, do público e dos jogadores. Coisa que, como sabes, há muito pouco em tal mundo à parte. E ainda doutra coisa terrivelmente pragmática - as bolas que entram ou não nas balizas do adversário.
Que, por sua vez, também é feito de gente, e, por isso, também está a viver o mesmo drama.
Devo ter sido o único português, segundo lembro, que te disse - em tempos de colegas na Escola de S. João do Estoril, lembras-te? - que te dedicasses a alguma matéria mais pura e inocente, mais cientifica e menos humoral, mais pedagógica e menos brutal.
- Futebol, Carlos!? – disse eu – tu vais-te especializar em futebol?!
De facto. Bom aluno e estudioso, podias ter sido um investigador da Fisiologia do esforço, da Metodologia do Treino físico, das virtualidades psicossomáticas por influência do anel gama no tecido muscular estriado, dos mecanismos do gesto ao pensamento e vice-versa. Coisas assim, que este povo não entende. Quer golos. Obviamente.
(...)
Texto integral [aqui]

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20.11.08

Passatempo-relâmpago (com 3 prémios atrasados)

Do Arquivo Humor Antigo - Ano de 1929

SEMPRE QUE TERMINA um passatempo aqui no Sorumbático, os vencedores são avisados de que têm 48h para reclamarem os prémios - o que, embora raramente, por vezes não fazem. Sucedeu isso com o último «Acontece...», cujos resultados foram anunciados às 13h55m do passado dia 15: mais de 5 dias volvidos, apenas 3 dos 6 vencedores se 'apresentaram'.
Assim, e como os prémios existem para serem atribuídos, os livros que ficaram por entregar serão agora enviados aos primeiros três leitores que, em comentários a afixar neste post, escrevam as palavras «Quero eu!» - mas respeitando o seguinte: esses comentários deverão ser afixados em momentos tais que o número das horas somado com o dos minutos dê 48 (p. ex. 19h29m - que, por sinal, é já a próxima janela de oportunidade...).
Cada leitor poderá receber apenas um prémio.

Actualização: o 1.º dos três livros foi atribuído às 19h29m, o 2.º às 20h28m e o 3.º às 22h26m.

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Contra o crime de amanhã

Por Baptista-Bastos
ESTOU EM CRER que a dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues deu um pontapé na maioria absoluta que os disparates políticos da dr.ª Manuela Ferreira Leite presumivelmente garantiam ao eng.º José Sócrates. Como a ministra da Educação não decide, na solidão alcatifada do gabinete, sem escutar, inevitável e antecipadamente, o primeiro-ministro, infere-se que este é o principal responsável da situação. Não há parábola que remova esta sucessão de evidências.
Sócrates está longe de ser um bom governante. Porém, a presidente do PSD ainda seria pior. As perspectivas não são de molde a alegrar-nos. Estes "mandantes desabusados" (para usar uma expressão cara a Aquilino) tornaram insuportável a vida portuguesa. A nossa inalterável ingenuidade cimentou-os no poder.
(...)
Texto integral [aqui]

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Do Arquivo Humor Antigo - Ano de 1929

Pais & filhos

Por Joaquim Letria
A IMPRENSA REVELAVA que, em Portugal, 70 órfãos fornecidos a pais adoptivos foram devolvidos à procedência, o que não abona nem esses supostos pais, nem a responsabilidade das instituições que fornecem crianças, nem a ponderação dos tribunais que superintendem as transferências.
Não conheço casos destes em “pet shops” onde há quem compre cães, gatos, iguanas, cágados, papagaios, canários, “hamsters” e outros animais de estimação. E desconheço semelhante facilidade na devolução de electrodomésticos com defeitos que justifiquem a rejeição irresponsável.
Alguns casos fizeram com que toda a gente ficasse a saber que os pais que fazem uma criança são “pais biológicos”. Logo houve quem chamasse aos pais adoptivos “pais afectivos”.
Então e estes, que são capazes de devolver crianças como quem entrega, para abate, um cão ao canil municipal? Não são pais. São, com certeza, filhos da mãe.
«24 Horas» de 20 de Novembro de 2008

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Passatempo-relâmpago (com prémio)

O QUE AQUI se lê é um extracto do Editorial do Público de hoje. Será que as contas estão bem feitas?
Actualização: o passatempo terminou - ver comentários 1 e 3.

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Desgraça

Por João Paulo Guerra
E porque é que a dra. Manuela Ferreira Leite não suspende muito simplesmente o PSD, inutilidade sem préstimo para a oposição estando este PS no Governo?
ISTO É UMA TENTATIVA de fazer ironia mas é igualmente uma grande verdade. Desde que este PS está no Governo já lá vão perto de quatro anos e três líderes e meio do PSD. E já há quem chame: próxima!
Bem pode dizer-se que o trabalho mais profícuo do actual Governo do PS tem sido desbastar líderes do PSD, para além de liquidar estabelecimentos de saúde, escolas e direitos sociais. O actual PS ganhou as eleições legislativas em 2005 a Santana Lopes. E foi um. Seguiu-se-lhe Marques Mendes. E foram dois. Depois veio Menezes, com meia liderança confiada a Santana Lopes. E foram mais um e meio. Depois veio o silêncio de Manuela Ferreira Leite. E agora, pior que o silêncio, Ferreira Leite começou a falar. E ainda pior que falar tentou fazer ironia. Um desastre.
Com raríssimas excepções, os políticos por definição não têm graça nenhuma. Apenas podem fazer rir involuntariamente, como foi o caso do hilariante Governo de Santana Lopes com a ajuda de Paulo Portas: os papéis no discurso da tomada de posse, as deslocalizações de ministérios, o episódio da sesta, a cantiga do Guerreiro Menino, a cena das facadas nas costas, a inaudita guerra dos cartazes... Um fartote de rir. Talvez Manuela Ferreira Leite, que já tinha diagnosticado “dificuldade em passar a mensagem”, tivesse tentado imitar o estilo. Mas ficou provado que em matéria de galhofa não chega aos calcanhares de Santana Lopes.
Nos EUA, os humoristas discutem onde vão buscar inspiração, agora que perderam George W. Bush e lhes escapou Sarah Pallin. Em Portugal, há políticos que querem à força cair em graça sendo ou parecendo engraçados. Uma desgraça.
«DE» de 20 de Novembro de 2008

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Luz - XXXI

Fotografias de António Barreto - APPh
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Escorial - Só muito tarde na vida fui visitar o Escorial. Durante muitos anos, não tinha curiosidade. Há cerca de trinta anos, depois de a ouvir pela primeira vez, apaixonei-me pela ópera “Don Carlo”, de Verdi. Uma parte passa-se neste palácio, mandado construir por Filipe II, que ali morreu. Não descansei enquanto não fui visitar. É de grande beleza severa e rude. Tem uma estética de tempos difíceis e de autoridade. (1990).
NOTA: estas fotos, juntamente com crónicas diversas do mesmo autor, estão também no seu blogue Jacarandá

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O azedume de Graça Moura

Por C. Barroco Esperança
VASCO GRAÇA MOURA (VGM) não é só um poeta sensível, escritor talentoso e tradutor de raro mérito. É também, desde que foi ajudante de ministro, o almocreve do cavaquismo e trauliteiro ao serviço do PSD.
São eloquentes os artigos da sua coluna no Diário de Notícias e a torrente de adjectivos com que zurze os adversários do presidente do PSD, seja ele qual for. Um dos últimos adjectivos que dirigiu aos adversários políticos era menos rebarbativo e mais eufónico do que o habitual – ranhosos.
VGM é curioso na forma, imaculado na gramática e trauliteiro na política. Não espanta o enlevo com que defende Manuela Ferreira Leite, a ex-ministra das Finanças cuja troca por Bagão Félix, fez dela uma governante competente. O que surpreende é o acrisolado amor a Bush, Barroso e Aznar e o rancor que vota a quem não os apoiar.
Vale a pena ler VGM, não pelo conteúdo mas pela forma, não pelo fundamento mas pela paixão que põe na defesa do Eixo do Bem e na fé que alimenta as suas profecias.
Fui reler o artigo do DN, de 17 de Setembro, em que ele já notava a mudança favorável dos juízos mundiais sobre Bush e a justiça das suas decisões. O panegírico à política económica era arrebatador e afirmava, peremptório: «o argumento de que a maioria dos europeus prefere Obama a McCain não tem qualquer peso eleitoral, só mostra a parvoíce dos europeus e como acaba por ser eficaz a diabolização que a esquerda se encarrega de promover desde que se trate dos Estados Unidos e dos republicanos, enquanto se vai babando, extasiada, de socialismo prospectivo».
VGM é um perdedor. Além de perder um presidente do PSD por ano, acabou por perder a eleição de McCain. A esperança que nutria pelo candidato republicano, tão avassaladora como a terna devoção a Bush, levou-o a vaticinar: «Enfim, afigura-se que McCain vai ganhar. Felizmente».
Com a alma a vibrar pelo PSD, VGM nem esperou que amainasse a tempestade sobre a interrupção voluntária da democracia, por um semestre, para se desfazer em elogios à querida líder no artigo de ontem, no DN: «A torpe ditadura da maioria».
Leitor assíduo do plumitivo, facilmente adivinhei que não se referia à Madeira.

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Do Arquivo Humor Antigo - Ano de 1929

19.11.08

Saúde nas ruas da amargura

Por Joaquim Letria
EM PORTUGAL, o Serviço Nacional de Saúde está pelas ruas da amargura. Atrás de nós, em toda a Europa, só a Roménia, a Bulgária, a Croácia, a Macedónia e a Letónia. À frente de nós, todo o resto. Brilhante!
A Health Consumer Power House, um “think tank” europeu, importante grupo de reflexão internacional e independente, anunciou a classificação do Serviço Nacional de Saúde português. Fez contas e comparou. Organização, listas de espera, comparticipações, actualização de medicamentos, informação aos doentes, tempo de sobrevivência ao diagnóstico dum cancro, qualidade hospitalar, despesas, resultados e aí está a nossa brilhante classificação, escarrapachada nos jornais de todo o mundo.
Somos os 26.º da Europa, bem abaixo do Reino Unido que Blair conseguiu deixar em 13.º. Os Países Baixos ocupam claramente a primeira posição. Têm o melhor Serviço Nacional de Saúde. Disseram-me que a Ordem dos Médicos está a celebrar qualquer coisa. É capaz de ser isto…
«24 Horas» de 19 de Novembro de 2008

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Do Arquivo Humor Antigo
Iniciada hoje a série correspondente ao ano de 1929

MFL e a "graça pesada'’

Por Alfredo Barroso
DIZ-SE AGORA que a inefável presidente do PSD quis ser irónica. E eu, cheio de boa vontade, acredito. Mas a verdade é que Manuela Ferreira Leite não tem jeito nenhum para ironias e acabou por fazer aquilo a que se chama ‘graça pesada’, isto é, uma ‘graçola’ que quase toda a gente leva a sério e que tem, por isso mesmo, pesadas consequências – políticas, neste caso.
Convém saber que, inclusivamente, no Direito Penal, a ‘graça pesada’ pode ser severamente sancionada se der origem a um crime contra a propriedade ou contra pessoas.
Em suma: pobre senhora, que não tem mesmo jeito nenhum para a política!

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...E não se pode exterminá-los?

COMO SE JÁ NÃO BASTASSE o portuguesíssimo doutor Durão Barroso ser apontado a dedo como um presidente da Comissão Europeia «incompetente, inócuo e subserviente», vem agora o «Financial Times» proclamar que o portuguesíssimo doutor Fernando Teixeira dos Santos é o pior ministro das Finanças entre 19 países da União Europeia, com uma péssima «performance» política e um mau desempenho ao nível macroeconómico.
Como não há duas desgraças sem três, a lusitaníssima doutora Manuela Ferreira Leite, inefável presidente do PSD, achou por bem confessar em público que «não acredita em reformas quando se está em democracia», acrescentando, para que não subsista qualquer dúvida: «E até nem sei se a certa altura não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia». Assim, sem pestanejar!
Tanta desgraça e tanto disparate juntos, que nem o patriotismo mais pacóvio pode iludir, seriam motivo para rir se não fosse a vontade de chorar. Infelizmente, no ambiente geral de mediocridade que caracteriza a classe política dominante, ninguém se atreve a propor a remoção daquelas três criaturas dos altos cargos políticos que tão mal desempenham. Caso para perguntar, parafraseando Karl Valentin: «…E não se pode exterminá-los?».
NOTA: Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue Traço Grosso.

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18.11.08

ESTA AFIRMAÇÃO está a dar muito que falar. Certamente pretendendo fazer ironia, Manuela Ferreira Leite deixou-se apanhar numa armadilha pois, ao contrário do que sucedia com Pamplinas, a sua permanente cara-de-pau fez com que se lhe colasse a imagem de alguém incapaz de manipular as regras do humor.
E como as trancrições, na imprensa, são feitas sem o recurso a smileys, é natural que a maioria das pessoas entenda os textos literalmente, até porque não estão predispostas a procurar ironia onde sempre enxergaram a mais compacta sisudez.

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