31.5.15

Luz-Nas margens do rio Douro, entre o Porto e Vila Nova de Gaia

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Pai e filha, na Ribeira, ao pé do rio. Em frente, do lado de lá do Douro, escondida na bruma da manhã, Vila Nova de Gaia, na zona dos grandes armazéns e das caves de vinho. (2014)

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2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

FALANDO DOS SOLOS (18) 
Importância dos solos 
Inspirados na frase que ficou célebre do grande mestre da Renascença, Leonardo da Vinci (1452-1519), são muitos os que, de quando em vez, nos lembram que “não se pode amar aquilo que não se conhece”. Afirmação, tornada lugar comum, tem plena e justa aplicação face a tudo, material ou imaterial, o que nos rodeia. E os solos são parte importante desse tudo. (...)
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30.5.15

O caso dos buracos no queijo suíço

Por Antunes Ferreira
O CASO do mistério dos buracos no queijo suíço já tinha mais de cem anos. Mas, agora, surge o eureka. Após um século, mais coisa, menos coisa, de investigação, os sucessivos cientistas que dele se encarregaram chegaram, enfim uma conclusão, ao que parece definitiva. E, finalmente não foi necessário para chegar ao último patamar do caso, recorrer a grandes diligências, algumas inesperadas de todo. Perry Mason não foi convocado, muito menos a sua secretária e amiga (suspeita) Della Street, nem sequer o detective Paul Drake. O Senhor Erle Stanley Gardner  tinha os direitos de autor mais caros do que a Autoridade Tributária quanto aos impostos, o que se afigura impossível… ou quase.
Isto porque as autoridades científicas da Confederação Helvética que se dedicaram ao estudo do fenómeno o desvendaram. E ficou-se a saber que elas são: a Agroscope, que é o instituto das ciências alimentares sediado em Berna cujos investigadores colaboraram com os colegas do Laboratório Federal Suíço de Testes de Materiais e Investigação, o Empa. Valioso trabalho sem necessitar de publicidade até que o caso ficou resolvido. 
Os famosos "buracos" de queijos como o Emmental e o Appenzell resultam dos gases produzidos por partículas de feno durante o processo de fermentação, explicou o Agroscope em comunicado. Era um enigma que, de acordo com os conclusivos investigadores “fascinava tanto as crianças como os adultos”
Os "buracos" tendem a desaparecer depois de o leite ter passado a ser extraído por meio de técnicas mais modernas, em vez da ordenha tradicional das vacas, constataram os investigadores que afirmaram que “é o desaparecimento do tradicional balde” colocado sob as tetas das vacas para apanhar o leite. Quem havia de dizer que o caso era de resolução fácil? Nada disso, muito pelo contrário.
Veja-se o histórico das investigações. Já em 1917 o norte-americano William Clark, especialista em leite e seus derivados, publicara um artigo aprofundado sobre a formação dos ditosos buracos no Emmental.
Ao longo dos anos continuaram as pesquisas, sem grandes resultados. Até que agora o Agrocope e o Empa vieram explicar que com a modernização da ordenha a mãos limpas (?) e portanto com sistemas totalmente automatizados e computadorizados o leite passou a estar mais… limpo. Durante os inúmeros testes que foram feitos, os investigadores viriam a descobrir que a variação da quantidade de feno influenciava a dimensão dos buracos.
Daí que os fãs do Emmental e do Appenzell terão de se habituar a consumi-los com buracos cada vez mais pequenos e, quem sabe? sem eles. Será caso para nova investigação desta feita sociológico- gastronómica? Tudo indica que é bem possível. O Homem é um animal de hábitos, um ser que se habitua a novas situações, desafios e soluções. Nem será preciso referir o Senhor Ivan Petrovich Pavlov , pois o seu famoso reflexo condicionado não lhe traria o Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1904. Este foi-lhe atribuído pela Academia Sueca pelas suas descobertas sobre os processos digestivos dos animais. Ironias da ciência e por isso da vida..
Mas a moeda tem sempre duas faces [tal como o (des)Governo português] Como é sabido os relógios, os chocolates e os queijos constituem a trindade mais querida para os cidadãos helvéticos (estive quase a escrever cidadões, mas contive-me). Se tomarmos em conta dados da Bloomberg, a agência de notícias financeiras, a Federação Helvética exportou o Emmental, considerado o mais procurado mundialmente, com o valor de mais de 500 milhões de euros. E é bom não esquecer que a Suíça nem pertence ao grupo da moeda única.
Quando alguém procura conciliar a austeridade com o crescimento da economia tem de se lhe mandar à… Suíça para efeitos do esquecimento. Comer muito queijo, mesmo sem buracos resulta na má memória ou na mal intencionada memória ou até na ausência total dessa mesma memória. É o caso dos (des)governantes do nosso país. Portanto, avante para a Suíça para aprenderem que não podem – nem devem –abusar da ingestão de queijo, qualquer que seja a sua denominação ou a sua marca. E também para que nós nos vejamos livres deles…
O sector dos queijos é um tema muito querido para os suíços, que em 2013 exportaram mais de 500 milhões de euros deste produto, com o Emmental como o mais procurado internacionalmente, segundo dados da Bloomberg.
A busca por uma resposta provém de, pelo menos, 1917, quando o americano William Clark publicou um artigo sobre esta característica no Emmental. Então, a explicação encontrada foi a da formação de dióxido de carbono produzido pelas bactérias do leite.
Quase nove décadas decorridas, os cientistas perceberam que os queijos produzidos desde o início do século têm menos buracos. Em resultado disso, atenderam à mudança dos métodos de ordenha. Daí até à correlação com o feno e a pureza do leite foi um passo. Acidental, como reconhece o comunicado emitido pelo Agroscope.

A Irlanda e os casamentos gay

Por C. Barroco Esperança
A Irlanda foi, até há duas décadas, feudo do Vaticano. A IVG era interdita, mesmo em casos de violação, malformação do feto ou risco de vida da mãe. Em 1986, a proposta de eliminar a proibição constitucional do divórcio foi submetida a referendo e rejeitada. Só em 1995, uma emenda removeu a proibição, mas com restrições.
Só quando duvidou da virtude dos seus padres descreu do martírio do seu Deus.
 A violência dos conventos, cárceres privados para a defesa da integridade de heranças e punição de mães solteiras cujos filhos eram retirados para adoção, associada à hipocrisia do clero, aceleraram o processo de secularização do País que a religião mantivera unido.
 A pedofilia eclesiástica alastrou como nódoa imparável, sob a ocultação das dioceses e o silêncio receoso dos pais. Vários bispos defendiam os padres pedófilos e um, apoiante do celibato do clero, protegeu, com dinheiros da diocese, a filha que ocultava.
 No dia 22 de maio de 2015, 22 anos depois da despenalização da homossexualidade, o casamento gay foi referendado por mais de 60% de eleitores num país onde a influência da Igreja católica, embora em declínio, parecia forte. Foi aprovado em força (62%). O direito à diferença impôs-se à discriminação e ao preconceito. Venceu a modernidade e a Irlanda foi o primeiro país a abrir as portas aos casamentos gay pela via referendária.
 Segundo os exegetas, o Cânone 1331 do Direito Canónico – o Código Penal das Almas –, determina que «não podem casar, batizar-se e nem poderão ter um funeral religioso», os que votaram SIM, mas L'Osservatore Romano – o Correio da Manha do Vaticano –, disse que “Não há anátemas, mas antes um desafio a superar por parte de toda a Igreja”, e o Vaticano e o papa não reagiram oficialmente ao resultado do referendo irlandês. 
Desta vez não houve imagens de virgens a chorar lágrimas de sangue, como sucedeu em Oleiros, no primeiro referendo sobre o aborto, em Portugal. O próprio bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco disse que as lágrimas não eram humanas. E não eram, um bispo não mente. Frei Edmundo pôs a imagem da Virgem a chorar lágrimas de sangue... de pomba. Foi apanhado em flagrante. Tomou raticida mas não morreu. O raticida não mata ratos de sacristia.
 Acabaram as romarias e oferendas. Frei Edmundo, reincidente em milagres, acabou no Hospital de Sobral Cid, em Coimbra.
Ponte Europa / Sorumbático

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26.5.15

Na morte do Fernando Pires - O chefe e a escova

Por Antunes Ferreira 
Entrava na redacção e a primeira coisa que fazia – absolutamente obrigatório – era tirar o pó da secretária com uma escova que guardava na segunda gaveta. A malta toda sabia desse ritual, respeitava-o obviamente mas alguns jornalistas mais dados a chalaças comentavam sotto voce que um dia ele traria também um pano molhado em detergente para remover alguma marca de tinta – o que era quase impossível pois mais cuidadoso do que ele, era impossível. I M P O S S Í V E L com todas as letras.
 O tom baixinho de voz era importantíssimo não fora ele ouvir o dito – o que significava entornar o caldo. Porque o homem não era de brincadeiras, muito menos para brincadeiras. Içava habitualmente a bandeira da cara de pau e o pessoal tinha-lhe respeito, muito mais do que medo. Porque era exigente, chegava ao pequeno pormenor, mas no fundo era uma defesa com que se escudava dos que não envergavam a camisola do jornal. Por isso – não contassem com ele.
 Conheci-o quando fazia relatos radiofónicos de jogos de futebol. Ambos” putos”, ainda que ele tivesse mais dez anos do que eu. Era então um tipo com cabelo…, o que mais tarde seria desmentido mas nunca nas páginas do seu quotidiano. Porque o diário da avenida da Liberdade também era dele e em certos momentos até era ele. Devoção ao título gótico, respeito pela oficina que ficava ali ao lado da redacção, intransigência perante a falta de verdade, do rigor, do desprendimento e, sobretudo do desleixo. 
 Depois afastámos-mos, a vida é feita de desencontros, de caminhos afastados, mas também dos cruzados. E foi então que nos descobrimos na redacção do DN, ele como chefe na sala verde de tantas memórias, algumas mais enviesadas, eu no “gabinete da chefia” (pomposa denominação, do aquário dito principal) , aconchegado nos restantes com paredes de vidro, duplamente transparentes. O Mário Zambujal era o chefe da Redacção, até que decidiu voar para outros pombais e sucedeu-lhe o “homem do diário” fundado por Eduardo Coelho e Tomás Quintino Antunes (quem sabe se talvez fosse meu primo em quadragésimo grau, ou seja muito afastado…) em 1864.
 Juntámos os nossos esforços – mais os dele do que os meus… – e desatámos a fazer o Diário de Notícias. Foi então que a nossa Amizade ganhou raízes e floresceu. As enésimas horas que passámos juntos foram inolvidáveis e o meu conhecimento dele aprofundou-se em cada dia que passava. Para mim foram apenas dezasseis anos no DN que face aos 55 dele saíram naturalmente na mó de baixo. Era o Fernando Pires e eu, o Antunes Ferreira, assim a modos que o Estica e o Bucha.
 Quando tomei a decisão de sair do DN – o que tanto me custou, podem crer – foi o Fernando o primeiro a tentar demover-me. Que porque torna e porque deixa, fazes muita falta ao nosso jornal, deixa-te de fitas e amanhã lá estamos. Mas eu não estaria - após o prazo legal que tinha de dar ao patrão. A privatização que para mim fora um roubo impedia-me de continuar. E no jantar de despedida que me ofereceram o Fernando disse-me do seu sentimento ao ver-me partir. Comoveu-me até a uma lágrima medrosa, envergonhada, maricas e prontamente afastada.
 No resto, que mais dizer? Dos sofrimentos que passou, da sua luta contra um maldito cancro? Da tristeza com que acompanhou o drama da sua Maria Fernanda? Das esperanças que depositou no Tiago, como já fizera com o Zé António? De tudo o que pinta o lado menos bom do quotidiano. Mas, no outro prato da balança, os amigos fizeram-na pender para ela, desequilibraram-na; a Amizade tem muito peso – se não é falsa. E eu que o diga…
 Fernando aqui te deixo um último abraço que não pude dar-te em vida. Mas como não acredito na “outa” não te posso sequer imaginar sentado à direita de Deus pai, mas só depois de teres escovado o assento – que, se acreditasse, era uma nuvem com um monograma: DN – a gótico. 
 Deste Homem que deu 55 anos de vida ao “seu” jornal, a Direcção do “Diário de Notícias!” foi capaz de NÃO dar uma linha de título na primeira página: MORREU FERNANDO PIRES.

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24.5.15

Luz-Nas margens do Tejo, Lisboa.

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Vista de cacilheiros ou equiparados, em frente ao Terreiro do Paço, a caminho de Almada ou do Barreiro. (2014)

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2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

FALANDO DOS SOLOS (17) 
Bio-rexistasia
Numa concepção do solo como um fenómeno geológico, introduzida pelo geólogo americano Cutis Fletcher Marbut (1863-1935), o geógrafo francês Henri Herhart (1898-1982) publicou, em 1956, uma interessante e original teoria “La genèse des sols en tant que phénomène géologique: Esquisse d'une théorie géologique et géochimique, biostasie et rhexistasie”, com uma segunda edição na Masson, Paris, em 1967. (...)
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22.5.15

A caça ao voto

Por Antunes Ferreira 
A apresentação do programa de Governo do Partido Socialista provocou, tal era de esperar, ondas de choque diversas. No debate quinzenal da Assembleia da República a coligação no poder disse cobras e lagartos sobre o documento que deverá ser aprovado no dia 6 de Junho na assembleia magna do PS.O programa foi então motivo de ataques acerbados cujos autores iam do nosso primeiro Passos Coelho até ao líder parlamentar dos laranjas Luís Montenegro. O CDS, naturalmente, também participou na agressão colectiva.
 Por outro lado, Aguiar Branco iniciava o ciclo Sócrates, tema que servia, serve e serviria de arma de arremesso contra António Costa. Um verdadeiro leit motiv para a maioria no poder. O ministro da Defesa chegou mesmo a afirmar que o Partido Socialista queria um modelo de governação "muito à engenheiro Sócrates", defendendo que a apresentação do projecto de programa eleitoral dos socialistas "é mais uma sondagem de ideias, já foi feito esse ensaio com o cenário macroeconómico que aconteceu num primeiro momento, agora é o projecto de programa".
 As acusações iam-se acumulando. Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, afirmou na quinta-feira última que PS, PSD e CDS-PP "quanto mais juram mais mentem", Referia-se às alterações introduzidas no sistema da Segurança Social e as que pretendem fazer na Taxa Social Única, TSU. "O actual Governo anunciou um novo corte de 600 milhões de euros nas pensões e reformas para 2016. Por seu turno, o PS prepara-se para aprofundar a sua contra-reforma da Segurança Social de 2007, envolvendo agora também a redução da TSU para as empresas, tal como PSD e CDS, e que, ao contrário do que se vem propalando, a mantém no seu projecto de programa eleitoral como uma medida a implementar a prazo. Aqui o recuo foi: 'não sendo para já, será mais à frente'"++ Ora bem, estava-se em terreno propício à contenda: a Segurança Social onde o PS defende uma gestão sustentável e transparente dela que passaria por encontrar novas fontes de financiamento. E também promete dar prioridade à "avaliação rigorosa" do sistema de Segurança Social, a fim de devolver a confiança aos pensionistas e garante que não serão feitos mais cortes nas pensões. Ou seja defende-se uma gestão sustentável e transparente da Segurança Social, que passaria por encontrar novas fontes de financiamento e pelo combate à fraude e evasão contributiva.
 Para compor o ramalhete surgiu Paulo Portas que avisou “com amizade” que a Segurança Social é um campo perigoso e não admite experimentalismos. O vice-primeiro-ministro dava assim a sua achega à questão, atirando mais achas para a fogueira ou jogando-lhe petróleo, o que é ainda pior. Mas quem conhece Portas sabe o que vale a palavra dele, o que adverte e o que jura que tomou uma decisão irrevogável para de seguida e face a novas ofertas revoga-a irrecusavelmente.
 Estava instalada a polémica sempre saudável em democracia, mas a deturpação das intenções, promessas e argumentos significava (e significa) que isso não tem cabimento porque os intervenientes não querem: estamos em ano eleitoral e a pré (?) campanha está no Parlamento, na rua, no procedimento dos cidadãos, de acordo com o que pensam e que os concorrentes tentam instilar-lhes como as propostas mais aliciantes.
 É a caça ao voto que todos recusam terem entrado por esse caminho ínvio, mas que todos também praticam ainda que sem espingarda nem licença de caçador. Portugal é (também) isto. Poderá argumentar-se que pelo Mundo fora – ou, pelo menos nos países onde há liberdade e democracia – a prática é constante e inevitável.
 Mas querem recordar um exemplo histórico? No Parlamento britânico, comentando o andamento da guerra e respondendo a interpelações dos trabalhistas, na oposição, o Senhor Churchill referindo-se à escalada dos bombardeamentos afirmou convictamente que se os alemães bombardeavam Londres, Birmingham, Liverpool e outras cidades da Inglaterra também em retaliação os bombardeiros da Air Force despejam toneladas de bombas sobre Berlim, Frankfurt, Colónia, Hamburgo e outras.++ O Senhor Clement Atlle, líder trabalhista, que viria a suceder a Churchill no prédio número 10 da Downing Street, respondeu-lhe “mas que ganhamos nós com isso?” Estava a aproximar-se o final da II Guerra e as palavras de Atlle ficaram na História. E ainda não abrira a hunting vote, ou seja a caça ao voto.

21.5.15

O padre Sousa Lara e os exorcismos

Por C. Barroco Esperança
O ex-subsecretário de Estado de Cavaco Silva, censor de um livro de Saramago, não foi apenas o devoto da missa e da hóstia, inimigo da cultura e da liberdade, foi o crente que mandou erigir uma Cruz do Amor, com 7 metros, destinada a "combater o comunismo e evitar o mal com a chegada do ano 2000", no seu monte alentejano.
 ntre as suas obras consta um filho, feito certamente de forma casta, a quem ofereceu a administração de uma empresa pública, o Estado é para os amigos e família, mas que preferiu ser padre e especializar-se em exorcismos, atividade que faz parte do alvará de padre mas que, com a escassez de Demónios, passou a ser uma especialidade canónica de autorização episcopal. 
O padre Sousa Lara, homónimo do bem-aventurado papá, é um reputado exorcista que, munido de uma cruz e de umas tantas rezas, se atira aos demónios como Santiago aos mouros, na diocese de Lamego, uma zona onde grassam ainda o analfabetismo a fome e os diabos, enfim, Terras do Demo.
 Não há um único caso de possessão demoníaca em livres pensadores, ateus, agnósticos, céticos ou racionalistas. São os mais tementes a Deus, desgraçados e moles do miolo, os que deixam entrar, no corpo, o maligno. É para esses que os exorcistas arremetem com a cruz e as orações, numa peleja digna da Idade Média, com o Mafarrico a fugir, da cruz e do padre, como os carteiristas à polícia.
Benditos exorcistas, tão eficazes a tirar o Diabo do corpo dos crédulos como S. Roque as verrugas ou Santa Bárbara a amainar trovoadas.
Não lembrava ao Diabo que ainda houvesse quem vivesse à sua custa. Coisas do demo!
 Ponte Europa / Sorumbático

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19.5.15

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Por A.M. Galopim de Carvalho
FALANDO DOS SOLOS (16)
Crostas pedogénicas (continuação) 
Calcretos 
Com cem anos de uso, o termo calcrete, proposto por G. H. Lamplugh (1902), só nas últimas décadas começou a figurar na nossa terminologia geológica. Este tipo de crostas pedogénicas, próprio de ambientes morfoclimáticos caracterizados por uma certa subaridez (precipitação abaixo dos 500 mm/a), resultam de acumulação de carbonato de cálcio ao longo de extensões superficiais maiores ou menores. Os calcretos variam bastante em espessura, desde algumas dezenas de metros, na Austrália, África do Sul, Novo México (EUA), a alguns metros no sul e sudeste ibérico (3 a 5 m em Portugal, no Algarve). (...) 
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17.5.15

Luz-Nas margens do rio Nilo, Egipto

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Algures entre Luxor e Edfu. A descida do Nilo, em barco de cruzeiro, desde Assuão, no Sul do Egipto (onde se construiu a grande barragem e se fez a respectiva albufeira), até perto do Cairo, é uma das viagens com que se sonha desde pequenino. Esperei sessenta anos. Finalmente, foi possível. Além de muitos outros menos conhecidos, lugares mágicos como Abu Simbel, Luxor, o templo de Karnak, o Vale dos Reis e a pirâmide de Saqqara, passear no deserto e descer o rio Nilo de barco eram sonhos inevitáveis. O percurso era de encanto e deslumbramento. No barco, com tempo e vagar, aproveitavam-se os dias para ler e estudar. E ficar horas encostado à amurada a olhar. Para fotografar e descansar. E tomar refrescos sem parar. Na parte mais fértil das margens do rio, tudo correspondia ao que se dizia e aprendia na escola. Aquelas são das terras mais produtivas do mundo, dão várias colheitas por ano e há uma actividade agrária incrível em, todo o sítio. Parece que há menos actividade e menos produção do que antigamente, dado que a barragem de Assuão e a regularização do rio e das cheias trouxe alterações ecológicas prejudiciais. Mas o que se vê nas margens é igual ao que dizem os lugares comuns e os mitos! (2006)

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16.5.15

“...ONDE A TERRA SE ACABA E O MAR COMEÇA...” - (Luís Vaz de Camões) - (*)

Por A. M. Galopim de Carvalho
A propósito dos trabalhos visando o crescimento artificial da Praia de Dona Ana (Lagos) ocorre-me lembrar que a adulteração da paisagem física em nome do desenvolvimento é um facto que está a atingir proporções preocupantes.
Os reflexos no litoral da intervenção do homem são hoje bem visíveis e as soluções encontradas, para os minimizar ou eliminar, nem sempre são as melhores. A conclusão a tirar desta realidade é a de que não se pode continuar a planear o litoral de costas viradas para os conhecimentos que a ciência já está apta a fornecer. Há, pois, que saber conviver com o mar e respeitar os seus códigos que já conhecemos com razoável pormenor. No sentido de minimizar estes inconvenientes, tem-se recorrido a ensaios realizados em tanques especiais, onde, em modelos reduzidos, se procuram simular as condições naturais e as alterações a introduzir, a fim de estudar os seus efeitos. Modernamente, com o desenvolvimento dos meios informáticos, estão a utilizar-se, com idênticos propósitos, modelos matemáticos, mais rápidos e menos onerosos. Seria desejável que decisores, jornalistas e comentadores falassem a mesma linguagem. Pareceu-me, pois, útil reunir nestas linhas o essencial do que dizem os estudiosos desta temática. (...)
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NOTA: Este texto foi escrito a pedido de Cidadania de Lagos. Foi também feita uma versão resumida para publicação no jornal Correio de Lagos.

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Chutar para canto

Por Antunes Ferreira
ONTEM, SEXTA-FEIRA, 15 de Maio de 2015, «o primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel, tornou-se o primeiro líder da União Europeia (e o segundo da Europa) a casar com um parceiro do mesmo sexo. Bettel, de 42 anos, casou-se com o seu namorado de longa data, o arquitecto belga Gauthier Destenay, numa cerimónia privada. Os dois já tinham oficializado a sua união de facto em 2010: agora, tornaram-se um dos primeiros casais homossexuais a beneficiar da alteração legislativa que alargou o direito ao casamento a casais do mesmo género no grão-ducado”. A notícia foi colhida do jornal “Público».
As coisas são o que são e já nada espanta ninguém neste Mundo de agora. Volte-se uns anos atrás e não podia imaginar-se uma cena como esta. Durante o largo período do puritanismo que vigorou no Velho Continente, nem se podia falar do tema da homossexualidade. As Igrejas, tendo à frente a Católica, consideravam a ligação entre indivíduos do mesmo sexo um pecado contra-natura. Mas os tempos mudaram e com eles as práticas mais diversas incluindo as sexuais.
Retomo a transcrição da notícia publicada pelo quotidiano. «O casamento foi celebrado pela autarca da capital, Lydia Polfer, a madrinha política do liberal Xavier Bettel. Entre os convidados estava o primeiro-ministro da Bélgica, o também liberal Charles Michel. Mais de 200 pessoas aguardaram pela entrada e saída dos noivos à porta do hotel de ville (a câmara municipal) da Cidade do Luxemburgo, para os cumprimentar e desejar felicidades. O casal apareceu ao balcão para agradecer, e foi saudado com aplausos e arroz.»
Nada mais natural, disseram as comunidades gay. E estão certas. Não se advoga aqui essa prática do sexo, nem se a condena. Dentro da Liberdade tudo é possível, tudo se aceita, mas também muito se condena. Os homens que são homossexuais, as mulheres lésbicas têm o direito de ser assim. Lá vão os anos em que homossexualidade era considerada uma doença. Muito se tentou cura-la; mas, debalde.
Aconteceu já em Portugal - a lei aceita a situação, juridicamente não é motivo para tribunais muito menos para penas - mas nunca um primeiro-ministro se casou com um namorado. Diz-se que no (des)Governo que ainda temos há quem o seja, mas das palavras aos actos vai uma distância enorme. Boatos dirão alguns, provocações afirmarão outros, insinuações declararão outros ainda. Mas, verdade se diga, e se tal acontecesse ou vier a acontecer como reagiriam os Portugueses?
Mais uma vez cito a notícia: «Segundo a AFP, o casamento do primeiro-ministro foi interpretado pelos comentadores como um “bom sinal” e uma “mensagem positiva” da evolução de mentalidade da sociedade luxemburguesa, que é maioritariamente católica. Xavier Bettel nunca escondeu a sua homossexualidade aos seus eleitores. “Se o fizesse, seria um infeliz. Nunca seria capaz de viver um relacionamento em segredo. E penso que quem quer estar na política deve ser honesto, o que implica dizer a verdade e também aceitar-se tal como é”, justificou, numa entrevista à RTBF.»
E quem é Bettel? «Ele chegou ao poder no fim de 2013, depois de derrotar os cristãos-sociais de Jean-Claude Juncker, e governa em aliança com os socialistas e os Verdes. Na tomada de posse, prometeu modernizar a sociedade luxemburguesa, alterando leis e avançando com reformas tanto de cariz político como social. Uma das primeiras medidas foi a legalização do casamento e da adopção de crianças por casais gay, aprovada por larga maioria em Junho de 2014. O edital que publicitava a intenção de casar do primeiro-ministro foi publicado dois meses após a aprovação da lei, que apenas entrou em vigor no início deste ano.»
A adopção nestes casos é para mim muito difícil de aceitar. Pergunto-me o que acontecerá no primeiro dia duma escola, quando o professor perguntar os nomes dos pais aos recém-chegados e o da primeira carteira responder “o meu pai chama-se João e a minha mãe Luísa”; uma miúda informará que “a minha mãe chama-se Lurdes e o meu pai Fernando e a dada altura chegar a vez de outro puto “o meu pais chama-se Carlos e a minha mãe Francisco”? Que fazer?
À pergunta o docente só poderia responder com um nada que é mesmo nada. Mas as outras crianças por certo franzirão a testa. “Pai Carlos e mãe Francisco”??? Daqui a uns anos que não posso prever quantos, respostas deste tipo poderão ser habituais e normais. Numa afirmação egocentrista deixo aqui o desabafo: nesse tempo já pertencerei ao número dos vivos. Não é difícil chutar para canto. 

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14.5.15

Santarém já chegou à Madeira… (a de Alberto João Jardim)

Por C. Barroco Esperança
Depois do ato hipócrita e oportunista de Cavaco Silva, a condecorar a cidade onde viveu o herói de Abril, Salgueiro Maia, e donde partiu para a gesta gloriosa que culminou com a rendição de Marcelo Caetano no quartel do Carmo, aparecem os ressentidos de Abril a reescrever a História.
Cavaco Silva, democrata tardio, outorgou a Santarém a Ordem da Liberdade, não pela relevância da cidade no 25 de Abril, que a não teve, mas para se aproveitar da coragem e nobreza do honrado militar a quem negou uma pensão que concedeu a dois PIDES.
É bom lembrar que os militares do 25 de novembro foram também homens de Abril, do «Grupo dos 9» ao general Costa Gomes, que entregou ao comandante militar de Lisboa, general Vasco Lourenço, a coordenação das operações que Ramalho Eanes comandou operacionalmente e onde se destacou o Regimento de Jaime Neves.
Isto é a história da data que dilacerou militares amigos e que, por elementar respeito ao 25 de Abril, a única data libertadora e consensual, devia evitar comparações.
A Assembleia Municipal de Santarém, numa traição a Salgueiro Maia e à sua memória, prepara-se para aprovar uma moção do deputado municipal do CDS/PP, António Borba, para substituir a sessão comemorativa do 25 de Abril, que recusou fazer, por uma outra, a do 25 de novembro, enquanto não comemora o 28 de maio.
É a História que está a ser reescrita por nostálgicos da ditadura, o regresso a valores que o bando que se apoderou do PSD e o seu ornamento da coligação – o CDS –, permitem, com o silêncio de quem exonerou da lapela o cravo, do quotidiano a Constituição e de Belém o espírito de Abril. 
 Ponte Europa / Sorumbático

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10.5.15

Luz-Casario moderno em Jerusalém.


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Bairros e partes da cidade moderna vistos do meu hotel. A cidade moderna parece-se mais ou menos com isto: tudo em construção. Casas com dois a quatro andares, em maioria. Novos edifícios com dez, vinte ou trinta andares a crescer por todo o lado. É curioso que haja alguma homogeneidade nos estilos de construção e nas cores dos edifícios. A cor de areia domina tudo. O que aliás se repete na parte velha da cidade, nas muralhas, nos monumentos, nos templos e nos edifícios públicos. Não cheguei a perceber se era espontâneo, tradição, norma ou imposição. Mas pareceu mais que se tratava desta última. Dá alguma alegria ver que numa cidade de região árida, as árvores (ciprestes, cedros, oliveiras…) espalham-se por todo o tecido urbano. Não há muitos parques, mas árvores não faltam. (2012)

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2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Por A. M. Galopim de Carvalho 
FALANDO DOS SOLOS (15) 
Crostas pedogénicas 
Em determinadas condições morfoclimáticas favoráveis, certos solos evoluem no sentido de gerar um horizonte endurecido, mais ou menos impermeável, habitualmente designado por crosta e couraça, sendo o último termo reservado aos casos em que este endurecimento é mais acentuado e abrange uma maior espessura. (...) 
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8.5.15

Toalha de banho por mor dos picantes muito picantes

Por Antunes Ferreira
Era o goês que conheci – e conheci e conheço muitos – que mais suava quando comia picantes muito picantes A expressão era dele. Além de camadas de profissão éramos Amigos. A minha mulher Raquel conhecia-o desde que el tinha quatro anos. Em Goa, obviamente. A família, no entanto, era oriunda de Damão.
Quando vinha almoçar ou jantar a nossa casa o ritual repetia-se: a Raquel ia buscar uma toalha de banho para ele enrolar a cabeça e o tronco molhados de tanto suor. Um tipo pachola, repentista, irónico, por vezes mesmo acintoso, mas era um Grande Jornalista.
Falar dos seus muitos méritos profissionais é despiciendo. Já muitos o fizeram e certamente muito melhor do que eu faria. Aqui apenas tento  falar dos seus contactos humanos. Vejam só. Um dia em nossa casa no momento à Lapa almoçavam três casais. O Mário Ventura Henrique e a sua mulher Eglantina, o Oscar (sem acento) e a Natal, a Raquel e eu.
Foi um almoço para sempre recordar, como reza o anúncio. A malta comia (muito), bebia (muito) e o maestro ela ele. O Mário esbugalhou os olhos quando viu a toalha de banho. E ele imperturbável: nunca viste um gajo a comer picantes muito picantes? A partir de agora já podes dizer que viste… O ventura Henriques engoliu em seco, perdão, molhado e continuou a conversa entremeada das comidas e bebidas.
Entrementes os meus filhos vieram à mesa para abastecer os seus pratos e ficaram como se não fosse nada com eles; já estavam habituados à encenação, já estavam habituados à toalha de banho, já estavam habituados com ele. Então meus meninos (o Miguel já tinha 20 anos,  já andava no Instituto Superior de Ecomimia e Finanças, o Paul, com 18,  acabara de entrar em Sociologia e o Luís Carlos, o mais novo estava a prepara-se para Direito mas para ele eram meninos) como vão de namoradas? Vá, não se encolham que os papás não ouvem; desembuchem…
A Eglantina disse sottovocê, então não perguntas pelos estudos? E ele: não preciso; sendo filhos da minha prima Raquel têm de ser bons alunos. Já o pai (que era eu, suponho) para ser burro só lhe faltam as penas!... Brincava. Caímos na galhofa. Ele era assim. No entanto era muito sensível e escondia a sensibilidade pela ironia, sem dar conta sobretudo aos outros que tinha dificuldades nesse jogo de sombras. A Natal conhecia-o bem e boca calada prudentemente.
Quando terminou o repastoo tipo avisou: não comam mais! A Raquel eo Antunes Ferreira têm para jantar outro casal amigo e vão aproveitar estes restos para dar a esse casal. Aí ninguém pôde retrair o riso. As gargalhadas saíram em catadupas. E fomo-nos ao café (que não eu porque não o tomo) e aos uísques que eu tinha em quantidades muito apreciáveis.
E pronto, era para mim assim o Oscar (sem acento) e no meio do desgosto – chegaram-me as lágrimas aos olhos quando um e-mail me deu a notícia – bom Amigo, camarada, terno e sensível embora estas qualidades fossem por ele bem encapotadas. Só uma vez o vi eufórico: quando a sua Carol terminou o mestrado, o que enunciou a todas as amigas e todos os Amigos, sem esconder o orgulho que tinha pela filha Carolina, a menina dos seus olhos.

Mas, podem ter a certeza de que o Oscar (sem acento) era um Grande Jornalista.

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7.5.15

O obscurantismo religioso, a insensibilidade e o aborto

Por C. Barroco Esperança 
Criança de 10 anos, violada, grávida de 5 meses No Paraguai, uma menina, com 34 quilos e 139 centímetros de altura, aguenta o peso de uma insuportável violência e a baixeza do sectarismo ideológico do juiz que prolonga o sofrimento de mais uma criança que o padrasto violou.
 A religião não é um código sagrado que condene ao sofrimento e à morte, que suporte a lei ignóbil que vigora no Paraguai onde a IVG só é legítima em caso de risco de vida da mãe e os preconceitos parecem menosprezar o risco, onde a alegada vontade divina se sobrepõe aos direitos da mulher e à tragédia de uma criança. 
O risco de vida da mãe é de tal modo desprezado que apenas se aplicou uma única vez, depois de grande pressão internacional, … numa gravidez ectópica. Saberão os padres o que é uma gravidez ectópica, o risco que implica e as sequelas que deixa em qualquer mulher que tenha a fatalidade de uma gravidez extrauterina? Mas não nos afastemos deste caso apesar de as estatísticas hospitalares registarem quase 700 casos de meninas entre os 10 e os 14 anos que deram à luz em 2014.
 O ministro da Saúde, que antes de entrar na política foi médico pessoal do presidente conservador Horacio Cartes, opôs-se terminantemente ao aborto. O juiz que custodia a menor diz que «a nossa Constituição protege a vida desde a conceção». 
Há casos em que me dilacera a dúvida. Neste, tenho a certeza de que o médico ministro e o juiz carrasco estão ao nível do padrasto que violou a criança, na falta de sentimentos e no desprezo pelas mulheres, no sectarismo pio e na insensibilidade perante as crianças do sexo feminino.
No Paraguai, um país constitucionalmente laico, ainda vigora a sharia romana. 
Raios os partam. 
Fonte: El País
Ponte Europa / Sorumbático

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4.5.15

QUANDO OS POLÍTICOS TINHAM MEDO DA TV PURA

Por Joaquim Letria
QUEM TENHA idade para isso recordar-se-á, certamente, da novela da Globo, extraída da obra de Jorge Amado, “Gabriela Cravo e Canela” fazer parar este País.
Até a Assembleia da República, que na época ainda arrastava a qualidade das bancadas da Constituinte, com deputados de grande gabarito e uma mão cheia de excelentes tribunos capazes de conferirem um interessante tempero a um período político fascinante – tudo incomparável com a  deplorável situação actual –parava, ou modificava os horários das suas  sessões para que os deputados pudessem ver a novela e o público não perdesse nem uma coisa nem outra.

Lembrei-me desta história saudosa – da ficção audiovisual e da política nacional – porque a BBC revelou agora no seu site uma história interessante que deve ter valido a vitória dos Trabalhistas de Harold Wilson em 1964,ano em que eu já frequentava Londres com afinco mas ainda lá não morava.
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Conta então a BBC no seu website que Harold Wilson se apercebeu de que a BBC se preparava para transmitir, na noite das eleições de 1964, um episódio da “sitcom” “Steptoe and Son”, uma comédia que punha diante dos televisores 26 milhões de britânicos de cada vez que ia para o ar. O chefe dos trabalhistas receou então que o seu eleitorado ficasse em casa para ver a série em vez de se dar ao trabalho de ir às urnas fazer valer o seu voto.
Numa iniciativa até então nunca vista, Wilson foi a casa de “Sir Hugh Greene,o director-geral da BBC, para lhe pedir que não transmitisse aquele episódio naquela noite, mudando o dia e o horário. O então dirigente da BBC interrogou-se, mais tarde, numa entrevista só então conhecida, se a sua aceitação deste pedido não teria custado a vitória dos socialistas e a derrota dos conservadores. Em 1982, Sir Hugh contou este episódio nessa mencionada entrevista, tal como ainda hoje consta dos arquivos da corporação.
Recorda Sir Hugh Greene:
“Wilson fez-se convidado a vir a minha casa para tomar uma bebida. Vinha muito irritado por a BBC ter programado umas repetições de programas e um episódio daquela série coincidir com o dia das eleições. Sugeriu então que isso se destinava a manter os eleitores do Labour afastados das urnas. E chegou a dizer tratar-se duma conspiração contra ele. Respondi-lhe que estava certo de que ele sabia que isso era um disparate e que o que dizia não fazia sentido e claramente disse-lhe que retirava o que dissera e pedia desculpa pelas suas afirmações, ou não valia a pena conversarmos sobre o que quer que fosse. Bebíamos um copo e ficávamos por ali”.
“Wilson pediu desculpa, retirou o que disse e discutimos então o problema. No dia seguinte discuti o assunto com a Direcção da BBC e chegámos facilmente à solução de transmitir o “Steptoe and Son” depois das 21 horas, quando as urnas já estavam encerradas, depois da votação.
Telefonei a Wilson dando-lhe a conhecer a decisão. Disse-me ficar muito agradecido e que essa decisão lhe valeria 20 lugares no Parlamento. Ele viria a ganhar por uma diferença de quatro votos e fiquei a pensar que a minha decisão tivera efeito na história política britânica. Os trabalhistas acabaram assim com 13 anos de Governo conservador através da mais pequena maioria desde 1847”
Esta entrevista de Sir Hugh Greene encontra-se no site da BBC e é um projecto conjunto com a Universidade de Sussex que envolve a digitalização de centenas de horas de entrevistas com políticos britânicos e dirigentes da BBC. Wilson também deu uma entrevista para este projecto, reconhecendo que a BBC havia sido “absolutamente prestável ao Partido Trabalhista. E não deixou de fazer graça, contando que quando Greene lhe perguntara o que queria que transmitisse, lhe respondera:” Uma tragédia grega, de preferência no original”

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3.5.15

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Por A. M. Galopim de Carvalho 
FALANDO DOS SOLOS (14) 
Os solos de Portugal O conhecimento sistemático dos solos de Portugal teve início nos anos cinquenta do século XX com os trabalhos inerentes à elaboração da Carta dos Solos de Portugal na escala de 1:50 000 e da Carta de Capacidade e Uso do Solo, na mesma escala. Destes trabalhos resultou, ainda, uma sistemática dos solos nacionais, editada pelo antigo Serviço de Reconhecimento e de Ordenamento Agrário (SROA), actual Centro Nacional de Reconhecimento e Ordenamento Agrário (CNROA).(...)
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Luz-Rua de Jerusalém.


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Uma qualquer rua, a uma qualquer hora. Há elementos casuais de composição prévia e de ironia posterior. Um sentido proibido. Uma loja chamada TNT. Uma menina de capuchinho vermelho. Três soldados de patrulha fortemente armados. Dois rapazes em conversa e telemóvel. Um lugar da fruta e de gelados Olá… Os soldados e as suas armas são evidentemente o factor perturbador de uma rua qualquer a uma qualquer hora. Mas em Jerusalém, é assim. Entre a paz e a guerra. Estive na cidade poucos dias, mas nunca esquecerei. O peso e a densidade da história. A pluralidade tensa. O significado de tudo, dos palácios aos templos, das pedras às ervas e às árvores. A civilização contemporânea vai-se imiscuindo por entre os vestígios e restos de três ou quatro mil anos de vida e de conflito. Ali percebi que há problemas sem solução, guerras perpétuas e conflitos como modo de vida. O máximo que se poderá conseguir é aprender a viver assim, com conflito, guerra, tensão e rivalidade. Com solução é que não. (2012)

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2.5.15

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS


FALANDO DOS SOLOS (13) 
Classificação dos solos AS CLASSIFICAÇÕES, ainda que obedecendo a critérios diferentes, escolhidos em função de cada caso, têm como principal propósito ordenar o conhecimento com vista a destacar as relações existentes entre os objectos ou os materiais classificados, e, como fim último, avançar no desconhecido.
De tudo o que tem sido exposto, ficou clara a estreita relação existente entre a génese, a evolução e a natureza dos solos por um lado, e o clima das regiões onde estes ocorrem, por outro.(...) 
Texto integral [aqui]

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As voltas de um documento

Por Antunes Ferreira
NESTA SEMANA, depois de ter voltado de Goa, um tema muito quente fez uma vez mais com que a confrontação entre o (des)Governo e os partidos que o apoiam (mais o PR…) e o PS se tornasse uma arma de arremesso por parte dos ditos sociais-democratas e centristas e de contra ataque sustentado do Partido Socialista. Foi ela a apresentação das medidas económicas e financeiras elaboradas por um conjunto de 12 “sábios” economistas e juristas liderado por Mário Centeno.
 Os laranjas decidiram entender que essas medidas levariam o país à bancarrota, por serem inexequíveis, pois se elas viessem a ser aplicadas ia por água abaixo tudo que o (des)Governo fizera para salvar Portugal, mesmo contra a vontade dele. E o inefável vice-presidente do PSD, Marco António Costa veio mesmo “decretar” que as medidas do PS deviam ser “auditadas” pelo Parlamento. De topete a afirmação. Onde se vira tal despautério? Só podia ter partido duma tal cabeça.
Marco apresentou ao PS, melhor, ao grupo de economistas e juristas mandatados pelo partido do largo do Rato que elaborara “uma década para Portugal 29 perguntas destinadas segundo o PSD a aclarar pontos do documento que não tinham ficado muito bem apresentados. Era de novo mais uma tentativa de procurar algo que não existia no programa apadrinhado pelos socialistas. O que não esperava o PSD era a prontidão das respostas.
Elas chegaram num documento que tem mais de 20 páginas, ponto por ponto, os economistas representando o PS explicam as ideias do documento. Tendo por base o cenário da Comissão Europeia, os economistas e juristas adiantaram que a sustentabilidade das pensões passa pela unificação das condições de cálculo das pensões para todos os pensionistas.
Entre gráficos e relatórios matemáticos, as dúvidas do PSD mereceram as respostas dos especialistas que trabalharam no documento para o partido Socialista. Segundo os mesmos técnicos, a redução da TSU gerará "melhores pensões" e o fim da sobretaxa criará 15 mil empregos. Até à data em que escrevo este texto não apareceu nenhuma contra-resposta do PSD. A situação pode considerar-se as voltas e reviravoltas de um documento: este.
Entretanto, Coelho afirmou que o país está a fazer um caminho de recuperação "muito sensível", embora a economia deva crescer este ano 1,6%, e advertiu que não devem ser dados "passos maiores" do que a perna. Expressão que demonstrou mais uma vez que no domínio da língua portuguesa, pelo menos, ele próprio é uma autoridade. Dar passos maiores do que a perna terá algum significado? Ou será mais um anacronismo em que Passos é habitual?
A campanha eleitoral – que nem os mais ingénuos duvidam que já tenha começado – ainda não saiu do adro – mas já está em ebulição. O (des)Governo já veio informar que a coligação se manterá para as legislativas de Outubro e que até a candidatura às presidenciais não está fora de questão. É um esforço que PSD e CDS fazem quase em desespero perante a possibilidade dos socialistas ganharem as eleições.
Para Francisco Assis ”(…) O que perturba o PSD é a sua incapacidade de compreender o verdadeiro alcance da inovadora metodologia agora utilizada pelo Partido Socialista. Tal não é de estranhar, já que a história das últimas décadas daquele partido é caracterizada pela dupla e contraditória adesão a soluções de liderança ora pretensiosamente tecnocráticas, ora ostensivamente alheias a qualquer preocupação de estudo rigoroso e fundamentação séria dos programas apresentados ao país. Só assim se percebe esta estapafúrdia insistência em querer auditar em lugar de querer debater. No fundo é ainda um substrato mental antipolítico que influência o comportamento da coligação governamental.“http://s.publico.pt/ps/1694176 
Por seu turno, o secretário-geral do PS, durante o jantar comemorativo do 1º de Maio para o largo do Rato apelou aos militantes socialistas para que se mobilizassem e reanimassem "o espírito" das eleições primárias internas de Setembro, considerando essencial que uma vitória do seu partido ofereça também condições de governabilidade. António Costa deixou um apelo aos militantes socialistas: "Nas eleições primárias mobilizámos mais de 150 mil portugueses que se inscreveram como simpatizantes. "Temos de reanimar, chamá-los de novo e alargar o leque de simpatizantes", disse. Costa foi a seguir directo quanto aos objectivos eleitorais do PS: "Temos de mobilizar o país para podermos ganhar [as eleições] e em condições de podermos governar", declarou.
Os dados já estão lançados e o caminho até Outubro antevê-se que irá decorrer em tempo de procela. Se a coligação (des)governamental atingir o objectivo que persegue, a reeleição, tudo mudará para continuar na mesma. Para o PS é necessária uma nova política, o que estará ao seu alcance: Mas eleições são…eleições e só depois de contados os votos se saberá o resultado delas.
 No entretanto o PCP, O BE e os Verdes continuam a bater forte e consecutivamente nos socialistas ao mesmo tempo que desancam no (des)Governo. É caso para dizer que têm um pé num lado e outro no outro lado. Uma perfeita demonstração de que no aproveitar é que está o ganho.

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