Por Maria Filomena Mónica
EM 2001, publiquei um
artigo intitulado «Os nossos filhos virão a ser mais ricos do que nós?», onde
respondia afirmativamente à pergunta. Nascidos em 1963 e 1964, os meus tinham
entrado para a instrução primária ao som do Imagine
de John Lennon, viajado pela Europa no InterRail
e conseguido um emprego após a conclusão dos estudos. Além disso, iriam herdar
a casa que, no final de sucessivos adiamentos, tinha comprado com um empréstimo
bancário. Mas o meu raciocínio continha uma falácia, comum aos herdeiros do
Iluminismo: a de que o Progresso seguiria em linha recta até à glória final.
Seja como for, é dos netos que
hoje pretendo falar. Sei, e eles sabem, que os espera uma vida dura, incerta e
arriscada. A abundância do após-guerra sofreu uma tal martelada que a Rita, a
Joana e o Miguel não podem encarar o futuro com a alegria com que o fiz ao
celebrar os meus 18 anos. Como se não bastassem as elevadas taxas de desemprego
juvenil, irão ter de pagar as pensões de um número crescente de velhos.
Há dias, foi divulgada uma
estatística, que informava ter o número de jovens interessados em ir estudar
para o estrangeiro aumentado, quando comparado com o ano passado, em 140%. Não
precisava de ler isto para me inteirar do que se passa: bastou-me falar com a
neta primogénita para me aperceber que elas e as suas amigas querem deixar
Portugal o mais rapidamente possível. Para todos, filhos de ricos ou de pobres,
o futuro é negro.
Os adultos com mais de cinquenta
anos devem reflectir sobre a sua responsabilidade relativamente às gerações que
não só terão de pagar a dívida pública que contraímos, como terão de competir,
num mundo globalizado, com jovens oriundos de países onde o sistema público de
educação é melhor do que o nosso.
Ia a meio deste artigo
quando recordei que, em 1929, John Maynard Keynes tinha escrito um ensaio intitulado
Economic Possibilities for our
Grandchildren. Em pleno crash, o
conhecido economista afirmara que, em 2.029, ou seja, num tempo muito próximo
do nosso, o mundo seria infinitamente melhor. Previa que os cidadãos do século
XXI apenas trabalhariam 3 horas por dia, o necessário para satisfazer as suas
necessidades básicas, podendo ocupar os tempos livres a pintar, a ler e tocar
música. Os seus netos teriam a possibilidade de se comportar como os lírios do
campo, os quais, segundo a Bíblia, não trabalhavam nem fiavam, mas cresciam. Já
Marx, em A Ideologia Alemã, sonhara
com um esquema parecido. Ambos estavam, como sabemos, enganados.
Os meus netos têm diante de
si não a perspectiva do ócio aristocrático, mas o pesadelo do desemprego. O
erro de Keynes tem origem no facto de ter pensado que o mundo era sinónimo da
Europa e, talvez mais importante, de ter acreditado que a Humanidade aspirava a
levar o estilo de vida da clique elitista a que pertencia, o chamado Bloomsbury Group. Tomara eu que o mundo
que espera os meus netos fosse o que Keynes delineou. Desgraçadamente, não é
esse o caso.
«Expresso» de 18 Ago 12
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