31.8.18

Pensamentos de Verão

Por Joaquim Letria
Nós, cristãos, celebramos todos o Natal. Mas, na verdade, e em rigor, não se sabe muito bem em que ano e em que dia Jesus da Nazaré terá nascido. À excepção dos evangelhos não há qualquer outro documento que comprove a existência de Cristo.
Flávio, Plínio e Tácito, bem como outros cronistas romanos, não se referem nos seus escritos aos efeitos da vida do nazareno, ainda que se pronunciem quanto aos efeitos da morte dum certo rabino judeu.
Os agnósticos têm sempre insistido em que a esmagadora maioria dos mitos da antiguidade têm, invariavelmente, um nascimento entroncado na fábula da anunciação: o imperador Chin-Nung, da China, o Deus Quetzalcoatl do México, Vishnu da Índia, os faraós, Zoroastro, os conquistadores mais importantes eram primeiramente anunciados por arcanjos e nasciam, depois, de mãe virgem.
A existência de Jesus tem, portanto, pouca solidez histórica e foi recebida com grande hostilidade pela intelectualidade do seu tempo. Juliano, o Apóstata, considerava os cristãos como os novos bárbaros que proibiam a liberdade de religiões no mundo pagão.
Os helenistas e os filósofos diziam, com enorme virulência, que Jesus comparado a Platão e Aristóteles não passava duma criança débil. Os bispos redigiam as encíclicas num péssimo grego burocrático. Apoiando-se nos pensamentos daquele renovador judeu, acossou-se aqueles que não acreditavam no monoteísmo.
Houve perseguições contra os heterodoxos, os livre – pensadores e os sábios. Toda a filosofia é a preparação para a morte, mas os seguidores de Cristo temiam o vazio, receavam o sexo, eram obcecados com os ossos e viviam fascinados pelas relíquias.
Os estóicos interrogavam-se se antes de nascermos não existíamos, por que razão teremos nós de nos convertermos no que éramos no início. Os cristãos temem o nada.
Tudo o que aqui escrevo é verdade. Mas também é verdade que Galileu venceu e que as ideias resultantes da verdade sempre acabaram por triunfar. Nem papas incestuosos nem bispos pecaminosos conseguiram destruí-las.
Hoje, a religião não escraviza ninguém. Bem pelo contrário. Muitas vezes a Igreja transforma-se num espaço de verdade, em arauto de ideias como se verificou na configuração da História da Europa, mesmo quando esta teve de se defrontar com a sua racionalidade e com a ilustração contra as trevas da Igreja que lhe deram consciência sem lhe travar o progresso. Assim, hoje, a Igreja nos traga esperança, pois não há pior escravo do que aquele que é impedido de exprimir os seus pensamentos.
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30.8.18

A Igreja católica no seu labirinto


C. Barroco Esperança

Sabe-se que a Igreja católica, enquanto defendia a moral mais conservadora e os valores mais reacionários, silenciou crimes cometidos no seu próprio seio e ordenou sacerdotes bandos de pedófilos. Pior, encobriu-os e mudava-os de paróquia, para onde os nómadas levavam o vício, a desgraçar crianças e adolescentes.
O que não pode ser esquecido é que a Igreja católica não tem o monopólio desse tipo de perversão e a divulgação exclusiva dos seus crimes não tem apenas em vista a denúncia e punição dos prevaricadores, visa beneficiar os interesses de outras Igrejas e amordaçar o atual Papa, que tem tomado atitudes corajosas no seu pontificado.
Esquece-se mais facilmente a cumplicidade com ditaduras fascistas do que se perdoa o alinhamento com a modernidade. O episcopado ultramontano que não aceita a rutura do Papa com a perpetuação da moral da Idade do Bronze, prefere destruir a Igreja a aceitar que acerte o passo com os valores civilizacionais.
A Europa tem sido varrida, depois da vitória sobre o nazismo, por sucessivas vagas de conservadorismo, cada vez mais reacionárias, no retorno aos anos trinta do século XX. Reagan, Thatcher e João Paulo II protagonizaram a primeira vaga contra as conquistas sociais e a liberalização dos costumes; depois veio Bush, Blair e Aznar; agora é a vez de Trump, May e vários neofascistas que ascendem ao poder na Europa e no mundo. Cada nova vaga é mais violenta do que a anterior.
Este Papa é um alvo a abater. Não é de admirar que tenha sabido de casos de pedofilia e que, à semelhança de João XXIII, não tenha sabido dar a resposta que devia, mas seria ingénuo atribuir ao acaso a denúncia do arcebispo Carlo Maria Viganò.


O ex-embaixador do Vaticano em Washington, de extrema-direita, nomeado arcebispo por João Paulo II, divulgou cirurgicamente, horas antes da habitual conferência de imprensa a bordo do avião papal, uma informação que, a confirmar-se, seria de enorme gravidade. Francisco foi colhido de surpresa na sua viagem traumática à Irlanda, onde a Igreja cometeu tropelias durante séculos e o aguardavam as vítimas, com a acusação de que encobria abusos sexuais e sabia dos do cardeal McCarrick, que descurou, e outras acusações dirigidas ao clero mais próximo e de maior confiança do Papa.
Viganò é um experiente quadro da carreira diplomática e integra o numeroso grupo que acusa o Papa Francisco de cometer 7 (estranha fixação neste número primo!) heresias. O seu ataque cínico e premeditado é uma agressiva declaração de guerra ao atual pontífice, e tem atrás um bem organizado exército de sotainas que não hesitará em afastá-lo, ainda que provoque uma cisão na Igreja católica.
A luta pelo poder é a manifestação de força do obscurantismo contra a modernidade, e a vítima é o Papa Francisco, que procura reconciliar a Igreja com as sociedades laicizadas e democráticas, com a determinação de um jesuíta e a paciência de um franciscano, mas o tempo e os ventos reacionários que sopram na Europa e no mundo ameaçam varrê-lo.
Dos escombros da Igreja católica nada brotará de bom e no Islão a pedofilia não choca.

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26.8.18

Calamidade pública

Por Joaquim Letria
O nosso Portugal de hoje lembra-me um vizinho que tive em Lisboa. Esse senhor, de quem também eu gostava muito, era a figura máxima do meu prédio. Não havia alguém que não gostasse dele. Nunca percebi se gostavam dele por ser muito bem educado e simpático, se por causa da mulher lhe ter fugido com um diplomata grego, deixando-o com três filhos por criar e um par de cornos que não havia cão nem gato que não comentasse.
A este meu vizinho só sucediam desgraças. Depois da mulher o ter abandonado veio a falência. O sócio fez um desfalque digno desse nome na empresa de representações de ambos, onde andara a roubar durante anos, e fugiu para o Brasil com uma professora de liceu.
Os filhos também não ajudaram. O mais velho, que era o orgulho do pai por ser muito bom aluno de economia, começou a derrapar e acabou conhecido pela alcunha de “Didi Maluca”. A menina, carinhosa e simpática, foi estudar para o Porto, arranjou um engenheiro e nunca mais quis saber do curso nem do pai. O mais novo, que queria ser baterista, foi viver com a mãe para a Grécia onde não tinha de trabalhar e o padrasto lhe oferecia muitos presentes.
Foi nesta fase de desencanto, por se sentir abandonado pelos filhos, que o meu vizinho colapsou. O tio, de quem falava muito por ser riquíssimo e ele ser seu único herdeiro, casou-se com uma apresentadora de TV 30 anos mais jovem. O solar brasonado no Norte, do qual mostrava sempre muitas fotografias, ardeu por causas não apuradas e sem seguro . E até o DS 21 de volante branco e estofos de couro caiu na Boca do Inferno enquanto comia marisco no Guincho com um cliente.
Tomou então a decisão drástica de se suicidar. A bala de 6,75 da pistola que guardava no cofre atravessou-lhe a cabeça e estoirou o Columbano pendurado na parede, deixando a obra que se orgulhava de possuir sem possibilidade de restauro. Um neurocirurgião operou-o com sucesso, dando-lhe alta sem mexer o braço e a arrastar a perna esquerda, com a boca ao lado e crivado de dívidas.
Quando puseram o seu andar à venda eu soube que ele fizera uma tentativa desesperada de o considerarem zona de “calamidade pública” mas a pretensão foi negada. Morreu pouco tempo depois, num lar de idosos onde passava o dia a jogar dominó.
Portugal hoje faz-me lembrar esta figura trágica da minha juventude, devastado por si próprio, desunido, corrompido, quebrado, democrata “dominus vobisco”.
Mas não se pode dizer mal! Não parece bem nem é politicamente correcto. A bem da Nação, assim foi decretado a tantos de tal.
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O sexo e o clero

Por C. Barroco Esperança

A repressão sexual, comum aos monoteísmos, foi sempre um instrumento de domínio do clero sobre a sociedade e do homem sobre a mulher.

O judaísmo, com menos de 20 milhões de judeus, muitos deles agnósticos e ateus, é o monoteísmo cuja primeira cisão com êxito originou o cristianismo. É hoje irrelevante no número de crentes, contrariamente ao poder político, militar e financeiro, e não erradica os escândalos sexuais dos muftis, rabinos e judeus de trancinhas à Dama das Camélias.
O islamismo, plágio tosco do judaísmo e cristianismo, é implacável na misoginia e em outras perversões que o misericordioso Profeta, analfabeto e amoral, introduziu com a violência do guerreiro e a demência do prosélito. Mas é a sexualidade que ora importa e, nesse aspeto, a violência contra a mulher e a pedofilia são direitos masculinos exercidos em casamentos sem consentimento da mulher, na lapidação por adultério e casamentos com crianças de 9 anos. Mais do que religião, o islamismo é um fascismo inconciliável com a liberdade, os direitos humanos e a civilização.
No cristianismo, onde a Reforma foi uma lufada de ar fresco, coube à Igreja romana ser a guardiã dos valores mais retrógrados, que a Contrarreforma defendeu com a violência da alegada ortodoxia. O direito romano foi-lhe introduzindo a componente civilista e as democracias impuseram-lhe a laicidade. Hoje, com o fundamentalismo a contaminar as Igrejas evangélicas, o catolicismo romano tornou-se a versão mais tolerante e civilizada dos monoteísmos, mas não conseguiu libertar-se da imposição do celibato ao clero nem da discriminação da mulher.

Penso que reside nestas duas aberrações, aliadas à obsessão da castidade, a que se junta o livre escrutínio que só as democracias permitem, a sucessão de escândalos sexuais que a comunicação social e a justiça terrena têm investigado, divulgado e punido.

Nestes últimos dias o Vaticano sofreu a vergonha do maior escândalo sexual de sempre, com a divulgação do abuso de mais de mil crianças, por mais de 300 padres da diocese da Pensilvânia, EUA, durante sete décadas, com a conivência de bispos e, desde 1963, o conhecimento e tolerância do Vaticano. É uma desgraça para a Igreja e a ruína da fé.
A quebra ética de uma Igreja cuja dissimulação permitiu ocultar durante séculos os seus crimes, não deixará de ser usada pela concorrência, hoje muito mais reacionária e perigosa. É irónico que os escândalos de que foram cúmplices numerosos papas, muitos já canonizados, desabem sobre o primeiro que lhes quis pôr termo e a quem escasseiam apoios para abrir as portas do sacerdócio às mulheres e as do casamento ao clero.
Curiosamente, enquanto a ICAR* lambe feridas e suporta a vergonha e as decisões dos tribunais, Xuecheng, o abade do famoso templo de Longquan, demitiu-se da presidência da Associação Budista** da China, por assédio e violação das monjas. As hormonas apearam o principal líder espiritual chinês, que atingiu o mais alto cargo em 2015, antes dos 50 anos, com assento na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, órgão de assessoria do Governo, de que igualmente se demitiu no dia 15 deste mês. Sic transit gloriae mundi 😊
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* ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana; ** O budismo não é um teísmo, mas é considerado religião.

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22.8.18

A MATEMÁTICA É UMA ESCADA

Por A. M. Galopim de Carvalho
Na revisão que estou a fazer do livro "Évora, anos 30 e 40", deparei com esta frase do meu professor de Matemática que me apeteceu reproduzir no seu contexto.
"Bom aluno em Ciências Naturais, cheguei ao final do 7.º ano (o actual 11.º). Aí, como nos tempos que correm, a razia no exame de Matemática foi quase total e nessa quase totalidade estava eu.
E a causa destas razias foi e é, sem dúvida, nas mais das vezes, a falta de qualidade do professor.
Na repetição desta disciplina apanhei o Dr. João Seruca, com quem o insucesso escolar nada queria, ao contrário do que tinha sido o seu antecessor. Com o novo professor passei a gostar de Matemática e fui, pela primeira vez, bom aluno nesta disciplina. Com ele comecei a consertar e a repor todos os degraus, dos mais baixos aos mais altos, que me faltavam para poder subir, sem tropeçar, a este maravilhoso edifício do saber racional.
– A Matemática, - disse-me um dia – é uma escada, sobes um degrau de cada vez. E se, em cada degrau, assentares bem os pés, podes subir até onde quiseres".

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17.8.18

O Comunismo do Post-Mortem

Por Joaquim Letria
O Cristianismo transformou o altruísmo através da virtude da caridade e fez dele o eixo do justo comportamento humano. Outras religiões e éticas também se equivaleram no reconhecimento dessa valia, mas sem dúvida que o pensamento cristão introduziu um conceito revolucionário, o qual é a igualdade universal diante da salvação.
É uma espécie de comunismo do post-mortemque contagiou o antigo mundo num momento em que as grandes massas, reduzidas ao sofrimento sem esperança duma sociedade cruel, aceitavam qualquer luz que lhes iluminasse a vida, mesmo que fosse para além da morte.
Assim, o vale de lágrimas desta vida não era mais do que o hallde entrada para a vida eterna a que chegaríamos mediante a Redenção depois de purgarmos pelo sofrimento o pecado original. Todo o foco da vida humana se desviou então para o seu final. Mas a lógica doutrinária da Igreja criou-lhe dificuldades na conciliação entre as exigências da prática religiosa com as necessidades da vida terrena.
Assim, o Cristianismo deixava de ser os estatutos duma empresa criada para durar e prosperar, fazendo o bem a todos aqueles que dela se aproximassem, para se converter na ordem de execução duma falência.
Quase todas as religiões fazem as suas exigências ao seu “staff”, aos seus clérigos. Mas o radicalismo cristão postulou a virtude terminal. O Juízo Final parecia então estar próximo. “Se queres seguir-Me , dá tudo o que tens aos pobres e acompanha-Me”. Se a Humanidade tivesse praticado a virtude deste despojamento, a sua presença na Terra teria sido abreviada. Ninguém perderia tempo a liquidar a factura do lado de cá.
O anunciado fim do mundo, sempre adiado, não chegou até agora. O maior receio dos tempos de hoje parece ser o dos perigosos e destrutivos vírus do software dos nossos smartphones, tablets e computadores. Que Deus, todo poderoso, os salve e tenha misericórdia de nós.     
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16.8.18

O regresso manso do fascismo

Por C. B. Esperança

Na caminhada para a presidência, a complacência de Donald Trump perante a violência nazi e a Ku Klux Klan (KKK) foi uma obscena vénia aos incómodos apoiantes, mas não foi o apoio dos extremistas violentos, que apoiaram o PR, que intimidou as democracias, foi a sua atitude que, na tibieza, silêncio ou cumplicidade, os estimulou.

Trump parece ser a referência de uma incubadora de lacraus: Putin, na Rússia, Xin, na China, Erdogan, na Turquia, Duterte nas Filipinas, Orbán, na Hungria, Al Sisi, no Egito e muitos outros que despontam, por todo o Planeta, alguns com rótulo de esquerda.
Curiosa e preocupante é a colisão entre dois autocratas agressivos, Putin e Erdogan, na ilustração da lei da Física, “polos do mesmo nome repelem-se”.
Em Espanha, a um conservador pragmático, Mariano Rajoy, sucedeu o mais reacionário dos candidatos, um franquista que exibe as habilitações académicas que recebeu de presente, com outras individualidades do PP, da Universidade Juan Carlos.
Salvini, na Itália, não é um caso isolado, é o paradigma dos fascistas do 3.º milénio que ascendem ao poder, com leves mudanças da linguagem e atitudes menos exuberantes.
De 1921 até à guerra de 1939/45 o nazi/fascismo não deixou de se robustecer, e foram vários os países onde a exaltação só esmoreceu com a destruição da guerra e a vitória dos Aliados. Antes, assistiu-se ao colapso das democracias parlamentares, aos abusos do poder, ao reforço da ordem e à orgia racista, enquanto os direitos e as liberdades fundamentais se esfumavam perante uma ideologia que fez soçobrar a civilização.
Hoje, assiste-se à derrocada dos valores civilizacionais com avatares desses fascistas de antanho, que tomaram sucessivamente o poder na Alemanha, Eslovénia, Croácia, Itália e outros países europeus com regras democráticas, enquanto a Espanha e Portugal, mais impacientes, se anteciparam pela via militar, dispensando as eleições. E mantiveram-se!
Hoje, também por meios democráticos, o fascismo pretende igualmente voltar ao poder, e está a voltar, com os mesmos tiques autoritários, apelos nacionalistas e igual desprezo pelos regimes que lhe permitem o acesso ao poder através do sufrágio. No maior país de língua portuguesa, um exuberante fascista tropical, Jair Bolsonaro, misógino, xenófobo, mitómano e homofóbico, pode tornar-se o próximo presidente brasileiro.
A Europa, em duas ou três gerações, esqueceu o passado e parece entusiasmada com os demagogos populistas de inspiração fascista que exploram o medo e o ressentimento de quem se alheou da participação cívica e foi criando horror à política.
Há uma amnésia coletiva que leva os cidadãos a julgar que as democracias são eternas e que se defendem sem democratas e sem luta política na sua defesa.

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11.8.18

É PRECISO ELEVAR A CULTURA GEOLÓGICA DOS PORTUGUESES

Por A. M. Galopim de Carvalho
Estamos a um mês do começo do novo ano lectivo e, antes de começar a editar textos visando matérias de ensino, como tem sido  minha preocupação de há anos, trago aqui, de novo, esta reflexão.
É preciso elevar a cultura geológica dos portugueses e isso começa na escola. De há muito que venho alertando, em textos escritos e em conversas públicas, para a ineficácia do ensino da Geologia em Portugal. Até parece que quem decide (leia-se o Ministério da Educação) sobre o maior ou menor interesse das matérias curriculares, desconhece a real importância deste domínio da ciência na sociedade moderna. Assim, não se compreende a relativamente pouca importância desta disciplina nos nossos curricula de ensino. (...)
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Texto integral [AQUI

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Apontamentos de Lagos - No reino do absurdo

No "Correio de Lagos" deste mês, onde tenho a página 2

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10.8.18

A Cultura da Satisfação

Por Joaquim Letria
O Mundo vive hoje – e em boa verdade desde sempre – um período caracterizado pelo lucro rápido, a especulação e a desigual repartição da riqueza e do bem estar.

Na minha modesta opinião, o problema transcende fórmulas de economia e reside talvez naquilo a que se pode chamar de autocomplacência. Este conceito serviu para urdir uma trama perfeita em que assenta um novo tipo de dominação classista, assente no medo e na incerteza, inimiga do estado do bem-estar, ferozmente egoísta e destruidora de tudo quanto se possa assemelhar a solidariedade.
Este estado de complacência corresponde à ascensão ao poder de uma minoria de privilegiados que não tem outro interesse para além do curto prazo no que respeita aos seus projectos políticos e financeiros e se faz servir por hordas de sicários brutais, medíocres e desprezíveis.
Os resultados são temíveis.
Em nome da liberdade de mercado, o capitalismo está a destruir o próprio mercado e a mutilar-se a si próprio.
A tendência autodestrutiva do capitalismo moderno começa na grande empresa e acaba na perversão das finanças, nos destroços ecológicos, na exploração dos despojados, no abandono do investimento público, no crescimento do défice, na especulação e destruição da riqueza industrial, no desmoronamento do Estado-Previdência e, finalmente no desemprego endémico e no emprego frágil destinado à sub-classe dos desfavorecidos, dos imigrantes, dos desempregados, dos jovens e dos antigos operários.
A paisagem real é terrível: violência, drogas, guetos de miséria urbana e tráfico de seres humanos de um lado e, do outro, uma pequena minoria de privilegiados capaz de aforrar mais de metade do rendimento mundial.
A cultura da satisfação, ou da autocomplacência como lhe chamaram, converteu-se em sistema, com a sua antropologia, a sua moral própria, a sua filosofia apressada, os seus aparelhos políticos e as suas influências externas.
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9.8.18

A pena de morte e a Igreja católica

Por C. Barroco Esperança

A pena de morte é um anacronismo que persiste em sociedades ditas civilizadas, nódoa que a direita europeia de vocação fascizante se prepara para reintroduzir, à semelhança do que sucedeu em 1976 nos EUA, onde é aplicada em 34 dos 50 estados.
A aplicação, sem efeitos dissuasores, tem sido responsável pela execução de inocentes, por erros judiciais. Deveria bastar a irreversibilidade para fazer tremer a mão aos juízes humanistas, mas não faltam carrascos à crueldade, quando legalizada.
A Igreja católica, pressionada pela civilização europeia, condenou a pena de morte, mas com restrições, na última edição do seu catecismo.
O Papa Francisco limpou finalmente a nódoa do catecismo romano quando o facínora das Filipinas, PR católico, defende execuções sumárias para traficantes e drogados, e, como outros déspotas católicos europeus, se prepara para reintroduzir a pena de morte.
A decisão deste papa, rompe com dois milénios de tradição, credita-o como humanista e honra-o perante o mundo civilizado. Esperemos que, com este exemplo, as religiões não continuem ao serviço da tradição e dos interditos e se tornem aliadas da modernidade.
Foi de forma simples que revolucionou o Evangelho, um repositório da moral da Idade do Bronze: “A pena de morte é inadmissível porque é um ataque à inviolabilidade e dignidade da pessoa e ela [Igreja católica] trabalha com determinação para que seja abolida no mundo todo”.
Não posso deixar de me solidarizar com o papa católico que acaba de dignificar a Igreja e assumir o compromisso de se associar ao movimento abolicionista. Assim procedam os dignitários de outras religiões e das várias teocracias.
Recordando e alterando Neil Armstrong, ao pisar na lua: "Esse é um pequeno passo para a civilização, mas um enorme salto para o Vaticano".
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5.8.18

Pergunta de Algibeira

3.8.18

As Malhas que o Império Tece

Por Joaquim Letria
Os ingleses foram quem melhor soube fotografar e filmar aquilo a que chamamos império. Nós até nisso fomos e somos envergonhados. Pelo contrário, os ingleses dão-nos o seu império com a intenção do calor, dos cheiros, cheios de elefantes, capacetes coloniais, ventoinhas, linho irlandês, espingardas de culatra, mosquiteiros e nativos ora africanos ora orientais. Nós não passámos do “Chaimite” e quando quisemos recriar alguma coisa depois disso não fomos capazes de sair do Jardim Botânico ou da Estufa Fria.
Os franceses reconstituem o seu império em película à imagem de Catherine Deneuve, Alain Delon ou Jean Paul Belmondo. Desperdiçaram Jean Marais, Lino Ventura ou Jean Gabin. Friamente, com olhos sempre europeus, com o raciocínio francês, com a haute couture du faubourg , o caqui vincadinho, a preanunciar os trajes elegantes dos enviados especiais da TV ou do Paris Match. No entanto, seja nas areias do Beau Geste ou na selva de Dien Bien Phu há sangue e a crueldade que não enjeitam.
Os americanos tentam ainda libertar-se do clima e da humilhação do Vietnam à custa das barbaridades no Iraque e Afeganistão, depois de trocarem as matanças dos comanches pela selvajaria dos 'contra' na Nicarágua.
Os russos ainda estão a pensar que desmantelaram um dos grandes impérios do nosso tempo. Os alemães e flamengos não ultrapassaram os piratas das Caraíbas, por isso fazem de figurantes menores nos filmes onde são comerciantes, fregueses de bares, pianistas ou pisteiros para amantes dos safaris.
Honra lhes seja, os nossos irmãos espanhóis têm orgulho no seu passado e chamam “Conquista” à grande expansão, não se desculpando das crueldades que infligiram por esse mundo fora e com que conquistaram a sua grandeza.
Os holandeses, por seu turno, assobiam para o lado, não vá nenhum filme lembrar a sua parte activa na construção do “appartheid” e a origem das suas crias “afrikander”.
Os turcos já não se lembram que foram otomanos, os austríacos para esquecerem o 'anschluss' estão a redescobrir os húngaros, os suecos morrem de tédio com os dinamarqueses e noruegueses e os italianos nem querem ouvir falar na Abissínia. Hoje, afinal de contas, cada um teve o império que o cinema quis que merecesse.
Envergonhados, nós não tivemos nada, não queremos falar de descobrimentos, mas sim de achamento, porque éramos muito bonzinhos, fomos fazer vela e as correntes levaram-nos até outros povos com quem confraternizámos. E voltámos a bater os pezinhos de contentes, carregados com as riquezas que eles nos ofereceram só para cá acreditarem que tínhamos lá estado e o Reino começasse a organizar a CPLP.
Acabamos por ficar com um império estranho, com o Governador na Casa do Alentejo, as roças no Jardim do Tabaco, as minas no Jardim Colonial, a capital em Alcácer do Sal e os nativos no Jardim Zoológico. Se calhar até nem tivemos império nenhum…
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2.8.18

O criacionismo é uma crença perigosa

Por C. Barroco Esperança
Há quem confunda convicções e crenças e ignore que quem possui convicções fortes se mantém aberto ao contraditório, e quem perfilha crenças enjeita o que as possa abalar.
As crenças não exigem reflexão, basta-lhes a tradição e o ritual. As convicções obrigam à ponderação e à firme vigilância da realidade, que muda com os avanços da ciência.
Não há convicções que resistam aos factos ou que não sejam abaladas pela ciência, e as crenças resistem às evidências e recusam mudanças. A crença é a certeza sem provas, a obstinação que, perante a realidade que a contraria, lamenta que a realidade se engane.
O criacionismo é uma dessas crenças perfilhadas por quem pensa que a Idade do Bronze produziu verdades imutáveis transmitidas por um deus criado pelas comunidades tribais, dessa época, à imagem e semelhança dos seus patriarcas.
As pessoas de convicções firmes propõem as opiniões pela persuasão, as que perfilham crenças impõem-nas pela força. As primeiras são didáticas, as segundas são fanáticas. Umas sugerem, e veem adversários em quem diverge; outras recitam, e veem inimigos em quem discorda; num caso, há divergências; no outro, heresias.
As crenças conduzem ao proselitismo e são veículos de verdades únicas e imutáveis. As convicções são sugestões a debater, e suscetíveis de reavaliação.
As convicções baseiam-se na ciência e exigem método e objeto; as crenças prescindem do contraditório e não o toleram, dispensam o método, e o objetivo é a perpetuação.
Hoje vivemos num mundo que se deve à ciência, e que arrisca a sobrevivência por causa das crenças.
Pensar é mais difícil do que acreditar.
Ponte Europa / Sorumbático

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1.8.18

Apontamentos de Lagos

Rua José Afonso, 29 Jul 18

Rua Salgueiro Maia, 30 Jul 18

Praceta Ana Castro Osório, 30 Jul 18

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