OS EPÍGONOS DE LEO STRAUSS (*)
Chegaram a organizar «esquadrões da verdade straussiana», bandos de vigilantes intelectuais e autênticas milícias morais que interrompiam aulas dos professores que não pensavam como eles, para os provocar e intimidar, no estilo dos «guardas vermelhos» maoístas ou dos «guardiães da virtude» que hoje «patrulham» as ruas do Irão.
Optaram pela política, rumaram a Washington e infiltraram-se nos bastidores do poder. Colaboradores da Rand Corporation, participaram na elaboração do Project for a New American Century. Aconselharam Ronald Reagan, mas ficaram desiludidos com George Bush sénior, por não ter derrubado Saddam Hussein durante a primeira Guerra do Golfo. Investiram em Dan Quayle, vice-presidente débil e pobre de espírito.
Fizeram a travessia do deserto durante os dois mandatos de Bill Clinton, até que George Bush junior lhes caiu nos braços e aconteceu o 11 de Setembro. Tomaram conta do Pentágono, dos serviços secretos e da política de Defesa. Criaram o Office of Special Plans, tutelado por Paul Wolfowitz e dirigido por Abram Shulsky, co-autor do livro Leo Strauss and the World of Intelligence. Forjaram as provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque e de ligações entre Saddam Hussein e a Al Qaeda.
Após a imprevista invasão do Afeganistão, Bin Laden continuou à solta, mas o Iraque foi finalmente invadido e ocupado com os resultados desastrosos que continuam à vista. O que obstou à execução integral do plano delineado por Wolfowitz, que previa a invasão da Síria e do Sul do Líbano (Israel bem o tentou, tarde e a más horas).
Estes epígonos de Leo Strauss (especialista em Platão e discípulo de Heidegger, que aderiu ao nazismo, e de Carl Schmitt, jurista do IIIº Reich) admiram a autocracia e cultivam a política como arte da dissimulação e da manipulação – e privilégio das elites, por via do que Leo Strauss considera «direito natural». As massas precisam de religião, nacionalismo e guerra, porque a paz universal e a harmonia entre povos são sinónimos de «facilidade» e «preguiça», contra a «vida árdua» e o «esforço» para expandir a fé e o império - americano, obviamente. Faz parte da cartilha dos neo-conservadores.
Em Leo Strauss and the Politics of American Empire, Anne Norton acusa-os de terem deformado e pervertido o pensamento do filósofo. Não é essa a opinião de Shadia Drury, em Leo Strauss and the American Right. Nem a de Seymour Hersh, em Chain of Command. Lendo os três, percebemos melhor o sarilho em que Bush filho nos meteu. E as razões por que tantos ex-maoístas se tornaram neo-conservadores e belicistas.
(*) Crónica de Alfredo Barroso no «DN» de ontem (não está online), aqui transcrita com sua autorização.
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