29.9.18

Crimes e investigações

Por Antunes Ferreira
De repente apareceram pessoas a matar pessoas com requintes de malvadez, premeditadamente, com sangue frio q.b. crimes quem sabe se copiados e ou pelo menos inspirados em séries policiais de canais televisivos do tipo AXN. Será que uma vez mais o que falta de imaginação a nós, portugueses, terá de vir de fora, terá de ser importado? Já se sabia que a balança de pagamentos era usualmente deficitária. Mas pelo andar da carruagem agora a balança criminal também começa a sê-lo…
Há uns tempos o meu amigo e também jornalista Nicolau Santos (que muito admiro) escreveu um artigo em que enumerava as alíneas demonstrativas de que não somos um país pequeno. Arquivei-o mas no meio da desordem desarquivada que pratico não o consigo reproduzir aqui o que é uma contrariedade – e das grandes, ainda que s contrariedades não se devam quantificar. Mas, perdoem-me, sou assim e não é aos 77 anos que vou mudar. Burro velho…
Mas voltando à vaca fria (como diz o povo)  estes crimes passionais abrem um fosso profundo entre aqueles a que nos habituámos através das páginas de pasquins apelidados de jornais como é o caso do “Correio da Manha”, oops, “Manhã” e nos audiovisuais da sua CMTV. A TVI bem se esforça por integrar o pelotão mas não consegue, ainda que por vezes consiga atingir alguns objectivos.
O caso do matutino é paradigmático: as suas equipas de “reportagem” chegam sempre antes das polícias que vão averiguar as ocorrências. É um mistério que me tem vindo a deixar muitíssimo intrigado, mas que creio fácil de resolver: saber quem informa o “Correio” antes de alertar as autoridades. Facílimo. O busílis é saber quem e quem…
Estes dois últimos casos o da senhora abatida pela filha adoptiva e genro e do triatleta assassinado pelo amante da esposa e por esta revestem-se de duas características que há que ressaltar: por um lado a desfaçatez e a  ironia de serem os próprios criminosos a alertarem as autoridades para os “desaparecimentos misteriosos” dos que já tinham eliminado.
Por outro a proficiência, a paciência e o profissionalismo dos investigadores portugueses que passo a passo,  cuidadosamente, foram tecendo as teias em que os matadores se enredaram. Descendo as mínimos pormenores, sem dar nas vistas, paulatina e perseverantemente quais cães de fila atrás do cheiro, de uma pista. Nós, os portugueses, temos de lhes agradecer, pois estamos entregues em boas mãos.
Mas, infelizmente, neste contexto da investigação toda a rosa tem os seus espinhos. Os casos de Tancos são vergonhas a que o Exército não pode escapar. Quando o chefe máximo da Polícia Judiciária Militar fica em prisão preventiva, depois da sua instituição ter andado a “brincar às escondidas” com a sua partenaire civil há forçosamente que citar Shakespeare quando Hamlet diz que “Algo está podre no reino da Dinamarca”. Pelos vistos algo está podre no reino da investigação em Portugal..

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28.9.18

Jovens & Velhos

Por Joaquim Letria
Nesta euforia situacionista que Portugal vive esquecemos muitas vezes duas importantes realidades. Uma é a do mundo das dificuldades que Jovens & Velhos têm de enfrentar para fazerem face à vida que desejam viver hoje; a outra é o reconhecimento de que, apesar de todos os defeitos e desperdícios, escândalos e poucas vergonhas, o País mudou, com uma vida melhor para as populações, uma melhor saúde pública, uma velhice mais digna e prolongada, mais modernidade em algumas infra-estruturas, mais liberdade e melhor dia-a-dia, educação aberta para todos os que souberem lutar contra as dificuldades e forem capazes de agarrar as oportunidades.
Não podemos ignorar o modo como os nossos cientistas, investigadores, poetas, romancistas, actores, dramaturgos, realizadores, arquitectos, desportistas, pintores e músicos nos enchem de orgulho, cá dentro e lá fora, com a sua criatividade, a sua preparação e a sua qualidade. A vida cultural que Portugal hoje oferece aproxima-se do nível de outros países mais ricos e desenvolvidos e não nos envergonha em nada. Mas por tudo isto não podemos negar ajuda, compreensão e oportunidades a tantos que lutam por uma possibilidade de demonstrar o seu talento.
Há uma música dos Deolinda que vale a pena ouvirmos de vez em quando, para lhes darmos razão e ajudarmos a que a verdade amarga de que nos fala deixe de ser assim, para tantos. Reza assim essa canção:
“Sou da geração sem remuneração
E não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
Já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar.” 
Pois é… temos de conseguir construir uma sociedade capaz de criar espaço para que quem sai da universidade possa ter o lugar a que tem direito pelo seu conhecimento e pelo seu esforço. Na minha modesta opinião competiria às universidades auxiliar-nos mais a construir esse espaço.
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27.9.18

Rui Rio e o esgoto que corre contra ele

Por C. Barroco Esperança
A família política de Rui Rio não é a minha, mas não posso deixar de denunciar os seus adversários, aqueles vermes que circulam nos esgotos do neossalazarismo e desaguaram nas alfurjas do PSD. São os mais ressentidos reacionários os que mais o contestam.

A decadência ética do partido acelerou quando o cavaquismo se tornou a sua referência e Passos Coelho a escolha de Miguel Relvas e Marco António. Sá Carneiro, Magalhães Mota e Pinto Balsemão desapareceram da memória coletiva do PSD e deram lugar aos adversários da Constituição, seduzidos pelos ventos reacionários que sopram da Europa.
O exemplo húngaro e polaco são o desígnio oculto dessa oposição interna que rejubilou com a eleição de Pablo Casado para a liderança do PP espanhol. Velhos militantes do MRPP e neossalazaristas engrossam as fileiras da oposição a Rui Rio, tendo no Observador o órgão oficioso e na generalidade da imprensa os almocreves de serviço.
Quando um partido se sente órfão do ora catedrático Passos Coelho e não permite que o economista Rui Rio o substitua, talvez porque pagou sempre o que devia à Segurança Social e ao Fisco, não arrecadou fundos europeus para uso fraudulento e não tem títulos académicos oferecidos, é porque é infecto o ar da Rua de S. Caetano, à Lapa, e suspeitos os que querem assaltar a liderança. Não são políticos que defendam causas, são piratas ávidos do poder.
O Observador exumou o vereador de Loures, André Ventura, um professor universitário fascista que teve o apoio expresso de Passos Coelho para candidato à autarquia e cujas posições xenófobas e extremistas levaram o CDS, por cálculo ou vergonha, a abandonar a coligação que tinha sido firmada. É ele o atual adversário de Rui Rio.

O primata, professor de direito, defensor da pena de morte, do trabalho obrigatório para reclusos e da castração química de pedófilos, é o académico erudito, com conhecimento aprofundado de hebraico e arábico, que apoia Luís Montenegro para substituir Rui Rio.

Para já, tem tempo de antena e propõe-se arranjar o número de assinaturas necessárias a um congresso extraordinário para afastar Rui Rio. Ao pé dele, até Nuno Melo e João de Almeida, do CDS, parecem democratas, e a Dr.ª Cristas uma estadista.
Com o afastamento do menino guerreiro à procura de gente para o seu novo partido, não faltam guerreiros nas hostes de Passos Coelho cujo regresso aguardam para a batalha de Alcácer-Quibir onde soçobrará o que resta do PSD.
Talvez Marcelo lhe dê a mão e resgate o partido da infâmia deixando ao CDS o trabalho sujo contra o Estado de Direito.

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21.9.18

Vistas largas roupas curtas

Por Joaquim Letria
Rendo-me com surpresa ao êxito da minha crónica “A Sociologia dos Saltos Altos”. No fim de contas, não tenho por onde estranhar. Os homens gostam que lhes falem de mulheres e de erotismo e as mulheres também, mas além disso apreciam ver como há quem goste de lhes mexer nos seus trapinhos.
Explorando o sucesso, como Clausewitz diria na sua estratégia militar, eis-me a regressar ao tema, ainda que me colocando noutra posição de modo a poder ver a infantaria, cavalaria e artilharia desta tropa que finge não existir mas espreita, disfarçadamente, os avanços dos que ousam intrometer-se nas suas posições de batalha.
Penso que os fantasistas, e são muitos estes militantes dos prazeres secretos, apreciam silenciosamente aqueles utensílios de comodidade ou embelezamento que as mulheres usam junto às suas partes mais íntimas.
O “soutien gorge”, as cuequinhas, os sapatos de salto alto são as três grandes peças do fetichismo masculino que a mulher sabe utilizar a seu favor com inteligência e sensualidade. Há quem considere estes minúsculos instrumentos da comodidade ou elegância femininas objectos de tal arte que, em conhecidos casos extremos, chegam a guindar-se ao posto de troféus de batalha. Mas vamos por partes.
A cuequinha é o grande fetiche. Trapinho de seda, renda ou cetim tem por lugar as profundezas mais íntimas e perfumadas, sendo por isso o epílogo de romances de altanaria, ou o prólogo do que vai na alma duma mulher, podendo converter-se para o macho no mais apetecível prémio, obstáculo último a vencer, o qual se pode tornar numa barreira intransponível se o coração ou o ânimo dela lhe fizer soltar o monossílabo “não”!
Enfim, depois dos sobressaltos da Primavera - Verão sucedem-se os sombrios Outono – Inverno e no anúncio de cada uma destas colecções há sempre o receio de mais trabalho quer em vesti-las mas também em despi-las. E resta ainda o recurso, que intencionalmente deixei de fora, do perfume. O perfume tem um corpo vivo, note-se, é muito mais do que um frasco de duas onças.
Seja como for que as mulheres se apresentem, não as temamos. Dêmos-lhes o seu valor, admiremos a sua inteligência, apreciemos a sua consciência, reconheçamos a sua força, rendamo-nos à sua infinita competência, desfrutemos a sua beleza e aceitemo-las nuas e cruas ou como elas se nos quiserem apresentar.
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20.9.18

Jurisprudência perturbadora

Por C. Barroco Esperança
É difícil conciliar a defesa das liberdades individuais, que perfilho, com limitações que considero irrevogáveis. Quem consiga ser coerente e justo, ao mesmo tempo, que atire a primeira pedra.
Aceito, como sucede na Alemanha, que a liberdade de expressão não se compadeça com o negacionismo em relação ao holocausto. Aceito, e exijo, a obrigatoriedade do ensino, das vacinas, do respeito da lei e da submissão aos valores civilizacionais.
Serve o preâmbulo para manifestar perplexidade perante uma sentença recente, referida na comunicação social, e logo esquecida, como tema que não merecesse ser escrutinado pelos cidadãos.
Uma juíza entendeu dispensar da frequência escolar uma menor que considerava ter as competências escolares básicas para as suas necessidades, e “não demonstrar motivação para frequentar a escola e ajudar a mãe nas tarefas domésticas”, aliada ao facto de ser “de etnia cigana e de cumprir com as suas tradições” o que a levava “a considerar que não necessita de frequentar a escola”. Entendeu ainda a juíza que o desenvolvimento dos jovens para uma vida digna passa, por vezes, “por caminhos diversos e igualmente recompensadores que não simplesmente a frequência da escolaridade até à maioridade”.
Esta sentença trouxe-me à memória um miúdo cigano, que foi meu aluno, inteligente e simpático, que procurei diversas vezes no bairro da Musgueira, para convencer os pais a deixá-lo frequentar a escola onde era um bom aluno, apesar do absentismo frequente.
Consegui que fosse mais algumas vezes, mas acabou por desaparecer, ele e os pais. Foi um sentimento de frustração que me ficou daquele miúdo encantador que podia e devia ter prosseguido os estudos, quando era apenas obrigatória a 4.ª classe, que não concluiu.
No caso desta menina, acredito que a juíza não podia dar-lhe a motivação, que a família desencorajava, nem garantir a assiduidade sem coação policial, mas aceitar a tradição como justificação e fazer jurisprudência legitimando o comunitarismo contra a integração cidadã, parece-me um precedente particularmente grave.
Uma sentença diferente teria provavelmente efeitos iguais para a jovem, mas legitimar a desigualdade de oportunidades com base na tradição, ofende a igualdade dos cidadãos perante a lei e privilegia os preconceitos. Não há, aliás, uma única iniquidade, desde o esclavagismo à desigualdade de sexo, do racismo à xenofobia, da homofobia à misoginia, da tortura à pena de morte, em que não pudesse ser alegada a tradição.
Seria preferível a desobediência, sempre passível de repressão, do que a legitimação de uma opção que reproduz o ciclo de pobreza, marginalidade e submissão da mulher.
A sentença em causa é jurisprudência que urge ser revogada por um tribunal superior. A igualdade dos cidadãos perante a lei é essencial para a igualdade de oportunidades que o Estado deve defender.

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16.9.18

Obrigado, Joaquim Letria!

"Correio de Lagos" deste mês

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14.9.18

A sociologia do salto alto

Por Joaquim Letria
Depois das botifarras Doc Martens, tipo bota da tropa, que há tempos as jovens tanto gostavam, a moda do salto alto não desaparece e até se agudiza à finura do salto–agulha de 15 ou 17 centímetros. Tenho algumas amigas a quem, para lhes oscular o rosto com amizade, quase tenho de trepar para um banquinho de modo a ficar à altura.
Colin McDowell, um filósofo do calçado e da sensualidade, no seu tratado "Shoes, Fashion and Fantasy" (Thames & Hudson) não hesita em escrever que as mulheres nunca dispensarão o salto alto pela simples razão de que lhes evidenciam as ancas, favorecem os tornozelos e fazem parecer que têm as pernas mais longas.
McDowell concorda com a sua colega Beatrice Faust, autora de “Mulheres, Sexo e Pornografia”, que escreve que os saltos altos não só fazem as mulheres parecerem sexy  “mas também fazem que se sintam sexy”. Ambos ignoram, mas todos nós também sabemos que assim é, que os saltos altos fazem as crianças sentir-se adultas, ainda que por efémeros momentos, daí qualquer menina tomar de empréstimo os sapatos da mãe e com eles tarocar pela casa fora ou simplesmente se ver e admirar ao espelho.
Evidentemente que no fetichismo do calçado, o salto alto é associado ao poder, à dor e à dominação, pois não se vê filmes ou erótica em geral sem uma mulher vestida de latex a desfrutar da crueldade e a infligir o prazer da dor, brandindo o chicote e pisando o comparsa de saltos rasos.
Claro que a cor também é muito importante. O vermelho e o negro são as cores mais importantes e hoje até a sola vermelha é uma imagem de marca como Christian Loubotin pode comprovar de modo indesmentível.
Como aqui fica demonstrado, os sapatos de saltos altos das minhas amigas bem podem levar-nos muito longe, sem termos de chegar aos mocassins vermelhos do papa Bento XVI que o cardeal Ratzzinger não se dispensou de impor com a sua meia branca. Nem temos de recordar o padecimento das jovens chinesas que viviam num doloroso aperto para ficarem com pés minúsculos, com os quais davam o seus curtos e graciosos passos que as faziam parecer avezinhas esvoaçando em redor dos seus senhores.
Lamento é que exportando nós tanto e tão bom calçado, algum até usurpado por marcas de renome suíças, inglesas e italianas, não tenhamos um único sociólogo ou um psicólogo a ajudarem os estilistas e fabricantes portugueses. E quando estes académicos  se debruçam sobre o calçado é para irem ao tempo da outra senhora e nos falarem das botas que chegaram a justificar a alcunha  do Dr. Oliveira Salazar.
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13.9.18

Espanha a caminho de um Estado laico

Por C. Barroco Esperança
Numerosos espanhóis ignoram a lei franquista de 1944, que permitiu aos bispos registar em nome das dioceses o património público que lhes aprouvesse, sem necessidade de justificar a legitimidade. Tinham outorgadas funções de notários e registavam os bens de que quisessem apropriar-se. Foram muitos os bens públicos que saciaram a gula episcopal e, às vezes, privados, cuja indemnização aos proprietários foi imposta ao Estado espanhol pelo Tribunal de Estrasburgo.
A lei iníqua, que Aznar, ligado ao Opus Dei, ampliou em 1998, só caducou em 2015. A voracidade eclesiástica registou templos, praças públicas, fontes, monumentos, vinhas, cumes de montes e outros bens, numa dimensão que está agora a ser averiguada. Em declarações à comunicação social, no ano passado, o representante da Conferência Episcopal admitiu serem 30 a 40 mil propriedades.
Como exemplo, e por ser o caso mais escandaloso, a Mesquita de Córdova, património da Humanidade desde 1984, foi registada pela Igreja, em 2006, com o valor patrimonial de 30 euros, e a diocese cobra 10 euros por cada entrada na «sua Catedral», que é o 3.º monumento mais visitado de Espanha, e com direito a impedir o culto islâmico.
Embora a Igreja ameace o Governo por exigir os bens públicos que os bispos e párocos puseram em seu nome, o ministério da Justiça está a ultimar a lista de propriedades que o clero registou ao abrigo da lei franquista, talvez em pagamento da cumplicidade e do silêncio no genocídio que o ditador levou a cabo.
Até há pouco, com a cumplicidade dos governos de direita, que obtinham votos com os privilégios concedidos à Igreja católica, era tarefa difícil, ou impossível, investigar os bens piedosamente recetados.
O que apavora os dignitários religiosos é que se torne pública a imensa riqueza de que a Igreja se apropriou de forma indigna. Nem a severa advertência da sentença (junho de 2017) do Tribunal de Justiça da UE contra os Acordos de 1979 do Estado Espanhol com a Santa Sé, que declarou contrárias ao direito europeu as bonificações e isenções fiscais concedidas, parece ter abalado tanto o episcopado espanhol.
O nacional catolicismo permitiu à Igreja católica a apropriação de todos os templos, quer fossem igrejas, mesquitas ou sinagogas, e de palácios, largos públicos, casas de habitação, vinhedos, olivais, quintas agrícolas e picos de montes, onde uma cruz romana marca a propriedade como o ferro em brasa ao gado dos ganadeiros.
A Conferência Episcopal argumenta que a Igreja cumpriu sempre as leis em vigor, leis de que devia envergonhar-se, e nota-se o incómodo que a divulgação da apropriação de bens públicos lhe causa. A “inmatriculación” (1.º registo), permitia-lhe registar os bens públicos que o Estado não tivesse inscritos.
Bem-vinda, laicidade. As almas do Purgatório abdicam das caixas que recebem o óbolo, mas o clero anda possesso com a concorrência que reclama privilégios iguais, sobretudo 0,7% do IRPF (IRS português) dos seus crentes e as ajudas públicas que a vigência da Constituição tornou ilegais e continuam ao abrigo do escrutínio do Tribunal de Contas.
O Governo exigirá os bens que a Igreja pôs em seu nome e o paraíso judicial e fiscal em que vive a Igreja católica, de que a “Europa Laica” acusa o Governo, acabará por razões de justiça e salubridade democrática.

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11.9.18

"Correio da Manhã" de hoje
NOTA: Tem um erro. O nome da Biblioteca era de um tio avô

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SOBRE O GRANITO E A SUA ORIGEM, NUMA CONVERSA TERRA-A-TERRA.

Por A. M. Galopim de Carvalho
Já dissemos que não há um, mas sim, vários tipos de rochas a que o vulgo dá o nome de granito
Deixando este tema para outras conversas, comecemos agora por dizer que o termo granito, em sentido restrito, designa uma rocha plutónica (gerada em profundidade, na crosta), granular, rica em sílica (mais de 70%), com quartzo essencial, expresso e abundante (20 a 40%), e feldspato alcalino (ortoclase, microclina, albite). Como mineral ferromagnesiano contém, geralmente, biotite, sendo raros os granitos com anfíbolas ou piroxenas. Entre os seus minerais acessórios, destacam-se moscovite, apatite, zircão e magnetite. Esta rocha corresponde ao que, numa linguagem mais rigorosa, se designa por “granito alcalino”. O termo granito, atribuído ao italiano Andrea Caesalpino, surgiu em 1596, e radica no latim granum, que significa grão.
Imagine o leitor uma paisagem como a do norte de Portugal, essencialmente formada por granitos, xistos argilosos e grauvaques, na margem ocidental da placa litosférica euroasiática, à beira de um oceano (o Atlântico) que a separa de uma outra placa (a Americana). Como é sabido, os agentes atmosféricos (a humidade, a água da chuva, o oxigénio e o dióxido de carbono do ar e as variações de temperatura) alteram (“apodrecem”) as rochas e é essa alteração, ou meteorização, que gera a capa superficial (rególito) que dá origem ao solo.
— E quais são os materiais desta capa de alteração e do respectivo solo? – Pergunta-se.
Restringindo a resposta ao local em questão, aos principais minerais destas rochas, e à situação climática que aqui exerce a sua influência, diremos, de um modo muito esquemático, mas que aponta o essencial da questão, que:
(1) No granito, o feldspato altera-se, transformando-se parcial e, de início, superficialmente, em argila. Alterando-se o feldspato, os restantes grãos minerais descolam-se uns dos outros e a rocha perde coesão (esboroa-se entre os dedos). Os grãos de biotite (uma mica contendo ferro) também se alteram e dessa alteração resulta o seu aspecto “enferrujado”, o que confere à rocha exposta as cores de castanho-amarelado, que contrasta com a cor da rocha sã, acabada de cortar. O quartzo não sofre qualquer alteração, o mesmo sucedendo à mica branca (moscovite) que apenas se divide em palhetas cada vez mais pequenas e delgadas.
(2) No xisto argiloso, que além de argila tem quartzo em grãos finíssimos, microscópicos (ao nível de poeiras), tem lugar a perda de coesão destes materiais.
(3) No grauvaque acontece outro tanto, com a libertação dos seus componentes arenosos (os mesmos do granito, mas muito mais finos). 
Podemos agora dizer que os rególitos e os solos desta região de Portugal têm uma fracção arenosa com quartzo abundante, algum feldspato, micas e um fracção argilosa ou barrenta que faz o pó dos caminhos, em tempo seco, e a lama, em tempo de chuva. Podemos igualmente dizer que, quando chove com certa intensidade, as águas de escorrência arrastam estes materiais, com suficiente visibilidade na componente argilosa em suspensão. Isso vê-se frequentemente nas enxurradas, nas águas barrentas dos rios e, até, no mar, frente às fozes desses rios.
As pedras (cascalho) vão ficando, em parte, pelo caminho, outras atingem o litoral e não passam daí. As areias enchem as praias, as dunas e o fundo rochoso da plataforma continental. As areias mais finas e as argilas, incapazes de se depositarem em mar de pequena profundidade, constantemente agitado pela ondulação, progridem no sentido do largo, indo depositar-se na vertente continental (onde ficam em situação instável). As muitíssimo mais finas, essencialmente argilosas, vão imobilizar-se mais longe, no fundo oceânico. Sempre que, por exemplo, um sismo abala a região, os sedimentos em situação de depósito  instável na vertente desprendem-se, indo decantar sobre os já acamados no dito fundo.
Imaginemos que este processo (alteração das rochas, erosão, transporte e acumulação no mar) se repete ao longo de milhões de anos e que dele resultam alguns milhares de metros de espessura deste tipo de sedimentos. Imaginemos, ainda, que o mesmo se passa do lado de lá do Atlântico.
A tectónica global ensina-nos que este oceano, como todos os outros, ao longo da história da Terra, irá fechar-se. Isso terá como resultado o encurtamento do espaço coberto pelos ditos sedimentos que, à semelhança de um papel que amarrotamos entre as mãos, sofrerão enrugamentos, com “dobras” que vêm para cima, formado novas montanhas, e outras que vão para baixo, formando as “raízes” dessas montanhas.
É sabido que a Terra conserva grandes quantidades de calor no seu interior e que a temperatura aumenta com a profundidade, o mesmo sucedendo com pressão (dita litostática). Assim, dos sedimentos envolvidos nas citadas “raízes”, os mais superficiais ficarão sujeitos a pressões e temperaturas relativamente baixas, sofrendo ligeiríssima transformação (anquimetamorfismo), dando origem a rochas na fronteira entre as sedimentares e as metamórficas, como são o xisto argiloso, o grauvaque e, um pouco mais abaixo, a ardósia. Continuando em profundidade, com o aumento da pressão e da temperatura, mas sempre com transformações no estado sólido, formar-se-ão outras rochas francamente metamórficas, de graus progressivamente mais elevados, expressas na sequência: filádios ou xistos luzentes (uma vez que a componente argilosa se transformou em minerais que têm brilhos característicos, ”luzentes”, como a sericite, a clorite ou o talco), xistos porfiroblásticos, micaxistos e, ainda mais abaixo, gnaisses (estes representando o grau mais elevado).
A profundidades na ordem dos 30 quilómetros, a temperatura pode atingir os 800C, e a pressão ultrapassar as 4000 atmosferas. Neste ambiente e na presença de água (toda a contida na composição das argilas) terá lugar a fusão dos minerais menos refractários (quartzo e feldspatos). Entra-se aqui no domínio do chamado ultrametamorfismo e o processo toma o nome de anatexia (do grego “aná”, novo, e “teptikós”, fundir), ou palingénese (do grego “pálin”, de novo, e “génesis”, geração), dando origem a migmatitos. 
Logo que a fusão seja total, entra-se no domínio do magmatismo, com a formação de um magma que, dados os materiais envolvidos, só pode ser de composição granítica, magmaque, uma vez arrefecido e solidificado, gerará um novo granito. 
A história que acabámos de descrever nesta espécie de antevisão é a que julgamos saber contar relativamente à que, há pouco mais de 300 milhões de anos, deu origem à orogenia hercínica ou varisca e ao granito, ao xisto e ao grauvaque que nela se geraram e que marcam a paisagem do norte de Portugal. Do mesmo modo, esta história conta a de todas as paisagens afins do planeta, desde as mais antigas, com mais de 4000 milhões de anos, às mais recentes com escassos milhões.
Relativamente ao granito, a mais importante rocha magmática que forma a “ossatura” dos continentes, sabemos que o primeiro resultou de um processo de diferenciação, lenta e complexa, de uma crosta primitiva, de natureza próxima da do basalto. Sabemos também que qualquer geração de granito tem, atrás de si, outro granito e que, muitos milhões de anos  depois (400 a 500, em média), renascerá numa nova geração de granito.
Esta história é, afinal, a expressão (reconhecível ao nível das paisagens da Terra) do conhecido Ciclo de Wilson (do geólogo canadiano John Tuzo Wilson (1909-1993), relativo às sucessivas aberturas e fechos dos oceanos da Terra.
Notas: 
Grauvaque – rocha sedimentar arenítica e coesa, gerada nos grandes fundos marinhos, a par dos xistos argilosos. Contém, sobretudo, quartzo (20 a 50%), feldspatos e micas. O termo foi Introduzido na nomenclatura litológica, em 1789, por Lasius, e radica no alemão grauwacke, que significa pedra cinzenta.
Migmatito –rocha ultrametamórfica, gerada por anatexia, de que resulta uma composição granitóide, na qual uma parte foi fundida e outra, mais refractária, permaneceu no estado sólido. Situa-se na passagem das rochas metamórficas da catazona (como é o gnaisse) ao granito franco.
Abaixo da zona dos gnaisses a temperatura e a pressão permitem a fusão dos elementos

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7.9.18

O mistério das fardas desaparecidas

Por Joaquim Letria
Ao contrário dos bombeiros, agentes da PSP e militares da GNR, que podem deparar-se-nos nos seus uniformes em plena via pública, os guias espirituais e guardas da nossa paz de espírito mergulharam numa clandestinidade onde, por certo, exercem o seu papel de infiltrados no mundo das trevas de Satanás de onde velam pela nossa sobrevivência no bem.
Juntamente com a nobreza, também desaparecida e só reconhecida em alguns apelidos e títulos ilustres, referências de feitos e tenças de antepassados, lá se foi o clero, abandonando-nos à nossa sorte e apetites de políticos e seitas que não perdoam a ninguém neste princípio de milénio.
Sem clero nem nobreza, resta o povo e essa terá de ser a classe privilegiada, pois de colarinho aberto ou de manga arregaçada não há hoje nobre ou padre que também não reclame com ele se confundir nos hábitos e atitudes.
Essenciais para defenderem a soberania nacional devíamos ter ainda as Forças Armadas, mas também estas vivem acobertadas no anonimato das roupas civis e na cor garrida dos carros que as altas patentes utilizam para fazerem circular as suas pessoas e suas apessoadas famílias.
Tropa a que possamos recorrer desconheço, para além de alguns mancebos que andam a fazer obras em Tancos ou são arrebanhados para uma ou outra guarda de honra em cerimónia onde a brigada do reumático tem de tirar as fardas apertadas da naftalina.
Pelo que me tem sido dado ver, os oficiais militares e os sacerdotes, nossos protectores dos inimigos da Pátria e de Satã, vestem-se e despem-se no serviço, como as coristas e os “travestis”. Lembrei-me de lhes falar disto por causa duma recente viagem a Espanha onde não só dei de caras com um major fardado a rigor, passeando com a família, como também baixei a cabeça a um cura que tinha uma sotaina como há anos não via.
Ignoro se é por modernidade que os padres não querem parecer curas e os oficiais preferem que a gente julgue que são empresários de meia tijela.
Deus me perdoe, mas olhando aquele cura espanhol pensei que deve haver quem ache muito mais erótico ter de desabotoar uma sotaina até aos pés, do que ajudá-los a tirar a camisola de gola alta pela cabeça.
Publicado no Minho Digital

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6.9.18

A divisão administrativa do país e a descentralização

Por C. Barroco Esperança
Não me revejo na descentralização, decorrente da má consciência de quem não cumpriu a regionalização do Continente e a aprofundou nos Açores e Madeira cujos Orçamentos representam cerca de 60% de receitas próprias (a totalidade dos impostos aí gerados) e o restante é oriundo do Continente e da União Europeia.
As Regiões Autónomas estão isentas de contribuir para as despesas com os organismos internacionais, incluindo a UE, de onde recebem parte do Orçamento, a Justiça, Defesa, Forças Armadas, Polícias, representação externa do Estado, Nato e ONU, permitindo o excesso de autarquias, comarcas e órgãos regionais faraónicos. A Beira interior, Trás-os-Montes e Alentejo não gozam de igual tratamento e a Madeira ainda exige mais 145 milhões de euros, para garantir a perpetuidade do PSD-M, bizarro partido regional de matriz salazarista, que monopolizou o poder nestes 44 anos de democracia.
A distribuição de dinheiro e tarefas a autarquias, a que falta população, quadros e massa crítica, é um maná para o caciquismo e a pulverização de recursos na gestão do País.
Com 308 concelhos e 3091 freguesias, com autarcas cujo vencimento está indexado ao do PR, o que torna risível o vencimento deste e perigosa a atualização, com as senhas de presença para funções cívicas, o atual mapa administrativo é incomportável. No entanto, os demagogos ameaçam com a redução do número de deputados, como se fosse a chave da sobriedade de lugares políticos, no desejo de evitar novos partidos e extinguir alguns.
Com o pretexto de aproximar o poder dos cidadãos, aproxima-se a ingovernabilidade e a insustentabilidade financeira para manter a rede de caciques, agências de emprego e sindicatos de voto.
Imagino a desolação de quem sente ameaçados pequenos poderes e médias vaidades, as ajudas de custo, motoristas e senhas de presença. Os partidos, imprescindíveis, não têm condições para confrontos, mas, pelo menos, podem abster-se de fazer mais asneiras.
A pseudorreforma do então Dr. Relvas e do ora Doutor Coelho foi mera cosmética, que não reduziu os concelhos e agregou freguesias sem gente, procedendo António Costa a uma redução drástica em Lisboa.
Seria lamentável que o atual Governo fizesse agora pior do que a direita. Bastou o erro do INFARMED, sem racionalidade económica nem justificação técnica, cujo recuo é sensato, para obrigar à ponderação do estímulo às ambições e ao ego de caciques.
O PM ganhou autoridade como autarca e governante. Não pode fazer cedências nefastas para o ordenamento do território. A redução de pessoal político autárquico é imperiosa, para transferir os recursos financeiros para a fixação de pessoas em zonas desertificadas.

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