30.6.05

Choque tecnológico

(Clicar na imagem para a ampliar)

O referendo sobre a IVG

* Nos últimos dias, os jornais têm referido que há MUITOS hospitais nacionais (públicos) que se recusam a cumprir a actual lei do aborto.

O que faz o Governo? Mostra-se duro e obriga-os a cumprir a lei?
Não. Vai contratar clínicas privadas!

* Quando se diz (o que é verdade) que muitas portuguesas vão abortar a Espanha, esquece-se, em geral, uma realidade: a lei espanhola foi inspirada na nossa.

* Esta ideia de ir fazendo sucessivos referendos quando o resultado de um não agrada, não parece muito correcta.
Passa-se isso com este, com o da regionalização e até está previsto fazer-se o mesmo com os do Tratado Europeu nos países que votaram NÃO...
(Ver em "Comentário-1" o caso do regicida).

* Ao avançarem com novo referendo sobre a IVG, os seus promotores estão a partir do princípio que o resultado, agora, será SIM.
Claro que não custa tentar, mas olhem que nada é menos certo...

O problema da bicicleta - Solução

(Clicar na imagem para a ampliar)

POR hoje, afixo aqui apenas os dois desenhos que mostram a bicicleta ANTES e DEPOIS de aplicada a força B (e só essa) por alguém que tem os pés no chão (e NÃO está em cima da bicicleta).

Amanhã, se necessário, porei em "Comentários" mais esclarecimentos. No entanto, quem tiver uma bicicleta à mão, poderá confirmar que o que aqui se diz é verdade - por muito que custe a crer à primeira vista...

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30 Jun 05: Pronto... Uma explicação simplificada está no "Comentário-3".

29.6.05

Como no «Cilindro de Ciro»

Crónica de Joana Amaral Dias

A TERRA DOS ARIANOS
A surpresa das eleições iranianas e a vitória do quase desconhecido e ultraconservador Ahmadinejad, recoloca a questão das relações do Irão com o Ocidente e a reflexão sobre a motivação do povo que o elegeu.

(Texto completo em "Comentário-1")

A Sociedade Portuguesa de Matemática

e o falecimento do Prof. Emídio Guerreiro

(Texto em "Comentário-1")

A sugestão de Nuno Crato

A Matemática no Brasil:

Uma História do seu Desenvolvimento

COM apresentação de Ubiratan D’Ambrosio, este livro de Clóvis Pereira da Silva (sobre a história das matemáticas no Brasil) é uma reformulação da tese de doutoramento do autor, agora sob a forma de livro.

(Texto completo em "Comentário-1")

O quê?!!

- Doutor, há mais de sete meses que a minha mulher não quer fazer amor comigo! O que é que eu faço?
- Bom, peça para ela marcar uma consulta, vamos ver o que se passa.

Mais tarde, na consulta, ela explica:

- Doutor, há sete meses que eu apanho um táxi para ir para o trabalho. Estou quase sempre sem dinheiro, e o motorista pergunta-me: "Então? Vai pagar a corrida ou o quê ?" E como nunca tenho dinheiro, opto pelo "o quê". Por causa disso, sempre chego atrasada; então, o meu chefe diz-me: "Você quer que eu desconte no seu salário ou o quê?" Pois é, eu opto também pelo "o quê". Quando eu regresso, apanho outra vez o táxi e o motorista volta a perguntar-me: "Então? Vai pagar desta vez, ou o quê?". E mais um "o quê"... Então quando eu chego a casa, já não tenho a mínima disposição para fazer sexo com meu marido...

- Entendo - responde o médico, compreensivo -. E agora o que fazemos? Contamos isso ao seu marido ou o quê?
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(Env. por JESCA)

28.6.05

Feira Popular

A nossa sociedade assemelha-se, cada vez mais, a uma feira popular. Esta tem as luzes, a fantasia, a música, os carrosséis, os restaurantes, a festa dum luna-parque, mas também oferece o frémito do medo, o escuro das casas de terror, dos combóios-fantasmas, dos túneis da morte.
Progredimos nas tecnologias e nas ciências, avançamos nas celebrações, mas na busca pela felicidade sempre houve lugar e tempo para o terror e a desolação. Terrorismo e violência nunca deixaram de progredir de mão dada com os avanços da sociedade, tal como a tristeza nunca deixou de acompanhar a festa e a alegria de viver.
Os crimes que hoje se cometem serão, porventura, muito mais brutais e afectarão muitos mais seres humanos do que afligiam no passado. E não é esse facto indesmentível que nos põe a dizer que o progresso, ao cabo de séculos, não é real .É outro facto igualmente indesmentível.
Enfrentar a violência da realidade supõe lutar pelos valores em que acreditamos, entre os quais a liberdade de todos. Só assim poderemos acreditar que a nossa sociedade progride, como sucedeu até aqui. Se assim não for, estaremos a mentir a nós próprios.

26.6.05

"Post" em aberto - I

Durante algum tempo, é natural que este blogue não seja actualizado diariamente pelos seus autores.
Assim, resolvi inspirar-me no que fez, nas mesmas circunstâncias, a amiga Joana Amaral Dias no seu interessantíssimo blogue BICHO CARPINTEIRO:

Criou um post como este, onde cada leitor escreve o que lhe apetece - sobre qualquer assunto.

O problema da bicicleta

IMAGINE-SE uma bicicleta que mantemos em pé (segurando-a ao-de-leve pelo selim, por exemplo), e sem ninguém em cima dela. Os pedais estão na posição indicada, e nós temos os pés no chão.

Ora, se empurrarmos o pedal de cima (e só esse) para a frente, é claro que a bicicleta avança (para a esquerda).

Mas se empurrarmos o pedal de baixo (e só esse) para trás, pergunta-se:

1 - Para que lado se desloca a bicicleta?

A) Para a frente (esquerda)?

B) Para trás (direita)?

C) Fica parada?

2 - E os pedais?

A) Rodam no sentido dos ponteiros do relógio?

B) Rodam no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio?

C) Mantêm-se na mesma posição (na vertical)?

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NOTA: Em "Comentário-1" estão os endereços dos problemas colocados até hoje neste blogue .

25.6.05

A reflexão

«A candidatura não comenta especulações infundadas», declarou, por sua vez, a A Capital o assessor de imprensa do candidato do PS à presidência da Câmara de Lisboa, Mário Carneiro, que recusou igualmente pronunciar-se sobre a possibilidade do candidato ter decretado uma «pausa para reflexão»

(«A Capital» de hoje)

Uma questão de espaço

COMO ainda não apanhei a jeito o programa de Carrilho para a CML, fiz um pequeno exercício com um texto que aqui tinha (intitulado «Gramem o meu programa»), só para ver o que será, em termos de tamanho, essa coisa dos «38760 caracteres de ideias» - pois parece que isso já dará uma ideia sobre as ideias.

(Clicar na imagem para a ampliar)

Mas esbarrei num problema: serão 38760 caracteres... COM ou SEM espaços?

Bem... imagino que Carrilho deva precisar de bastante espaço... para as suas penas.

A teoria

TENHO, nos arredores de Sintra, uma pequena casa pré-fabricada, em madeira.
Ora, pouco depois de a comprar (já lá vão uns 25 anos), foi logo assaltada.

Fiz a correspondente queixa (que incluiu uma infindável sessão de dactilografia no posto da GNR local) e, passado algum tempo, recebi um postal INTIMANDO-ME a comparecer no tribunal da vila.

Faltei ao emprego para lá ir (no que gastei uma tarde inteira) mas, quando eu julgava que ia fazer o reconhecimento do produto do roubo (entretanto recuperado, imaginava eu!), vim a saber que era apenas para ser informado que o processo havia sido arquivado!

Pouco tempo depois, novo assalto e nova queixa.
Mas, como a Justiça entretanto evoluíra, o postal que recebi dessa vez já não me mandava comparecer: informava-me logo que o processo ficava a aguardar melhor prova.

Já depois disso, e mesmo com guardas-nocturnos e tudo, fui assaltado mais 15 vezes - a que corresponderam outras tantas queixas que, evidentemente, já não fiz.

Prevejo, por isso, que se interrogarmos as autoridades lá da zona muito provavelmente nos garantirão que a criminalidade diminuiu pois, a crer no que dizem alguns tontos (M/F), se diminuíram as queixas, é porque diminuíram os crimes.

Dessa teoria talvez se aproveite o ria...

-

Curiosidade adicional: entretanto, foram presos uns guardas-nocturnos dali de perto... que se dedicavam a assaltos nas horas vagas.

Adivinha: Para que serve isto?

algum tempo, de passagem por Coimbra, encontrei na Baixa um quiosque electrónico onde era suposto obter informações sobre a cidade. No entanto, quando me aproximei dele para o utilizar, um transeunte desenganou-me:

- Olhe que essa coisa não funciona...

Outro completou, rindo:

- Está aí há uns anos, mas nunca funcionou...

Aqui, vemos uma maquineta parecida.
Existe há anos na loja da INCM, na Av. Roma (em Lisboa) e nunca - mas nunca! - a vi a funcionar.

Aqui deixo algumas «adivinhas»:

1 - Para que serve?
2 - Quanto (nos) custou?
3 - Quantas mais haverá por aí?

Tristes memórias

O BONECO que aqui se vê diz muito aos mais velhotes como eu:

Em tempos que - felizmente! - já lá vão, mesmo quando estavam à beira da reforma (aos 70 anos...), não faltava vigor aos professores primários (M/F) para darem uso a este eficaz «acessório educativo».

Mas o pior era quando apareciam lá na escola os nossos pais a pedir-lhes que não nos poupassem se fosse preciso «dar-nos porrada»...
Ora, se o «educador» (M/F) já se mostrava pródigo a distribuir «educação», imagine-se o acréscimo de à-vontade com que o fazia quando o remédio era recomendado de fora!

E só desenterrei esta memória-de-pesadelo porque, no meio dos apertões que estamos a levar do Governo, apareceu agora um tal comissário Almunia a dizer que ainda é pouco, e que é preciso dar mais cacetada na malandragem.

Um assunto a de...bater?

24.6.05

«Acontece...» - Chamava-se Reinaldo Ferreira

(A Crónica das 6ªs-feiras de Carlos Pinto Coelho)

O POETA Reinaldo Ferreira morreu num 30 de Junho, faz na próxima quinta feira 46 anos. Em Lourenço Marques, com 37 anos de idade. De cancro de pulmão, fumador a sério que ele era, como sou eu agora. Para mim, que tinha 15 anos nesse dia, a morte do Reinaldo chegou de manhãzinha muito cedo, quando as acácias ainda estavam cobertas de cacimba e a carrinha chevrolet dos Maristas parava à minha porta para me levar para um acampamento nas dunas do Bilene. A minha mãe Sara estava no passeio a despedir-se e a dizer mais uma vez que tivesse cuidado quando, de repente, chegou o opel branco do senhor Carlos Andrade, que fazia teatro amador no Rádio Clube de Moçambique com a Sara, dirigidos pelo Reinaldo. Repito que estava cacimba cerrada e além do mais eu ainda tinha sono. Por isso percebi mal o que aconteceu, mas lembro-me de que o senhor Carlos Andrade falou com a minha mãe e ficaram muito comovidos. Depois a minha carrinha partiu e nunca mais pensei nisso. Até hoje.

Menina dos olhos tristes,
O que tanto a faz chorar?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.


O Zeca Afonso e o Adriano Correia de Oliveira cantaram estes versos do Reinaldo, o Zeca Medeiros também, só que eles não viram nascer o poema. Eu vi. Tinha para aí 13 anos. Foi no Rádio Clube de Moçambique, num sábado, porque era aos sábados à tarde que se gravavam as peças do “Teatro em Sua Casa” e a minha mãe tinha-me levado. E foi num intervalo para as pessoas lancharem. O estúdio ficava no primeiro andar e toda a gente tinha mandado vir sanduíches e bolinhos e coisas assim, lá de baixo do salão de chá, que era no rés-do-chão. Quando chegaram as bandejas o Reinaldo pegou na sua chávena e afastou-se, calado, a escrevinhar no guardanapo de papel que vinha com o chá. Depois veio mostrar, com aquele ar tímido, aqueles olhos grandões sempre a espreitar o mundo, o cabelo curto espetado como antenas, o jeito afável de falar. E no papelinho lá estava, garatujado a esferográfica, “Menina dos olhos tristes....” Todo o pequeno grupo se entusiasmou, fez elogios e sorrisos porque aquela gente gostava mesmo dele, era autêntica no apreço que tinha por aquele discreto funcionário público, que não fazia a vida social do Clube Civil, nem do Hotel Polana, nem do Naútico, andava sempre sem um centavo no bolso e ainda por cima era homossexual. Gostavam dele, pronto. Por isso é que eu digo que vi nascer um dos poemas maiores do Reinaldo, escrito quando não havia sequer prenúncio de guerras coloniais e que mais tarde foi transformado pelo Zeca Afonso numa canção muito bonita que serviu como cantiga de protesto. A vida tem coisas assim.

Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.


Este, eu não o vi escrever. Mas, já com os meus 20 e tal anos, nas tertúlias que a malta fazia na esplanada do Djambo ou por casa uns dos outros (quanta madrugada, quanta cerveja, quantas certezas…) todos sabíamos de cor algum poema dele e dava-me sempre para imaginar o Reinaldo, boémio intranquilo e solitário, rabiscando aqueles versos a uma mesa do Pinguim, que era um dos cabarets de putas e marinheiros da Rua Araújo, junto ao porto. Aquela Rosie só existiu, talvez, na mente daquele homem genuinamente angustiado, para quem a vida era só interrogação, solidariedade, elegância e pouco mais. Num despojamento absoluto e assumido, onde tudo o que valia era a autenticidade do momento. Escrevo estas coisas como se tivesse privado com ele e fosse adulto no seu tempo, o que não aconteceu. Mas estou tanto mais certo do que afirmo, quanto mais vou ouvindo e lendo, pelos anos, o que dele me dizem ou escreveram minha mãe Sara, Rui Knopfli, Eugénio Lisboa, Almeida Santos, Guilherme de Melo, por aí. E também José Régio, como se verá.

Mínimo sou.
Mas quando ao Nada empresto
A minha elementar realidade,
O Nada é só o resto.


Eis o que está inscrito na lápide tumular de Reinaldo, no cemitério central de Maputo, onde jaz o poeta. Chama-se “O Ponto”. Nestes quatro versos José Régio encontrou “uma daquelas intuições que tantas vezes os grandes poetas nos atiram sem chegarem a esclarecê-las”. Régio conheceu Reinaldo Ferreira. Primeiro, fugazmente, o jovem adolescente filho do célebre Repórter X e depois a sua obra, postumamente publicada e comentada por Eugénio Lisboa que prontamente se encarregou de a enviar ao poeta de Portalegre. É assim que José Régio decide prefaciar a edição dos “Poemas” que sai na Portugália no fim dos anos 60. E onde não tem dúvidas em classificar Reinaldo como “ um grande poeta português”.

Também sei dos seus devaneios popularuchos. “Uma Casa Portuguesa com certeza” fez as delícias da plateia do Teatro Manuel Rodrigues, na então Lourenço Marques, durante as representações de uma qualquer companhia do Parque Mayer em digressão pelas Áfricas. De parceria com Vasco Matos Sequeira e o compositor Artur Fonseca é verdade que Reinaldo Ferreira cedeu à tentação (e aos dinheiritos que ela rendia) de escrever quadros de revista e respectivas cantigas de telão, algumas das quais passaram a disco e ficaram na memória de gerações. Sei disso, não o escondo, nem afecta o respeito enorme que tenho pelo poeta.

Mas se é lícito apropriarmo-nos para consumo interior (e é!) de um concerto de Bach, imagem de Bosch ou cariátide do Parténon, saiba-se então que há muito fiz minha esta cortante imprecação do Reinaldo:

Não ponho esperança em mais nada.
E se puser
Há-de ser ambição tão desmedida
Que não me caiba sequer
No que me resta de vida.


(«A CAPITAL», 24 de Jun 05)

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23.6.05

Em tempo de vacas magras...

...mealheiros elegantes

(Env. por Pedro d' Ajuda)

Vitral

de alguma catedral de Boston?

(Env. por CPC)

Sem capacete!!

Esclarecimento: a donzela que aqui se vê foi contratada pelo Governo de um país europeu para ajudar a controlar o défice: a sua função é contrariar as reivindicações dos agentes da autoridade que querem reformar-se cedo demais.

(*)

- Encostar!

- Mas já vamos encostados, senhor guarda!

(*) Clicar - onde? - para ampliar

(Env. por CPC)

A «mecânica» da Justiça

- Já falaste com o teu tribunal?

- Não, falei com o teu.

COMO se sabe, em relação aos serviços mínimos decretados pelo Ministério da Educação para a efectivação dos exames, os sindicatos interpuseram providências cautelares.

Viemos agora a saber que o Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa decidiu uma coisa, enquanto o seu congénere de Ponta Delgada decidiu exactamente o oposto!

Ora isso remete-nos para a «Mecânica Quântica», um tema já abordado no «Expresso» num texto que se pode ler em "Comentário-1".

--

Nota (de humor?) adicional:

Hoje, no telejornal da noite, um "entendido" explicou-nos que o facto de haver dois tribunais a decidirem de forma oposta só deu nas vistas... porque se tratou do mesmo assunto e no mesmo dia!

Aliás, no texto que está em "Comentário-1" está dito o mesmo: «isso é normal» - só falta dizer que é «desejável».

22.6.05

Operação mãos-limpas...

... ou «Mãos limpas nas operações»

COMO se sabe, há governos que tratam os seus governados como criancinhas tontas, e parece que o nosso, a crer nas sondagens, não se tem dado nada mal com isso.

Assim, não admira que o Sr. Ministro da Saúde trate os médicos como atrasadinhos-mentais - como se lê na notícia do «Diário Digital» que adiante se transcreve.

«Os conselhos da Mamã Ursa aos pequeninos»

Ministro aconselha médicos do S. João a lavarem as mãos

O ministro da Saúde exortou esta quarta-feira os médicos do Hospital S. João, no Porto, a lavarem as mãos quando estão a tratar os doentes, por forma a baixar o número de infecções que se registam naquela unidade de saúde. A taxa de infecção naquele hospital é de 18%, quase o dobro da média nacional.

O apelo de Correia de Campos foi feito perante a nova administração do Hospital S. João, que tomou posse esta quarta-feira. «Há muitas mãos que não são lavadas quando são passadas de um doente para o outro e há muitas luvas que transferem a infecção de um doente para o outro mas não para o médico, não é verdade?», concluiu o ministro da Saúde perante a taxa de infecções registadas naquela instituição.

Correia de Campos considera que o facto só pode ser atribuído à falta de regras básicas de higiene. Já o novo administrador do S. João considera que a culpa deve-se à sobrelotação das instalações sanitárias.

Newton e Carrilho

DE vez em quando, há quem refira que Sir Isaac Newton era uma pessoa intratável.

Mas que interesse tem esse facto para a História, para a Humanidade e para a Ciência? Pouco ou nenhum, evidentemente.

Por sinal, há casos muito piores, e entre gente que, com toda a justiça, ficou para a Posteridade, encontram-se pessoas com os mais variados defeitos - desde vaidosecos inofensivos até pedófilos sem cura...

... com pés de barro

ONDE eu quero chegar é que temos de fazer um esforço mental e colocar em segundo plano as foleiradas podres-de-chique de Manuel Maria Carrilho.

Tentemos saber o que o homem propõe para Lisboa e, acima de tudo, vejamos que garantias dá para cumprir as promessas que faz - pois, nesse aspecto, estamos MUITO mal servidos no que toca ao seu partido e ao do seu principal concorrente...

Quanto à sublime pepineira do vídeo com a esposa e a criancinha (e aos insultos de labrego que aspergiu em seu redor), já foi tudo dito. As gargalhadas que provocou é que, por serem homéricas, tardam em desvanecer-se.

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(Publicado também no PÚBLICO em 27 Jun 05)

Vêm... com cada uma!

LÊ-SE no jornal «metro» de hoje que os orgasmos femininos fingidos têm os dias contados.

Mas há um pormenor: os gritinhos e gemidos fraudulentos só se detectam submetendo a senhora a uma tomografia axial computadorizada (vulgo TAC) durante «o acto»!

Que diabo! Eu sei que há quem sonhe em dar «uma cambalhota» no cimo da Torre de Pisa ou nos subterrâneos do Louvre.

Mas ir tratar disso para um consultório médico só para tirar dúvidas...?!

21.6.05

Nabos a mais, tomates a menos

Um garboso pero-de-Alcobaça, ufano do seu passado de perito e do (que diz ser o) seu antepassado Pero da Covilhã

RECENTEMENTE, num daqueles irritantes vídeos que as televisões nos mostram de vez em quando, vimos um assalto num comboio da Linha de Sintra onde sobressaía um pormenor interessante:

No meio de assaltados e assaltantes, um indivíduo de uma empresa de segurança, devidamente fardado, assistia a tudo. Mas não estava impávido e sereno, não senhor - o nosso homem ria-se, nervoso, decerto rezando para que o deixassem em paz, como o Guarda Geleia que Jô Soares tão bem satirizava. Não sendo Segurança da CP, nada daquilo era com ele - portanto, uma vez consumado o roubo, afastou-se calmamente, de saquinho na mão, sempre sorrindo.

Como apreciei muito especialmente o seu auto-controlo e sangue-frio, fiquei cheio de curiosidade de saber em que empresa trabalha tão bravo cidadão.

Ontem, nova barafunda num desses comboios. Accionado o sinal de alarme, a composição parou, saltou gente para a linha, houve feridos, e dois suspeitos foram presos, mais tarde... por polícias de trânsito!

No mesmo dia, cinco perigosos cadastrados fugiam, em plena luz do dia, da cadeia de Coimbra.
Um senhor explicou para a TV que apenas acorreu um guarda prisional... em cuecas - e nós rimo-nos, para não chorar.

Entretanto, lemos que, nesse seguimento, o Governo vai mandatar um grupo de peritos para avaliar as falhas de segurança nas prisões portuguesas...

Procuro uma definição boa para "perito" e encontro esta:


«Indivíduo que sabe cada vez mais de cada vez menos, até que sabe TUDO de NADA».

Mas prefiro esta outra:

«Pero pequenito»

O céu de Kant...

... a sugestão de Nuno Crato

NO bicentenário da morte de Kant, surge a primeira tradução portuguesa da sua “Teoria do Céu”.

A possibilidade de existência de vida extraterrestre fascina-nos. Aparece em filmes, romances e é tema de conversa entre cientistas e leigos. Poder-se-ia pensar que este interesse é novo, mas tem milhares de anos.

(Texto completo em "Comentário - 1")

20.6.05

Um problema «musical»

IMAGINE-SE um elástico que se mantém esticado pelas suas extremidades e se faz vibrar como uma corda de viola, forçando-o a emitir um som.

Pergunta-se: se ele for esticado ainda mais, o novo som é mais agudo ou mais grave do que o anterior?

E porquê?

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NOTA: Pronto! A resposta está dada no "Comentário-19", das 8h46m PM.

Rigorosos? Há, mas são Verdes!

Isto, que parece um monte de sucata ambulante, é, afinal, uma terrível maquineta arrasadora que ataca tudo e todos: grandes e pequenos; à esquerda, à direita e ao centro!

DE vez em quando, o país é brindado com uma coisa que dá pelo caricato nome de «Auditoria arrasadora»; e, se a designação já dá vontade de rir, as consequências ainda dão mais.

Ora, entre as «auditorias arrasadoras» com que apanhamos todos os anos, as do T.C., a propósito das contas dos partidos, são - e de longe - as mais saborosas.

As suas conclusões costumam ser sempre as mesmas: os grandes partidos não têm emenda, enquanto os pequenos (nomeadamente os da esquerda) se portam razoavelmente bem.

Eis senão quando o «PÚBLICO» nos informa que, desta vez, nem isso, pois foram multados: o PS (o pior de todos!), o PPD/PSD, o CDS/PP, o PCP, o BE, a UDP, a FER, a Política XXI, o PCTP/MRPP, o PPM, o MPT e o PH; só escaparam (à vergonha e à multa)... «os Verdes»!

Pelos vistos, o povo português está condenado a entregar a gestão do seu dinheiro a indivíduos que nem se mostram habilitados a gerir as «contas de mercearia» da respectiva casa!

É a vida... - mas que raio de vida!

Orgulhos que me causam engulhos

ou: «O orgulho dos tó-tós»

NESTA imagem, vemos duas gémeas: a Lulú, que tem muito orgulho nos tó-tós que a irmã lhe fez, e a Marilú que, além de ter muito orgulho nos tó-tós da mana, tem também muito orgulho nos seus.

Evidentemente, foi ela que fez todos. Qual dos dois "orgulhos" será mais legítimo?

DE facto, há dois tipos de "orgulhos", completamente diferentes - quer em significado, quer em valor:

Um indivíduo que, com o seu esforço, consegue um bom resultado desportivo (ou fazer uma obra-de-arte, ou terminar um curso difícil - ou qualquer coisa semelhante) sentirá, por isso, um orgulho lógico e perfeitamente legítimo.

Um outro que, pelo facto de a mãe o ter parido num determinado ponto do Globo, proclama sentir muito orgulho nisso... está no seu direito, é claro, mas arvora um sentimento que está muitos furos abaixo do anterior - pela simples razão que nada fez para isso.

Como não podia deixar de ser, é este segundo tipo de "orgulho" o que está mais espalhado:

É o "orgulho" por ter uma determinada cor dos olhos, ou por morar perto da Lili Caneças ou por ter um pai que foi futebolista famoso...

O certo é que «quem não tem cão caça com gato», pelo que não podemos levar a mal que haja por aí tanto bicho-careta que se orgulhe (à falta de melhor) do facto de ser de uma determinada "raça".

Mas que raça de orgulho!

19.6.05

3 - ... o que é que se espera?!

--

Esta imagem e as duas anteriores foram enviadas por CPC

2 - ... e em que, quem manda, faz destas coisas...

1 - Num país de analfabetos...

Malabaristas abalizados

A NOVELA acerca do valor do défice já enjoa, mas agora ainda apareceu uma variante, segundo a qual Bagão Félix terá informado Santana Lopes de que o respectivo valor era de 6,4%, e este escondido o facto aos portugueses.

Não vamos agora retomar o tema do rigor pois, como se sabe, há valores (como este) com uma casa decimal, o actual (de 6,83) com duas, e até já houve um (o caricato 2,944) com três.

O interessante é que viemos entretanto a saber que o famigerado 6,83 é apenas "uma estimativa", querendo significar que «não é o valor actual, mas sim o que será... se não se fizer nada».

É como começar por dizer que perdemos o jogo por sete-a-zero e depois corrigir:

«Não, o jogo ainda mal começou. Sete-a-zero é o resultado previsto... se tirarmos o guarda-redes».

Perante tal genialidade, haverá certamente quem corrija:

«Eu sou mais exacto, prevejo que percamos por 6,83-a-zero».

18.6.05

O branco mais branco...

ACABEI de ver, na TV, imagens da manifestação da rapaziada racista.
Dizia um que «Tinha orgulho em ser branco». Está no seu direito - cada um tem orgulho no que lhe apetece.

O único problema tem a ver com o seguinte: terá ele a certeza de que é MESMO, MESMO branco, branquinho?

É que me fez lembrar um indivíduo que eu conheci em tempos e que passava a vida a dizer mal dos "pretos".

Até que um dia foi trabalhar para o Norte da Europa onde, para seu grande desespero (e para meu secreto gozo...), "o preto" era ele - e como tal era tratado pelos brancos mais brancos lá da terra!

Que diabo!

Não podia ter sido com a espada?!

Sentença condenatória de Alagoas, Brasil, de 1833:

O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant' Ana quando a mulher do XicoBento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra que estava de tocaia em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará.

(Ver o texto completo em Comentário-1)

17.6.05

Um «SÓ» genial

RAZÃO teve Pacheco Pereira quando, na «Quadratura do Círculo», verberou a actuação da Comunicação Social na cobertura dos acontecimentos de Carcavelos.

De facto, de 2000 indivíduos passou-se rapidamente para 500, depois para 400, e a breve trecho para apenas 50. E, hoje mesmo (e sem humor), «A CAPITAL» garantia que, afinal, não sucedeu nada.

Por via das dúvidas, leia-se o que disse a Direcção Nacional da PSP e se encontra transcrito em
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24751864

Mas, mais saboroso do que o conteúdo dessa notícia, ainda é o respectivo título - da autoria de um lírico anónimo:

SÓ 50 ROUBARAM E AGREDIRAM

Ora este «SÓ» vale bem um prémio! Não de poesia, claro (pois esse pertence, por direito, a António Nobre), mas de ridículo.

--

NOTA: O texto deste post foi reproduzido no blogue ABRUPTO (http://abrupto.blogspot.com/ ) no dia 18 Junho. É o 4º, no capítulo que ele resolveu criar para analisar a violência urbana.

«Deixe em branco...»

(Clicar na imagem)

ESTA imagem, que acabei de receber, já tem quatro anos mas não perdeu a graça.

Vinha acompanhada pela seguinte explicação:

«Fui recentemente aos Correios na Baixa de Lisboa e fui atendida por uma dessas novas funcionárias dos Palops. (...) perguntou o nome para colocar no recibo.

Sem dar importância, disse-lhe que deixasse em branco. Agora poderão ver (...) o que a funcionária escreveu no local do meu nome.

Maria Orlanda da Fonseca Rodrigues»

Estranhos jogadores...

«Pode escolher a cor que quiser, desde que seja preto» (H. Ford)
QUANDO eu era miúdo, jogava muitas vezes às cartas com um rapaz que não aceitava a ideia de que podia perder. E, quando não arranjava forma de fazer batota nem de sabotar o jogo, ausentava-se, dizendo «Volto já» - o que, evidentemente, não fazia nos tempos mais próximos.

Tantos anos passados, acabei por me lembrar dele - agora que, perante a ameaça de novos "Nãos", os organizadores dos referendos europeus também resolveram "parar o jogo"...

«Acontece...»

Quando a televisão lusófona nasce em Madrid

FOI uma semana interessante. A ministra da Cultura de Espanha anunciou, há cinco dias, a criação de um canal de televisão cultural em línguas castelhana e portuguesa, de parceria com o Brasil e o México. Pouco antes, a imensa rede audiovisual ATEI ( Associação de Televisão Educativa Iberoamericana) firmava um acordo com a X Brasil, um operador de comunicação dedicado ao serviço público. Ontem soube-se que o prestigiado Prémio Príncipe das Astúrias vai para a escritora e jornalista brasileira Nélida Piñon. Enquanto Brasil e Espanha avançam decididamente para o reforço das suas relações culturais, Portugal olha para o outro lado, para a viela estreitinha do seu fado europeu, pobrete e obediente, à míngua do que lhe vai sobrar da gamela dos mastins enfurecidos.

O canal cultural em línguas castelhana e portuguesa foi anunciado durante a Conferência Iberoamericana de Cultura, em Córdoba, onde também se assinou uma Carta Cultural do Mundo Iberoamericano. A ministra espanhola Carmen Calvo explicou que é preciso fortalecer, entre outros sectores, a indústria audiovisual iberoamericana. Portugal não apoiou nem contestou, pela simples razão de que não tinha lá ninguém do seu Governo. De modo que o tal canal televisivo e a tal Carta Cultural vão passar-nos por cima da cabeça, em português e tudo.

Nada que não tivesse acontecido antes.

Em Novembro de há dezasseis anos (sim, 1989!) os chefes de estado e de governo dos países lusófonos assinaram, em São Luís do Maranhão, uma pomposa declaração para a criação de um pomposo Instituto Internacional de Língua Portuguesa. Para isso incumbiam a CPLP (a tal Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que só existe quando troveja em Bissau) de dar “prioridade à activação” do dito Instituto. Tão robusta foi essa prioridade que ele ainda está por nascer. E a dita CPLP vai renovando alegremente os seus secretários-gerais enquanto cada novo primeiro-ministro de Portugal, em seus discursos de posse, afirma com firmeza que a lusofonia vai ser prioridade inquestionável. E não só primeiros-ministros: Freitas do Amaral, ministro de Estado, acaba de repetir exactamente o mesmo. Constância não nos falta.

O que se passou, entretanto, no mundo de fala castelhana? O oposto... e com vigor. Partindo com três anos de atraso sobre a verborreia de São Luís do Maranhão, uma cimeira iberoamericana de chefes de estado e de governo decide criar a ATEI, organismo para o desenvolvimento da educação na América Latina usando a televisão e outras tecnologias. Hoje essa Associação reúne 22 países e 175 membros (ministérios, televisões, rádios, universidades, organizações não-governamentais e outros) e emite diariamente programas culturais e educativos, cinco horas para a Ibéria e oito horas para as Américas. Usando a internet, há ali televisão, há rádio, videoconferências, foruns, bibliotecas virtuais, transmissões directas de acontecimentos (a recente cimeira América do Sul-Países Árabes em Brasília, por exemplo). Claro que o Brasil está lá, em força, com programas em português - e mais: uma rubrica para o ensino da língua portuguesa. De Portugal, só uma discreta presença solitária: a da Universidade Aberta.

Entretanto, nós por cá, vamos aguardando pelo tal Instituto criado há dezasseis anos em São Luís do Maranhão. E no entanto, não era forçoso que tivesse que ser assim.

Houve um tempo em que todas as televisões de língua portuguesa estiveram reunidas numa organização com estatutos e dinheiro para trabalhar. Foi em 1988, ano em que o espírito visionário de António Braz Teixeira (então na Administração da RTP e agora justamente condecorado no 10 de Junho) trouxe a Lisboa representantes de cinco televisões brasileiras (Globo, Manchete, Bandeirantes, Cultura e Educativa do Rio de Janeiro), das africanas dos cinco países lusófonos e da TDM de Macau. A esse primeiro Encontro seguiram-se um outro no Brasil, logo no ano seguinte, e depois um terceiro em Cabo Verde, em Agosto de 1991, aí já também com a TV Galiza como membro de pleno direito. Discutiram-se e aprovaram-se estatutos, constituíu-se um fundo financeiro, criou-se uma carteira de programas para uso gratuito por qualquer televisão (até a mercantilista Globo ofereceu programas!), alinhou-se uma rede de troca de notícias por satélite e instituiu-se um sistema de intercâmbio de formação profissional. A coisa funcionou de pronto: os programas fluíram, o Brasil enviou técnicos formadores a Maputo, a Galiza abriu sinal para co-produções, Lisboa trabalhou na Europa pelos seus parceiros lusófonos (nomeadamante conseguindo a sua admissão na URTI, em Paris). Foram três anos de fôlego, trabalho e consolidação. Estava criada e activa uma robusta Organização de Televisões de Língua Portuguesa (OTLP). Era obra!

Mas (ó Portugal, Portugal!) quando mudaram os governantes e mudou a Administração da RTP, tudo rapidamente se enterrou e tudo se esqueceu com azedume e acinte.

Já com Durão Barroso no Governo, brota novo arroubo. Chegaram ao Palácio Foz ministros de todos os países lusófonos, botaram-se discursos empolgados e fundadores, levantou-se outra vez o ideal de um entendimento de televisões, falou-se na importância da língua e na urgência da lusofonia como prioridade redescoberta. Na própria RTP, entretanto convenientemente remodelada à imagem dos novos donos, houve quem avançasse com projectos “inovadores”: outra vez estatutos, outra vez fundos, outra vez intercâmbios, outra vez... outra vez... E a Imprensa fez encomiásticas notícias da inédita criação de uma organização de televisões de língua portuguesa!...

Claro que nada disso durou ou funcionou, o governo caiu, outro lhe seguiu, e mais outro depois. Estou para ver quando é que este governo avança para a praça pública, de cinta vermelha assestada e barrete verde em riste, citando novamente o touro das televisões lusófonas. Se isso acontecer, acho que junto toda a papelada amarelecida dos meus arquivos da OTLP, faço cópias e envio-lhas com um cartão: “Repitam, se forem capazes. Repitam, porque o que havia a fazer já se fez e já se desfez. Caso contrário, esqueçam, desistam, distraiam-se, voltem-se todos para a Europa e dediquem-se por inteiro à gamela dos mastins. A ver se nos sobra qualquer coisinha dali...”

E o Brasil? É claro que lhe interessa muitíssimo mais estar com o mundo castelhano, por via das suas afinidades geográficas, económicas e culturais com o Mercosul, do que com os pobretes e alegretes lusófonos. Não haja aí ilusões, por muito que Mário Soares seja simpático aos seus amigos Fernando Henriques e Lula da Silva. É que, justamente, Mário Soares era um dos chefes de estado que estavam em São Luís do Maranhão, nesse Novembro de 1989 de que não resultou nada. Nenhumas dúvidas quanto ao apreço e cordialidade. Mas as relações racionais do Brasil passam, seguramente, mais por Madrid do que por Lisboa.
... De modo que o novo canal de televisão cultural castelhano-português vai-nos passar por cima do quintalinho. Chegaremos ao Brasil às costas dos espanhois.
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(«A CAPITAL», 17 JUN 2005)

16.6.05

Estranho mundo, o nosso!

EXIGE-SE, em altos brados, «Prendam-se os corruptos!» - ao mesmo tempo que se faz tudo para que os da nossa terra, os do nosso partido ou os do nosso clube sejam poupados, quando não mesmo incensados!
Será caso para perguntar: «Que país queremos que Portugal seja?!».

O certo é que, à mistura com condenados, suspeitos, arguidos e foragidos à Justiça, aí temos a florescente classe dos «políticos brancos» - assim chamados por analogia com os «produtos brancos», artigos de «Grande Superfície... mas de Pequena Espessura».

São indivíduos que, se for preciso (e em geral é...), dizem uma coisa hoje e o seu contrário amanhã (havendo até os que conseguem fazê-lo no mesmo minuto); que defendem na Oposição o oposto do que defendiam no Governo (e "vice-versa", ou "versa-vice"...) desde que isso lhes dê dividendos.

Embora às vezes se esforcem por parecer que não, dão-se muito bem uns com os outros e, evidentemente, sabem inundar-nos com discursos, sloganes e cartazes pejados de banalidades e lugares-comuns que dão para tudo, para o seu inverso e, se preciso for, ainda para mais qualquer coisinha.

O certo, é que acaba por ser tristemente lógico que a generalidade da Comunicação Social se refira a Álvaro Cunhal e a Vasco Gonçalves dando relevo ao facto de terem sido «homens de convicções».
Que estranho mundo o nosso, em que é excepção digna de nota o que devia ser normal e dispensar registo!

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NOTA: Este texto foi publicado também n' «A CAPITAL» em 17 Jun 05

França, «anos 30»...

GEORGES SIMENON (de seu nome verdadeiro Georges Sim) era belga, nasceu em 1903 e morreu em 1989.
Embora tenha escrito outros romances, é mais famoso pelos fabulosos policiais do (francês) Comissário Maigret.

Tanto quanto julgo saber, o autor, inicialmente, deu-se por satisfeito com 16 livros, mas o público (ou o editor, ou ambos) exigiram mais, e acabou por escrever para cima de 80!

Desses (dos quais a maior parte já só se encontram em alfarrabistas), tenho uns 60. E uma das coisas mais interesantes é ir acompanhando a evolução da França (e de Paris, em especial) - dado que o primeiro Maigret foi escrito em 1929 e o último em 1972.

Notem-se estas duas frases do livro cuja capa aqui se mostra (publicado em 1932):

- Que andas tu a fazer por aí?
e
- Já recebeste uma segunda remessa?

A curiosidade destas frases (e das que se lhes seguem) é a seguinte:
Trata-se de interpelações de Maigret às únicas pessoas que, em todo o livro, ele trata por "tu", apesar de não as conhecer de parte nenhuma.

No primeiro caso, é a um jardineiro. No segundo, a um velho comerciante judeu...

15.6.05

Uma análise subtil

ONTEM, na SIC, e ainda acerca do «arrastão» de Carcavelos, entrevistaram um responsável da PSP que, num louvável esforço para «minimizar, relativizar e desdramatizar» o assunto, fez questão de esclarecer o seguinte:

Os tais 400 ou 500 indivíduos não agiram combinados. Nada disso! O que aconteceu foi que uns 30 ou 40 fizeram um roubo... e os outros (só) foram «ajudar».

Simplesmente, em vez de «ajudarem a vítima» foram «ajudar a roubá-la», dado que ela não terá colaborado.

«Para fazer análises destas, antes fizesse uma de urina, que sempre servia para alguma coisa» - como dizia um velho amigo meu.

A despedida de Álvaro Cunhal

Eu andava a puxar pela cabeça para ver se conseguia escrever sobre este assunto mas, para meu desespero, não me saíam mais do que lugares-comuns - e está em causa alguém que merece muito mais do que isso.

Felizmente, encontrei o Editorial d' «A CAPITAL» de hoje onde, no essencial, se diz o que eu penso. Está transcrito em "Comentário-1".

Sugestão de leitura

HISTÓRIA DO TEMPO EM PORTUGAL
(Fernando Correia de Oliveira, 323 págs.)

UMA obra de grande formato, magnificamente ilustrada, que tanto se pode (e deve) ler com atenção ao mais ínfimo pormenor como se pode (e também deve) folhear ao acaso, apreciando as gravuras e lendo as variadas e curiosas referências históricas.

É uma história do tempo que faltava ao nosso país, história onde não se descuram nem os aspectos técnicos da relojoaria, nem os aspectos sociais da medida do tempo, nem as referências locais aos relógios, aos costumes e às personagens.

Fica-se a saber quem era o príncipe português relojoeiro, quem é o emigrante que faz relógios de ouro, o que era a meridiana dos remolares, onde está escondido um relógio de Sol em frente aos Jerónimos e quando começaram a ser emitidos os sinais horários.

E fica-se a perceber, um pouco melhor, de onde vem a nossa proverbial aversão aos horários.

(Texto adaptado do «Expresso»)

«Esturricado»

Desenho do leitor F. Espada

(Clicar na imagem para a ampliar)

14.6.05

Os tsunamis e as conversas-de-chacha

UM dia, assisti a uma apresentação de produtos para segurança de construções.

Mostrava-se um vídeo bastante convincente, e havia uma ideia que ficava bem clara:

Quer se trate de um edifício a desabar, quer de um ramo a quebrar, há sempre «sinais de aviso» que podem ser detectados (e, em geral, a tempo de se agir); a empresa comercializava, precisamente, detectores para esse efeito.

VEM isso a propósito de dois tsunamis.

O primeiro, o de 26 de Dezembro 2004, que suscitou, em Portugal, a velha questão do «E se fosse cá?» - com a agravante de se comemorarem, em breve, os 250 anos do «nosso».

A resposta foi que o assunto estava em estudo; mas recentemente soubemos que o cabo de fibra óptica custa 15 milhões de euros - e, com isso, ficou tudo dito...

O segundo foi o que, um dia destes, varreu a praia de Carcavelos.

Em casos do género há sempre as mesmas cinco reacções:

DO POVÃO, que exige que se mate, esfole, deporte (ou uma combinação das três coisas);

DA POLÍCIA, que nem previne as situações nem as reprime convenientemente;

DOS TRIBUNAIS, onde os juízes se limitam a cumprir a lei, mandando embora, as mais das vezes, os acusados;

DOS SOCIÓLOGOS, que vão a correr estudar as causas do fenómeno;

DOS POLÍTICOS, que durante alguns dias se mostram muito preocupados com o assunto.

Fica apenas uma dúvida: quais os candidatos autárquicos das zonas envolvidas que já abordaram este problema em termos sérios, e o que foi que disseram?

Refiro-me ao que possam ter dito «ANTES», evidentemente; dado que, «DEPOIS», talvez tenham debitado meia-dúzia de lugares-comuns - como qualquer patarata é capaz de fazer.

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NOTA: Este texto foi também publicado no «Diário Digital» em 15 Jun 05 e no dia seguinte, numa versão mais simples, no jornal «metro» (com destaque e foto).

Solução 2

da adivinha do faraó maluco

sempre, de um lado, o apoio num arco maior e, do outro, num arco menor.

Quando (no caso representado) acabar o apoio da pedra no arco grande e começar o apoio no arco pequeno, no chão sucederá exactamente o oposto - e assim sucessivamente, mantendo-se constante a altura ao chão.

Questão adicional: será mesmo necessário que os 6 arcos sejam concordantes (como se mostra no desenho)?

A saloiada

É raro o dia que não me cheguem apresentações foleiras em Power Point.

Trazem quase sempre o aviso (ou ameaça?) «Ver com som ligado!», e são todas do género:

A AMIZADE É UMA COISA LINDA! (e aparecem uns passarinhos a chilrear)
MAS O AMOR NÃO LHE FICA ATRÁS!!! (e caem corações por todo o lado)
E VOCÊ NÃO SE LEMBROU AINDA... (e surgem muitos pontos de interrogação, a piscar)
...DO PERDÃO DE CRISTO A BARRABÁS (e o monitor fica todo em cores de arco-íris)

Para os que, como eu, já deitam pelos olhos esses e-mails-da-amizade, aqui fica uma história edificante:

Dois amigos passeiam numa floresta. De súbito, ao longe, um tigre avista-os e avança na sua direcção.

Rapidamente, um deles abre a mochila, tira um par de ténis, e começa a calçá-los.

«Pensas correr mais depressa do que o tigre por causa desses ténis?!» - pergunta o outro, a tremer.

«Não, só quero é correr mais depressa do que tu»

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(A história dos dois amigos foi enviada por CPC)

Solução 1...

...da adivinha do faraó maluco (apresentada no dia 12)

(Uma 2ª solução está num outro post)

13.6.05


- Doutora, se a senhora conseguir que eu seja condenado a três anos, dou-lhe €10.000 extra. Se forem dois anos dou-lhe 20.000, e se conseguir que eu leve um ano eu dou-lhe 30.000, combinado?

(...)

- Pronto, cheio de sorte, levou um ano! E eles que queriam absolvê-lo, hem?!
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(Env. por Jesca)

12.6.05

ATENÇÃO! SELVAGENS!!

(Não, este post NÃO é referente aos incidentes de Carcavelos)

NOTÍCIA da TSF: «As Ilhas Selvagens, na Madeira foram, no passado dia 8 de Junho, palco de desacatos entre pescadores furtivos espanhóis, naturais das ilhas Canárias, um vigilante e um biólogo do Parque Natural da Madeira. Segundo o «Diário de Notícias do Funchal», que relata o sucedido na edição deste domingo, os pescadores espanhóis ameaçaram com armas brancas e de pesca submarina os dois funcionários do Parque (...)».

Hoje, 4 dias depois (com o Dia de Portugal pelo meio...), ouvi na rádio um responsável da Marinha explicar (a partir do Funchal) o que aconteceu e como as nossas Forças Armadas reagiram para impor a soberania nacional:

Foi enviado um navio... que demorou 14 horas a chegar!

Perguntado se não havia meios aéreos, ficámos a saber que havia, sim senhor - um aviocar. E ficámos também a saber que, por azar, estava avariado.

No entanto, dado que foi tudo relatado como sendo a coisa mais natural do mundo, fiquei na dúvida:

A rábula é para rir ou para chorar?

A adivinha do faraó maluco

COMO se sabe, um dos meios para transportar cargas pesadas é o que aqui se representa - usando rolos.

Ora aconteceu que um faraó louco proibiu o seu arquitecto de utilizar cilindros, exigindo que os blocos de pedra fossem transportados com recurso a rolos... com uma secção que não fosse circular.

Claro que, embora não sendo fácil, era sempre possível arranjar prismas com muitas faces por forma a fazer a vontade ao faraó sem que fosse muito difícil fazê-los rolar.

Mas o faraó era mesmo cruel, e fez ainda questão que os prismas tivessem uma secção tal que a altura "h" - das pedras até ao chão - se mantivesse constante ao longo de todo o trajecto!!

Ora o espantoso é que o arquitecto conseguiu fazê-lo!

PERGUNTA-SE: como foi isso possível?!

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Uma "dica": lembrei-me desta adivinha, que já é antiga, na sequência do comentário do amigo Pólux ao post «Os resolve... dores - II». Se ninguém acertar, a resposta será dada aqui, em breve.

Os resolve... dores - III

«ACABEI um dia por ir parar a uma firma inglesa. Aquilo era tudo gente muito cuidadosa, quase nunca se avariava nada, o edifício também era novo, e o meu trabalho de manutenção era muito pouco… Passava horas e horas a bocejar!
De vez em quando, dava uma volta pelos corredores e pelas salas em busca de qualquer coisa para compor, mas era muito raro encontrar.
E eu até pensava:
Querem eles aqui uma pessoa para resolver problemas! Mas quais problemas?! Deviam, então, contratar outra pessoa para criar esses problemas! Mas, pensando bem, era eu me encarregava das duas funções!»

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Texto retirado do Capítulo XI do livro «O Clube dos Inventores» - disponível integral e gratuitamente em www.janelanaweb.com/humormedina

Os resolve... dores - II

NO INÍCIO dos anos 90, estive a trabalhar algum tempo na RFA. E uma das coisas que mais me espantou foi a existência de normas para tudo, pois até as vulgares sanitas obedeciam a uma velhíssima norma DIN.

Ao comentar isso com um gestor, ele disse-me:

«Nós não temos tempo para passar a vida a inventar a roda. Todas estas coisas foram pensadas há muito tempo e de uma vez por todas».

Claro que não é bem assim. Os alemães também evoluem - alteram e melhoram as coisas e os processos - e muito! Mas só o fazem quando é preciso, e quase sempre bem.

Nós, por cá, entretemo-nos a experimentar soluções e mais soluções só pelo gozo de o fazer (desde métodos de combate a incêndios até software para colocação de professores - passando por experiências sobre as idades das reformas, etc., até à náusea).

Invariável e tontamente, cada novo Governo apaga o trabalho do anterior e, qual Sísifo, começa tudo de novo, achando que isso revela grande perspicácia e inteligência da sua parte; mas os resultados estão bem à vista, infelizmente.

Fazem-me lembrar a anedota do «concurso de rodas»:

No meio de infinitos modelos, um português apresenta a RODA QUADRADA.
Quando o júri (também português, é claro) se prepara para a premiar, um outro participante luso chama a atenção para a sua invenção: a RODA TRIANGULAR!

«Qual a vantagem?» - pergunta, céptico, um membro do júri.
«Bem, de facto é só um aperfeiçoamento... Mas note-se que poupa um solavanco!» - responde o inventor.

Os resolve...dores - I

Se já aqui escrevi isto, desculpem - é a idade, que não perdoa...

Mas é a propósito do que se passa com as medidas tomadas no seguimento do arrastão de Carcavelos, dos fogos, e de muito mais.

QUANDO oiço ministros ou candidatos a autarquias gabar-se de que são muito bons a resolver problemas, lembro-me sempre de uma cena que se passou comigo:

Sabendo que uma empresa andava à procura de um gestor, recomendei um amigo meu, dizendo, precisamente, que ele era muito bom a resolver problemas.

O administrador agradeceu-me muito, mas respondeu-me paternalmente:

«Obrigado, meu caro. Mas eu não quero um mero resolvedor-de-problemas, pois isso qualquer bicho-careta sabe fazer. O que eu quero é alguém que saiba antecipá-los e evitar que apareçam».

E terminou com uma máxima que nunca mais esquecerei:

«Sabe? É que gerir é prever...»

11.6.05

O bastardo, o beato e o bronco

AQUI fica a imagem de um famoso bastardo que, ajudado pelo filho de um prior, iniciou a Gloriosa 2ª Dinastia portuguesa.

Prevendo que haja para aí uns broncos que não saibam o que é um bastardo nem façam a mínima ideia de quem foi o Mestre de Avis nem o Santo Condestável, informa-se que estou a falar de D. João I (filho bastardo do rei D. Pedro I) e de Nun' Álvares Pereira (filho do Prior do Hospital), mais tarde «Beato Nuno de Santa Maria».

Curiosidade: nos tempos em que os casamentos eram assunto de Estado (nada tendo a ver com afeição), os verdadeiros filhos-do-amor eram, precisamente, os bastardos.

A propósito de violência

UNS a seguir aos outros (recentemente foi Clara Ferreira Alves e Miguel Sousa Tavares), muitos comentadores, em termos profundamente irritantes, insistem em chamar estúpidos aos franceses e aos holandeses que responderam da forma que se sabe à pergunta SIM-ou-NÃO que lhes colocaram.

O certo é que me fazem recordar uma cena a que em tempos assisti:

Num café de Lisboa, enquanto eu e outras pessoas esperávamos para ser atendidos, o dono do estabelecimento estava a ser muito violento para com um pedinte, expulsando-o dali para fora.

«O que desejam?» - perguntou-nos depois, ainda com maus modos.

E foi então que o colega de trabalho que estava comigo (homem mais velho e bastante vivido) respondeu, com o seu ar gingão de Campo de Ourique:

«Se não me baterem, quero um café»

E nós a vê-los, em Carcavelos...

tempos, em Palmela, morreu gente numa das inúmeras «corridas de picanço» que ali costma(va)m ocorrer.

Esclarecimento dado pelas autoridades: «Não sabemos quando essas corridas acontecem...».

Agora foi o escândalo do «arrastão» de Carcavelos, e novamente o espantoso «não sabíamos...»

A propósito disso, escreve Pacheco Pereira, e muito bem:

DAS DUAS, UMA

Ou a polícia está completamente cega quanto ao que se passa em certos bairros de Lisboa e não tem um informador sequer que a previna de algo que mobilizou quinhentas pessoas, ou seja que milhares souberam com antecedência; ou toda esta história está mal contada e não são quinhentos, nem foi combinado, e alguma coisa aconteceu na praia que não aparece nos jornais. Há uma terceira hipótese que me parece tão absurda que a recuso: a polícia sabia e não fez nada.

O ministro tem muitas explicações a dar e depressa.

Mas o Sr.Ministro já apareceu.
Tal como fez um senhor despassarado que anda por lá a vender bolos (e que disse à SIC que não aconteceu nada de especial), António Costa já veio «desdramatizar» - com aquele ar de dono-da-verdade-irritadiço que lhe vai tão bem com a voz grossa.

Em termos práticos:
A Polícia lá arranjou 14 homens para enfrentar os 500 gandulos (certa imprensa fala em 2000!), conseguiu prender 4 deles e mandar para o hospital duas pacatas vítimas da confusão... agredidas pelos próprios agentes!

Com o ar entendido e façanhudo que deve ter copiado do Sr. Ministro (e com a ingenuidade do tal vendedor de bolos) um polícia explicou, para as câmaras da TV, que é natural ser assim...

10.6.05

«Acontece...»

... E porque não os mandam para casa ?

SOU um eleitor ferrenho. Não falhei uma única, estou recenseado por Lisboa e levo a coisa a sério, mesmo quando sinto que me estão a baralhar o jogo, como agora.

Nunca vi tamanha avalancha de cartazes como neste Junho pré-eleitoral. Eles avançam-me para dentro do carro quando páro num semáforo, pulam para o colo da minha neta, que quer logo explicações, eles gritam, eles escondem as árvores, eles voam por cima das filas de trânsito, eles à noite podem ser sinistros, quando algum candeeiro os ilumina de forma duvidosa. E quando a cara do cívico candidato me surge esmagada pelo cartaz vizinho que apregoa uma qualquer mercadoria apetitosa? Como eles se insultam um ao outro quando brigam para que os distinga !

Acho que sair para a rua estampado num cartaz gigante deve ser uma daquelas contingências a que os políticos não têm como dizer que não. Pode ser que alguns se deliciem quando passam, pequeninos, diante de si mesmos, gigantões. Mas o mais provável é que seja o contrário e eles só cumpram a ferros essa deificação em cartão, implacavelmente coagidos pelo director de campanha. Imagino os diálogos:

- Mas eu não quero, eu não quero a minha cara por aí, especada dia e noite, disponível para os gestos obscenos dos que não me suportam, os desdéns, os dixotes, as piadas grosseiras, sabe bem como são os portugueses...

- Nada disso, é preciso humanizar a campanha, personalizá-la, tornar popular a sua figura, torná-lo reconhecível pelo homem da rua, aproximá-lo do dia a dia do eleitor. Sair à rua não é baixar à rua, que diabo. O senhor quer ser um autarca!

Estocada final:

- Quantos políticos seus colegas adorariam ter a cara aí pelas ruas e praças. Pense nisso...
Seja como for, a batalha campal dos “outdoors” caiu sobre Lisboa com fragor. Estrondoso. Exagerado. Passe-se em Entrecampos, para exemplo cabal.

E o que dizem esses tremendos “outdoors”? Que Lisboa é terra de gente, é para todos, e precisa de soluções, de projectos com princípio, meio e fim. Isto dito assim, numa assentada, é dizer um óbvio demolidor, berrar vulgaridades num blá-blá inútil e devidamente bem pago. E no entanto é precisamente isso (e nada mais do que isso!) o que o conjunto desta guerra de cartazes está a impingir aos lisboetas. Se repartirmos essa compacta inutilidade por quatro porções, temos os conteúdos dos quatro vazios que enxameiam Lisboa. Não há uma ideia nova, uma nesga de projecto, uma brisa de mensagem apetecível, um apelo de sedução inteligente, um rasgo de subtileza convincente. Alinhem-se as “poderosas” e “imaginativas” palavras-chave que reinam sobre os quatro “outdoors” concorrentes: projectos, soluções, para todos, gente. Só lhes faltam duas: ora abóbora !

Ou então, façamos de outra forma. À maneira de adivinhas de trazer por casa:

O socialista Manuel Maria Carrilho desdenharia subscrever o “slogan” “Soluções para Lisboa?” Ao comunista Ruben de Carvalho ficaria mal avançar com uma “Lisboa para todos?” José Sá Fernandes, o combativo opositor do túnel do Marquês, rejeitaria associar-se a “Projectos com princípio, meio e fim”? E ao social-democrata Carmona Rodrigues, que aparece nos “outdoors” confundido numa multidão, não poderia calhar o outro rótulo de campanha que diz “Lisboa é gente”? Pois saiba-se que todos os “slogans” citados não pertencem aos candidatos a que os liguei. O que não faz a menor diferença, tão indistintos e incaracterísticos são todos eles.

E no entanto eu pressinto que haja universos de propósitos, métodos, ambições, metas, energias, frescuras, prioridades e competências a afastar e a distinguir cada candidato dos seus concorrentes. Pressinto-o mas não o identifico, não o descodifico, nesta barafunda estéril (e seguramente muito cara) que anda pela praça pública alfacinha. Dirão que os “outdoors” não são o grande meio de esclarecimento, divulgação de ideias e sua discussão. É verdade, mas para alguma coisa haverão de servir. Não assim.

...De modo que, eleitor ferrenho que me acuso e levando estas coisas a sério, peço aos quatro candidatos que parem com a reinação dos seus consultores de marketing. Mandem-nos para casa. Venham cá fora e falem directamente co’a gente, que diabo!

Crónica semanal (às 6ªs-feiras) - «A CAPITAL» 10 Jun 05

9.6.05

Bocas & Bocas, SARL

(*)

CONFRONTADO com as consequências da espantosa cena que protagonizou (desautorizando, em público, no estrangeiro e em inglês o governo em que é figura grada), Freitas do Amaral saiu-se com esta:

- É uma tempestade-num-copo-de-água! Quanto mais opiniões, melhor! Venham elas! Venham mais, muitas mais opiniões!

E argumentou que Vitorino, outro peso-pesado (pesadinho...) do PS também diz publicamente o que pensa.

Esqueceu-se, no entanto, que este não vem para a praça-pública desautorizar o Partido a que pertence; pode dar uma ou outra opinião pessoal, mas mantém-se dentro dos limites da linha política (pelo menos quando existe...) com que está lógicamente comprometido.

Mas reconheço que, desde que vi e ouvi Jardim (e pouco depois o vídeo de apresentação de Carrilho), já estou preparado para tudo quando ligo a TV.

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(*) Cartoon de Sergei, feito expressamente para o SORUMBÁTICO

www.sergeicartoons.com