29.4.16
SUPERFÍCIES DE APLANAÇÃO, UMA INEVITABILIDADE DO CAMPO GRAVÍTICO TERRESTRE
Planície alentejana com
a Serra do Caldeirão no horizonte.
Desenho de João Alveirinho Dias
Por A. M. Galopim de Carvalho
Do mesmo modo que tudo cai de cima para baixo por força da gravidade e uma vez que, no nosso planeta, existem agentes promotores de erosão, as montanhas tendem a ser arrasadas e os materiais resultantes dessa erosão acumulados nas depressões. Se não houvesse forças internas que, de tempos a tempos, geram montanhas, sejam elas de que tipo forem, a superfície dos continentes seria tão plana quanto a das águas em repouso.
Do mesmo modo que tudo cai de cima para baixo por força da gravidade e uma vez que, no nosso planeta, existem agentes promotores de erosão, as montanhas tendem a ser arrasadas e os materiais resultantes dessa erosão acumulados nas depressões. Se não houvesse forças internas que, de tempos a tempos, geram montanhas, sejam elas de que tipo forem, a superfície dos continentes seria tão plana quanto a das águas em repouso.
É curioso lembrar que, no século X, os membros de uma fraternidade de filósofos
ismaelitas, conhecida por “Irmãos da Pureza”, (Ikhwan al-Safa, em árabe), que
se admite ter estado sediada em Bassorá, no Iraque, escreveram numa
enciclopédia que nos legaram “os continentes, uma vez arrasados pela erosão,
ficam ao nível do mar”.
Desde
sempre, filósofos, geógrafos, naturalistas e geólogos se depararam com esta
realidade do relevo em todas as latitudes da Terra, que é o confronto entre as
planícies e as montanhas. Portugal não foge a esta dualidade. À planície
alentejana opõe-se a orografia bem mais acidentada do centro e norte do
território.
Na origem, o termo planície, que nos chegou vindo do latim “planitie”,
significa superfície plana. Como vocábulo do léxico geográfico, esta mesma
palavra passou a referir uma extensão maior ou menor de terreno aplanado, de
notada horizontalidade e, na maioria dos casos, a muito baixa altitude, onde a
sedimentação supera largamente a erosão. Os geógrafos distinguem planícies
fluviais e planícies costeiras ou litorais.
As planícies fluviais formam-se, as mais das vezes, na zona vestibular dos
rios, ou seja, nos troços mais próximos da foz, propícios ao desenvolvimento de
meandros divagantes. São limitadas por aclives (vertentes a subir), ou seja,
estão rebaixadas relativamente aos terrenos envolventes. São exemplos de
planícies fluviais a lezíria (do árabe al jazīrâ) e os mouchões do Tejo, os
campos do Mondego, do Sado, do Caia e do Sorraia e os sapais de Corroios e de
Castro Marim. Favoráveis à sedimentação fluvial, comportam muitas vezes corpos
de águas paradas, como pântanos (ou pauis) e braços mortos de meandros
abandonados.
As planícies litorais ou costeiras têm por limites de um lado, o mar e, do
outro, um aclive, muitas das vezes, uma antiga falésia ou arriba (arriba
fóssil). São exemplos de superfícies litorais a que se estende para sul de Ovar
até a Serra da Boa Viagem, muitas vezes referida por gândara, a que se prolonga
entre esta Serra e a Nazaré, a alentejana, entre a foz do Sado e Sines, e a
campina entre Faro e Olhão. Propícias à sedimentação marinha e/ou dunar
arenosa, com elas se relacionam restingas, ilhas-barreiras, lagunas (rias) como
as de Aveiro e de Faro-Olhão e lagoas como as de Fermentelos (Pateira), Óbidos,
Melides e Santo André.
Ao contrário das planícies, os planaltos, como o nome indica, são superfícies
aplanadas em altitude (convencionalmente, acima dos 300 m) limitados por
vertentes que descem para terrenos a cotas inferiores. Ao contrário das
planícies, os planaltos são, sobretudo, sede de erosão. Entre nós, é frequente
falar-se dos planaltos transmontanos, do planalto da Guarda e, até, do planalto
da Torre, no cimo da Serra da Estrela.
O estudo
das superfícies de aplanação é um dos temas mais explorados na dialética entre
geógrafos e, com a evolução da geografia física para a geomorfologia, entre
geomorfólogos.
Nesta troca de ideias há que registar os modelos concebidos por William Morris
Davis (1850-1934), Walther Penk (1888-1923), Julius Büdel (1903-1983) e Lester
Charles King (1907-1989). Em 2005, na monumental obra em três volumes, GEOGRAFIA
DE PORTUGAL, editada pelo Círculo de Leitores e dirigida pelo Prof. Carlos
Alberto Medeiros, o nosso saudoso colega (e meu ex-aluno), António Brum
Ferreira foi o autor do primeiro volume “ O Ambiente Físico”, onde, em palavras
simples mas rigorosas sintetiza as ideias destes quatro autores.
No artigo “The Geographical Cycle” que ficou célebre na geografia de finais do
século XIX, W. M. Davis, professor da Universidade de Harvard, divulgou o
conceito de “peneplaine” (peneplanície na versão portuguesa) como um tipo de
aplanação inacabada, a relativamente baixa altitude, fruto de um longuíssimo
desgaste por parte da erosão fluvial. O elemento de origem latina “pene” que
escolheu para antepor à palavra “planície”, significa “quase”, pelo que foi e
continua a ser, sobretudo, no sentido de “quase planície” que este vocábulo
entrou no léxico geográfico e geomorfológico. Largamente divulgado por
prestigiados geógrafos franceses, como Emmanuel de Martonne (1873-1955), Henri
Baulig (1877-1962) e Pierre Birot (1908-1984), o conceito de peneplanície
estendeu-se aos geógrafos portugueses, então ainda francófonos na sua maioria.
Conhecido como o “pai da geografia americana”, Davis partiu da convicção de
que, a períodos relativamente curtos de elevação do relevo, se seguiam outros
imensamente longos, de grande estabilidade, favoráveis à erosão. Por outro
lado, tendo centrado o essencial do seu trabalho de campo nas regiões sob clima
temperado-húmido, o modelo de aplanação que concebeu e divulgou assenta,
fundamentalmente, na erosão realizada pelos cursos de água. Neste processo, que
designou por “erosão normal”, Davis escolheu o adjectivo “normal” no propósito
de poder usar este tipo de erosão como norma ou padrão de comparação com os de
outros ambientes climáticos.
Na concepção de Davis, a peneplanície, que interpretou como resultante da
erosão de uma montanha nos parâmetros em que a definiu, pode ser elevada por
subida do continente (epirogénese) ou por descida do nível do mar, dando início
a novo e idêntico processo erosivo, numa repetição a que deu o nome de ciclo de
erosão.
Um
argumento contra a prolongada imobilidade tectónica pressuposta no modelo
davisiano foi apresentado, vinte e cinco anos depois, pelo jovem geomorfólogo
austríaco, Walther Penck (1888-1923), no livro que nos deixou, “Die
Morphologische Analyse”, editado postumamente em 1924. Porém, o modelo de Davis
só sofreu contestação, em 1953, quando este livro foi traduzido para inglês,
sob o título “Morphological Analysis of Landforms”. Influenciado pelas observações
geomorfológicas a que procedera na região da Floresta Negra, onde um conjunto
de superfícies aplanadas se escalona em degraus (Piedmonttreppen) nos flancos
da montanha, Penck argumenta, neste seu livro, que o processo de erosão do
relevo ocorre simultaneamente de forma gradual e contínua com o de elevação do
mesmo relevo.
Pouco mais
de três décadas depois, na Alemanha, Julius Büdel (1903-1983) revelava um outro
processo conducente à origem de uma superfície de aplanação. Experimentado na
geomorfologia de regiões tropicais do tipo savana quente, com uma estação
húmida acentuada, propícia à formação do rególito, ou seja, de uma capa de
meteorização das rochas do substrato, este geomorfólogo defendia, na sua obra
"Zeitschrift für Geomorphologie", publicada em 1957, a ideia da
existência de duas superfícies com realidade no terreno: a superfície
topográfica, em contacto directo com a atmosfera, ou seja, a que suporta a
paisagem, sujeira a erosão pelas águas de escorrência e fluviais; e a
superfície basal, entre o rególito e a rocha sã, tanto mais profunda, quanto
maior fosse a espessura do rególito.
Büdel defendia que, quando a humidade prevalecesse relativamente à secura, a
meteorização é mais veloz do que a erosão. Se o clima regional evoluir no sentido
da aridez, a erosão torna-se mais intensa do que a meteorização das rochas,
podendo, no limite, pôr a descoberto a dita superfície basal que, assim, se
transforma numa superfície de aplanação.
Um outro
modelo contraposto à peneplanície e, talvez, o que mais movimentou a comunidade
de geógrafos e geomorfólogos foi concebido e divulgado pelo geomorfólogo
sul-africano Lester Charles King (1907-1989), na obra "The Morphology of
the Earth", publicada em 1962. Inglês de nascimento, este professor da
Universidade do Natal, procurou explicar aplanações recentes e antigas por uma
outra via radicalmente diferente da de Davis, tendo baseado o seu modelo na
evolução do relevo que lhe foi dado observar na regiões subáridas. Ao percorrer
estas regiões, este que foi um dos mais influentes geomorfólogos do século XX,
notou que as planuras destas regiões terminam, abruptamente, contra escarpados
íngremes. Verificou que a superfície do terreno na base deste escarpados, a que
deu o nome de “pediment”, (pedimento, na versão portuguesa) se apresentava
minimamente inclinada, talhada pela escorrência de águas selvagens) carregadas
de detritos. Para o autor, é o desenvolvimento destas superfícies que conduz à
pediplanície, “pediplain”, na versão inglesa.
Na concepção de King, a pediaplanação, ou seja, o desenvolvimento da
pediplanície vai alastrando em detrimento do relevo que, consequentemente, vai
recuando, deixando, por vezes, testemunhos isolados, controlados pela estrutura
geológica do terreno (dobras, falhas e outras). Aos ditos testemunhos, isolados
como se fossem ilhas, salientes da pediplanície, o geógrafo germânico Wilhelm
Bornhardt (1864-1946) deu o nome de “Inselberg” (do alemão “Insel”, que
significa ilha, e “Berg”, que quer dizer monte) termo que, à letra, significa monte-ilha.
Embora algumas das suas ideias e interpretações, como, aliás, todas as outras,
sejam questionáveis, King estimulou a comunidade dos geógrafos e geomorfólogos
a repensar e rever criticamente os agentes e os mecanismos que conduziram e
conduzem à aplanação do relevo.
Etiquetas: GC
28.4.16
O mundo é feito de mudança
Por C. Barroco Esperança
A posse de Marcelo Rebelo de Sousa, em 9 de março último, completou a despoluição que as últimas eleições legislativas permitiram e cuja urgência se impunha aos 3 órgãos de soberania sujeitos a escrutínio popular.
O Palácio de Belém ficou vago para um conservador inteligente, patriota, culto e com sentido de Estado e S. Bento para um PM com currículo democrático e provas dadas.
Neste 25 de Abril voltaram ao Parlamento os militares da A25A e o PR anunciou outra condecoração ao saudoso capitão Salgueiro Maia, aquele herói a quem o antecessor negou considerar relevantes os serviços à Pátria, valor que reconheceu a dois Pides.
Os democratas exultaram com o regresso dos capitães de Abril à tribuna de onde se autoexcluíram por se ter tornado viciado o ambiente e mal frequentado o espaço. Foram de esperança os discursos do PR, do presidente da AR e dos partidos de esquerda.
Do CDS, o partido onde cedo deixaram de caber Freitas do Amaral e Lucas Pires e onde o malogrado Amaro da Costa não teria lugar, sabia-se que não apreciava a Constituição de 1976, e deixou a impressão de preferir a de 1933, fiel a Paulo Portas.
O PPD de Sá Carneiro, Emídio Guerreiro, Mota Pinto, Fernando Nogueira e Rodrigues dos Santos, aviltado desde Durão Barroso, com a invasão do Iraque, e, depois de um PR salazarista em Belém e um inapto e ressentido PM em S. Bento, resiste à mudança com Passos Coelho e a restante tralha que Miguel Relvas e Marco António lá puseram. Por isso não houve surpresa no discurso de Paula Teixeira da Cruz, que sentiu na maioria de esquerda um “odor ao salazarismo mais bafiento”, decerto com a pituitária mergulhada no partido que Passos Coelho e Cavaco reduziram a cadáver, depois de lhe roubarem a alma social-democrata que lhe deu vida. Foi esse fedor que a deputada, desorientada nos aromas, atribuiu aos adversários.
São perigosos os tempos que se avizinham, em Portugal e no Mundo, mas há momentos que valem anos e dias que trazem ânimo. No último 25 de Abril não começou o futuro, mas findou um ciclo, inumados dez anos sombrios de Belém e quatro anos e meio de S. Bento.
O Palácio de Belém ficou vago para um conservador inteligente, patriota, culto e com sentido de Estado e S. Bento para um PM com currículo democrático e provas dadas.
Neste 25 de Abril voltaram ao Parlamento os militares da A25A e o PR anunciou outra condecoração ao saudoso capitão Salgueiro Maia, aquele herói a quem o antecessor negou considerar relevantes os serviços à Pátria, valor que reconheceu a dois Pides.
Os democratas exultaram com o regresso dos capitães de Abril à tribuna de onde se autoexcluíram por se ter tornado viciado o ambiente e mal frequentado o espaço. Foram de esperança os discursos do PR, do presidente da AR e dos partidos de esquerda.
Do CDS, o partido onde cedo deixaram de caber Freitas do Amaral e Lucas Pires e onde o malogrado Amaro da Costa não teria lugar, sabia-se que não apreciava a Constituição de 1976, e deixou a impressão de preferir a de 1933, fiel a Paulo Portas.
O PPD de Sá Carneiro, Emídio Guerreiro, Mota Pinto, Fernando Nogueira e Rodrigues dos Santos, aviltado desde Durão Barroso, com a invasão do Iraque, e, depois de um PR salazarista em Belém e um inapto e ressentido PM em S. Bento, resiste à mudança com Passos Coelho e a restante tralha que Miguel Relvas e Marco António lá puseram. Por isso não houve surpresa no discurso de Paula Teixeira da Cruz, que sentiu na maioria de esquerda um “odor ao salazarismo mais bafiento”, decerto com a pituitária mergulhada no partido que Passos Coelho e Cavaco reduziram a cadáver, depois de lhe roubarem a alma social-democrata que lhe deu vida. Foi esse fedor que a deputada, desorientada nos aromas, atribuiu aos adversários.
São perigosos os tempos que se avizinham, em Portugal e no Mundo, mas há momentos que valem anos e dias que trazem ânimo. No último 25 de Abril não começou o futuro, mas findou um ciclo, inumados dez anos sombrios de Belém e quatro anos e meio de S. Bento.
Etiquetas: CBE
26.4.16
Sem emenda - A mentira mata!
Por António Barreto
O Governo não quer aprovar os
seus planos no Parlamento. Nem o Programa de Estabilidade (que antes se chamava
Estabilidade e Crescimento), nem o Programa Nacional de Reformas, uma versão
desenvolvida do documento vácuo que tínhamos conhecido há umas semanas. O
Governo entende, erradamente, que basta aprovar os seus planos, tão ou mais
importantes do que o orçamento anual, nas reuniões paralelas com o PCP e o
Bloco, após o que seguiriam para a União Europeia onde, com mais ou menos
dificuldade, tudo seria aprovado.
Como é evidente, tal visão das
coisas é pouco inteligente e nada democrática. As reuniões paralelas entre
aliados não substituem o parlamento. A aprovação dos programas a Assembleia, mesmo
que seja só com os votos dos aliados, dá força à posição do governo e do país.
Os cidadãos apreciam. A democracia funciona.
Ainda não se sabe se vai haver
voto formal ou não, nem quando. Mas é possível que tal aconteça. Pena é que
tenha de ser a oposição, sempre acusada de despeito, a insistir para que isso
se faça.
É verdade que, nestes
procedimentos, há um problema ainda não resolvido. Como fazer? Onde se deve
começar, em Lisboa ou em Bruxelas? Se os Programas forem primeiro aprovados em
Bruxelas, por funcionários, que deve fazer o parlamento nacional? Calar e consentir?
Ou recusar e criar um problema de todo o tamanho? Imagine-se então que os
programas são aprovados em Lisboa, no Parlamento, e só depois seguem para
Bruxelas. Se a União aprovar, não há problema, a não ser o da menoridade do
Parlamento nacional, pois as suas decisões necessitam de referenda. Mas se a
União não aprovar ou só o faça parcialmente, em que situação fica o Parlamento?
Má, seguramente. Nas condições de um governo maioritário e não endividado, as
soluções seriam encontradas com muita negociação e alguma diplomacia. Assim,
sem maioria mas com dívidas, o fim desta história será sempre negativo.
A não ser evidentemente que se
recorra à mentira, nova especialidade da política portuguesa. A exemplo do que
se tem passado com vários casos actuais, o Governo poderia mentir ao
Parlamento, à União e ao BCE. Com um pouco de sorte, poderíamos escapar por
entre as gotas de água.
É caso para perguntar: que se
passa com os dirigentes políticos portugueses? Raramente, na história recente
de Portugal, se chegou a um ponto como este, de mentira e calúnia! Nem durante
a revolução de 1975! O que se disse e fez a propósito do BPN, do BPP, do BCP,
do BES, do BANIF e agora do BPI, ultrapassa o conhecido e o tolerável. Foram
acusados de mentirosos um Presidente da República, três Primeiros-ministros,
outros tantos ministros das Finanças, o Governador do Banco de Portugal e o vice-presidente
do Banco Central Europeu, além de Comissários europeus, de banqueiros e
bancários. Quanto a deputados, estamos conversados: parlamentares de todos os
grupos acusaram e foram acusados de mentirosos.
O problema não é só de boas
maneiras. É também de informação aos cidadãos e de punição dos mentirosos. Mas
temos a infeliz certeza de que a política castiga mal a mentira. Tem sido
possível mentir na praça pública e ficar impune. Pior: é possível mentir numa
comissão de inquérito e nada acontecer.
O perjúrio em Portugal é
tolerado. Ou mesmo louvado. Um conhecido advogado afirmou um dia em público que
o “dever de qualquer advogado era o de mentir para defender o seu cliente”.
Ninguém, na magistratura, na Ordem, no Parlamento ou na universidade, reagiu.
Na política, não se pensa muito diferente. O êxito político justifica tudo.
Desculpa a mentira e o perjúrio.
A impunidade é, entre nós, uma
regra de comportamento. Um modo de vida. Com os conhecidos desastres dos
bancos, ficam impunes os desmandos dos políticos e dos banqueiros.
Mas a mentira mata! Sobretudo as
vítimas. Os cidadãos.
DN, 24 de Abril de 2016
Etiquetas: AMB
25.4.16
Sem Emenda - As Minhas Fotografias
Chegada de soldados da Guiné a bordo do Niassa – No Verão de 1974, nas docas da Rocha do Conde de Óbidos, este navio prepara-se para desembarcar umas centenas de soldados acabados de chegar da Guiné. É uma das últimas viagens de regresso de soldados daquela colónia, que será independente poucos dias depois, a 24 de Setembro. No cais, o ambiente era de grande emoção, mas emoção alegre, percebe-se porquê. Foram momentos inesquecíveis para os que chegavam, os que esperavam e os que assistiam. Não muito longe dali, começam a empilhar-se os primeiros contentores com os bens dos repatriados e retornados. O navio Niassa serviu a tropa portuguesa durante uns anos nas suas viagens para o Ultramar. Assegurava parte do transporte de soldados para a Guiné, Angola e Moçambique. Em Abril de 1974, duas semanas antes do 25, as Brigadas Revolucionárias fizeram explodir uma bomba a bordo deste navio. O rombo não foi grande. O barco partiu à mesma, logo na manhã seguinte. Já lá vão mais de quarenta anos!
DN, 24 de Abril de 2016
Etiquetas: AMB
24.4.16
Luz - Mensagens chinesas, no Intendente, em Lisboa
Clicar na imagem para a ampliar
Numa rua particularmente frequentada por Orientais, este “placard” serve para trocar mensagens comerciais de toda a espécie. Tem tudo, recados, “precisa-se”, “oferece-se” e “procura-se”. Pedi a um rapaz que me traduzisse alguns, disse duas ou três palavras, “coisas para vender”, mas não quis entrar em pormenores. E eu não percebi tudo… (2015)Etiquetas: AMB
21.4.16
Sem emenda - O Governo dos rapazes
Por António Barreto
Estes têm sido dias difíceis. Não
por cansaço, que ainda não é tempo para tanto. Mas por falta de perícia. E de
sabedoria. A remodelação de um ministro e dois secretários de Estado foi
desagradável. Não mais do que isso, mas suficiente para revelar desordem nos
espíritos.
O processo que conduziu à
demissão do Chefe de Estado-maior do Exército tresanda a política, oportunismo
e rivalidade. A posição do ministro ficou frágil.
A Educação parece calma, pois os
sindicatos entenderam que era melhor abrandar a fim de bater mais tarde. O
ministro não acerta, mas contenta os clientes. Ganha tempo, mas perde força.
Já se começam a sentir os efeitos
das mãos generosas do governo. Por um lado, subida nas sondagens. Não muito,
mas o suficiente para fazer sorrir. Por outro lado, o aperto financeiro.
Começam a desaparecer as “folgas”…
A questão das nomeações continua
viva. Há anos. Com todos os governos. Desta vez, com o Bloco e o PCP no radar,
será ainda mais complexo. Cargos para os camaradas surgem todos os dias.
Dirigentes seleccionados pela CRESAP já foram substituídos por decisão política
discricionária. São inéditos os ataques ao Banco de Portugal.
Foi insólita a designação,
nomeação e contratação do “meu melhor amigo há muitos anos” para tratar das
situações delicadas, da TAP ao BANIF e ao BES passando por Angola… Assim é que
se perpetua uma prática que conduziu à decapitação do Estado. Retirou-se-lhe a
capacidade técnica e científica e procura-se nos escritórios, nas agências e
nas empresas de consultoria os juristas, os advogados, os economistas e os
engenheiros à altura. O Estado não emagrece, perde a cabeça. E fica dependente.
As trocas de acusações entre o
Governo, os partidos, o Banco de Portugal, o Banco Central Europeu e a Comissão
da União Europeia já foram longe de mais e deixaram sequelas. A esta altura de
responsabilidades é impossível ficar impune e imune. Os acima nomeados já se
trataram de mentirosos… Nunca se viu uma tal guerra aberta e ácida que
enfraquece o país e a economia. É possível que a banca portuguesa não se venha
a recompor tão cedo! Já tínhamos um logo percurso de erros, aldrabices e
imperícia. Com a situação financeira internacional menos dramática, esperava-se
que fosse possível salvar alguma coisa da banca portuguesa ou manter os pilares
e as traves mestras de um sistema financeiro. É cada vez mais causa perdida.
O primeiro-ministro está
radiante. Acredita no seu talento negocial e naquilo a que os jornalistas
chamam há vários meses a sua grande habilidade, sem se dar conta de que é o
pior que se pode dizer de alguém. Está satisfeito com a suavidade do Presidente
Marcelo. Jubila com a cordialidade pacata do Bloco e a macieza do PCP.
Liderar um governo ou um país tem
exigências. Uma delas consiste na necessidade de ser ou ter algo mais do que
jeito para resolver problemas. A direcção política não se resume à habilidade
para tratar de conflitos. A negociação permanente com os partidos, parceiros e
grupos de pressão traz informação e traquejo, há mesmo quem lhe chame
democracia, o que não é a mesma coisa. Mas é errada a crença de que a liderança
resulta da negociação. É exactamente o contrário. A boa negociação resulta da
capacidade de liderança. Da inspiração. Da existência de uma política.
Das peças avulso de um puzzle não
sai uma imagem. A percepção da imagem é que vai ordenar as peças. Das azinhagas
não sai um percurso. É o objectivo que selecciona os caminhos, o fim que define
os meios. Ao contrário do que gostam de dizer os adolescentes românticos, o
caminho não se faz caminhando. É o destino que desenha o itinerário.
É provável que António Costa
venha a dizer aos colaboradores, aos membros do governo e aos apoiantes no
Parlamento: “Já que sou o vosso Primeiro-ministro, sigo-vos!”.
DN, 17 de Abril de 2016
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Sem Emenda - As Minhas Fotografias
A Apple em Barcelona
– Uma loja como esta poderia ficar em qualquer sítio do mundo, Lisboa, Xangai
ou São Francisco. É aqui ao lado, em Barcelona. Com mesas iguais, da mesma cor,
com disposição idêntica e com as facilidades de consulta aqui visíveis, já as vi
naquelas e noutras cidades. Eventualmente, numas há iPad e noutras iPhone ou
ambos. Em tempos em que tanto se festeja a diversidade e a diferença, há marcas
e produtos que insistem na uniformidade, na consistência de uma imagem e na
familiaridade que daí resulta. Em Barcelona, a operação publicitada era a de
lançamento de mais uma tablete, um iPad de último grito. A sede ficava bem no
centro da Praça da Catalunha, um dos sítios comerciais mais reputados da
cidade. Só era admitido um certo número de pessoas de cada vez. Para entrar,
era necessário esperar que alguém saísse. Lá dentro, apesar da multidão e das
filas de espera, era o silêncio. Na verdade, tratava-se de um lugar de culto…
DN, 17 de Abril de
2016
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