26.2.15

A Líbia, o Estado Islâmico e a Europa

Por C. Barroco Esperança
A Líbia do exótico coronel Kadafi, cristãmente cedido para ser torturado e assassinado ao nível da mais refinada violência islâmica, deixou de existir. As hordas libertadoras arruinaram o país, que passou do Eixo do Mal ao do Bem, antes de acabar Péssimo. As tribos roubaram as armas químicas do arsenal do exótico ditador, o sofisticado material de guerra que acumulou e o petróleo que sustenta a formação do Estado Islâmico com que generais de Kadafi se vingam das milícias que os derrotaram, apoiadas no potencial de fogo dos ‘libertadores’.
No país que resta, afundado no caos, onde todos combatem contra todos, por entre um número indeterminado de tribos insubmissas e armadas, surgiram dois governos, um islâmico e outro nacionalista, com duas capitais, Tripoli e Tobruk, e dois parlamentos. O Estado Islâmico saiu à rua neste húmus onde semeia a palavra do profeta amoral e medra a jihad.
A anarquia e a violência são mais ferozes do que mulás furiosos a recitar o Corão. A Itália aterroriza-se com a fuga em massa que se vislumbra, ajudada ou estimulada por milícias líbias. A quinhentos km memorizam-se os versículos do Corão e treina-se o manejo de armas. Lampedusa poderá ser a Meca da viagem de tunisinos cheios de fome, ódio e fé.
A jihad virá a caminho do sul da Europa num movimento inverso ao do cristianismo, de Granada ao Algarve, com vários séculos de intervalo, burkas a caminho de Albufeira e cimitarras a brilharem nas praias da Andaluzia. Nasceu um «espaço vital», agora num território que expulsará Voltaire sob pressão da epidemia demencial criada por um beduíno analfabeto.
Entre a Tunísia e o Egito, o Mediterrâneo é a ponte para Itália, por onde passa um drama colossal que criará outro. A Itália não pode continuar sozinha, vítima dos dramas do outro lado do mar, com a Europa a ignorar os milhares de afogados que procuravam a sobrevivência e os que sobrevivem, com as vítimas da primavera árabe a desembarcarem no inverno europeu.
Ah! A União Europeia esquece-se do Chipre e da Grécia, esta com 227 ilhas habitadas, das 1400 que lhe deixam 14880 km de costa por onde se perde o rasto dos desesperados que podem chegar da Ásia, do Médio Oriente e, sobretudo, da África, invadindo a Europa num êxodo de fome e desespero onde não faltarão gregos.  
Ponte Europa / Sorumbático

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22.2.15

Luz - Azenhas do Mar

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Era o fim de Janeiro de 2014. Foram uns dias de mau tempo como raramente se tinha visto em Lisboa e em Portugal. Chuva interminável. O mar com uma raiva pouco frequente. Praias que se perderam para sempre, ou quase. Cafés e casas à beira mar que desapareceram. Fui um dia almoçar às Azenhas, a um restaurante em cima do mar. Era um dia de sol de inverno. Mas o mar não acalmava. No fim do almoço, as ondas batiam nas vidraças das janelas. Tentei registar o melhor possível a espuma, as ondas e as gotas… (2014)

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2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS



Por A. M. Galopim de Carvalho

FALANDO DOS SOLOS (5)
DEVE-SE ao norte-americano Curtis Flechter Marbut (1863–1935), geólogo de formação, a primeira alusão ao conceito geológico de solo. Anos depois, a meados do seculo XX, o geógrafo francês Henri Herhart (1898-1982), reafirmava este conceito e introduzia um outro fundamental ao pensamento geológico, ao divulgar “La genèse des sols en tant que phénomène géologique: Esquisse d'une théorie géologique et géochimique, biostasie et rhexistasie”, publicada, em 1956, um tema que abordarei oportunamente. (...)
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19.2.15

Quem não tem dinheiro não tem vícios

Por C. Barroco Esperança
A herança judaico-cristã, exacerbada pelo calvinismo e protestantismo evangélico, não nos deixou apenas complexos de culpa e de pecado, impôs-nos, como axiomas, aforismos falsos e cruéis.
A conduta da União Europeia em relação à Grécia, movida mais por razões de ordem ideológica do que racional, trouxe-me à memória colegas com quem convivi ao longo de três décadas.
Pernoitávamos nos mesmos hotéis, juntávamo-nos e jantávamos em bons restaurantes onde, depois da refeição, ficávamos a conversar e a filosofar num fraterno convívio de amigos, onde os mais novos estimavam ouvir os mais velhos, talvez por generosidade, sempre com bonomia.
Não esqueço a simpatia que me prodigalizaram os mais novos à medida que passei a ser dos mais velhos. A muitos ainda os encontro, outros sumiram-se da vida ou da vista e os que descubro dão-me notícia de desempregados, apanhados nas curvas da vida. Não são os que partiram que ora me preocupam, são os que andam por aí aos baldões da sorte.
Descobri alguns a iniciar negócios onde arriscaram o subsídio de desemprego e algumas poupanças, na esperança de um novo recomeço, para desaparecerem depois do fracasso. Lembro-me deles nos locais onde deixaram as últimas ilusões, não deixaram morada nem se despediram, esconderam-se decerto.
A outros ainda os vou encontrando, falam-me de envios de currículos, das dificuldades acrescidas pela idade e falta de empregos, mas esperam melhores dias, como se fosse eu a precisar de consolo, querendo mostrar que não desistem.
Encontro os que, durante o desemprego, se divorciaram e perderam a casa e os filhos, os que têm alguns recursos de que vivem com um módico de dignidade e aqueles que estão desesperados. Um, pediu o subsídio de desemprego da Segurança Social e o negócio ruinoso deixou num quarto alugado onde passou fome e acumulou rendas por pagar até que uma instituição de caridade lhe valeu. É celibatário e há muito que deixei de o ver.
Outro, fui-o encontrando a dizer que esperava novo emprego e, mais tarde, a vaguear com ar de abandono. Acabou a arrumar carros num parque onde várias vezes deixou o seu. Vi os esgares a que o sorriso deu lugar, perdidos os incisivos do maxilar superior, a evitar-me pela vergonha e pelo odor, salvo quando o apanhava no torpor de viagens que os químicos induzem. Abalou. No meu círculo não sabem dele.
Afinal, quem não tem dinheiro, tem vícios.
Ponte Europa / Sorumbático

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15.2.15

Luz - Porto e aldeia da Carrasqueira, Comporta, Portugal

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Eis um muito interessante local perto da tão conhecida e famosa (pelas boas e más razões) Quinta da Comporta, entre o Sado e o Atlântico. Trata-se de um “porto palafítico”, solução adequada à construção de instalações de apoio à pesca. Nas marés baixas, seria quase impossível aceder aos barcos, por entre terras lamacentas e pantanosas. Estas construções feitas sobre estacas de madeira desenvolvem-se ao longo de corredores com centenas de metros, incluindo também pequenas “casotas” destinadas a guardar equipamentos, artes e apetrechos de pesca. Ao que parece, este é o maior porto palafítico da Europa. Há muitas décadas, quando estas estacas foram colocadas e as construções instaladas, tratava-se também de encontrar uma solução para outro problema, que não era apenas o das marés baixas e dos terrenos lamacentos. Com efeito, os proprietários dos terrenos não autorizavam nenhuma construção com carácter definitivo, o que era impeditivo do desenvolvimento de uma actividade piscatória permanente. Esta mesma proibição de construir com carácter permanente está também na origem, na região e na aldeia, das casas típicas de madeira, terra batida e colmo. (2014)

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2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Por A. M. Galopim de Carvalho 
COMO NOTA PRÉVIA desta 4ª conversa em torno dos solos, convém lembrar que os textos que, neste e noutros propósitos pedagógicos, de há muito venho divulgando, têm como destinatários preferenciais os professores que nas nossas escolas básicas e secundárias se debatem com falta de elementos que complementem os tradicionais livros adoptados. Visam, ainda, o cidadão comum, interessado em conhecer o chão que pisa e lhe dá o pão. Não pretendem, longe disso, ensinar algo de novo aos meus pares, alguns deles bem mais entendidos do que eu nestas matérias. A esses o que se lhes pede é que, com o mesmo empenho e a mesma humildade com que os produzo, corrijam o que eventualmente tiver de ser corrigido, acrescentem o que deva ser acrescentado e melhorem o que precisar de ser melhorado, tudo isto no real interesse de fornecer ao leitor a melhor informação possível. (...) 
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14.2.15

Nomes com História

Por Antunes Ferreira
Ainda não tinha contado que o Amigão Dr. Zito Menezes, já muitas vezes citado nas colunas da nossa Travessa, decidira levar-me à Professora Doutora Flora Miranda para que ela me visse a perna esquerda muito escalavrada. Assim aconteceu e ilustre médica receitou-me um antibiótico forte, um sabonete desinfectante e… Betadine. Pela consulta, paguei a exorbitância de 300 rupias, pouco mais de… quatro euros; uma exorbitância… Já comecei o tratamento e a pata esquerda parece melhorar.
 Por isso, voltou-me alguma disposição, animado pelos Amigos Zito Menezes, Carminho Costa e Álvaro Amorim, este de longa data e que é o “presidente” da nossa tertúlia Sabores & Saberes que todas semanas às quintas-feiras se reúne no restaurante “Sabores de Goa” no Bairro das Colónias aí em Lisboa. Note-se que foi a única denominação escapada ao frenesim salazarento que, como bom provinciano, pensou ter enganado a ONU com a transformação em… províncias ultramarinas. Porém o Bairro manteve orgulhosamente a assim e ninguém foi capaz de do derrotar, por decreto-lei aprovado na Assembleia Nacional. (...)
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12.2.15

Humberto Delgado – 13 de fevereiro de 1965 – 50 anos depois



Por C. Barroco Esperança
A ditadura salazarista impediu Humberto Delgado (HD) de ser presidente da República (1958), por fraude, e de continuar a viver (1965), por assassínio, baleado por Casimiro Monteiro, agente da PIDE, o instrumento repressivo ao serviço do déspota.
HD não foi a única vítima dos esbirros do fascismo, uma exceção na extensa história de repressão, mas foi um destacado opositor a quem o exílio e o assassinato, depois de uma fraude eleitoral, conferiram a auréola do martírio.
O chefe da brigada da PIDE que o assassinou, Rosa Casaco, passearia, depois do 25 de Abril, pelo país que ajudou a transformar em cárcere. Arrastou desbragadamente a sua incultura e pusilanimidade com ameaças a democratas, depois de prescrito o crime que o mandante, escondida a mão, se apressou a atribuir aos comunistas, através da RTP.
O então ministro do Interior, Alfredo dos Santos Júnior, morreu de velho e de velhaco, com a reforma de presidente do Conselho de Administração de uma importante empresa do Estado.
Salazar, ditador vitalício, perdeu o conhecimento, sentado, graças ao caruncho de uma cadeira, e morreu deitado no Hospital da Cruz Vermelha. Os velhos torcionários ficaram impunes, enquanto o «general sem medo» continuou a ser difamado depois de morto.
Hoje, meio século depois do seu assassinato, recordamos quem fez tremer a ditadura e quem, no combate persistente que lhe moveu, perdeu a vida.
Humberto Delgado foi, até então, o general mais novo das Forças Armadas Portuguesas.
A partir de 1958 consagrou a vida à luta pela liberdade. Hoje é património do País que amou e dos democratas que não suportam as tiranias seja qual for o pretexto, qualquer que seja o seu sinal.

Ponte Europa / Sorumbático

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9.2.15

Morreu um homem livre: Manuel de Lucena


Manuel Lucena, por volta do ano 2000, à janela do seu escritório no Instituto de Ciências Sociais, na Rua Miguel Lúpi
fotografado por António Barreto”
*
Por António Barreto

VI-O EM 1962, em Lisboa e em Coimbra, na agitação do movimento estudantil. Conheci-o em 1968, no exílio. Encontrámo-nos depois em Paris, Genebra, Roma, Argel e Lisboa. Fundámos a “Polémica” com o Medeiros Ferreira, o Carlos Almeida e o Eurico Figueiredo. Trabalhámos no mesmo Instituto durante mais de trinta anos. Colaborámos intimamente em diversos projectos. Afastámo-nos e aproximámo-nos várias vezes. Sempre com a certeza da amizade.
A sua monumental obra sobre a evolução do sistema corporativo português (“O Salazarismo” e “O Marcelismo”) é um dos expoentes maiores das ciências sociais portuguesas. O mesmo se pode dizer das suas reflexões sobre o sistema político do Estado Novo, que, singularmente, classificava de “fascismo sem movimento”.
Mais do que a inteligência, luminosa e meticulosa, mais do que a cultura, fenomenal e sem fronteiras, tanto quanto o carácter, íntegro e inconformista, o que mais apreciei nele foi a sua liberdade. Foi o homem mais livre que conheci. Porque começava por ser livre no pensamento. Nunca recusou, por preconceito ou fé, olhar para um facto ou analisar uma ideia. Nunca classificou antes de compreender.
Era conservador e revolucionário. Tinha, da família, da religião, dos costumes e da moral crenças e convicções muito próprias que as tribos habituais tinham dificuldade em reconhecer como suas. Gostava de Portugal e de Angola, custava-lhe ver um sem outra, mas desertou do exército colonial e recusou fazer a guerra, porque nenhum, Portugal e Angola, merecia tal.
Era o terror dos editores, dos directores de jornais e dos chefes de redacção: nunca respeitou prazos nem dimensões. Mas o que escrevia acabava sempre por o reabilitar e fazer esquecer a indisciplina.
Foi um verdadeiro marginal. Podia ter ganhado dinheiro, nunca o fez. Podia ter exercido cargos políticos, nunca aceitou. Podia ter acedido a posições importantes, nunca o quis.
Conseguia fazer o mais difícil: poder e saber dizer não e sim.
-
Texto também publicado no Observador.

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8.2.15

Luz - Palácio de Carlos V, Alhambra, Andaluzia, Espanha

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Pátio interior do palácio. Carlos V (que também é conhecido pelo nome de Carlos I) queria estar perto ou na colina do Alhambra e mandou construir este palácio. Antes dele, já os Reis católicos tinham mandado arranjar alguns aposentos reais a seu gosto no Alhambra. Mas a ideia ou a solução não agradaram a Carlos V, que não se contentou com nada menos do que um palácio novo. Aqui viveu um tempo, logo depois de seu casamento com Isabel de Portugal, no século XVI. Desde os anos 1950, é a sede do Museu de Belas Artes de Granada. Este pátio interior, de forma circular, parece ser um raro exemplo da arquitectura renascentista. Diz quem sabe que esta forma anuncia mesmo o início da arquitectura maneirista. Nota: Há cerca de mês e meio, publiquei aqui uma imagem de uma fachada exterior de um palácio no Alhambra, sem no entanto o ter identificado. Sei agora, após breve investigação, que é a fachada lateral deste mesmo Palácio de carlos V. (2008)

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2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS


Por A. M. Galopim de Carvalho
FALANDO DOS SOLOS (3)
FALA-SE MUITO (e ainda bem) de aquecimento global, de poluição do ar e das águas, mas pouco se ouve acerca da degradação ou da destruição dos solos, cada vez mais exauridos e retraídos em consequência do crescimento da população e da expansão dos espaços urbanos e das múltiplas estruturas da sociedade do presente (aeroportos, autoestradas e outras). (...)
Texto integral [aqui]

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5.2.15

‘PRIX DE LA LITTERATURE GASTRONOMIQUE 2014’


 
Jerónimo H. Coelho
Por A. M. Galopim de Carvalho
A ACADEMIA Portuguesa de Gastronomia acaba de divulgar a atribuição do “Prix de la Littérature Gastronomique” recentemente conferido, em Paris, pela Académie Internationale de la Gastronomie, ao fotógrafo português Jerónimo Heitor Coelho, pelo seu último livro, COMER EM ÉVORA, das edições Visual Factory.
Alvo de merecidas distinções por parte da Associação de Fotógrafos Profissionais e da Qualified European Photographer, que lhe conferiu o grau de Mestre Fotógrafo (Master QEP), em 2010, o galardoado, de reconhecida craveira na arte e na tecnologia fotográficas, focou esta sua obra na gastronomia da “cidade museu”. De invulgar excelência no discurso e, em especial, nas imagens, o livro agora premiado está a revelar-se um dos de maior impacto na valorização deste nosso património cultural que orgulhosamente conservamos, a par do histórico, do arquitectónico, do artesanal e do único e inconfundível cante alentejano, também ele recentemente distinguido como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO.

Sendo a gastronomia «um discurso sobre o prazer da mesa», como afirmou Alfredo Saramago, “COMER EM ÉVORA” é, ao mesmo tempo, um discurso sobre o prazer da mesa e dos olhos, tal a fidelidade e qualidade das imagens que ilustram esta obra de referência da gastronomia alentejana que faz, igualmente, jus ao profissionalismo do autor.
É uma subida honra para mim ter prefaciado este livro com o texto que pode ler  [aqui]

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A Grécia e a União Europeia

Por C. Barroco Esperança
O novo Governo grego, o «sonho de crianças», como um estouvado e inimputável PM lhe chamou na sua abissal ignorância, e subserviência ainda maior aos poderosos, tem um problema com a União Europeia, mas esta tem um problema maior com a Grécia.
Há vários países cuja dívida jamais poderá ser saldada nas condições atuais e nem todos os governos suportam ver 20% dos seus cidadãos em confrangedora miséria e no maior desespero. Surpreende, mesmo em governantes a quem as madraças juvenis facultaram um curso tardio, quiçá por equivalência política, que não tenham aprendido no 4.º ano de escolaridade que um total é 100%, que o superavit de alguns países exige o défice de outros, que o capitalismo, descontadas virtudes conhecidas, tem intrínsecas maldades a corroê-lo e a atirar os povos para o desespero, a revolta e a revolução, sendo esta última a única situação em que os poderosos podem sair prejudicados.
A Grécia não é a causa do beco em que a União Europeia (UE) aparece mergulhada, é a consequência gravosa de a última ter deixado substituir políticos por contabilistas e, por fim, ter permitido aos incapazes e oportunistas o assalto às alavancas do poder.
A Grécia foi espoliada, desprezada e humilhada. Cansou-se e é fácil destruí-la. Hoje não é preciso enviar exércitos, basta deixá-la morrer à fome, mas, tal como sucede com uma infeção que não é tratada, é o corpo todo que se contagia e engana-se quem considera a cirurgia solução, esquecendo as metástases que alastraram para os órgãos nobres da UE, isto é, para os bancos dos países ricos que exageraram nos juros e perderão o capital.
A vitória do Syriza foi a vitória da democracia grega e não o regresso dos coronéis ao poder. Demonizar a decisão eleitoral de um povo é ter da democracia uma leve ideia e da vontade popular uma visão míope. Só mesmo um filho da troika a pode contestar.
A Grécia, berço da democracia e da civilização em que nos revemos, pode ter abreviado o fim desta época histórica da Europa mas não cabe a Alexis Tsipras a responsabilidade do fracasso. Ele apenas se limitou a perguntar à UE se há salvação.
É fácil esmagar o Syriza e satisfazer a obsessão de muitos. Impossível é, depois, insistir no sonho de uma Europa comum e na preservação da paz e da democracia. Adivinha-se facilmente onde despontarão as primeiras ditaduras.

Ponte Europa / Sorumbático

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2.2.15

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS - FALANDO DOS SOLOS (2)

Por A. M. Galopim de Carvalho
GRANDE AMIGO pessoal do Prof. Orlando Ribeiro, o seu colega parisiense Pierre Birot, professor no Institut de Géographie de Paris, visitava frequentemente o nosso país a fim de aqui proceder a trabalhos de campo em colaboração com o seu colega português. Ainda como finalista de geologia, na Faculdade de Ciências de Lisboa, e a convite do Prof. Orlando, tive o privilégio de os acompanhar numa excursão de vários dias à chamada Bacia do Mondego, na região de Coimbra, uma experiência riquíssima que, estou certo, abriu o caminho ao que foi a minha opção no âmbito das Ciências da Terra - a dialéctica possível de estabelecer entre a geomorfologia e a sedimentologia ou, mais especificamente, entre a erosão e a sedimentação. Nesta excursão, as geografias física e humana e a geologia interligaram-se num todo multidisciplinar, harmonioso e atraente, fruto do muito saber dos dois notáveis geógrafos e ilustres humanistas.(...)
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1.2.15

Luz - Terreiro do Paço, Lisboa

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Esta imagem foi feita a partir do alto do arco da Rua Augusta que agora está acessível e cuja visita recomendo. O Terreiro do Paço só era visível de uma certa altura (com alguma proximidade, sem o excesso do, por exemplo, do castelo de São Jorge) se fôssemos aos gabinetes do segundo andar dos ministérios, o que, naturalmente, não está ao alcance de toda a gente. Talvez dentro de algum tempo, com as novas utilizações de que se ouve falar (antiquários, galerias, alfarrabistas, etc.), seja possível ver esta bela praça de uma certa distância. Para já, fiquemo-nos, e muito bem, com o arco da Rua Augusta. O Terreiro do Paço (que também se chama Praça do Comércio e a que os ingleses chamaram, durante muito tempo a “Praça do Cavalo Preto”) é seguramente uma das mais belas praças do mundo. Desprezada e mal utilizada durante décadas, com carros e estacionamentos, está hoje arranjada. Em muitos aspectos, ficou melhor. As esplanadas tornam a coisa viva. A ausência de estacionamento e a proibição parcial de circulação foram melhoramentos indiscutíveis. Noutros, não. O solo não me parece ter sido o mais bem escolhido, dado que a clareza excessiva, em tempos de Verão e de Sol intenso, ferem a vista. Ainda sobra, num canto perto do torreão poente, uma dúzia de estacionamentos inadmissíveis para os senhores ministros e os senhores secretários de Estado. Faltam evidentemente árvores, o que o Terreiro já teve a toda a volta e de que há testemunhos fotográficos. E as arcadas foram poluídas com cartazes publicitários e logótipos de anúncios referentes aos restaurantes e comércios que ali se encontram agora. De qualquer modo, o balanço global é bom. Até a limpeza da estátua de D José foi bem, apesar dos que dizem que estas coisas com “patine” deveriam ficar sempre… com patine… (2014)

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