26.2.18

Curiosidades - 5

Aspecto da construção do viaduto Duarte Pacheco, em Lisboa.

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25.2.18

Sem emenda - Um negócio lucrativo

Por António Barreto
Volta a questão do IVA dos partidos políticos. Regressa o tema do seu financiamento. Deve ser público ou privado? Com ou sem fiscalização?
Este problema criou dificuldades dentro dos partidos e entre a Assembleia e o Presidente da República. A lei vai ao plenário do parlamento e depois aterra novamente em Belém. Não se sabe se com diferenças relativamente à versão original. Nem se sabe qual será a reacção do Presidente.
A questão tem sido pouco estudada e deficientemente debatida. Na verdade, para alguns, discutir o assunto é pôr em causa a democracia. Isto é: encarar todas as hipóteses, incluindo a de não isentar, significa combater a existência dos partidos, sem os quais não há democracia.
Do outro lado, os preconceitos também são de regra. Os partidos são entidades privadas, geralmente agentes de favoritismo, era só o que faltava o Estado dar-lhes subsídios. Se querem fazer política, que arranjem os seus recursos, o Estado não tem nada a ver com isso.
Não é que no meio esteja a virtude, nem sempre está. Mas estas duas hipóteses formam uma alternativa fatal, um dilema de peste ou lepra.
O financiamento público compreende-se, desde que feito com regras e moralidade. Na verdade, tratando-se de associações privadas, só se admite que uma pequena parte da sua actividade seja financiada pelos contribuintes. Para lá de uns poucos por cento, que sirvam para custear o desempenho de funções institucionais parlamentares, não se vê razão para que o financiamento público seja uma parte essencial das receitas de um partido. Aliás, quando se diz que todas as receitas devem ser públicas, como alguns pretendem, está evidentemente a enganar-se toda a gente: os partidos continuarão a encontrar fontes escondidas, em espécie e em género, o que é pior a emenda do que o soneto. A regra deveria ser a da fiscalização apertada e do castigo severo, não a da exclusividade, logo de seguida não respeitada. A lei proíbe, mas a vida faz, as autoridades deixam correr e a população não sabe ou não se importa!
De qualquer modo, não é legítimo obrigar os cidadãos a pagar as actividades de todos os partidos, concordem ou não com as suas ideias. Um cidadão deve pagar o partido das suas simpatias ao qual dá o voto, mas não aqueles que ele quer afastar do poder. Favorecer ou combater um partido faz-se com voto, dinheiro e militância. Como se sabe, a maior parte dos sócios e militantes quase não paga quotas ou desembolsa quotas ridiculamente baixas (um ou dois euros por mês…). Isso só é possível porque o contribuinte paga tudo! Não está certo.
Quanto aos impostos, tudo parece mais simples. O IVA, o IMI, o IRC, a segurança social, as taxas municipais e do audiovisual e outras de que os partidos se querem libertar, devem simplesmente ser pagos. Não se sabe porquê, mas parece que os partidos têm uma existência especial que lhes permitiria ficar isentos de impostos!
A questão é de facto simples. E a democracia não está em causa. Nem a igualdade de direitos. Estão em causa privilégios e direitos de casta mais ou menos inaceitáveis em democracia moderna. Não se conhecem sérios argumentos favoráveis à isenção de taxas e impostos de que beneficiariam os partidos políticos, no exercício das suas actividades, como sejam as campanhas eleitorais, a propaganda e a organização de festas e comícios. Mas há uma pressão de preconceito para que se aceite o princípio da excepcionalidade dos partidos políticos.
Ora, devem pagar como toda a gente. A política é uma actividade altamente lucrativa. Tanto que, se não fosse, ninguém se interessaria por essa profissão. É mais lucrativa do que muitas empresas. Dá emprego ao próprio e aos amigos, familiares e correligionários. Dá sustento aos fiéis e às clientelas. Dá rendimento, nome e influência! Dá poder e reputação. Dá poleiro e fama! Os partidos devem pagar impostos como toda a gente e como as empresas. E o Estado deve financiar pouco, só o que é institucional, não o que é partidário. Mas deve sobretudo fiscalizar.

DN, 25 de Fevereiro de 2018

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Sem Emenda - As Minhas Fotografias


As gruas abraçadas – As gruas “Poderosa” e “Vigorosa” residem nas docas do Poço do Bispo, em Lisboa. Têm mais de trinta anos. Funcionam perfeitamente. Foram construídas em Portugal, pela Mague, empresa que desapareceu na voragem da revolução, do socialismo e do capitalismo. As gruas são especializadas em cargas a granel. Vão de batelão ao largo, carregam e descarregam mercadorias. Têm uma mecânica antiga e interessante. São bonitas e arrasam os guindastes modernos e os pórticos para contentores. Os estivadores, homens sensíveis, deixaram-se há muito seduzir e deram-lhe aqueles maravilhosos nomes, que pintaram no eixo principal. Depois de terminadas as suas tarefas, no Mar da Palha, regressam ao seu poiso, encostadas ao cais, cruzadas uma com a outra. Ao fim de algum tempo, as duas gruas transformam-se em imagem familiar. A sua posição tem algo de afável. Quem sabe se acolhedor, termo aqui inesperado. Há quem diga que, naquela posição, as duas gruas fazem lembrar, estilizados, os corvos de Lisboa! Está tudo certo!
DN, 25 de Fevereiro de 2018

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Perfeito!

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24.2.18

Curiosidades - 4

Já que falámos de leões...
1ª pedra - 8 Maio 1882
Inauguração - 13 Maio 1934

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Bruno de Carvalho: da trapalhada ao crime

Por Antunes Ferreira
Hoje, sábado, embora não seja habitual abordar temas como este que contemplo, não posso deixar de o fazer pela indignação e pela classificação de crime que considero que sinto que ele tem em absoluto. Trata-se de um crápula que tem por nome Bruno de Carvalho e que é presidente do Sporting Clube de Portugal, o meu clube de sempre. O homem, por incrível que pareça, foi reeleito com maioria esmagadora, cerca de 90 por cento.
Carvalho é um demagogo, um orador exaltado, aos gritos, sabe empolgar a “sua” assistência, insultar os seus opositores, pelos vistos infelizmente poucos, é mentiroso, agressivo, odioso, tem todos os “atributos” para ser o ditador que é. Mais grave, é contra os Direitos do Homem bem como a Constituição da República, o que, para mim, é contra o 25 de Abril. Um espécime rara.
Como ditador que se preza, a corte que o rodeia é constituída por sabujos, pobres lambe-botas, que, sentados na mesa das assembleias gerais que o presidente de pacotilha usa convocar, enfrentam a matilha dos associados que deliram com as arengas inflamadas do seu idolatrado “Deus”!
Tenho de dizer que Bruno de Carvalho não é só uma besta, também fez coisas boas: ao lado do nosso estádio (moro ali quase ao lado) ergue-se o pavilhão João Rocha –  um grande Presidente que o Sporting teve e que conheci e com quem convivi – que foi mandado construir por Carvalho. Também a consolidação das contas financeiras foram obra dele.
Não obstante, a hedionda criatura tem contra ela um rol de tal tamanho de actuações insidiosas, horríveis, tortuosas, criminosas que superam as boas que atrás referi e que são do conhecimento público. Vou terminar com o que se passou na última assembleia e com as consequências que dela decorreram.
O presidente ditador pretendera introduzir três novos pontos na legislação do seu clube que não vale a pena discriminar para reafirmar a determinação dele, ser ditador, disfarçadamente, está visto. A assembleia geral decorreu na maior balbúrdia, todos os pontos foram aprovados, obviamente por esmagadora maioria e ali começou o inexplicável.
Além dos mais cobardes ataques aos seus adversários a quem já chamava sportingardos, o gajo apelou aos sportinguistas para a partir daquela data deixarem de ler os jornais e ver os comentadores televisivos (inclusive os que representavam o SCP) exceptuando a Sporting TV, o que resultou nos jornalistas quando saíam do pavilhão terem sido insultados e até agredidos por associados leoninos.

Logo no dia seguinte, o Sindicato dos Jornalistas, o CNID, o Sindicato dos Jornalistas Desportivos e outras agremiações e uns quantos comentadores sportinguistas que tinham acompanhado Carvalho recusaram a “sugestão”/imposição. Uma trapalhada! 

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23.2.18

Antiguidades - 16

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Pátria Amada

Por Joaquim Letria
A minha Pátria Amada não se pode circunscrever só à língua portuguesa. Alargando o território da Pátria, para nele caberem, a par da gramática, a liberdade e a justiça, posso então compreender o exílio em Lancelote  de José Saramago, o regresso tardio de Eduardo Lourenço, a persistência londrina de Paula Rego, o apego parisiense de Manuel Cargaleiro e as visitas ocasionais de António Damásio.
Só pela relação entre o mal que se sofre e o bem que sabe se pode entender completamente a injustiça de Luandino em Cerveira, Pepetela no Porto, Craveirinha em Sintra, Mia Couto em Lisboa. Também para eles a língua portuguesa não é uma Pátria Amada. É um instrumento que concede um visto consular. Não é uma certidão de nascimento narrativa completa. É uma gramática, uma sintaxe, uma arma branca para suportarem a retórica e resistirem às vicissitudes burocráticas dos revisores da História.  
Quando há anos Rosa Casaco, o inspector da polícia política da Ditadura, veio a Portugal e deu uma entrevista, a fingida indignação pela visita dum PIDE não foi verdadeira. Foi apenas a raivinha de quem se vê descoberto nas cumplicidades escondidas com que se compra a brancura dum passado mil vezes apagado a borracha e rescrito sobre o alvo corrector com que se borraram compromissos e esconderam indignidades.
Até agora foi como se o fascismo não tivesse existido. Os demónios são ainda o Gonçalvismo e o Cavaquismo, um e outro alibis de mau pagador, de arrependidos da História, de ”pintados de fresco”, de almocreves de regimes, de comissionistas do situacionismo de turno.
Reciclados em cursos intensivos, “work shops” e cursillos da política festiva, servis trintanários, subservientes serventuários de poderosos capazes de farejar as mudanças, jamais deixaram de se servir desse território que é a Pátria Amada, qualquer que sejam as regras gramaticais e o sotaque dominante. Nas línguas e dialectos com que se apresentem, por mais vítimas do gonçalvismo ou espoliados do cavaquismo que se arvorem e apresentem, nunca deixarão de ser os bastardos do fascismo. Muito simplesmente.
Publicado no Minho Digital

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22.2.18

Pesadelos da guerra colonial - Crónica

Por C. Barroco Esperança
Quem regressou da guerra colonial, desejou esquecê-la, e não pôde. Saímos da guerra, e a guerra não saiu de nós, pelos mortos que lá deixámos e estropiados que trouxemos, torturantes recordações de anos injustos e inúteis.
Por menos traumática que possa ter sido a guerra, nunca mais se esquecem as rugas dos pais que nos aguardaram, a ansiedade que viveram e a angústia pelos perigos, reais ou imaginários, a que nos julgaram expostos. E mal souberam do que os mosquitos foram capazes, do que o clima fez ou da alimentação que nos coube. Deixámos que partissem sem lhes dizer.
A sobrevivência, mesmo sem mazelas aparentes, carrega feridas que nunca cicatrizam, memórias doridas, inquietações que regressam, angústias que persistem. Ninguém faz a catarse de tão longo tempo e tão penetrante sofrimento, ninguém conta tudo o que viu e grande parte do que soube.
Integrar um exército de ocupação é uma provação traumática insuperável. Ainda hoje, quase meio século decorrido, tortura-me a memória o funeral do Martins, com o pai a implorar permissão para depor um último beijo na testa do filho, corpo de que restavam os membros inferiores e pedaços indeterminados numa urna fechada, junto à cova do cemitério da Missão de Massangulo, onde o jovem capataz dos caminhos de ferro foi sepultado.
Quem pode esquecer o homem que pedia ajuda para se levantar, com pernas amputadas no choque de dois comboios onde vários negros morreram esmagados, ou queimados no vapor das caldeiras, trabalhadores dos caminhos de ferro, receosos de saltarem e serem suspeitos de fuga, condicionados pelo medo simultâneo da tropa e da Frelimo?
Quem esqueceu os aviões de combate (Fiat) que lançavam bombas em aldeamentos que destruíam e cujas palhotas abrigavam crianças, mulheres e combatentes da Frelimo?
Nunca me refiz da impotência perante o último suspiro do Dias, do peso do corpo inerte nos meus braços, alguns minutos depois de almoçar comigo, esmagado dentro da cerca de arame farpado, sob uma roda da Berliet onde insistiu em sentar-se no guarda-lamas, a recolher, na enfermaria, lágrimas do nosso desespero. Morreu em 11 de janeiro de 1968. Doze dias depois, uma mina rebentou sob um Unimog da Comp.ª 1799 (Malapísia) e fez explodir o depósito de combustível.  Morreram queimados o furriel Carlos Madeira e o condutor Eduardo Franco, o Mafra, este reduzido a escassos restos, e outros ficaram estropiados. Foram as três primeiras baixas dos que fizeram a viagem sem retorno.

Quase 18 mil noites após o regresso, ainda falo com o Moura, morto nas águas revoltas do Zambeze, com viaturas e homens perdidos onde a reviravolta da jangada os lançou e os crocodilos esperavam.
O funeral do Martins, o capataz que a bazuca atingiu à queima-roupa, foi talvez o pior momento de 26 meses em que, por amargurada opção, não vim de férias a Portugal, mas há um dia de que nunca falei, que ora refiro pela primeira vez, quase 50 anos volvidos.
Um dia qualquer, preparava-me para ir a Vila Cabral comer a iguaria habitual, um bife com batatas fritas e ovo a cavalo. À saída, veio alguém trazer um preso destinado a ser entregue à Pide. Foi de Unimog, entre soldados com uma das mãos agarrada ao banco e outra à G-3. Ninguém o terá designado ‘turra’, palavra carregado de ódio racista, que na CCS os militares mais politizados e instruídos procuraram erradicar.
Durante o percurso desejei que fugisse, sabendo que era impossível fazê-lo e continuar vivo. Chegados a Vila Cabral, o Unimog levou o prisioneiro. O condutor não carecia de instruções, não era preciso. Nem os soldados que o escoltaram.
Não me recordo onde era a Pide, a memória tem o dom de apagar o que aflige, e calculo o destino daquele soldado andrajoso do IN (inimigo, na designação militar), pois sabia do que a Pide era capaz e imaginei o que lhe reservaria.

E lá segui com outros camaradas a caminho do almoço no Café Planalto, indiferente ao eventual encontro com impiedosos comandantes de milícias, o Daniel Roxo ou o Porto, incensados por colonos, ou dois capitães de Comandos, célebres pelo desapego à vida e à ética e amor ao álcool, todos objeto do meu profundo desprezo. A um desses capitães, a Frelimo pôs-lhe fim à carreira e à vida, pouco tempo depois.
O rosto impassível do prisioneiro perseguiu-me, e alheei-me da refeição e do convívio.
Há coisas de que não falamos, e os fantasmas da guerra colonial permanecem.

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20.2.18

Tudo sobre Elina Fraga

Por Ferreira Fernandes
Devem ser das palavras mais sábias: "Não percebo..." Assim, com reticências, que é a forma sábia de sublinhar que se admite que deve haver por aí uma resposta, mas eu não sei qual. 
Aconteceu-me tantas vezes nesta profissão em que me pagam para escrever, não perceber. E é tão importante. Algumas vezes, poucas, mandaram-me cobrir congressos de partidos e eu, de lá, mandava dizer o que via: a autoridade e solidão de Mota Amaral, a frouxidão de Seguro, a perfídia brilhante de Portas, o tanto que Marcelo gosta de si... 
Aparentemente este género tão subjetivo de olhar para os protagonistas dos congressos nunca foi muito popular entre os meus diretores quando tocava mandar cobrir aqueles fins de semana que empolgaram sempre as redações e bastante menos o país. Tenho de admitir que o desdém talvez fosse fundamentado: eu não entendia as moções, escapavam-me os jogos de bastidores. Mas continuo a achar que num lugar onde se escolhem os chefes dos partidos vocacionados para mandar no país, nos congressos partidários, o mais interessante é caçar os protagonistas ou, ainda mais, assinalar os mistérios. Ah, estes últimos, o acidente, o acessório, o epifenómeno que sai da cartola como quem não quer a coisa... E, de repente, toda a gente a falar dele (ou dela) - houve vaias, deu indignações ("traição!", disse ex-ministra) e levou Marques Mendes a fingir o espanto: "Mas porquê Elina Fraga?!" 
No estrebuchar que se seguiu encontraram-se logo investigações em andamento e anátema fácil: "Populista!" Recolham pois o acidente, o acessório e o epifenómeno: há razões maiores para esta propulsão, tanto mais que a senhora vem de um setor pestífero, a justiça. 
Tal como um esquecimento é tantas vezes um sintoma de boa memória, dizer-se "não percebo" para a escolha de Elina Fraga revela que se percebe bem demais porque ela foi escolhida. É aí que eu estou: aqui há gato. Eu não sei ainda é qual.
DN de 20 Fev 18

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19.2.18

Antiguidades - 15

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Os recasados de Alvalade

Por Ferreira Fernandes
Por estes dias, como benfiquista, preocupam-me mais leituras de sentença em tribunal do que boicotes de leitura em assembleia geral dos outros. Quando soube daquelas excomunhões anticelulose (sportinguistas, nada de jornais em papel!) e anticatódicas (nem tevês!), pensei que era só o Sporting a dar-se conta da avalancha da era digital. Ontem, porém, vi o diretor de comunicação do clube - Nuno Saraiva, eu fazia-te o adeus amigo do costume, mas podes olhar para mim? - a aumentar a amplitude das proibições. Estas estendem-se também à rádio e às plataformas digitais. 
No Sporting entraram em vigor os quatro macacos sábios: um tapa os ouvidos aos relatos, outro, os olhos à transmissão televisiva, o terceiro tapa o nariz à tinta impressa e o último entrapa as falanges contra a tentação de frequentar a internet... 
Sou liberal, cada um faz o que quer entre os seus. Mas também sou egoísta e assustei-me por poder ser privado da escrita de Rogério Casanova no Expresso. Ele é um fanático sportinguista que de tão bem escrever me dá gozo até nas derrotas benfiquistas. Porque o meu temor era: se os sportinguistas não podem ler jornais, também não podem escrever neles, certo? E não me tranquilizava que o anátema do Bruno de Carvalho fosse contra "jornais desportivos". Como horas depois se confirmou, isto de proibir é como as cerejas... 
Corri ao Twitter do Casanova a saber se ele suspendia a sua escrita no Expresso mas o meu ídolo nada dizia. Ele próprio estava a digerir a notícia de que um sportinguista também não podia fazer links dos textos dos jornais. Apesar de abalado, ele disse que ia escrever no Twitter, "sem os ler", sobre os textos dos famigerados jornais. 
Então, a minha esperança renasceu: talvez ele continue a escrever os seus textos no Expresso, mesmo sem os ler - ainda assim serão bem acima da média. 
E depois desta esperança acabo esta crónica com uma certa lascívia: vai ser excitante imaginar os sportinguistas como os recasados do cardeal. A comprar A Bola, mas a não a ler; a espreitar pelo canto do olho o Pedro Guerra, mas a não o ouvir. O pecado é tão enredado e tentador...
DN de 19 Fev 18

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A propósito de "Negócios da China"...

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18.2.18

Sem emenda - Negócio da China

Por António Barreto
A Fundação Gulbenkian prepara-se para vender, a uma empresa chinesa, o seu departamento de petróleo, isto é, tanto quanto sabemos, a Partex, o grupo de empresas ligadas ao petróleo.
O petróleo da Gulbenkian é da Gulbenkian. Por enquanto. A instituição fará com esse produto o que bem entender, mesmo se esperamos, de uma fundação de utilidade pública, que as decisões sejam no melhor interesse das suas obras, assim como da eternidade, ambição desmedida mas estatutária. 
Curioso é que o petróleo da Gulbenkian não é só o problema da Gulbenkian. É também um problema dos Portugueses. O facto de a Gulbenkian ser privada não faz com que o Governo não tenha nada a ver com isso. Tem com certeza, desde que estejamos a falar do essencial e não da sua gestão. Sobretudo se certas decisões têm implicações para o país. Aliás, as leis sobre as Fundações, do antigo regime até aos dias de hoje, prevêem circunstâncias em que o Governo tem de se exprimir.
Parece que os chineses pagam bem. Também consta que não apareceu outro interessado. Ao que se murmura, terá havido contactos, mas ninguém revelou intenção. Dito isto, onde está o problema? Será por serem chineses? Certamente não. O preconceito, frequente em Portugal, sobre certas origens de capital, tem muito de racista e de fidalgote arruinado. Quando se diz que um investidor estrangeiro é angolano, chinês, árabe ou russo, há logo quem tenha arrepios! Já tal não acontece quando os capitais são espanhóis (onde vai o tempo do medo da vizinha?), europeus ou americanos.
É verdade que convém a um Estado não deixar certas coisas ao Deus dará. A origem, legal ou não, de certos capitais, deve ser escrutinada. Será que esse argumento é bastante? É claro que não. O caso dos investimentos chineses merece outro exame. Sem preconceitos, pois a China não pode ficar a pagar eternamente o preço dos rumores do “perigo amarelo”, tanto em voga no século XIX.
A verdade é que a maior parte dos investimentos chineses em Portugal não é privada, nem segue as regras dos mercados internacionais. Dependem do Estado chinês e são gestos de política. Há interesses chineses importantes em sectores vitais, como na produção de energia, gás e electricidade, na rede eléctrica nacional, na banca, nos seguros, na saúde, nos transportes aéreos e em muitos sectores dispersos, como o turismo, a hotelaria, a comunicação e o futebol. Com esta amplitude e com uma visão estratégica unitária, o governo da China tem a capacidade de orientar a economia portuguesa de maneira efectiva! O problema não é a China, o problema é ser um governo estrangeiro, que não pertence à União Europeia e que não está obrigado às regras e aos costumes dos países da OCDE.
O governo português tem evidentemente de se ocupar da questão. Tem a obrigação de dizer o que entende, dado que está em causa uma parte do legado do senhor Calouste e que a sua alienação não pode ser feita sem autorização do governo.
A dúvida é pertinente: por que razão o governo português e as empresas se retiraram de negócio tão interessante? É verdade que, por causa da dívida e eventualmente de interesses menores, se assistiu a uma venda ao desbarato de empresas e “utilidades e serviços públicos”. Essa tendência foi criticada, então, pelas oposições. Por isso não se entende que as mesmas forças políticas, hoje no poder, não olhem para este assunto com mais severidade.
A venda “aos chineses” não é uma venda “aos chineses”. É uma venda “ao Estado chinês”, o que não é a mesma coisa. Este último é já proprietário de enormes interesses em Portugal. Tem uma influência considerável nas decisões nacionais. É arriscado aceitar que um governo muito poderoso, ainda por cima de um país que não é membro da União Europeia, tenha tanta influência. Pode ter más consequências económicas, financeiras e políticas.
A lei portuguesa obriga e dá ao governo a capacidade e o direito de autorizar, ou não, a venda de um activo legado pelo fundador. É o caso de alguns interesses da Gulbenkian no Omã. Não se percebe por que razão o Governo entende que a participação de Portugal nos negócios do petróleo não é de interesse nacional.

DN, 18 de Fevereiro de 2018

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Sem emenda - As minhas fotografias

A Muralha da China e o presidente Mao. 
Há dias assim, singulares e com sorte: passear na Muralha da China quase sozinho, naquele que é considerado o monumento mais visitado do mundo! Obra construída, ao ritmo bem chinês, com método, autoridade e paciência, desde o século II antes de Cristo, até ao século XVII da nossa era, sendo que ainda hoje se constroem e reparam pedaços. Era um muro de defesa, com receio dos impérios vizinhos. Também servia de vigia e de rede de postos fronteiriços para recolha de impostos e taxas. Uns dizem que terá cerca de oito mil quilómetros de extensão, outros, que incluem as ramificações, falam de 20 mil. É feita de todos os materiais imagináveis, pedra, tijolo, argamassa, barro, madeira... até cimento, numa desastrada restauração recente que ruiu. Terá 30 mil torres como a que se vê aqui. Durante anos acreditava-se que era uma das raras obras humanas visíveis da Lua! Sabe-se agora que era mito. Lá em cima, quase no topo da montanha, uma frase eterna: "Sê leal ao presidente Mao!" Está dito. E tem implicações, que pode ser preferível não conhecer.

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Antiguidades - 14

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15.2.18

Das eleições de Humberto Delgado ao PREC - Crónica

Por C. Barroco Esperança
Gonçalo é uma freguesia do concelho da Guarda que dista cerca de quatro léguas e meia da cidade e foi uma populosa aldeia, com perto de três mil habitantes. Hoje, já elevada a vila, não atinge um milhar e continua a sofrer a erosão que atingiu o interior do país.
Em 1958, Gonçalo não era aquela aldeia temente a Deus e respeitadora da ordem que a ditadura exigia. Situada na falda nordeste da Serra da Estrela, tinha nos seus habitantes uma série de artesãos que transformavam o vime, que crescia nas margens do rio Zêzere e das ribeiras que o alimentavam, em cestos e outros artefactos de verga, e operários que extraíam o minério do filão de cassiterites do vale que liga a Gaia à Vela, para produção de estanho e, durante a guerra de 1939/45, do volfrâmio, que sói andar associado.
Era a natureza de classe que decerto distinguia os habitantes de Gonçalo, que não viam em Salazar o salvador da Pátria e em Tomás mais do que o grotesco paquete do ditador.
O ano de 1958 não encontrou ali a aldeia típica da Beira Alta, na transição para a Beira Baixa, com gente tímida, beata e subserviente. Pelo contrário, o professor primário e a mulher, ambos professores, eram olhados com igual desconfiança à do padre Joaquim, conhecido pela alcunha de Faísca, e as missas deste estavam longe de ser frequentadas pela totalidade dos paroquianos, especialmente pelos homens.

No dia 8 de junho desse ano, as listas com o nome de Humberto Delgado passaram as malhas da ditadura e inundaram as urnas que os elementos da mesa eleitoral, quer o padre Joaquim, quer o professor Barata não tiveram coragem de impedir. Foi depois, na contagem dos votos, que aconteceu o milagre da transformação dos votos de Humberto Delgado em votos do Américo Tomás.
A publicação dos editais exaltou os ânimos e, pelo menos, o padre Joaquim Faísca e o professor Barata tiveram de aguardar que a GNR os fosse salvar da ira popular e tirar do local das eleições onde nenhum deles voltaria a entrar.

Américo Tomás ganhou ali as eleições e o professor e o padre tiveram o prémio da sua conduta crapulosa. O padre Faísca ficou no colégio de S. José, na Guarda, e o professor Barata foi colocado na Direção Escolar onde o regime lhe salvou a pele e brevemente o promoveria a adjunto do Diretor.
A professora, mulher do Barata, ficou na aldeia até ao fim do ano letivo, ostracizada pela população, sem voltar a ter quem lhe lavasse a roupa, sua e dos dois filhos, ou a ajudasse na lide da casa, até às férias. Seria transferida ao abrigo da lei dos cônjuges sem levar nem deixar saudades onde durante vários anos o casal tinha vivido e ensinado.
Após o 25 de Abril, o MFA, com a necessidade de desmantelar o aparelho repressivo da ditadura, exonerou os diretores de vários organismos e substituiu-os pelos números dois. Na Guarda o presidente da Câmara cedeu lugar ao prof. Renato, um vereador ainda mais fascista, até à constituição de uma comissão administrativa presidida por um democrata, o Dr. Carlos Santarém. No liceu, o reitor, Bonito Perfeito, um situacionista discreto, e excelente professor, foi substituído pelo professor mais antigo. Sucedeu-lhe a D. Beatriz Salvador… a comissária da Mocidade Portuguesa Feminina!
Na Direção Escolar o diretor foi afastado e, pasme-se, o Barata passou a diretor interino, de onde passaria a efetivo, cargo em que se reformou sem necessidade de se converter à democracia.
Coimbra, 15 de fevereiro de 2018

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14.2.18

Curiosidades - 3

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13.2.18

Terramotos

Por Antunes Ferreira
Na madrugada da passada segunda-feira mais de trezentos sismos com magnitude entre os graus 1,9 e os 3,2 da escala de Richter assolaram os Açores, com especial incidência na ilha de São Miguel. Ao semanário “Observador” de Lisboa, o presidente do Instituto do Mar e da Atmosfera declarara que a crise sísmica poderia prolongar-se “seguramente durante dias, até semanas e possivelmente meses”. Os Açorianos – tão habituados a estas situações – limitam-se a… continuar a viver.
Soube-se então que esta crise sísmica teve origem na mesma falha tectónica que há quinhentos anos quase destruiu São Miguel assolada por um terramoto catastrófico seguido de um tsunami. Estava-se em 1522 e a falha era e é resultante (Ponto Triplo) do encontro de três placas submersas: a euroasiática, a norte-americana e a africana. Cientificamente ainda há muito para estudar.
O Homem nem conhece, bem ou mal, o planeta em que vive. Julga, mas, na realidade não. Porém, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, a Humanidade conhece o concreto, o local onde vive, o que come, o seu estatuto vivencial, emocional e tradicional, o sentido da responsabilidade, da sobrevivência, dos valores morais, do dever, da obrigação, da filiação, da paternidade, da maternidade, do valor do numerário (talvez o principal) e muitos outros, se se continuasse a enumerá-los chegar-se-ia ao infinito… E, obviamente, também conhece os “valores” contrários.

É por tudo isso que a introspeção nos rodeia num amplexo indeclinável e impossível de “desatarraxar” e pior, vivemos assim porque queremos viver assim, disso não podemos sair quiçá não queremos sair. A complexidade desta estranha maneira de viver desnorteia-nos, desnorteia a Humanidade porque afinal o que é a vida, onde ele começou, onde ela acabará? Perguntas com imensas respostas mas nenhuma solução. Donde se chega ao drama existencial. Muitos filósofos têm vindo a abordar o tema de todos os ângulos possíveis e imagináveis, Para dar alguns exemplos desde Santo Agostinho até Hegel e Kierkegaard a procura do drama existencial foi constante, durou séculos e vai continuar. "Conhece-te a Ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum"- frase do Templo de Delfos na Grécia.

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