30.1.23

Nos ramos do castanheiro - *Uma questão de mero vestuário

Por Antunes Ferreira

Castiço. Natural de Presandães, uma aldeola do distrito de Vila Real em Trás-os-Montes, Eugénio Brito dos Santos, tenente-coronel da GNR vivia em Mirandela onde comandava o quartel da Guarda. Com os seus 59 anos, viúvo havia dezoito, tinha como companheira Amélia Pereira Ramalho, secretária do notário Amâncio Mascarenhas, mais nova do que ele, fazia 42 em Novembro. Eram felizes.

Do casamento tinham resultado dois filhos ambos bem assentes na vida: Elsa, a primogénita, medica de família ali mesmo na cidade e Eurico designer no atelier do arquitecto Mendes Simões. Davam-se bem com a “madrasta”. Entre o quartel e  o apartamento que tinha comprado (um T4) ainda a mulher era viva, Eugénio e Amélia levavam uns dias tranquilos sem grandes invencionices muito menos extravagâncias, 

Contudo, todos os anos abria-se um excepção: passar o Entrudo (Carnaval era para as cidades) na aldeia natal do militar. Adorava aquilo. Comprazia-se sobretudo com a algazarra e a alegria daqueles seus conterrâneos em especial com as momices, os saltos, as trapalhadas dos Caretos de Podence e dos seus gaiatos, os Facanitos, todos envergando trajes coloridos, garridos, com máscaras e chocalhos.

Não era despicienda a questão dos cumprimentos sinceros, amáveis, gentis, que lhe eram endereçados porque era conhecido e quiçá a figura mais sonante oriunda da terra. A todos respondia com a mesma afabilidade; mereciam que assim fosse – por que bulas não haveria de proceder assim? Entre eles avultavam dois ex-soldados seus: o Tavares e o Valério.

Fora no Exército – donde transitara para a Guarda – que o conhecera. Os dois já eram cabos RD, o que quer dizer Readmitidos, tinham “metido o chico” pois queriam continuar nas fileiras. Logo, já andavam na casa dos sessentas, ou mais. Numa segunda-feira, na ressaca do domingo gordo, o Valério, junto dum grupo animado dirigiu-se-lhe:

“Meu alferes (desculpe-me trata-lo assim, mas para mim será sempre o comandante do nosso pelotão, queria fazer-lhe uma pergunta com rasteira. Posso?”  Nunes dos Santos pasmou. Então não queriam lá ver? Rasteira? A ele, tenente-coronel da Guarda Nacional Republicana? “Tás a gozar ou tás a gozar-me Valério?”

Este quase batia a pala só que em vez do bivaque usava uma boina preta. “Nem pensar, meu alferes, nem pensar. Nunca poderia fazê-lo consigo, palavra!” Eugénio, sorrindo:  “Então, não é tarde nem é cedo. À vontade. Podes avançar, estou preparado.” À volta os assistentes, conhecedores da marosca trocavam sorrisinhos soezes e soavam em surdina pequenas risadas manhosas,  

“Qual é a diferença entre um sexagenário e um septuagenário?” O tenente-coronel vidrou. Com que então era isso? Caíra na esparrela? Resposta fácil? Havia ali gato escondido com o rabo de fora! “Claro que sei; mas penso que há truque. Portanto, por favor, tens de me dizer o que se passa.”

Assumindo ar doutoral, Valério explicou: “Um sexagenário ainda se tenta; o septuagenário só se senta…” Agora sim, agora surdiram as gargalhadas, explodiu a galhofa. Eugénio, um tanto ruborizado (já não lho acontecia desde a escola primária, pensava) propôs uma solução para o impasse um tanto vergonhoso.

A baiuca do Josué. Era um tasco infame mas tinha uma medronheira de se lhe tirar o chapéu. Foram. Umas lascas de presunto dum suíno caseiro e umas rodelas de botelo mailas azeitonas temperadas à maneira serviram de lastro à tão falada medronheira de tal jeito que o Eugénio comprou duas garrafas para levar com ele.

Nestes preparos saltou à liça o Felismino cunhado e ajudante temporário do patrão. Queria contar um estória antiga que tinha a sua piada. Pois que contasse. O gabiru já estava co um grãozinho na asa, nada que o impedisse de palrar. E disse. Que havia sido um bisavô dele, o ti Tadeu adepto do ditado quem conta um conto acrescenta um ponto que narrara o episódio que, depois, d boca em boca, chegara até ele Felismino.

Era Julho, férias grandes. Dois irmãos, o Carlinhos e o Tonecas, onze e doze anos, oriundos duma família grande (sete filhos) pobre mas honesta, fartos dos berlindes e dos piões resolveram ir à fruta. E assim fizeram. À saída da aldeia o doutor Madeira tinha uma quinta onde havia cerejeiras, pereiras, macieiras, nogueiras e castanheiros.

Ora os manos pelavam-se pelas castanhas: cozidas, piladas e principalmente assadas eram um manancial de prazer gustativo. Mesmo cruas, tiradas da árvore… Trepar o muro da propriedade e saltar para os ramo castanhais foram brinquedo de criança e ei-los a abrir os ouriços e  comer desenfreadamente. 

Nisto o Tonecas fez alto ao manjar e disse para o irmão: “Ó Carlinhos eu até agora comi mais castanhas do ca tu!” E o mano encarrapitado num ramo mais alto: “Não senhor. Quem comeu mais fui eu!!  Carlinhos não se ficou: “Essa agora! Eu cá comi-as com a camisa!” E o Tonecas, superior: “Boa vai ela. E eu comi-as com o casaco!!!!!”

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28.1.23

Grande Angular - A crise e os remédios

Por António Barreto

Ninguém duvida de que vivemos uma das mais preocupantes crises das últimas décadas. Já não bastavam os problemas internacionais que nos ultrapassam. Os nossos próprios parecem pelo menos tão difíceis de resolver. A invasão da Ucrânia pelos Russos, seguida de um dos mais nefandos massacres que se pode imaginar, é suficiente para deixar o mundo perplexo. A nova tensão internacional, perigosa como poucas, vai durar muito, de mais. Mas é perante isso, as dificuldades e os imprevistos, que a competência, a força e a inteligência são necessárias. O Governo invoca aqueles factores para desculpar as suas fraquezas, mas é exactamente o contrário de que se trata: é por causa dos perigos e das ameaças que exigimos acção do Governo.

 

Os recentes episódios das demissões de governantes, em situação de crise moral, de incompetência, de sordidez ou ambição pessoal, ilustram as carências do Governo e da autoridade democrática. A situação caótica que se vive na educação e na saúde mostram a enormidade das insuficiências. O muito actual episódio das Jornadas da Juventude, verdadeiramente indecoroso pela falta de seriedade e de competência, revela a incapacidade das instâncias de poder democrático para tomar conta do que devem e assumir as suas responsabilidades. O problema não é evidentemente o dos casos, como gosta de dizer o Primeiro Ministro. O problema já é de desnorte.

 

É verdade que parece haver algum crescimento económico. Pouco. Menos do que outros. Não tanto quanto precisaríamos. Mas é alguma coisa. Não sabemos se a política do governo teve influência ou se é simplesmente a economia e a empresa. Mas aceitemos que o Governo não é culpado de ser um obstáculo às forças económicas.

 

Também parece certo que houve melhoramento nas condições da pobreza e algum progresso nas acções de redistribuição, factos a que não será estranha a acção do Governo. Mas, também aqui, sabemos nós e o Governo sabe que tal não é suficiente e que há muito mais a fazer, designadamente investimento e emprego.

 

Se há progressos, poucos, há retrocessos, bastantes, e deficiências, muitas. O SNS desorganizado e sem médicos é revoltante! Maternidades fechadas de vez em quando é absurdo. Falta persistente de enfermeiros é incompreensível. Dezenas de milhares de alunos sem um ou mais professores é escandaloso. Uma ou duas dezenas de anos de espera para julgar um arguido poderoso é imoral. O desastre reinou nas infra-estruturas, com relevo para o aeroporto e a TAP. A desorientação relativamente à imigração ilegal e aos trabalhadores clandestinos deixa prever conflitos a breve prazo. A persistência da emigração de portugueses para o estrangeiro, com valores próximos dos da década de 1960, situação que não mereceu atenção deste governo, é talvez o mais chocante sinal de incapacidade política e económica.

 

Não é por causa da crise internacional que o momento é de alerta. É por causa das crises nacionais que começa a fazer-se tarde. Do primeiro ministro, do seu governo e do seu partido exige-se uma reflexão a que parece recusarem-se. Podem ou não continuar? São capazes de mudar o suficiente para recuperar força e energia? Estão aptos a recorrer a novas forças e novas ideias capazes de mudar o rumo desgraçado que levamos? Conseguirão abandonar o estilo palavroso e propagandístico, tão estéril e prejudicial? Deixarão de acreditar nas estratégias teóricas e sistémicas tão do seu gosto para se ocupar de questões reais, sociais, políticas e económicas, como quem trata de problemas e não como quem faz teses de mestrado? Perceberão que grande parte da crise na Justiça se deve à sua inoperância e à sua covardia? Poderão compreender que a crise da educação, tão prejudicial, se deve em grande parte à sua demagogia? Terão entendido que a enorme crise no SNS é o resultado da sua incapacidade de gestão e da sua obsessão ideológica? Terão uma vez sentido que a sua vontade de esbater algumas desigualdades, assim como de aliviar tanta gente da pobreza, são insuficientes e que, sem emprego e sem salários decentes, os seus esforços ficam-se pela compaixão?

 

É uma velha regra da política marialva: aguentar! Resistir! Em certas ocasiões, resulta. Passadas as tempestades, o mundo recupera as suas cores, as sondagens voltam a subir. A maior parte das vezes, não resulta. Aguenta-se até perder definitivamente. Quantos derrotados persistiram no erro, acreditaram que a sorte voltaria um dia, confiaram na inteligência dos seus colaboradores e julgaram que poderiam tudo recomeçar, sem danos nem prejuízos, sem mortos nem feridos?

 

Esta atitude de “esperar que passe” e julgar que se pode recuperar com as mesmas pessoas, as mesmas ideias e o mesmo estilo, tem que se lhe diga. Prejudica o país. Causa danos irreversíveis ao partido. Pode ser fatal ao Primeiro ministro e ao governo.

 

Se assim for, mudar de pessoas, de ideias e de estilo parece imperioso. Não deve ser muito difícil. O Partido Socialista já nos habituou a mostrar que tem lá de tudo, bom e mau, inteligente e estúpido, de esquerda e de direita, incompetente e capaz, liberal e autoritário, honesto e corrupto. Há por onde escolher. Ao Primeiro ministro que, por enquanto, tem os votos, de decidir o que guarda e o que deita fora. É a ele que compete, em primeira linha, ver se tem capacidades, estimar o que deve mudar, medir a consistência da sua maioria…. É a ele e só ele que compete manter-se, remodelar, demitir-se, formar novo governo ou pedir eleições. Não é aos chefes da oposição que cabe fazer tal. Não é ao Presidente da República que compete fazer essa avaliação e tomar essa decisão. Pode acontecer. Como já foi o caso com Soares, Sampaio e Cavaco. Não sendo ilegal, esse gesto é nefasto e fere a democracia. É um engano e, como tal, mal compreendido pelo eleitorado. Pode o Presidente da República estar cansado de tanta inoperância. Podem os chefes das oposições estar com pressa e querer aproveitar o falhanço do governo para ampliar a crise. Podem os parceiros sociais, os intelectuais e os artistas considerar que um novo governo lhes dará uma vantagem. Pode tudo isso ser verdade. Mas nada disso recomenda uma intervenção abrupta, um despedimento forçado e umas eleições fora do calendário.

 

A verdade é que, na melhor normalidade política e democrática, no bom sentido da civilização parlamentar e no quadro dos bons hábitos institucionais, é ao Governo que compete escolher a remodelação, a demissão e a eleição. E, em conformidade, solicitar ao Presidente os procedimentos constitucionais adequados. Outra qualquer via só acrescentará à crise.

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Público, 28.1.2023

 

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27.1.23

AO LADO DOS PROFESSORES, PAIS E ALUNOS QUE LUTAM PELA ESCOLA PÚBLICA

Por A. M. Galopim de Carvalho

É com estes que sempre alinhei e continuarei a alinhar enquanto tiver voz. A luta dos professores, numa determinação e intensidade nunca vista, traz ao de cima a degradação a que chegou este grande pilar de qualquer sociedade democrática. 

 

Antes de me pronunciar por esta luta que, a todas as horas, nos entra em

 casa, através de todos os canais de televisão nacionais, detenhamo-nos na referida degradação, afirmando, desde já, que não estou aqui para agradar ou desagradar a quem quer que seja. Estou apenas a revelar a análise que faço de um problema nacional que sempre me preocupou.

 

À semelhança do que se passou com a Primeira República, a classe política, no seu todo, a quem os Capitães de Abril, há quase 50 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada” entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar conhecimento, civismo, cidadania, em suma, à sociedade que libertou. Entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com esta abertura à liberdade e à democracia está a educação. E, aqui, a ESCOLA FALHOU COMPLETAMENTE. Se não mudarmos grande número dos paradigmas que têm sido os nossos, não merecemos os cravos que os militares de Abril nos ofereceram.

 

A iliteracia cultural e científica, mesmo aos níveis mais básicos, de uma parcela importante da nossa população, a irracionalidade e violência associada ao futebol são prova dessa absoluta falência e a sucessiva e elevada abstenção em actos eleitorais, são a prova provada desse falhanço.

 

Parcela importante da nossa população, a quem a Escola deu diplomas, mas não deu a educação, a formação e a preparação essenciais a uma cidadania plena. Educação, formação e preparação, três grandes défices que o Dr. António Costa, em começos do seu mandato, como Primeiro-Ministro, vai para sete anos, disse serem sua grande preocupação. Défices 

que o populismo, a que a democracia deu voz, a arrasta para um modelo de sociedade que a História já mostrou que sempre, a todos, amordaçou. No que respeita o nível e exigência de ensino nas nossas escolas, não aprendemos nada com o ideal da Instrução Pública posto em prática na Primeira República. No preâmbulo do Decreto de 29 de Março de 1911, lê-se: “Portugal precisa de fazer cidadãos, essa matéria-prima de todas as pátrias”.

 

Pergunto muitas vezes que infelicidade caiu sobre uma significativa parcela do nosso povo, que rejeita, com o sorriso da ingenuidade ou da iliteracia, tudo o que convide a pensar, a reflectir sobre si mesmo e sobre o que o rodeia. Um mundo, tantas vezes, nas mãos de políticos incompetentes e oportunistas de que a nossa sociedade está cheia, onde, de há muito, impera a corrupção, o vírus do futebol profissional e a promiscuidade entre a política, o poder económico e a justiça. 

Uma parcela que bebe toda a alienação que lhe é servida de bandeja por uma comunicação social, em grande parte, prisioneira de interesses ligados ao grande capital.

 

Ocorre-me dizer que levamos quase cinco décadas, em que o “gosto pelo saber” foi institucionalmente substituído pela preocupação com o “sucesso escolar”, visando as estatísticas. Claro que há muitos bons Professores que contrariam esta política, mas a generalidade do sistema que governa este importantíssimo sector da vida nacional, mais do que ensinar, promove a amestragem dos alunos a acertarem nas questões que lhes são colocadas nos exames finais. Neste quadro decepcionante todos perdemos. Perdem os professores, amarrados que estão a directrizes que não controlam, perdem os alunos e, em consequência, perdemos todos e perde Portugal.

 

Postas esta considerações prévias, voltemos à luta dos Professores.

 

Devo começar por dizer que tenho pena do Ministro da Educação e do seu apagado Secretário de Estado, ao vê-los vaiados por multidões de manifestantes. Acompanho o seu desconforto no papel de escudo do seu próprio governo face à pressão reivindicativa de professores, pais e alunos. É por demais evidente que o Dr. João Costa vai para a mesa das negociações com os representantes dos professores, bem ciente das “linhas vermelhas” que não pode ultrapassar ou, melhor dizendo, que o ministro das Finanças lhe impõe. Mas o que me vem à ideia, é que ele as aceita, porque, caso contrário, já teria “batido com a porta”.

 

Mais uma vez, é minha convicção que os temas ou pontos em debate, todos, sem excepção, não passam de remendos num edifício obsoleto, de há muito a precisar de ser demolido de raiz para, em seu lugar, surgir outro, concebido e levado a cabo, numa profícua colaboração entre governos e oposições, para durar três ou mais legislaturas e que envolva gente verdadeiramente capaz de o concretizar, visando com especial atenção: 

- as dotações orçamentais adequadas; a formação e a avaliação (a sério) dos professores, os programas e os manuais de ensino; 

- a escolha criteriosa dos titulares da respectiva pasta; uma completa revolução na respectiva máquina ministerial; 

- a necessária dignificação dos professores, num conjunto de acções, envolvendo, salários compatíveis com a sua relevância na sociedade, colocações, libertação de todas as tarefas que não sejam as de ensinar e outras, postas em evidência nas suas reivindicações.

 

A terminar, saúdo os professores (sem esquecer os educadores) das nossas escolas e reafirmo que os considero os pilares da sociedade e, uma vez mais, dizer a governantes e governados que é necessário e urgente restituir-lhes a atenção, o respeito e a dignidade a que têm jus.

 

 

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23.1.23

Uma garrafa na praia* Quando os pombos levam na anilha

Por Antunes Ferreira

Era uma garrafa. E trazia algo dentro dela; tinha sido arrojada pelas últimas ondas e estava meio enterrada na areia húmida calcada por inúmeros pés de tamanhos diferentes nus e ou calçados de sandálias, sapatos, havaianas ou solas de pneus afeiçoadas a extremidades humanas, bem como patas de animais, sobretudo de gaivotas. Sebastião agachou-se e pegou nela. Vidro verde escuro próprio de vinho tinto. O oceano levara-lhe o rótulo – se o tivera alguma vez. 

Outono tardio com frio bastante para usar samarra e boné de marinheiro com uma âncora bordada mas tudo muito gasto por via do uso prolongado. Sebastião José Matias de Carvalho, alcunhado O Marquês do Pombal não só pelo nome mas também porque era um columbófilo, filiado na Federação Portuguesa de Columbofilia não era um destacado elemento daqueles cujos resultados eram motivo de orgulho nacional a nível de pombos-correios.

Registavam-se um campeão olímpico (havia Jogos Olímpicos Columbófilos), vários segundos e terceiros lugares nessas competições e noutras como por exemplo as que englobavam as ibero-americanas de línguas românicas, outras intercontinentais e em todas a columbofilia portuguesa não deixava os seus créditos em mãos alheias.

Como estava desocupado (tinha sido despedido) Sebastião levara consigo o Press Release da Federação e    ia lendo que em Portugal são realizadas corridas de pombos entre Fevereiro e Junho de cada ano, sendo que nos restantes meses existem outras competições columbófilas, nomeadamente os dérbis. O número de pombos está estimado em 4,5 milhões!

A columbofilia é a uma modalidade desportiva relacionada a corrida entre pombos-correio. Os columbófilos (criadores de pombos-correio) potencializam as capacidades físicas e de orientação dessas aves para participação em campeonatos. Os animais desenvolvem velocidades máximas entre 87 km/h e 102 km/h em distâncias que podem chegar a mais de 1.200 quilómetros,

A prática está regulada oficialmente.  Nomeadamente pelo Lei 36767 de 26 de Fevereiro de 1948 (Lei de protecção ao pombo-correio): Determina que é necessário estar inscrito na Federação Portuguesa de Columbofilia para poder ter pombos-correio ou comprar anilhas oficiais e que o dever de quem encontrar um pombo-correio extraviado é comunicá-lo de imediato à Federação Portuguesa de Columbofilia, que tratará de identificar o proprietário a fim de se proceder à recuperação do pombo. Após a recepção da comunicação emitida pela Federação, o proprietário dispõe de 15 dias (corridos) para a efectiva recuperação do pombo. 

Mas, o que é, afinal esta ave tão admirada? O atual pombo-correio é o resultado de cruzamentos de algumas raças belgas e inglesas, efectuadas na segunda metade do século XIX. Esse padrão de pombo foi continuamente selecionado a fim de apurar duas características principais: a capacidade de orientação e um morfético atlético.

Por agora Sebastião guardou o boletim informativo, pegou na garrafa que aparentava ser muito velha e dirigiu-se a um bar restaurante que existia logo acima da praia e onde se encontravam apenas dois velhos clientes jogando gamão e um par, também da terceira idade, ocupado com o dominó. Mandou vir uma bica e um pastel de nata, ao que o patrão o aconselhou a optar pelos de feijão feitos pela mulher dele e acabados de sair do forno. Assim foi.

O lacre que tapava o gargalo da garrafa estava intacto, apenas um tanto amarelecido pelo sal do mar. O dono do estaminé, sôr Malaquias emprestou uma faca da cozinha para abrir o lacrado e poder-se extrair o conteúdo. Tratava-se dum papel, melhor dizendo uma mensagem em castelhano antigo datada de 17 de Marzo de 1756 oriunda de Montevideo e assinada por Don Fernando Cruces Carrasco.

Nela o autor relatava: “Estoy atrapado aquí en esta isla

por haber llamado hijo de puta al gobernador general de la provincia, que es verdad.

Pero la sentencia que me ha dado el tribunal es de por vida y aislada para siempre.

¡Mierda!

Por eso escribo este mensaje que arrojo al mar con la esperanza de que alguien lo lea y venga a salvarme. Espero y confío en Dios Nuestro Señor,”

Era o Outubro de 2021, distavam 265 anos entre a entrada da missiva na garrafa e a sua saída ali no Beira Mar do sôr Malaquias; não havia nada a fazer, a não ser acolher a proposta do proprietário: para comemorar o achado podíamos beber umas bejecas com uns nacos de salpicão de Freixo de Espada à Cinta que era a terra dele. Excelente.

E foi então que os temas se cruzaram. De Freixo era também natural o sacana que me despedira por causa dos pombos correio. E logo o valente Gustavo Malaquias: “Sei quem é o pássaro bisnau. É o engenheiro Artur Margaride, que dizem que é maricas…” E acrescentou: “Eu, pelo menos, não punha as mãos no fogo por ele; já na escola primária onde andámos juntos se falava…”

Sebastião percebeu. Sem qualquer intenção premeditada tinha perguntado no escritório, na frente do Margaride, se era verdade que os pombos correio levavam mensagens na anilha. Ao que o Silvestre da Tesouraria comentara com ar sardónico: “Na anilha? Tás a gozar com quem?” 

 

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21.1.23

Grande Angular - A virtude e a política

Por António Barreto

O que mais surpreende, na crise actual, é a rapidez com que se instalou o declínio. Tudo em circunstâncias tão estranhas, em contraste com as condições muitíssimo favoráveis. Apesar da pandemia, da guerra na Ucrânia e da inflação, havia uma maioria absoluta, uma aparente experiência de muitos governantes, dinheiro europeu, uma relativa paz social, o apoio quase cúmplice do Presidente da República e uma opinião pública não muito descontente. Até que surgiram as demissões em série, as denúncias de corrupção, as dúvidas e a desconfiança, os processos e as inquirições. De repente, o mundo português ficou toldado.

 

Como sempre, não faltam as invenções. O questionário de interesses e moralidade é a mais caricata. Em vez de amadurecer, a democracia portuguesa atravessa aguda fase de infantilismo. É chocante o modo como é tratada a questão da seriedade, dos interesses e da honestidade dos políticos. Estão a inventar-se ridículos métodos de confissão e inquirição, com o principal objectivo de desculpar os políticos, dispensar a justiça, afastar as inspecções, eliminar as políticas, ignorar os magistrados, ultrapassar o Ministério Público e enganar a opinião pública.

 

E, no entanto, há coisas tão simples na vida! Quem escolhe e nomeia é responsável. Quem não cumpre a lei é castigado. O desonesto é condenado. O incompetente é afastado. Quem rouba é julgado. Quem favorece os seus é denunciado. O que corrompe é punido e o que se deixa corromper é justiçado. Métodos simples e conhecidos que dispensam os questionários virtuosos que escondem mais do que revelam. A começar pela declaração de rendimentos e pelo registo de interesses entregues no Tribunal Constitucional, uma, na Assembleia da República, outro. E que agora, pelos vistos, não servem para nada.

 

A eventual aprovação deste método de inquirição, seja com o detestável estatuto de “informalidade oficial”, seja com o selo da lei, levanta mais problemas do que resolve. Por que razão a propriedade de contas bancárias, de acções e de imóveis, além de outros bens materiais, é mais gravosa e tentadora do que outras realidades? Não há outras condições de igual importância? Não há outros interesses tão ou mais nefastos para a vida política do que os bens materiais?

 

Tudo o que é monetário tem ainda um problema suplementar: o dos limites e dos montantes. Toda e qualquer fortuna é sinal de dependência e de interesse ilegítimo? Quaisquer acções, obrigações ou contas bancárias têm esse condão de limitar os direitos e a moralidade de qualquer pessoa? Ou há limites e montantes? A partir de que volume uma pessoa é suspeita de ladroagem e de defender interesses ilegítimos? Um euro? Mil euros? Um milhão de euros? Quantas acções limitam a liberdade e dão origem à desconfiança? Uma? Mil? Um por cento? Dez por cento? E o proprietário de um apartamento poderá ser autarca ou membro do governo nas pastas das finanças, da administração interna e da habitação?

 

Se vamos inquirir a situação económica, deveríamos também vigiar as qualidades intelectuais, políticas, de gestão e de liderança. A incompetência e a incapacidade de previsão, como se vê agora com a saúde e a educação, são mais graves do que um pacote de acções de um banco ou de uma empresa de telefones. Seguindo o exemplo do que se passa com a actividade económica, seria necessário elaborar um questionário destinado a revelar as qualidades intelectuais e de gestão de um candidato a ministro. Só assim evitaríamos, por exemplo, que o número de médicos e enfermeiros ficasse muito aquém das necessidades. E só desse modo teríamos professores formados e distribuídos com a devida antecedência.

 

De qualquer modo, as condições económicas estão longe de ser as únicas ou sequer as mais importantes que afectam a seriedade na política e a isenção dos políticos. Um sócio, adepto ou dirigente de um clube de futebol, sobretudo dos grandes, pode desempenhar funções nos sectores que têm relações com esses clubes, como sejam o desporto, as finanças, o imobiliário, a justiça e as polícias? Não deveremos exigir que um político se afaste publicamente de um clube desportivo antes de tomar posse?

 

Que fazer com a pertença dos políticos a sociedades públicas, a Ordens profissionais, a associações científicas, a academias, a confrarias, a sindicatos, a grémios e grupos recreativos? A pertença a qualquer associação cultural e a grupos artísticos limita também as capacidades? Deve ser eliminatória do exercício de certas funções?

 

A fé ou o ateísmo, a crença numa religião, a pertença a uma igreja ou um culto, são compatíveis com o exercício isento de um cargo político? Pelos actuais parâmetros, parece bem que não. Católico, evangelista, muçulmano, budista, hindu, protestante, anglicano e judeu deveriam ser afastados da política, ou abjurar publicamente antes de serem autarcas, secretários de estado, deputados ou ministros.

 

A pertença a associações discretas ou associações secretas, como qualquer uma das duas dúzias de obediências maçónicas ou uma das muitas associações religiosas igualmente discretas, deverá ser imediatamente interdita? Ou deverá apenas limitar o exercício de funções nas áreas que possam ter envolvimentos e interesses especiais?

 

Levada esta questão, com coerência, atá às últimas consequências, chegaríamos ao ponto, absurdo, de ter de eliminar as possibilidades de um político ou um autarca exercerem as suas funções enquanto pertencerem a um partido político. A relação com este é fonte de todas a suspeitas. Mais do que qualquer outra actividade, reduz absolutamente a isenção de um político em exercício num cargo público. A actividade partidária destina-se a conquistar o poder. O exercício do poder faz-se favorecendo o partido e os correligionários. Um político que o queira ser, nas condições que se preparam nesta tão virtuosa República em que vivemos, tem de renunciar ao seu partido e afastar-se dos seus camaradas. Só assim chegaríamos ao estádio de perfeição em que um político, no exercício das suas magnificas funções, deixaria de ter fortuna, de acreditar num Deus, de pertencer a uma associação, de ser militante de um partido, de ser adepto de um clube de futebol, de possuir acções de empresas, de ser proprietário de apartamento, de ter uma quinta, de ir às reuniões da loja, de frequentar a igreja, de visitar a sinagoga, de rezar na mesquita. Este político será perfeito, leal, virtuoso, independente e íntegro. Mas não vale um caracol. E provavelmente será um ditador.

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Público, 21.1.2023

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18.1.23

No "Correio de Lagos" de Dezembro de 2022

 


METENDO ÁGUA


I — EM FINAIS dos pré-históricos ‘anos 80’, a EFACEC, empresa onde eu trabalhava, fez um consórcio com a alemã Hartmann & Braun para concorrerem ao “Lote de Controlo e Instrumentação da Central do Pego” — o que abarcava o projecto, fabrico, montagem, ensaios e colocação em serviço de uma infinidade de equipamentos eléctricos e electrónicos. O ‘casamento’ correu bem e, tendo essas empresas ganho o concurso, a parte nacional foi entregue ao gabinete que eu chefiava, pelo que foi necessário contratar dois engenheiros seniores para me acompanharem em longas estadas na Alemanha e, mais tarde, na própria Central — e não foi fácil, pois, regra-geral, os profissionais com o perfil necessário já estavam empregados, e tinham as suas vidas familiares e profissionais organizadas e estabelecidas.
Seguiram-se, portanto, numerosas entrevistas que, devido à especificidade do trabalho em causa (e aos ordenados que poderia ser necessário pagar), foram conduzidas por um director; e, a certa altura, no decorrer de uma delas, foi-lhe recomendado um determinado profissional como sendo “muito bom a resolver problemas”, que ele recusou liminarmente, explicando que “Não precisamos de engenheiros para RESOLVER problemas, mas sim para os PREVER, EVITANDO QUE SURJAM”.
Tomei boa nota de tão sábias palavras, e reproduzia-as a um outro director que, discordando, comentou que “Não é necessário PREVER os problemas, basta RESOLVÊ-LOS à medida que surgem”.
Sucedeu que, por essa altura, o país foi assolado por grandes chuvas, o que permitiu testar esses dois princípios de forma prática: como sempre, houve terras onde esgotos, sarjetas e linhas de água haviam sido limpos ANTECIPADAMENTE; outras onde os ‘serviços’ foram a correr só quando as inundações começaram a ocorrer; e outras ainda onde nada foi feito, atirando-se as culpas para as ‘alterações climáticas’ que, como se sabe, são as palavras-mágicas atrás das quais se barricam os incompetentes, quando confrontados com esse género de desafios.
II — ORA, e como já se percebeu, esta crónica é acerca das chuvas que ultimamente assolaram o Algarve (ó, ironia!, terra de ‘secas extremas’!) e do que se lhes seguiu, o que procuro exemplificar com duas imagens:
A da esquerda, do passado dia 6, foi extraída de um vídeo — por sinal, eu não precisava de me ter exposto à chuva para o fazer, pois tenho em arquivo muitos outros, feitos em ocasiões semelhantes, que até remontam ao século passado.
Neles, vê-se claramente a enorme quantidade de água que vem de cima, e que, ‘ignorando’ as sarjetas por onde passa, segue em frente, desaguando no ‘rio’ que desce a Rua José Afonso, e indo depois, alegremente, a caminho do mar, aí fechando o tal ciclo que se aprende na escola.
Obviamente, a total INOPERÂNCIA dessas sarjetas está relacionada com a grande velocidade da água quando por elas passa; com o facto de muitas estarem obstruídas; e — acima de tudo — porque são pequenas, longitudinais e apenas localizadas junto às bermas. E, no entanto, há, noutras zonas da cidade, caleiras pluviais feitas ‘como deve ser’: além de serem amplas, abrangem toda a largura das ruas (como foi feito na Rua Infante de Sagres e nas transversais que para ela convergem), provando que tinha toda a razão o engenheiro da tal empresa alemã que, perante uma situação semelhante, dizia (contrariando o preconceito segundo o qual o seu povo não tem senso-de-humor):
— Se dá tanto trabalho fazer bem como fazer mal, porque é que se há-se fazer bem?
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No “Correio de Lagos” de Dezembro de 2022

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17.1.23

Pergunta de algibeira

 

Em que condições a sombra desta esfera é uma semi-recta?

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16.1.23

O que ando a ler


Para uns, a História é feita pelas personagens marcantes (líderes, heróis, etc). Para outros, é determinada pelas massas, pela luta de classes, e por aí fora…
Esta obra, não negando nada disso, mostra a influência determinante da Geografia, desde a antiga Mesopotâmia até à actualidade.
Datado de 2012, o livro tem uma introdução escrita pelo autor em Fevereiro de 2022, poucos dias antes da invasão da Ucrânia.
E não é que, 10 anos antes, já lá ESTAVA TUDO PREVISTO E EXPLICADO — nomeadamente a (quase?) inevitável expansão russa, a crise energética na Europa, etc?!

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No "Correio de Lagos" de Dez 22

 

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15.1.23

Vai um tirinho ó freguês? *Das miombas aos golpes atómicos

Por Antunes Ferreira

 

As miombas do Júlio eram famosas, sobretudo as cujo recheio era de porco alentejano criado no monte a bolota de azinheira. Era o tempo em que o Parque Mayer dava cartas em Lisboa, corria o ano de 1958, e no dia 21 de Setembro escapei-me “à formiga” da minha casa no Restelo já tarde, aí pelas dez e picos da noite sem que os meus pais dessem conta da escapadela. Na véspera comemorara os meus dezassete anos e o meu destino era o dito Parque Mayer.

 

Combinara um encontro muito especial no Júlio das Miombas. Uma corista da revista brasileira Há Fogo no Pandeiro que chegara à nossa cidade no ano anterior e desde então fazia um sucesso de espantar actuando no Coliseu com casas normalmente cheias. Fora o Eugénio Salvador, o crónico compère das revistas à portuguesa que me fizera conhecer o pessoal do Pandeiro. 

 

Fora muito fácil estabelecer laços de amizade com aquela trupe, os brasucas são normalmente, como dizem, caras bacanas. Das actrizes a Berta Loran e a mulatona Mara Abrantes (que durante muitos anos “fez” a cabeça e os bolsos a muito boa gente…) deram-me no goto, enquanto entre os homens o mais porreiro foi o Badaró a quem fiquei tão ligado que mais tarde seria testemunha dele quando viria a naturalizar-se português. Aqui viveu para sempre e morreu com um cancro. Da sua qualidade humana e singular estirpe acentuo que doou o corpo à Faculdade de Medicina para estudo e isso diz tudo. 

 

Uma noite, na Toca do Carlos Ramos, onde eu até cantei o Não venhas tarde,Manílio Haidar Badaró, confidenciou-me que fizera sucesso na Rádio Clube Português, com o seu programa “Jornaleco” e explicou: “Um jornal que ninguém lê, mas todos ouvem”. Ficou conhecida a célebre expressão “Toma e embrulha” que ele usava nesse programa. Na televisão ficou famoso pelas personagens como o “Chinezinho Limpopó” e ainda pela célebre expressão “Ó Abreu, dá cá o meu”. 

 

Mas a menina Darcília não havia de chegar, outras milenas acenadas por mãos alentejanas mais gordas e mais abonadas apanharam-na e eu fiquei a ver… miombas ou melhor a comê-las porque a dona Augusta esposa do Júlio e cozinheira de truz adoptara-me sem registo notarial. Estava eu no melhor da segunda bifana quando entra a malta do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa com o Nuno Salvação Barreto, seu cabo, à frente.

 

Ora este grandalhão era outro meu amigo; as noitadas da estroina davam excelentes resultados. Mal entrou e me viu veio agradecer-me a ajuda que lhe dera para ele ter participado no filme Quo Vadis no qual desempenhando o papel do escravo Brutus salvara a vida da heroína Lígia, protagonizada pela estrela Deborah Kerr, pegando de caras um touro português que ameaçava a vida da jovem na arena do coliseu de Roma perante Nero.

 

Nessa altura decorria no parque um torneio de luta livre americana (o que hoje se chama wrestling) no qual participavam devidamente preparados – e combinados – diversos “malandros”: o Zé Luís, o Mascarilha Secreta, o Tarzan Taborda, o Adamastor Gingão entre outros do mesmo quilate. Um dos calmeirões, aliás com registo cadastral,  conhecido como o Furacão de Cacilhas comentou alto e bom som que “agora é qu’era porreiraço ver os panilas que davam em setares do celulóide!!!!”

 

Levou logo um sopapo – e que sopapo! – que o virou de cangalhas! O autor confesso a olhos vistos fora o primeiro ajuda do Grupo, o Zeca Arruda. Depois foi o pandemónio! Enquanto distribuía galhetas à supimpa, o Nuno agarrou-me pelo braço direito e disse-me para me meter numa barraca dos tirinhos e aproveitar para dar uns quantos às meninas que lá “trabalhavam” o que fiz de bom grado.

 

Regressei a casa já o Sol ameaçava no horizonte. O nosso vizinho, um tal José Hermano Saraiva que, apesar de ser profundamente situacionista (chegaria a ser ministro da Educação e embaixador no Brasil entre muitos outros cargos políticos) sempre foi meu grande amigo – ofereceu-me, por exemplo, o seu livro de contos Vento vindo dos montes com uma dedicatória que caiu fundo no meu coração: “Para o Henrique, contente de o saber tão bom amigo e tão bom estudante. J.H.Saraiva”, se levantava cedo perguntou-me se ia chover. Percebi que era apenas conversa, coisa em que ele (e eu) era perito. Por algum motivo – e foram muitíssimos! – lhe chamaram depois o “Príncipe dos Comunicadores”. Talvez tivesse sido melhor qualifica-lo como o “Rei dos…” Ele merecia.

 

Afigura-se-me fazer aqui um pouco da história dessa verdadeira instituição que é oParque Mayer que teve o seu esplendor mas foi deslizando até à degradação em que se encontra, pese embora as intenções que vêm sido anunciadas para a sua recuperação. Mas, de boas intenções está o Inferno cheio… O parque foi implantado num espaço que pertenceu antes aos jardins e espaços adjacentes do Palácio Mayer (Prémio Valmor 1902), construído em 1901 por Nicola Bigaglia e pertença de Adolfo de Lima Mayer. 

 

Em 1920, este espaço foi adquirido por Artur Brandão e vendido no ano seguinte a Luís Galhardo, personalidade ligada ao meio teatral, que sonhava criar um espaço dedicado ao divertimento. Tendo fundado a Sociedade Avenida Parque, assim iniciou neste recinto grandes momentos de diversão, espectáculo e representação, que o veio a tornar muito popular.

 

Na sua inauguração, em 15 de Junho de 1922, logo aqui foi criado um Teatro, com o nome da actriz e fadista Maria Vitória, cuja morte (poucos anos antes) criara alguma consternação. Inaugurado em 1 de Julho de 1922 com a revista "Lua Nova", o Teatro Maria Vitória é o único ainda a funcionar no recinto, mercê da persistência do seu empresário Hélder Freire Costa. Em 1926 (8 de Julho), com a revista "Pó de Arroz", abriu o Teatro Variedades e em 1931 (a 10 de Julho), Campos Figueira, à altura administrador da Avenida Parque, inaugurou o Capitólio, segundo um projecto do arquitecto Luís Cristino da Silva. Por último, já em 1956 (13 de Janeiro) o empresário José Miguel criava o novo Teatro ABC, no espaço que fora do "Alhambra" e parte do "Pavilhão Português", estreando a revista "Haja Saúde".

 

O Parque Mayer, recinto dos teatros de revista e dotado de restaurantes, carrosséis, esplanadas, pavilhões, casas de fado, barracas de tiro e outras, e onde também se exibiu cinema, luta livre e box, era um local de boémia por excelência, onde tanto ocorria o povo folião, como a elite política ou os intelectuais de Lisboa. Como se sabe é um recinto junto à Avenida da Liberdade. Os seus Teatros:

Teatro Maria Vitória, fundado em 1922 (Em funcionamento)

Teatro Variedades, fundado em 1926 (Em remodelação)

Teatro Capitólio, fundado em 1931 (Reaberto em 2016)

Teatro ABC, fundado em 1956 (Demolido)

 

Pelo Parque passaram inúmeras figuras dos tablados e dos estúdios portugueses nomeadamente da Revista à portuguesa. Um enunciado exaustivo está fora de questão mas aqui ficam uns quantos apontamentos que me parecem interessantes. Refiro por exemplo o Theatro da Rua dos Condes que estreia a Revista "As Cores da Bandeira", em 1890 da qual fazia parte a marcha "A Portugueza", de Alfredo Keil (1850 - 1907) e letra de Henrique Lopes de Mendonça (1856 - 1931), música e letra que mais tarde, com o inicio do regime Republicano, dariam origem ao hino nacional em 1911 com o mesmo titulo. 

 

Esta marcha "A Portugueza" resulta do sentimento nacional profundo oriundo da humilhação sofrida pelo Ultimato imposto pelos Britânicos em 1890, assim, surge, no mesmo ano, uma música de exaltação nacional e forte carácter patriótico. Devida à designada "lei das rolhas" que ainda estava em vigor, esta Revista e marcha seriam censuradas e suspensas por um tempo. A Revista "Zás Trás" em finais dos século XIX e em 1898 a Revista do ano, como ainda era designada "Agulhas e Alfinetes" em cartaz no Theatro da Rua dos Condes.

 

Em plena Avenida de Liberdade, em 1906 o Theatro Avenida estreia a Revista "Prá Frente" que seria um enorme sucesso e mais tarde, em 1908 outro sucesso que foi a Revista "A.B.C.". O Theatro Phantastico estreia uma das suas primeiras Revistas com o titulo "Já te Pintei" em 1908.  No Theatro Apollo estreou-se a primeira Revista à portuguesa após a instauração da Republica e considerada a primeira Revista verdadeiramente republicana, pelo seu espírito revolucionário, intitulada "Agulha em Palheiro". 

 

 

Esta Revista da autoria de Ernesto Rodrigues, Felix Bermudes e Lino Ferreira foi um êxito e estreou-se em 23 de Fevereiro de 1911. Uma peça de Revista em 3 actos e 12 quadros, com música de Filipe Duarte e Carlos Calderón, interpretada entre outros actores da época por Nascimentos Fernandes, Lucinda do Carmo, Isaura, Amélia Pereira e João Silva. De referir que os números musicais com fadistas profissionais em palco nas peças do teatro de Revista, terão surgido por volta de 1910; antes disso havia representações um tanto burlescas imitando os fadistas, números estes que serviam para o tempo de mudança de cenários em palco. 

 

Em 1911 estreia uma das primeiras Revistas, já pós Republica, intitulada "Arre Que é Burro", no Theatro Moderno e mais tarde em 1913, outro grande êxito "Os Gorostescos", uma Revista em dois actos. Em 1912 novamente no Theatro Avenida, mais um grande êxito estreia, a Revista "CóCóRóCóCó". O Teatro Paraíso de Lisboa, na Rua da Palma, estreou a Revista "Cale-se" em 1912, um grande sucesso num teatro que também era animatógrafo. Este género teatral que satiriza o que vai acontecendo a todos os níveis na sociedade e em cada ano, passa a ter a designação de "Revista à portuguesa", afinal era adaptado e satirizava de maneira muito nacionalista os acontecimentos ocorridos em Portugal especificamente. 

 

 

O fenómeno de adaptação à realidade portuguesa torna este genro de teatro mais rico do que  o mesmo genro em outros países, onde a alma portuguesa está muito presente na forma de representação. O Teatro da Trindade foi palco igualmente, de grandes êxitos da Revista à portuguesa, entre muitos deles destaque para dois grandes sucessos como "As Cartolinhas e os Adelaides" estreado em outubro de 1915 e "Feira da Luz" estreado em 1930. 

 

 

Com o inicio do regime republicano é mudado o nome do antigo Theatro D. Amélia, actual Teatro D. Luiz, para Teatro da República, e nesta nova era sobem ao palco deste teatro alguns êxitos do teatro de Revista como "Castelos no Ar" que tem estreia em 1916 e "Lisboa Amada" que estreia em 1917. Do elenco desta última peça faziam parte entre outros o actor Chaby Pinheiro (1873 - 1933) que interpreta o fado O Carro do Chora. No Eden Teatro na Praça dos Restauradores, também se representaram muitos e grandes êxitos da Revista à portuguesa como o grande sucesso que foi a Revista "O Novo Mundo" em 1919 e mais tarde, no mesmo ano a Revista "Cabaz de Morangos". 

 

 

Também o Coliseu dos Recreios foi palco para numerosas Revistas à portuguesa de grande sucesso ao longo do século XX. A Revista à portuguesa, foi e continua a ser um género teatral que se generalizou por todos os teatros, grandes e pequenos da capital e também da província. Grandes actores e actrizes, mais tarde nomes importantes no cinema português, iniciaram as sua carreira de sucesso no teatro de Revista à portuguesa nas primeiras décadas do século XX, foram entre muitos o caso de  António Silva (1886 - 1971), Vasco Santana (1898 - 1958), Beatriz Costa (1907 - 1996), Mirita Casimiro (1914 - 1970), entre muitos outros. Este género teatral foi e continua sendo o "berço teatral" para o inicio e sucesso da carreira de muitos dos grandes actores e actrizes portugueses até à actualidade.

 

                                          

                                                             

Com as alterações politicas que se iniciam em Portugal a partir de 1933, também o teatro de Revista à Portuguesa sofre alterações e a censura será uma realidade nas décadas que se seguem. Os números das Revistas e letras de canções são censurados, só algumas rabulas ao novo regime do Estado Novo e a António de Oliveira Salazar (1889 - 1970), passam despercebidas ao famoso "lápis azul" dos censores do regime. Será no entanto uma época em que os conteúdos das rábulas e as criticas sociais vão ser mais elaboradas de modo a passar à censura que as irá acompanhar até ao fim do regime. Foi igualmente uma época de grandes sucessos do teatro da Revista à portuguesa. Este género de espectáculo, contou sempre com artistas, Que nunca renegaram ser loucos portugueses…

  A história do Parque Mayer é indissociável do percurso político, social e cultural do país. No início dos anos 70 assistiu-se, neste espaço, a uma completa renovação de autores, artistas e da própria estrutura da Revista à portuguesa, como foi o caso, em 1972, de "É o fim da macacada", de Francisco Nicholson, Gonçalves Preto e Nicolau Breyner, no Teatro ABC. Após o 25 de abril, compreensivelmente, os autores apressaram-se a colocar em cena os quadros que tinham sido interditados anteriormente pela censura. O uso do palavrão passou a ser recorrente em muitos dos textos levados à cena, em muitos casos com alguns excessos despropositados, redundando mesmo em pura obscenidade. Luiz Francisco Rebello na sua obra refere que as revistas no Parque Mayer oscilavam, neste período, "entre uma difícil e duvidosa neutralidade e uma viragem radical à direita". O Parque Mayer, situado junto à Avenida da Liberdade, do lado ocidental, entre a Rua do Salitre e a Praça da Alegria, este recinto viveu o seu apogeu entre as décadas de 30 e de 70 do século XX, tendo, desde aí, entrado em declínio. Neste espaço estrearam-se e ganharam fama artistas do teatro e da canção, que souberam fidelizar um público entusiasta. Assim, alguns trabalhadores do Teatro ABC decidiram sair do Parque Mayer para formar, em 1974, uma cooperativa de teatro: o designado Teatro ÁDÓQUE. Este novo conceito de teatro, propunham-se fazer um teatro de Revista de tendências progressistas, e fixaram-se no Martim Moniz, num teatro desmontável que fora pertença da Companhia Rafael de Oliveira. Possuíam ainda um jornal, o Jornal ÁDÓQUE, onde eram divulgados os espectáculos produzidos por esta companhia. Na abertura deste novo conceito de teatro, a 23 de setembro de 1974, estreia a Revista à portuguesa "Pides na Grelha". De entre outros grandes sucessos deste teatro foi a Revista à portuguesa "A Grande Cegada" em 1976 e ainda "Taram Tam Tam não Enche Barriga", também de 1976. No Parque Mayer mantiveram-se os artistas com uma ideologia mais conservadora e o repertório ressentiu-se, por vezes, desse excessivo zelo. É neste período do pós 25 de abril que a RTP dá inicio a diversas produções de programas de entretenimento que vão buscar muito da essência, alguns quadros humorísticos e actores da Revista à portuguesa, que se representava nos palcos dos teatros até então. De certa forma este facto banaliza um pouco o conceito e os quadros humorísticos da Revista à portuguesa passam a chegar ao publico sem que estes tenham de sair e ir ao teatro. O teatro de Revista perde de certa forma e entra em crise desde então, não deixando no entanto de ter a sua magia que a TV não consegue transmitir com a os actores, bailarinos e cenários ao vivo no palco. Este género de representação da Revista à portuguesa tem-se reinventado, adaptado e mantido, apesar das dificuldades. Muitos outros teatros e Companhias levaram à cena e continuam a fazê-lo, com peças de teatro de Revista à portuguesa, umas mais elaboradas que outras, algumas até roçando o estilo do musical da Brodway, mas o espírito está lá. São exemplos, o encenador Filipe La Féria no Teatro Politeama que na sua carreira de produtor e encenador já levou alguns espectáculos de Revista à cena. Também a Academia de Santo Amaro tem levado ao palco algumas Revistas à portuguesa, funcionando aliás como uma escola para novos talentos neste género de arte cénica. De referir que também no espaço Belém Clube se têm representado algumas peças de Revista à portuguesa de grande sucesso. Alguns grupos independentes como a Cartaz Produção de Espectáculos criada pelo actor Luís Aleluia em 1991, têm produzido algumas peças de Revista à portuguesa de sucesso como "Ó Zé Bate o Pé!".  Nos anos áureos do Parque Mayer, os espectáculos tinham duas sessões durante a semana (incluindo ao sábado) e três aos domingos e feriados, empregando com isso centenas de pessoas entre artistas, costureiras, carpinteiros, técnicos de iluminação, e vários outros profissionais envolvidos na produção de espectáculos de revista. Mesmo com os quatro teatros a apresentarem espectáculos em simultâneo, as lotações esgotavam muitas vezes. Durante mais de um século, o teatro de revista ou a Revista à portuguesa, constitui uma janela de crítica política e social em que, curiosamente, ao longo dos tempos e das sucessivas situações e regimes, houve maior liberdade de espectáculo e de texto do que no teatro declamado. Talvez porque se pensasse que a Revista à portuguesa, e designadamente o Parque Mayer, não provocava crises políticas. No início do século XXI apenas o Teatro Maria Vitória apresentava alguma (esporádica) actividade com espectáculos de teatro de revista, por iniciativa do empresário e produtor Hélder Freire Costa. O Parque Mayer teve nos últimos tempos, altos e baixos, desde projectos para a sua recuperação, uns que ficaram pelo caminho, até outros que seguiram com sucesso para a frente. No entanto viu-se recentemente algo de positivo com a recuperação do Teatro Capitólio e para breve do Teatro Variedades a ser uma realidade no que respeita a recuperação. No meio de todas estas crises e altos e baixos do espaço do Parque Mayer, resistiu e resiste o mais antigo teatro deste espaço, o Teatro Maria Vitória, também chamado de "catedral" da Revista à portuguesa, que praticamente nunca parou a sua actividade, graças ao empenho e gosto pela arte do empresário Hélder Freire Costa, que comemorou 54 anos de carreira como empresário teatral, chamado por muitos e bem, um resistente.

E graças a essa resistência do empresário Hélder Freire Costa e de toda a sua magnifica equipa, como tem sido hábito, todos os anos, felizmente, fez-se uma vez mais história no Teatro Maria Vitória e no Parque Mayer, com a estreia este ano de mais uma Revista à portuguesa. Desta vez aconteceu a antestreia no passado dia 5 de setembro da revista "Parque Mania". Um espectáculo, como sempre, que mantém a tradição da verdadeira Revista à portuguesa, de uma Companhia entusiasta e talentosa. Com textos da autoria de Miguel Dias, Flávio Gil e Renato Pino, músicas da autoria de Eugénio Pepe, Miguel Dias e Carlos Pires, a encenação, coordenação e direcção de ensaios de Flávio Gil, com os actores Paulo Vasco, Flávio Gil, Rosa Maria Villa, Susana Cancela, Pedro Silva, Patrícia Teixeira e como revelação e atracção do fado Elsa Casanova, com uma voz inconfundível. Uma Revista à portuguesa como sempre com muita luz, cor, fantasia, glamour, quadros hilariantes com rábulas muita bem escritas e magnificas interpretações, sempre com a crítica social, política e desportiva à mistura, que diverte e faz pensar na realidade que vivemos no nosso pais assim como no mundo. Conta ainda com belíssimas canções e fantásticas coreografias. Estão uma vez mais todos mas todos de Parabéns, desde técnicos, cenógrafos, costureiras, patrocinadores e todos os que colaboraram de forma directa e indirecta por todo o trabalho e empenho demonstrado em mais este novo projecto, que para além de divertir mantém viva a tradição do verdadeiro e único teatro de Revista à portuguesa. Sem levantar muito o "véu", pois há muitas e boas surpresas, é um excelente espectáculo de revista a não perder e que vale a pena assistir no Teatro Maria Vitória no Parque Mayer.

Vai um tirinho ó freguês? - *Das miombas aos golpes atómicos

Por Antunes Ferreira

 

As miombas do Júlio eram famosas, sobretudo as cujo recheio era de porco alentejano criado no monte a bolota de azinheira. Era o tempo em que o Parque Mayer dava cartas em Lisboa, corria o ano de 1958, e no dia 21 de Setembro escapei-me “à formiga” da minha casa no Restelo já tarde, aí pelas dez e picos da noite sem que os meus pais dessem conta da escapadela. Na véspera comemorara os meus dezassete anos e o meu destino era o dito Parque Mayer.

 

Combinara um encontro muito especial no Júlio das Miombas. Uma corista da revista brasileira Há Fogo no Pandeiro que chegara à nossa cidade no ano anterior e desde então fazia um sucesso de espantar actuando no Coliseu com casas normalmente cheias. Fora o Eugénio Salvador, o crónico compère das revistas à portuguesa que me fizera conhecer o pessoal do Pandeiro. 

 

Fora muito fácil estabelecer laços de amizade com aquela trupe, os brasucas são normalmente, como dizem, caras bacanas. Das actrizes a Berta Loran e a mulatona Mara Abrantes (que durante muitos anos “fez” a cabeça e os bolsos a muito boa gente…) deram-me no goto, enquanto entre os homens o mais porreiro foi o Badaró a quem fiquei tão ligado que mais tarde seria testemunha dele quando viria a naturalizar-se português. Aqui viveu para sempre e morreu com um cancro. Da sua qualidade humana e singular estirpe acentuo que doou o corpo à Faculdade de Medicina para estudo e isso diz tudo. 

 

Uma noite, na Toca do Carlos Ramos, onde eu até cantei o Não venhas tarde, Manílio Haidar Badaró, confidenciou-me que fizera sucesso na Rádio Clube Português, com o seu programa “Jornaleco” e explicou: “Um jornal que ninguém lê, mas todos ouvem”. Ficou conhecida a célebre expressão “Toma e embrulha” que ele usava nesse programa. Na televisão ficou famoso pelas personagens como o “Chinezinho Limpopó” e ainda pela célebre expressão “Ó Abreu, dá cá o meu”. 

 

Mas a menina Darcília não havia de chegar, outras milenas acenadas por mãos alentejanas mais gordas e mais abonadas apanharam-na e eu fiquei a ver… miombas ou melhor a comê-las porque a dona Augusta esposa do Júlio e cozinheira de truz adoptara-me sem registo notarial. Estava eu no melhor da segunda bifana quando entra a malta do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa com o Nuno Salvação Barreto, seu cabo, à frente.

 

Ora este grandalhão era outro meu amigo; as noitadas da estroina davam excelentes resultados. Mal entrou e me viu veio agradecer-me a ajuda que lhe dera para ele ter participado no filme Quo Vadis no qual desempenhando o papel do escravo Brutus salvara a vida da heroína Lígia, protagonizada pela estrela Deborah Kerr, pegando de caras um touro português que ameaçava a vida da jovem na arena do coliseu de Roma perante Nero.

 

Nessa altura decorria no parque um torneio de luta livre americana (o que hoje se chama wrestling) no qual participavam devidamente preparados – e combinados – diversos “malandros”: o Zé Luís, o Mascarilha Secreta, o Tarzan Taborda, o Adamastor Gingão entre outros do mesmo quilate. Um dos calmeirões, aliás com registo cadastral,  conhecido como o Furacão de Cacilhas comentou alto e bom som que “agora é qu’era porreiraço ver os panilas que davam em setares do celulóide!!!!”

 

Levou logo um sopapo – e que sopapo! – que o virou de cangalhas! O autor confesso a olhos vistos fora o primeiro ajuda do Grupo, o Zeca Arruda. Depois foi o pandemónio! Enquanto distribuía galhetas à supimpa, o Nuno agarrou-me pelo braço direito e disse-me para me meter numa barraca dos tirinhos e aproveitar para dar uns quantos às meninas que lá “trabalhavam” o que fiz de bom grado.

 

Regressei a casa já o Sol ameaçava no horizonte. O nosso vizinho, um tal José Hermano Saraiva que, apesar de ser profundamente situacionista (chegaria a ser ministro da Educação e embaixador no Brasil entre muitos outros cargos políticos) sempre foi meu grande amigo – ofereceu-me, por exemplo, o seu livro de contos Vento vindo dos montes com uma dedicatória que caiu fundo no meu coração: “Para o Henrique, contente de o saber tão bom amigo e tão bom estudante. J.H.Saraiva”, se levantava cedo perguntou-me se ia chover. Percebi que era apenas conversa, coisa em que ele (e eu) era perito. Por algum motivo – e foram muitíssimos! – lhe chamaram depois o “Príncipe dos Comunicadores”. Talvez tivesse sido melhor qualifica-lo como o “Rei dos…” Ele merecia.

 

 Afigura-se-me fazer aqui um pouco da história dessa verdadeira instituição que é o Parque Mayer que teve o seu esplendor mas foi deslizando até à degradação em que se encontra, pese embora as intenções que vêm sido anunciadas para a sua recuperação. Mas, de boas intenções está o Inferno cheio… O parque foi implantado num espaço que pertenceu antes aos jardins e espaços adjacentes do Palácio Mayer (Prémio Valmor 1902), construído em 1901 por Nicola Bigaglia e pertença de Adolfo de Lima Mayer. 

 

Em 1920, este espaço foi adquirido por Artur Brandão e vendido no ano seguinte a Luís Galhardo,personalidade ligada ao meio teatral, que sonhava criar um espaço dedicado ao divertimento. Tendo fundado a Sociedade Avenida Parque, assim iniciou neste recinto grandes momentos de diversão, espectáculo e representação, que o veio a tornar muito popular.

 

Na sua inauguração, em 15 de Junho de 1922, logo aqui foi criado um Teatro, com o nome da actriz e fadista Maria Vitória, cuja morte (poucos anos antes) criara alguma consternação. Inaugurado em 1 de Julho de 1922 com a revista "Lua Nova", o Teatro Maria Vitória é o único ainda a funcionar no recinto, mercê da persistência do seu empresário Hélder Freire Costa. Em 1926 (8 de Julho), com a revista "Pó de Arroz", abriu o Teatro Variedades e em 1931 (a 10 de Julho), Campos Figueira, à altura administrador da Avenida Parque, inaugurou o Capitólio, segundo um projecto do arquitecto Luís Cristino da Silva. Por último, já em 1956 (13 de Janeiro) o empresário José Miguel criava o novo Teatro ABC, no espaço que fora do "Alhambra" e parte do "Pavilhão Português", estreando a revista "Haja Saúde".

 

O Parque Mayer, recinto dos teatros de revista e dotado de restaurantes, carrosséis, esplanadas, pavilhões, casas de fado, barracas de tiro e outras, e onde também se exibiu cinema, luta livre e box, era um local de boémia por excelência, onde tanto ocorria o povo folião, como a elite política ou os intelectuais de Lisboa. Como se sabe é um recinto junto à Avenida da Liberdade. Os seus Teatros:

Teatro Maria Vitória, fundado em 1922 (Em funcionamento)

Teatro Variedades, fundado em 1926 (Em remodelação)

Teatro Capitólio, fundado em 1931 (Reaberto em 2016)

Teatro ABC, fundado em 1956 (Demolido)

 

Pelo Parque passaram inúmeras figuras dos tablados e dos estúdios portugueses nomeadamente da Revista à portuguesa. Um enunciado exaustivo está fora de questão mas aqui ficam uns quantos apontamentos que me parecem interessantes. Refiro por exemplo o Theatro da Rua dos Condes que estreia a Revista "As Cores da Bandeira", em 1890 da qual fazia parte a marcha "A Portugueza", de Alfredo Keil (1850 - 1907) e letra de Henrique Lopes de Mendonça (1856 - 1931), música e letra que mais tarde, com o inicio do regime Republicano, dariam origem ao hino nacional em 1911 com o mesmo titulo. 

Esta marcha "A Portugueza" resulta do sentimento nacional profundo oriundo da humilhação sofrida pelo Ultimato imposto pelos Britânicos em 1890, assim, surge, no mesmo ano, uma música de exaltação nacional e forte carácter patriótico. Devida à designada "lei das rolhas" que ainda estava em vigor, esta Revista e marcha seriam censuradas e suspensas por um tempo. A Revista "Zás Trás" em finais dos século XIX e em 1898 a Revista do ano, como ainda era designada "Agulhas e Alfinetes" em cartaz no Theatro da Rua dos Condes.

Em plena Avenida de Liberdade, em 1906 o Theatro Avenida estreia a Revista "Prá Frente" que seria um enorme sucesso e mais tarde, em 1908 outro sucesso que foi a Revista "A.B.C.". O Theatro Phantastico estreia uma das suas primeiras Revistas com o titulo "Já te Pintei" em 1908.  No Theatro Apollo estreou-se a primeira Revista à portuguesa após a instauração da Republica e considerada a primeira Revista verdadeiramente republicana, pelo seu espírito revolucionário, intitulada "Agulha em Palheiro". 

 

Esta Revista da autoria de Ernesto Rodrigues, Felix Bermudes e Lino Ferreira foi um êxito e estreou-se em 23 de Fevereiro de 1911. Uma peça de Revista em 3 actos e 12 quadros, com música de Filipe Duarte e Carlos Calderón, interpretada entre outros actores da época por Nascimentos Fernandes, Lucinda do Carmo, Isaura, Amélia Pereira e João Silva. De referir que os números musicais com fadistas profissionais em palco nas peças do teatro de Revista, terão surgido por volta de 1910; antes disso havia representações um tanto burlescas imitando os fadistas, números estes que serviam para o tempo de mudança de cenários em palco. 

 

Em 1911 estreia uma das primeiras Revistas, já pós Republica, intitulada "Arre Que é Burro", no Theatro Moderno e mais tarde em 1913, outro grande êxito "Os Gorostescos", uma Revista em dois actos. Em 1912 novamente no Theatro Avenida, mais um grande êxito estreia, a Revista "CóCóRóCóCó". O Teatro Paraíso de Lisboa, na Rua da Palma, estreou a Revista "Cale-se" em 1912, um grande sucesso num teatro que também era animatógrafo. Este género teatral que satiriza o que vai acontecendo a todos os níveis na sociedade e em cada ano, passa a ter a designação de "Revista à portuguesa", afinal era adaptado e satirizava de maneira muito nacionalista os acontecimentos ocorridos em Portugal especificamente. 

 

O fenómeno de adaptação à realidade portuguesa torna este genro de teatro mais rico do que  o mesmo genro em outros países, onde a alma portuguesa está muito presente na forma de representação. O Teatro da Trindade foi palco igualmente, de grandes êxitos da Revista à portuguesa, entre muitos deles destaque para dois grandes sucessos como "As Cartolinhas e os Adelaides" estreado em outubro de 1915 e "Feira da Luz" estreado em 1930. 

 

Com o inicio do regime republicano é mudado o nome do antigo Theatro D. Amélia, actual Teatro D. Luiz, para Teatro da República, e nesta nova era sobem ao palco deste teatro alguns êxitos do teatro de Revista como "Castelos no Ar" que tem estreia em 1916 e "Lisboa Amada" que estreia em 1917. Do elenco desta última peça faziam parte entre outros o actor Chaby Pinheiro (1873 - 1933) que interpreta o fado O Carro do Chora. No Eden Teatro na Praça dos Restauradores, também se representaram muitos e grandes êxitos da Revista à portuguesa como o grande sucesso que foi a Revista "O Novo Mundo" em 1919 e mais tarde, no mesmo ano a Revista "Cabaz de Morangos". 

 

Também o Coliseu dos Recreios foi palco para numerosas Revistas à portuguesa de grande sucesso ao longo do século XX. A Revista à portuguesa, foi e continua a ser um género teatral que se generalizou por todos os teatros, grandes e pequenos da capital e também da província. Grandes actores e actrizes, mais tarde nomes importantes no cinema português, iniciaram as sua carreira de sucesso no teatro de Revista à portuguesa nas primeiras décadas do século XX, foram entre muitos o caso de  António Silva (1886 - 1971), Vasco Santana (1898 - 1958), Beatriz Costa (1907 - 1996), Mirita Casimiro (1914 - 1970), entre muitos outros. Este género teatral foi e continua sendo o "berço teatral" para o inicio e sucesso da carreira de muitos dos grandes actores e actrizes portugueses até à actualidade.

Com as alterações politicas que se iniciam em Portugal a partir de 1933, também o teatro de Revista à Portuguesa sofre alterações e a censura será uma realidade nas décadas que se seguem. Os números das Revistas e letras de canções são censurados, só algumas rabulas ao novo regime do Estado Novo e a António de Oliveira Salazar (1889 - 1970), passam despercebidas ao famoso "lápis azul" dos censores do regime. Será no entanto uma época em que os conteúdos das rábulas e as criticas sociais vão ser mais elaboradas de modo a passar à censura que as irá acompanhar até ao fim do regime. Foi igualmente uma época de grandes sucessos do teatro da Revista à portuguesa. Este género de espectáculo, contou sempre com artistas, Que nunca renegaram ser loucos portugueses…

A história do Parque Mayer é indissociável do percurso político, social e cultural do país. No início dos anos 70 assistiu-se, neste espaço, a uma completa renovação de autores, artistas e da própria estrutura da Revista à portuguesa, como foi o caso, em 1972, de "É o fim da macacada", de Francisco Nicholson, Gonçalves Preto e Nicolau Breyner, no Teatro ABC. Após o 25 de abril, compreensivelmente, os autores apressaram-se a colocar em cena os quadros que tinham sido interditados anteriormente pela censura. O uso do palavrão passou a ser recorrente em muitos dos textos levados à cena, em muitos casos com alguns excessos despropositados, redundando mesmo em pura obscenidade. Luiz Francisco Rebello na sua obra refere que as revistas no Parque Mayer oscilavam, neste período, "entre uma difícil e duvidosa neutralidade e uma viragem radical à direita". O Parque Mayer, situado junto à Avenida da Liberdade, do lado ocidental, entre a Rua do Salitre e a Praça da Alegria, este recinto viveu o seu apogeu entre as décadas de 30 e de 70 do século XX, tendo, desde aí, entrado em declínio. Neste espaço estrearam-se e ganharam fama artistas do teatro e da canção, que souberam fidelizar um público entusiasta. Assim, alguns trabalhadores do Teatro ABC decidiram sair do Parque Mayer para formar, em 1974, uma cooperativa de teatro: o designado Teatro ÁDÓQUE. Este novo conceito de teatro, propunham-se fazer um teatro de Revista de tendências progressstas, e fixaram-se no Martim Moniz, num teatro desmontável que fora pertença da Companhia Rafael de Oliveira. Possuíam ainda um jornal, o Jornal ÁDÓQUE, onde eram divulgados os espectáculos produzidos por esta companhia. Na abertura deste novo conceito de teatro, a 23 de setembro de 1974, estreia a Revista à portuguesa "Pides na Grelha". De entre outros grandes sucessos deste teatro foi a Revista à portuguesa "A Grande Cegada" em 1976 e ainda "Taram Tam Tam não Enche Barriga", também de 1976. No Parque Mayer mantiveram-se os artistas com uma ideologia mais conservadora e o repertório ressentiu-se, por vezes, desse excessivo zelo. É neste período do pós 25 de abril que a RTP dá inicio a diversas produções de programas de entretenimento que vão buscar muito da essência, alguns quadros humorísticos e actores da Revista à portuguesa, que se representava nos palcos dos teatros até então. De certa forma este facto banaliza um pouco o conceito e os quadros humorísticos da Revista à portuguesa passam a chegar ao publico sem que estes tenham de sair e ir ao teatro. O teatro de Revista perde de certa forma e entra em crise desde então, não deixando no entanto de ter a sua magia que a TV não consegue transmitir com a os actores, bailarinos e cenários ao vivo no palco. Este género de representação da Revista à portuguesa tem-se reinventado, adaptado e mantido, apesar das dificuldades. Muitos outros teatros e Companhias levaram à cena e continuam a fazê-lo, com peças de teatro de Revista à portuguesa, umas mais elaboradas que outras, algumas até roçando o estilo do musical da Brodway, mas o espírito está lá. São exemplos, o encenador Filipe La Féria no Teatro Politeama que na sua carreira de produtor e encenador já levou alguns espectáculos de Revista à cena. Também a Academia de Santo Amaro tem levado ao palco algumas Revistas à portuguesa, funcionando aliás como uma escola para novos talentos neste género de arte cénica. De referir que também no espaço Belém Clube se têm representado algumas peças de Revista à portuguesa de grande sucesso. Alguns grupos independentes como a Cartaz Produção de Espectáculos criada pelo actor Luís Aleluia em 1991, têm produzido algumas peças de Revista à portuguesa de sucesso como "Ó Zé Bate o Pé!".  Nos anos áureos do Parque Mayer, os espectáculos tinham duas sessões durante a semana (incluindo ao sábado) e três aos domingos e feriados, empregando com isso centenas de pessoas entre artistas, costureiras, carpinteiros, técnicos de iluminação, e vários outros profissionais envolvidos na produção de espectáculos de revista. Mesmo com os quatro teatros a apresentarem espectáculos em simultâneo, as lotações esgotavam muitas vezes. Durante mais de um século, o teatro de revista ou a Revista à portuguesa, constitui uma janela de crítica política e social em que, curiosamente, ao longo dos tempos e das sucessivas situações e regimes, houve maior liberdade de espectáculo e de texto do que no teatro declamado. Talvez porque se pensasse que a Revista à portuguesa, e designadamente o Parque Mayer, não provocava crises políticas. No início do século XXI apenas o Teatro Maria Vitória apresentava alguma (esporádica) actividade com espectáculos de teatro de revista, por iniciativa do empresário e produtor Hélder Freire Costa. O Parque Mayer teve nos últimos tempos, altos e baixos, desde projectos para a sua recuperação, uns que ficaram pelo caminho, até outros que seguiram com sucesso para a frente. No entanto viu-se recentemente algo de positivo com a recuperação do Teatro Capitólio e para breve do Teatro Variedades a ser uma realidade no que respeita a recuperação. No meio de todas estas crises e altos e baixos do espaço do Parque Mayer, resistiu e resiste o mais antigo teatro deste espaço, o Teatro Maria Vitória, também chamado de "catedral" da Revista à portuguesa, que praticamente nunca parou a sua actividade, graças ao empenho e gosto pela arte do empresário Hélder Freire Costa, que comemorou 54 anos de carreira como empresário teatral, chamado por muitos e bem, um resistente.

E graças a essa resistência do empresário Hélder Freire Costa e de toda a sua magnifica equipa, como tem sido hábito, todos os anos, felizmente, fez-se uma vez mais história no Teatro Maria Vitória e no Parque Mayer, com a estreia este ano de mais uma Revista à portuguesa. Desta vez aconteceu a antestreia no passado dia 5 de setembro da revista "Parque Mania". Um espectáculo, como sempre, que mantém a tradição da verdadeira Revista à portuguesa, de uma Companhia entusiasta e talentosa. Com textos da autoria de Miguel Dias, Flávio Gil e Renato Pino, músicas da autoria de Eugénio Pepe, Miguel Dias e Carlos Pires, a encenação, coordenação e direcção de ensaios de Flávio Gil, com os actores Paulo Vasco, Flávio Gil, Rosa Maria Villa, Susana Cancela, Pedro Silva, Patrícia Teixeira e como revelação e atracção do fado Elsa Casanova, com uma voz inconfundível. Uma Revista à portuguesa como sempre com muita luz, cor, fantasia, glamour, quadros hilariantes com rábulas muita bem escritas e magnificas interpretações, sempre com a crítica social, política e desportiva à mistura, que diverte e faz pensar na realidade que vivemos no nosso pais assim como no mundo. Conta ainda com belíssimas canções e fantásticas coreografias. Estão uma vez mais todos mas todos de Parabéns, desde técnicos, cenógrafos, costureiras, patrocinadores e todos os que colaboraram de forma directa e indirecta por todo o trabalho e empenho demonstrado em mais este novo projecto, que para além de divertir mantém viva a tradição do verdadeiro e único teatro de Revista à portuguesa. Sem levantar muito o "véu", pois há muitas e boas surpresas, é um excelente espectáculo de revista a não perder e que vale a pena assistir no Teatro Maria Vitória no Parque Mayer.

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