30.11.12

Ode (crítica) aos estivadores

Por Ferreira Fernandes
GOSTO dos estivadores. Eles falam sempre da estiva com um orgulho hoje raro no trabalhador pelo seu trabalho. Daí também o espírito de grupo. Os estivadores estrangeiros que ontem vieram cá apoiar não fizeram mais, aliás, do que pagar a palavra portuguesa que exportámos. 
Nos portos ingleses, americanos e do Canadá ainda se diz "stevedore", embora docker já seja mais usual. "Stevedore" também está associado a "homem musculado" e "desbocado". 
É certo que alguns dos nossos sindicalistas da estiva, ombros estreitos e óculos, mais parecem Arménios Carlos que não singraram, mas o culto do físico é-lhes próprio. E quanto a palavrões, comuns nos cais, agora que vieram para a rua limitaram-se a trazê-los com eles. 
Os petardos pertencem ao mesmo folclore barulhento, não me ralam. Gosto menos de quando baixam as calças e mostram rabos peludos, pose indigna de uma profissão que já deu um presidente da Finlândia, um prémio Nobel de Química, vários filósofos e o pai da capoeira brasileira. 
Ontem os nossos estivadores andaram a distribuir gerberas, flores simples, cuja espécie mais conhecida é a Gerbera cordata - se continuam diplomatas, enchem-me as medidas. Há um só porém. Entrei tarde para jornalista e com dificuldade, no meu tempo era profissão fechada, mas fiz-me, julgo, um jornalista razoável. Se os estivadores deixarem entrar para estivador quem queira e seja capaz de ser um estivador, até lhes perdoava os rabos peludos. 
«DN» de 30 Nov 12

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Apontamentos de Lisboa

29 Nov 12
Se o condutor do carro branco não tiver o pagamento "em dia" (mesmo que o tempo do parqueamento expire pelo facto de não o conseguir tirar dali) será implacavelmente multado pela EMEL - e é muito bem feito, para aprender que a lei é para se cumprir!

29.11.12

A Palestina nas Nações Unidas

Por Joaquim Letria
65 ANOS depois de terem recusado a partilha que a Assembleia Geral das Nações Unidas decretou, os palestinos pediram hoje que a sua Autoridade Nacional fosse promovida de entidade observadora para “Estado observador não membro”, a mesma situação de que desfruta o Vaticano.
Os palestinos contavam com o voto favorável de cerca de 150 nações entre os 193 estados membros, maioria confortável para desespero de Israel, onde a oposição acusa o governo de isolar cada vez mais a nação. Ao contrário do Conselho de Segurança, ninguém pode vetar na Assembleia Geral a petição dos palestinos de verem o seu Estado admitido como membro de pleno direito na ONU.
Para os palestinos, que carecem de condições essenciais dum Estado, a começar pela própria soberania, esta votação é meramente simbólica. Apesar da oposição veemente do governo de Israel e do seu aliado Barack Obama, esta poderia constituir uma das últimas oportunidades para relançar um processo que alcance a paz e a segurança entre os Estados de Israel e da Palestina.
Israel teme que os palestinos possam denunciá-los, face à justiça internacional, pela violação de direitos na ocupação e em certas acções militares, além de poder ser remetida para as fronteiras de 1967, as quais hoje recusa aceitar. O presidente da autoridade palestina, Mahmud Abbas, declarou-se receptivo a negociações sem condições prévias, o que torna ainda mais condenável que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Liebermann, tenha ameaçado derrubá-lo das suas funções perante um voto positivo, ao mesmo tempo que Obama ameaça suspender as ajudas aos palestinos, face àquilo que mais não é do que um avanço no sentido da paz no Médio Oriente.
Um dos erros que Israel cometeu foi não ter percebido que Arafat – cujo cadáver foi exumado ontem – havia sido o travão da islamização do caso da Palestina, agora representado pelo Hamas. Hoje, a demografia palestina não garante a segurança de Israel, como se viu nos últimos dias em mais esta crise com o Hamas, em Gaza. 
Bom seria que este mês de Novembro marcasse o fim do caminho de violência e morte traçado desde 1947, de modo a que a História pudesse regressar ao ponto de partida que um grave equívoco dos palestinos e do mundo árabe daquela época, mais a intransigência insuportável de Israel bloquearam por completo até aos nossos tempos.

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Esta, aquela e a outra

Por Helena Matos
DE REPENTE, o antigamente denominado pronome demonstrativo esta entrou na agenda política. Os emissores (quando o Valete encontrar o Chomsky no tal túnel há-de perguntar-lhe se esta é a formulação mais correcta) pronunciam esta com particular ênfase: declaram esta política, às vezes também esta Europa, e depois concluem falhou.  Esta teogonia (ou mais correctamente mistério da fé) tem como dogma o esta.
Os crentes do esta política vivem na convicção profunda que Passos Coelho é o único político do mundo que se obstina em não experimentar aquela política de crescimento que nos poucos segundos em que deixam de dizer esta, esta apresentam como a solução para os nossos males e que, vá lá saber-se porquê, quiçá por  tara, perfídia ou obediência ao 4.º segredo de Fátima, Passos não aplica em Portugal.  
Basta dizer esta, naquele tom similar ao eu acredito, para que o emissor-prosélito fique revestido de aura de santidade e sobretudo  dispensado de explicar o que defende em alternativa ao esta
Tendo tido nós anos e anos daquela, e acabando a falhar como falhámos - o pedido de ajuda externa foi feito sob risco do país falir  -, o que defendem os fiéis do  esta política  falhou? Defendem aquela que tinha tanta mensagem, tanta visão, tanta sensibilidade, tanta modernidade e que nos trouxe à falência? Ou defendem outra?
O interessante nos pronomes é que eles estão em vez de nomes. Logo, é altura de se começar a dizer o nome que está atrás dos pronomes. Assim fica tudo mais claro.
Blasfemias.Net de 29 Nov 12

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Estamos na época do ano em que, quando os jornais e revistas não sabem o que hão-de escrever, publicam "sugestões para o Natal". Pois bem;  se me permitem, aqui fica a minha.
Além disso, se alguém já leu o livro e o quiser comentar...

A nossa falta de jeito para o crime

Por Ferreira Fernandes
SE BEM percebi, uma inspetora da PJ, tendo programado um crime de morte, deixou o telemóvel em casa, para que as antenas não lhe seguissem o percurso, e do Porto para Coimbra não foi pela A1, para as portagens não a denunciarem. Tudo bem, serviu-se dos saberes profissionais. Depois, meteu 13 balázios na avó do marido com uma 9mm que roubara a uma colega, pistola de calibre das distribuídas aos inspetores da PJ, e deixou no local do crime as cápsulas, de um lote que, seguido, foi dar à PJ-Porto. Para mais, nem arrombou a porta da morta nem a casa ficou desfeita simulando um roubo. 
Enfim, tudo mal, a inspetora apontou para si o crime. 
A confirmar-se tudo isto, atazana-me esta dúvida: o que tramou a inspetora foi ela conhecer truques que um bom polícia conhece ou ela foi traída por mostrar tanta tolice que só podia ser de um polícia português? 
Digo isto porque a tolice à portuguesa começa a ser uma marca do nosso ADN. Por isso saúdo as minhas duas colegas do Público que acabaram o seu texto de ontem sobre o caso da inspetora com uma autoironia soberba. Sobre os repórteres que dão de barato os bitaites de vizinhos de crimes, escrevem elas dessas testemunhas: "Aos jornalistas dizem que se quiserem que passem outra vez à noite, depois dos telejornais. Nessa altura já saberão mais do caso." 
O jornalismo português, sobretudo a reportagem, precisa mais de profissionais assim, que saibam desmontar a realidade do reality show
«DN» de 29 Nov 12

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«A Luz da Cal»

Por A. M. Galopim de Carvalho
“A LUZ DA CAL” é o título de um belo livro com texto de Urbano Tavares Rodrigues, e fotografia de António Homem Cardoso: Evoca as casas caiadas de branco dos campos, aldeias, vilas e cidades do Alentejo. Para haver cal é preciso haver caleiros e nós, em Évora, conhecíamos um que, não só a fabricava como a vendia de porta em porta. Todos os anos, umas semanas antes da Páscoa, o Júlio percorria as ruas da cidade numa carrocita puxada por uma mula e coberta por um toldo, servindo uma clientela sempre certa. (...)
Texto integral [aqui]

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A Escalada Beata e as Agressões Religiosas

Por C. Barroco Esperança
ENQUANTO os judeus ortodoxos se agarram à Bíblia e à faixa de Gaza, os muçulmanos debitam o Corão e se viram para Meca e os cristãos evangélicos dos EUA ameaçam o Irão e a teoria evolucionista, os conflitos religiosos e o terrorismo regressam à Europa.
A emancipação do Estado face à religião iniciou-se em 1648, após a guerra dos 30 anos, com a Paz de Vestefália, e ampliou-se com as leis de separação dos séc. XIX e XX, sendo paradigmática a lei de 1905, em França, que instituiu a laicidade do Estado. (...)
Texto integral [aqui]

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28.11.12

A crise pode ser boa oportunidade

Por Ferreira Fernandes
APANHA-SE com este Orçamento no lombo, espera-se em janeiro pelo encolhido recibo de ordenado (quem ainda o tiver) e dá-nos inevitavelmente para o queixume. É por isso que manchetes como a de ontem do Jornal de Notícias são um bálsamo: "Manifestações safam negócio de autocarros." O texto explica: no sector rodoviário, as empresas de aluguer ocasional de autocarros são as únicas a sorrir com a crise. Esta leva a manifestações, que vão até Lisboa protestar e os autocarros alugados andam numa roda-viva... Sorte a delas, das empresas, mas a lição a tirar da coisa é mais vasta. Um leitor na caixa de comentários do jornal topou: "Enquanto uns choram, outros vendem lenços." 
O Governo aperta, as manifestações desatam-se e, upa!, os donos da camionagem faturam. É uma forma de sair da crise, certamente melhor do que o marasmo. E há um lado, digamos, dialético desta história que me encanta. As manifestações são feitas para mostrar o lado perverso das políticas mas, ao mesmo tempo, alugando autocarros, tiram do sufoco um sector económico. Vítor Gaspar, graças ao empenho de Arménio Carlos, pode ficar na História como o político que mais fez pelas empresas de aluguer dos autocarros. Não se veja nisto nenhuma cumplicidade, que não há, mas tão só ironias da vida. Quanto ao mais, aquela manchete tem razão em ser esperançosa. Há improváveis nichos de mercado que a crise destapou: vender máquinas para fazer furos nos cintos é outro. 
«DN» de 28 Nov 12

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"Como é gasto o nosso dinheiro" ou "Como, em Lisboa, os peões são acarinhados"

Av. Frei Miguel Contreiras
Parece que o "frei" que deu o nome a esta avenida nem sequer existiu;  mas esse absurdo não ofusca outro: a ciclovia lá existente (que começou por ser preta e foi repintada na cor que aqui se vê - como se fosse esse o problema para os ciclistas não a usarem...) não foi feita, apenas, à custa de dezenas de lugares de estacionamento (pago). Foi-o, também, à custa dos peões, pois o passeio, começando por ter 4 metros de largura, vai estreitando até chegar a desaparecer totalmente!
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Actualização
Esta foto, tirada hoje mesmo, mostra como a questão se pode colocar exactamente ao contrário: dado que o piso da ciclovia é infinitamente melhor do que o do passeio (que é irregular, escorregadio e porco), a sua construção acaba por ser um bom serviço prestado aos peões - nomeadamente os que têm de empurrar carrinhos de bebés e os que (como esta senhora) têm dificuldades de locomoção.

Notícia das servidões

Por Baptista-Bastos
O SR. SELASSIÉ, cujos patronímicos lembram os do antigo imperador da Etiópia, deu uma entrevista a jornalistas solícitos e zelosos, como se fosse o procônsul destoutro império. Se calhar é, e nós não queremos acreditar. Há, neste triste assunto, a absurda qualificação atribuída a um funcionário europeu, e a subserviência exasperante de quem devia respeitar, seriamente, as funções de jornalista, escalonando as prioridades de noticiário. Mas as coisas, neste país, estão como estão. A expressão da mediocridade coincide dramaticamente com as características de quem a promove. E o servilismo tomou carta de alforria. É um espectáculo deplorável assistir-se ao cortejo de subserviências quando os escriturários da troika vão ao Parlamento ou aos ministérios.
Somos tratados com displicente condescendência. Afinal, numa interpretação lisa e, acaso, aceitável, somos os pedintes e eles os curadores dessa nossa triste condição. A ela temos de nos sujeitar. Selassié produz afirmações tão extraordinárias quanto ignaras acerca do que somos, de quem somos e de como havemos de ser. O pessoal do Governo demonstra uma felicidade esfuziante com o convívio, e até Paulo Portas o admite, embora pouco à vontade. Aliás, não se percebe muito bem até onde o presidente do CDS vai suportar, com frustrados sorrisos, os permanentes vexames a que o submetem.
As declarações do sr. Selassié, que, na normalidade de situações políticas, nem sequer devia ser ouvido, só não são injuriosas porque imbecis. Já a senhora Merkel, num despudor acarinhado pelo reverente Passos Coelho, afirmara o íntimo e estremecido desejo de ver os portugueses muito felizes. Os comentadores do óbvio, emocionados, calaram fundo este auspício.
O povo, a nação, o próprio conceito de pátria estão subalternizados pelo comportamento desprezível de uma casta de emblema republicano na lapela, que passa ao lado das indignações, dos protestos, da miséria e da fome dos outros. A frase famosa de Passos Coelho, "custe o que custar", para justificar os desmandos da sua política, configura uma ideia de confronto, absolutamente detestável. A violência do discurso do poder e a prática governamental reenviam, na ordem da democracia política, para algo que excede o funcionamento processual. Parece que Pedro Passos Coelho incita à cólera e estimula o conflito, acaso para "fundamentar" e "legitimar" ulteriores acções repressivas. A indiferença da sua conduta não se harmoniza nem combina com o ideário democrático, sobre o qual tripudia com desprezo e arrogância. Este homem não nos serve, não serve o País, nada tem a ver com algo que nos diga respeito, é incompetente e sobranceiro.
Quando estrangeiros como Angela Merkel e Abebe Selassié dizem o que dizem, com a aquiescência de um Governo mudo, há qualquer coisa de podre na sociedade. 
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
«DN» de 28 Nov 12

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Apontamentos analfabéticos

Lisboa, Rua Marquesa de Alorna

27.11.12

As saudades da casa

Por Alice Vieira
E DE REPENTE a casa voltou a ficar silenciosa.
De um momento para o outro, os objetos regressaram todos ao seu lugar habitual, o piano fechou-se, deixou de haver sapatos largados pelo meio da casa de banho e dos quartos, acabaram-se as risadas à meia noite (“meninos! Já deviam estar a dormir há que horas!”), o frigorífico readquiriu o seu ritmo pacato e parou de ser esvaziado de cinco em cinco minutos, a despensa readquiriu o seu ar honesto e saudável, sem pacotes de batatas fritas nem garrafas de coca-cola, os livros de histórias encontraram de novo o seu lugar na estante, os “Simpsons” e a “Family Guy” desapareceram dos serões televisivos (...)
Texto integral [aqui]

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Os pinta-paredes (26)

Tendo em conta o princípio segundo o qual se houver uma "mensagem", já os grafitos são aceitáveis, este é uma maravilha, pois expressa várias: Doidos, Mafia e Ranho parecem bem escolhidos.

Um dia histórico

 Por Joaquim Letria
TERÇA-FEIRA, dia 27 de Novembro de 2012, um dia histórico: os deputados do PSD e do CDS juntaram-se e aprovaram o contrário daquilo que prometeram aos eleitores que os elegeram: não aumentarem impostos, não reduzirem salários nem confiscarem pensões.
Em campanha para as eleições, alinhados atrás deste primeiro-ministro, todos eles nos prometiam que os trabalhadores, os funcionários públicos, os pequenos empresários e os pensionistas podiam ficar descansados. Ninguém seria prejudicado, para além dum certo recato, proporcionalmente compartido, que naturalmente todos sentíamos justo que houvesse, depois do socrático regabofe socialista e do estampido dos boys & girls deles.
Afinal, hoje, trabalhar não vale a pena, os impostos levam tudo, trabalhadores, empresários e pensionistas são espoliados pelo conto do vigário de políticos que, afinal, apoiam e aprovam o saque com que este governo dá cabo dos remediados, aos quais pomposamente chamam classe média.
Este novo Orçamento é para acabar com o resto. O IVA é uma espécie de rajada que abate o consumo e afunda comércio e indústria. O IMI vai ser o golpe de misericórdia de quem julgava sobreviver. E os Boys & Girls destes juntam-se aos Boys & Girls dos outros, todos a chilrear como autênticos bandos de cucos milharucos à solta, a debicarem o que resta depois de quem sabe trabalhar ter ido para o estrangeiro, ganhar a bucha.
E pergunto eu, que não percebo destas coisas: aquele senhor que mora em Belém pensará que esta maioria de deputados não violou o mandato que o povo lhe deu e ainda tem legitimidade democrática!? É homem para pensar isso... Vai uma aposta!?

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Apontamentos de Lisboa


Av. de Paris
Quem diria que este trambolho, que mais parece um contentor das obras, é (ou foi...) um restaurante?

O futuro está no repartir

Por Ferreira Fernandes
NO PASSADO fim de semana, Miranda do Douro chamou as atenções internacionais por causa do encontro de mirandeses no adro da Catedral para marcar um referendo sobre a independência. A Sé Catedral mirandesa não teve um arquiteto tão famoso como Gaudí, mas também a Sagrada Família não tem o Menino Jesus da Cartolinha. O encontro no adro levou a especulações que ultrapassaram o âmbito meramente político: o Clube de Futebol Mirandês, caso o referendo vingue, voltaria a jogar na distrital da Associação de Futebol de Bragança ou ingressaria na Liga Espanhola, ao lado do Real Madrid? E Duarte Lima pediria asilo à cidade da sua infância? 
À parte essas dúvidas colaterais, uma eventual independência de Miranda do Douro é encarada pelas instâncias internacionais com naturalidade. Por um lado, a dívida da região mirandesa é muito inferior à do resto de Portugal. Por outro, existe uma forte unidade nacional linguística, que junta 16 das freguesias da região, de Dues Eigreijas a Bila Chana de Barceosa (a que Lisboa ainda chama Duas Igrejas e Vila Chã de Braciosa). Acresce que com o precedente aberto a 17.ª freguesia, Sendim, unida à volta da sua língua, o sendinense, também poderia aceder à sua própria independência. 
Saúde-se esta tendência moderna que, por ironia, acontece quando o primeiro-ministro inglês, num ato retrógrado, escolheu ontem para presidente do Banco de Inglaterra um canadiano. 
«DN» de 27 Fev 12

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26.11.12

Espanha ainda mais perigosa

Por Ferreira Fernandes
A POLÍTICA dá-se mal a fazer bluff. Com este, mesmo sem sorte, ganha-se ao póquer. Na política, não. 
Artur Mas era presidente regional da Catalunha e líder do CiU, partido conservador e com tradição de negociar com Madrid. Aconteceu, porém, aquela borboleta da crise bancária que bateu demasiado as asas nos Estados Unidos, exportou o furacão global e este também chegou a Barcelona. Então, a CiU (terceira força política nas Cortes de Madrid), que ainda no ano passado negociava a ida de membros seus para o Governo do PP, deu para espingardar numa de independentista. Artur Mas dissolveu o Parlamento catalão, chamou a eleições para ontem, declarando querer uma maioria absoluta (antes tinha 62 deputados, precisava de 68) para propor um referendo de independência. 
Que acontecera a Mas? A febre da crise que já endoidou mais do que um político europeu: a bancarrota da Catalunha e os necessários cortes sociais a fazer. Provavelmente, Mas só queria fundo de maneio eleitoral para chantagear Madrid. Fugiu para a frente e deu-se mal: ontem, perdeu deputados e só ficou com 50. 
Então, tudo na mesma aqui ao lado? Errado, se o eleitorado fez manguito ao nacionalista da tanga, plebiscitou o original: o radical independentista ERC duplicou os votos e tornou-se ontem a segunda força na Catalunha. Nem Mas nem meio mas, afinal foi ERC... 
Moderados armados ao pingarelho acabarem tosquiados é o que há de mais comum na História.
«DN» de 26 Nov 12

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Apontamentos de Lisboa

A foto de cima (in «DN» de ontem), tirada a propósito do que sucedeu no passado dia 14 (em frente à A.R.), não precisa de grandes legendas. Ora, no seguimento do que se sabe, a calçada foi refeita, mas houve quem sugerisse que viesse a ser substituída por um tipo de pavimento que não pudesse ser arrancado - cimento? 
Pois bem, já existe uma solução de compromisso, que pode ser vista em muitos lados (como na estação do metro de Entrecampos ou na de Santa Apolónia): calçada portuguesa cimentada...

25.11.12

Branca de Neve procura emprego

Por Alberto Gonçalves
É PROVÁVEL que uma hipotética saída da União Europeia agravasse ainda mais a nossa situação económica. Mas talvez melhorasse a nossa saúde mental. No meio de uma crise que coloca a sua própria existência em risco, o Parlamento Europeu dedica-se a demonstrar que não se perderia muito: não satisfeito por possuir uma absurda Comissão dos Direitos da Mulher e Igualdade dos Géneros, o PE permite que a dita comissão se alivie de palpites acerca de matérias que sempre os dispensaram.
Até agora, essa destravada fraternidade tentava interferir no mundo real e entretinha-se a propor quotas em empresas e delírios assim. Agora, soube por Helena Matos (blasfemias.net), a referida Comissão avança para o mundo da ficção e quer abolir das escolas ou no mínimo temperar a influência das obras literárias infanto-juvenis que atribuem papéis "tradicionais" aos elementos masculinos e femininos da família. Livrinho em que o pai saia para o trabalho e a mãe fique a cuidar da prole irá, se a coisa vingar, directamente rumo ao index dos eurodeputados.
O index será vasto. Não estou a ver nenhum clássico da literatura do género em que a personagem do marido passe os dias a mudar fraldas e a da esposa assuma um lugar de relevo na sociedade. Mesmo na "Branca de Neve", que está longe de representar um agregado familiar retrógrado (conheço pouquíssimas senhoras que coabitem em simultâneo com sete cavalheiros, para cúmulo de estatura alternativa), a verdade é que a heroína trata das arrumações caseiras enquanto os seus sete parceiros labutam nas minas. E quanto a Huckleberry Finn, criado na ausência da mãe e na presença de um pai alcoólico, erradica-se ou não? E os órfãos de Dickens? E, uns degraus abaixo, os pobres sobrinhos sem tia da Disney? Além disso, a Comissão dos Direitos da Mulher e Etc. é omissa no que toca às fábulas. Se, por exemplo, é indesmentível que, ao invés da cigarra, a formiga trabalha como uma desgraçada, nem Esopo nem La Fontaine sugerem que a dita seja fêmea e unida pelo matrimónio a um formigo que colabora nas tarefas do lar e respeita o "espaço" da companheira. Que obras, em suma, corresponderão aos requisitos de igualdade? Há uma imensidão de dúvidas.
Por sorte, há um PE recheado de certezas, que reivindica à Comissão Europeia legislação capaz de regulamentar (um verbo predilecto) o equilíbrio conjugal nas histórias para petizes - no papel e também no cinema, na televisão, na publicidade e onde calhar. O argumento (digamos) é o de que os "estereótipos negativos de género" minam a "confiança" e a "auto-estima" das jovens, limitando as suas "aspirações, escolhas e possibilidades para futuras possibilidades [a repetição não é gralha] de carreira". Quem fala assim não é gago: é semianalfabeto na medida em que escreve com os pés, arrogante na medida em que submete a liberdade criativa à engenharia social e um bocadinho maluco na medida em que confunde a fantasia com o quotidiano.
Não tenho opinião sobre os modelos imaginários que devem orientar as criancinhas. Em compensação, parecem-me evidentes os modelos palpáveis de que as criancinhas devem ser protegidas a todo o custo - a menos, claro, que os pais lhes desejem um emprego em Bruxelas, a incomodar o próximo para entreter o ócio e realizar uma vocação. 
«DN» de 25 Nov 12 (1ª parte)

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Os pinta-paredes (25)

Na simpática Praça Pasteur, em Lisboa, um esforçado trabalhador ao serviço da Junta de Freguesia tenta que a limpeza que está a fazer não seja pior do que a borrada.
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Actualização:
 Acabou por ficar assim...

Agora já podem concordar

Por Helena Matos 
«Um cônjuge que mate o outro pode à mesma ser herdeiro da vítima e ainda receber uma pensão de sobrevivência da Segurança Social devido a uma lacuna da lei que as Mulheres Socialistas criticam, defendendo uma alteração legislativa “urgente”. 
"Isto não pode acontecer. É perverso, quase imoral. O homicida pode ser herdeiro legal do cônjuge que matou e ainda receber uma pensão de sobrevivência”, alertou Catarina Marcelino, presidente das Mulheres Socialistas (MS), em declarações à Lusa.» – Quando em 2009 a propósito desta morte escrevi sobre este assunto isso foi visto como uma perfídia não sei se liberal se de direita reaccionária. Felizmente que agora as Mulheres Socialistas pronunciaram-se sobre o assunto e toda a pátria vai estar de acordo sobre o assunto.
In Blasfemias.Net

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Os grandes domínios da litosfera (3)

Por A. M. Galopim de Carvalho
O DOMÍNIO oceânico é mais restrito do que o que, em termos geográficos, se entende por oceanos. Corresponde, grosso modo, às bacias oceânicas que terminam, como se sabe, nas vertentes ou taludes continentais. Estão, pois, fora deste domínio os fundos das plataformas continentais. Com base em dragagens, perfurações (sondagens), e em colheitas efectuadas com submersíveis tripulados ou roborizados (pela utilização do ROV, sigla de Remote Operating Vehicle), dispomos hoje de um modelo consensual do domínio oceânico. (...)
Texto integral [aqui]

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"Notícias, sim, mas não tantas!"

Por Ferreira Fernandes
UMA PESSOA ao deitar-se promete: "Amanhã vou ao país vizinho." E vem o amanhã, que é hoje, e dá-se conta que as declarações simples já não são o que eram: mas a qual dos países vizinhos? 
As eleições de hoje abrem caminho a uma Catalunha e a um País Basco independentes, a uma República das Canárias e uma Galiza a pedir-nos adesão. E esta última a trazer outras reformulações: como explicar ao minhoto que uma vez foi a Vigo comer marisco que, daqui a uns tempos, não, ele nunca foi ao estrangeiro? 
Estas eleições catalãs, com todas as reviravoltas que anunciam, não são senão mais uma bizarria, da catadupa dos tempos recentes. Aliás, são tantas as grandes mudanças que este terramoto maior - sim, é isso que está a acontecer aqui ao lado - já nos deixa indiferentes, como as anuais cheias devastadoras deixam os camponeses do Bangladesh. 
Em 1975, Freitas do Amaral foi a um encontro conservador na Áustria e contou uma boutade. Que nas ruas de Lisboa os anarquistas empunhavam este cartaz: "Anarquia, sim, mas não tanta!" Mas ainda não tínhamos visto nada. Os americanos fora das Lajes e das equipas de básquete de Aveiro, Portugal fora do Festival da Eurovisão, a mudança da nossa moeda, não em euforia mas como condenação, o fim a prazo curto das reformas e até a Margarida Rebelo Pinto, palavras dela, a ter de fazer "um downsizing do meu lifestyle"... 
"Notícias, sim, mas não tantas!", parecem gemer os nossos jornais moribundos. 
«DN» de 25 Nov 12

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Luz - Belém, Igreja da Natividade, 2012

Fotografias de António BarretoAPPh

 Clicar na imagem, para a ampliar
Duas irmãs orientais diante de um azulejo com orações e indicações práticas na mesma língua. Tenho vergonha de ainda não ter decifrado a língua do painel e a nacionalidade das irmãs. Aquela igreja fica perto de Jerusalém, em Belém, na Palestina, isto é, na Jordânia, ou antes na Cisjordânia, quer dizer, por agora, em Israel! É um sítio mágico de peregrinação. Gente de todo o mundo, de chineses a etíopes, de índios americanos a bolivianos, de russos a brasileiros, de tudo havia por ali. O sítio é feio, o urbanismo horrendo, o conforto inexistente, as filas de espera monstruosas, a falta de água absoluta, as vigarices dos mercadores dos templos mais que muitas, o barulho dos autocarros insuportável, o pó intolerável, as facilidades de banho pouco recomendáveis... Mas lá que o sítio é mágico... Mesmo para um agnóstico!

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24.11.12

Os pinta-paredes (24)

Ah!, com "mensagem" é outra coisa!

Apontamentos de Lisboa

As fotos falam por si, e mostram o que sucede a "quem torto nasce";  e nem sequer falta o requinte da fita de protecção ali colocada - que, pouco depois, caiu e assim se mantém há semanas (a foto de baixo é desta manhã). 
O facto de isto se passar quase à porta da Assembleia Municipal de Lisboa é... - cala-te boca! 
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Actualização:
3 Dez 12

Duas irmãs, dois destinos

Por Ferreira Fernandes 
O JORNAL O Globo noticiava ontem um documentário sobre Olinda Miranda. São raras as existências que precisam de mais prova de vida que esta Olinda. Ela é a contraluz da mais feérica brasileira: a sua irmã Carmen. 
Nascem ambas em Marco de Canaveses, Portugal, onde a cama e a casa de Carmen estão assinaladas mas não as de Olinda. Juntam-se ao pai, barbeiro no Rio de Janeiro, com um ano (Carmen) e três (Olinda). Vão tornar-se duas bonitas adolescentes e com gosto de cantar. Mais bela e com melhor voz, Olinda, segundo Ruy Castro, o grande biógrafo de Carmen. Aos 17 anos, esta teve uma foto publicada em revista, aos 20 gravou os primeiros sambas e aos 21, em 1930, já era "a maior cantora brasileira" - uma carreira que a levaria a Hollywood, com filmes com orquestras de Benny Goodman e Xavier Cugat. 
Mas volto à década de 1920, que viu despontar a estrela. Copacabana ganhava o seu hotel Palace, construía-se o Cristo no Corcovado, as adolescentes descobriam a telefonia e namoravam os remadores do Flamengo. Só mais tarde uma marcha lhe chamaria Cidade Maravilhosa, mas o Rio já o era. Pois, aí, aos 18 anos, Olinda ficou tuberculosa. Os pais mandaram-na para cá, para o sanatório do Caramulo. Fazem ideia do que era o frio Caramulo, anos 20, sem família? Olinda morreu lá, aos 23. 
Entretanto, Carmen "o que é que a baiana tem" Miranda, lantejoulas, ananases, Copacabana, Hollywood... 
O documentário deveria chamar-se "Não é Justo". 
«DN» de 24 Nov 12

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23.11.12

Os pinta-paredes (23)

Av. Almirante Reis
Segundo me diz quem esteve recentemente em Nova Iorque, a grafitagem dos camiões, nessa cidade, acabou quando os camionistas resolveram tomar em mãos (literalmente...) a resolução do problema.
Deixa-se à imaginação dos leitores o que é que eles fizeram, apenas com a 'dica' de que, ao que parece, a 'limpeza' foi eficaz.

Revisionismos não, está bem?

Por Helena Matos
«O presidente do Sindicato dos Jornalistas, diz que terão de ser destruídas as imagens não editadas que possam ter chegado às mãos da polícia sem a autorização dos repórteres.» - Tão grave quanto a possibilidade de as imagens não editadas terem sido visionadas por elementos estranhos à edição sem se atender aos procedimentos legais é pretender destruí-las para que elas não sejam vistas.
As imagens foram pagas pelos contribuintes portugueses que também pagam o Arquivo da RTP. É nesse arquivo que as imagens devem ser guardadas definindo-se quando poderão ser visionadas como qualquer outra peça do arquivo.
In Blasfemias.Net

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Os pinta-paredes (22)

A propósito de "má imagem" (do título da crónica anterior)
Zona histórica de Lisboa - 21 Nov 2012

A má imagem que dá dar imagens

Por Ferreira Fernandes
O QUE SÃO imagens brutas? São as feitas numa manifestação de pedradas (ou numa exposição de rosas) e que servem ao jornalista televisivo para, escolhendo umas e afastando outras, contar uma história. O que o público vê é o que o jornalista considerou que devia ser público. As outras imagens, as rejeitadas, são como o meu caderno de apontamentos: leitor, você não tem nada com isso, nem que seja polícia. 
Passemos à atualidade. 
Alberto da Ponte, ex-administrador da Sociedade Central de Cervejas, é presidente da RTP. Perante a hipótese de imagens brutas terem sido cedidas pela RTP à PSP, ele considerou, bem, que essa cedência tinha "consequências nefastas para a credibilidade e idoneidade na produção informativa da RTP". 
Entretanto, Nuno Santos, diretor de Informação da RTP, demitiu-se. Santos disse que ele não dera autorização para a cedência daquelas imagens. E garantiu que "nenhuma imagem saiu das instalações da RTP". Afirmações que não descartam 
1) que alguém da sua direção aceitou dar as imagens e que 
2) a PSP tenha ido à RTP para as visualizar. 
Ora, é de crer que a PSP tenha feito isso: ontem, soube-se que pediu o mesmo à TVI. E a TVI fez o que devia, disse: não. 
Um ex-cervejeiro, recém-chegado à RTP, entendeu os deveres dos jornalistas, mas não estou certo que o diretor da RTP que mostrou as imagens à PSP perceba de malte. Certo é que este não soube ser jornalista. 
Lamento que a minha profissão perca nessa comparação.
«DN» de 23 Nov 12

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Apontamentos de Lisboa

O que aqui se vê (no Largo da Mouraria) é perfeitamente legal, pois o acesso a certos veículos (nomeadamente os da limpeza urbana) está autorizado. De qualquer forma, faz-me alguma confusão ver camionetas da autarquia a contribuírem para a degradação duma bonita calçada...

Urgentes paliativos!

Por Joaquim Letria
HOUVE tempos, durante a ditadura, em que os jornais não podiam dar notícia de suicídios. Quando os jornalistas tentavam passar essa informação, a censura cortava. Dizia-se que era para que não se pensasse que havia gente infeliz naquele regime e com aquela vida. Mas acredito, também, que fosse para não servir de exemplo, na medida em que os suicídios, ainda hoje, parecem ser coisa contagiosa.
Para darem a entender que a morte dum fulano tinha sido consequência dum suicídio, os jornalistas escreviam, então, que o defunto tinha sido vítima dum seu “tresloucado acto”. Os psiquiatras explicavam que o conhecimento público de suicídios sugeria pessoas com angústias extremas, ou com fortes desequilíbrios mentais, que daquele modo encontravam saída para os seus problemas.
Escreveu Plínio que “entre as misérias da nossa vida, o suicídio constitui o mais apreciado dom que Deus concedeu ao homem”. Diz agora o economista francês Jean Paul Fitoussi, relativamente à crise, que “ as leis da economia são impiedosas e é preciso que nos adaptemos a elas, reduzindo as protecções de que ainda dispomos. Se vós quereis enriquecer, deveis aceitar previamente uma maior precariedade. Este é o caminho que vos levará ao futuro”.
Em meu entender, o que mais falta é a sustentabilidade moral do sistema. Portugal está atrasado a corrigir os seus condicionamentos sociais e económicos, a sua estrutura jurídica ultrapassada e anacrónica, resultado da totalmente desperdiçada década de 90. Uma das suas condicionantes negativas é sermos um país de proprietários e não de arrendatários, entre outras razões porque o mercado do crédito correspondeu à ideia patrimonial da sociedade portuguesa.
Hoje, para muitos portugueses, perder a casa é perder a identidade. Daí não termos dificuldades em entender o que levou aquela espanhola a saltar pela janela e matar-se durante a execução da acção de despejo do seu apartamento.
Por estas últimas razões, é urgente criar um paliativo a muitas situações dramáticas que a crise económico-financeira está a criar. Portugal não pode continuar, por muito mais tempo, numa textura psicológica tão tensa, tão crispada e instável como a que estamos a viver. É urgente criar válvulas de escape que aliviem a pressão que aumenta constantemente, ameaçando a ruptura completa.

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22.11.12

Apontamentos de Lisboa

Esta horta urbana, existente na Rua dos Bacalhoeiros, já aqui foi referida várias vezes por configurar um inteligente aproveitamento do facto de os canteiros das árvores não serem limpos.
Ontem, passei por lá novamente, e constatei que só se mantém "activo" um deles, com tomates e pimentos - poucos e enfezados. Mas, vendo bem, isso não é grave, pois já passou a época das sardinhadas naquela zona.

A revolta de um simpatizante

Por Ferreira Fernandes
JÁ HOUVE tempo em que me ria alto demais ao ler Les Aventures de Dieu (As Aventuras de Deus), do satírico Cavanna; hoje, a rir-me, seria olhando para o lado para não ofender alguém. 
Não sou católico nem crente em Deus, mas vivo bem com quem acredita. 
Bento XVI acaba de lançar um pequeno livro sobre, como diz o título, A Infância de Jesus. À dúvida sobre a virgindade de Maria ("Jesus foi concebido por obra e graça do Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria?"), o Papa responde: "Sim, sem dúvida." 
Nem se me aflora um sorriso. Respeito as crenças dos outros logo que não me atropelem, e as opiniões não atropelam. Aquele "sim, sem dúvida" sobre um facto de que eu duvido, não é só que não me incomoda (é mais do que a minha tolerância que é interpelada), tem de mim o sincero apoio para que o Papa o diga. Aliás, ele devolve-me a boa vontade colocando o assunto num terreno, o da fé, que não é o meu. Ajuda-me a retirar-me da discussão. 
Há, no entanto, um pequenino ponto no novo livro que me incomoda. Bento XVI antes de o ser já era Joseph Ratzinger, reputado teólogo, e gosta de colocar as coisas em alturas a que não chego. No livro diz que na cabana onde nasceu Jesus "não havia animais." Nem burro, nem vaca, pois. A minha corriqueira crença - dessas sem epifanias nem êxtases mas sensível - sente-se ferida. E não aceito. Nos meus Natais e presépios, de simples simpatizante, continuará a haver a vaquinha e o burro. 
«DN» de 22 Nov 12

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Os grandes domínios da litosfera (2)

Por A. M. Galopim de Carvalho
O DOMÍNIO das cinturas orogénicas recentes é particularmente activo em termos de magmatismo (plutonismo e vulcanismo) e de tectónica compressiva. Reúne as cadeias montanhosas (ou orógenos) recentes, os sistemas de arcos insulares e certos mares interiores. Um dos tipos de cadeias montanhosas recentes reúne as localizadas nas margens dos continentes, pelo que se designam por pericontinentais ou pericratónicas, dando origem à crosta recente, ou jovem, acrescentada à crosta continental mais antiga.(...)
Texto interal [aqui]

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O Governo, a propaganda e o abismo

Por C. Barroco Esperança 
ENQUANTO o Governo se mantém até desmantelar o Estado e fazer os últimos negócios a preço de saldo; enquanto os boys recebem subsídios de férias e de Natal, com desculpas de mau pagador; enquanto a inexperiência e incompetência do atual Governo se exerce, a desilusão, a fome e o desespero conduzem os portugueses para a revolta e o abismo. 
O Presidente da República, em estado catalético, permite os ataques à Constituição da República, ao Tribunal Constitucional e aos bolsos dos portugueses, por cumplicidade ou abulia. (...)
Texto integral [aqui]

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21.11.12

Apontamentos de Lisboa

Houve um tempo em que a Polícia Municipal agia na Av. Almirante Reis. Por qualquer motivo, agora vê-se raramente - ou nunca - por aqueles lados, e as consequências estão bem à vista.
A cena que aqui se mostra é desta manhã: um eléctrico da Carris queria passar e não podia. Depois de muito "campainhar", o "estorvador" lá apareceu e retirou a carripana. Poucos metros à frente, a cena repetiu-se (com a carrinha branca que se vê na foto, ao fundo).
Numa altura de crise, como aquela que atravessamos, é assim que em Lisboa se acarinham os transportes públicos.

António-Pedro Vasconcelos, «O Futuro da Ficção»

Por Maria Filomena Mónica 
O PRIMEIRO aspecto a notar é ser este livro atravessado por uma profunda nostalgia, o que não fica mal a um romântico. O tom usado confere à obra, como aliás ao seu autor, um fascínio invulgar. Não fosse isto e alguns leitores poderiam olhá-lo como uma ostentação provinciana de cultura. Mas se ele cita muitas obras-primas é por o exercício ser necessário ao que pretende demonstrar, isto é, que, ao longo da História Europeia, houve ciclos de criatividade, de curta duração, seguidos por longas noites de silêncio. (...)
Texto integral [aqui]

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Apontamentos de Lisboa

 Ele há cada nome!

Resposta na tarde escura

Por Baptista-Bastos
NÃO ME APETECE escrever sobre estes tipos. Digo à Isaura. Não escrevas; sempre fizeste o que te apeteceu, diz ela. Não é bem assim, digo. Estamos na sala, por detrás dos vidros um pouco embaciados, e a chuva toca-os de leve. A tarde está escura e começam a acender-se as primeiras luzes, na rua e nos prédios. Anoitece muito cedo; tarde escura, suja, como o País, escuro, sujo, nocturno e triste. Olho-a. Ela mantém-se aparentemente alheada, mas não o está. Sempre muito atenta, mesmo quando parece suspensa. Sorri agora. Conheço-a desde que ambos éramos novos e tínhamos a idade daquele nosso mundo. Eu estava desempregado, coisas da política, e metera-me noutras. Ela sabia de tudo e andávamos de mãos dadas, sem receio e alegres.
Sempre fizeste o que te apeteceu, repete. Como os nossos filhos, obstinados e recalcitrantes. Mas ganhei, penso. Os outros julgam que não, que perdi, mas a verdade é que foram eles os vencidos; estão lá, impantes e brunidos, porém vencidos. Mereceu a pena tanta luta, tanto desafio, tanto perigo, vertigem e desatino para chegarmos a isto? A Isaura não o diz: observa-me e afaga-me no rosto e na cabeça. Não é preciso mais nada.
Põe os pés na terra; voas em excesso e sonhas em demasia, dizes-me, frequentemente, mas sem me recriminar. Agora já não tanto, mas houve vezes em que me esquecia de ter dinheiro, da carteira, e tu colocavas-me alguns trocos nos bolsos. Aqui há tempos, descobri, no bolsinho da lapela, uma nota velha de vinte escudos. Rimo-nos. Ainda sobrava um pouco, apesar de tudo. Nada de amolgar a esperança. A principal virtude da vida é ela estar sempre em acrescento, e nada, mas nada mesmo, é definitivo. Atrás de tempos, tempos virão.
Está bem: mas os anos não param, nem sequer um bocadinho. E eu sinto-me envelhecer. Estou na idade do condor: com dor aqui, com dor ali, com dor acolá. Ora, ora, os anos são somente números. Um dia, li que a vida feliz é, ao mesmo tempo, longa e breve. Até falámos nisso, recordo-me bem, tinhas sido operado a uma chatice grave, a família estava preocupada, e tu, antes de entrar no bloco operatório, piscaste-me o olho e disseste: quero arroz de polvo para o jantar.
Mas sabíamos para aonde íamos. Isso dizes tu agora. Nunca ninguém sabe para aonde vai. Sobretudo os da nossa condição. Os processos de demolição da consciência humana são cíclicos. Ora, ora. Ora, ora, não. As coisas são o que são e são mesmo assim. Mesmo nas épocas mais infelizes, citavas Hemingway: "O homem não nasceu para a derrota. O homem pode ser vencido, nunca destruído." Olha, tocaram à campainha da porta. Esqueci-me de te dizer que os nossos netos vêm aí com os pais.
Estão jubilosos. Nota-se pelo brilho nos olhos. Ele endireitou os ombros que haviam descaído. Ela ajeitou o cabelo com as mãos. Caminham para a porta.
«DN» de 21 Nov 12

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Pergunta de algibeira

De que(m) é que se estará a rir o senhor que se vê sentado do lado esquerdo?

20.11.12

Corações de pedra

Por Alfredo Barroso
1 - Em períodos de crise tão profunda e tão grave como esta que estamos a viver, não devemos ignorar as lições da História, por mais excessivas que possam parecer as comparações (que vou fazer) entre figuras e factos actuais e pretéritos. Porque a História pode sempre repetir-se, quer como farsa quer como tragédia.  
Por exemplo, ao ouvir a chanceler Angela Merkel reclamar mais cinco anos de austeridade à Europa em crise, insinuou-se no meu espírito a comparação entre o seu fanático ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, e o general fascista Millán Astray, galego, mutilado de guerra e legionário ao serviço de Franco, que proferiu, em 12 de Outubro de 1936, durante a comemoração do Dia da Raça na Universidade de Salamanca, o grito irracional e obsceno: «Muera la inteligência! Viva la muerte!». (...)
Texto integral [aqui]

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Apontamentos analfabéticos

Numa das muitas notícias que por aí se lêem acerca de assaltos a caixas ATM, houve uma que me chamou a atenção: as autoridades apanharam um grupo de gatunos que tinha, em seu poder, milhares de notas "tintadas" e, portanto, inutilizadas. A explicação para esse facto era, afinal, muito simples: tratava-se de um gangue estrangeiro, acabadinho de chegar e que não sabia português - pelo menos o essencial para ler as etiquetas como a que aqui se vê.
Há, para isso, duas soluções: ou realizar cursos rápidos de língua portuguesa aos candidatos a tais actividades, ou substituir estes avisos por outros, multilingues.