E VIVA O «PRECARIADO»!
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Desde aí, volta não volta, cai o escândalo na Volta. Como avisou Albert Londres: "Dante não viu nada!" Para escapar àquele inferno, os corredores procuram pequenos paraísos. Em 1967, Tom Simpson, o primeiro britânico com a camisola amarela, medalhado olímpico, campeão mundial de estrada, subia o Mont Ventoux, onde o mistral sopra a 100 à hora. Estranha caminhada, a de Simpson, em ziguezague, olhar perdido. Cai. Populares das bermas remontam-no para o selim. O olhar continua perdido, as pedaladas hesitantes e queda definitiva. Enroladas na camisola de Simpson, algumas ampolas de anfetaminas. Dir-se-á, porém, piedosamente: o sangue acusou conhaque. Naquele lugar, o vento varre hoje uma lápide. E, cada ano, quando os ciclistas por lá passam, conta a lenda, as pulsações dos corredores dão um salto. De medo e culpa.
De 1954 a 1982, Antoine Blondin acompanhou a Volta a França, relatando-a para o jornal desportivo L'Équipe. No livro com essas crónicas, Voltas a França, escreve sobre o doping: "(...) é a arma ilusória dos mais fracos. Com ele, um mundo que tinha tudo para se afirmar na alegria contagiosa - a audácia, a coragem, a saúde - um mundo se revela possuindo também uma face onde tudo se cala. É a face escondida da Lua, com os seus vales de manha, as suas crateras de suspeita, os seus mares de repressão. É a face escondida da luta."
Doping mau, pois, que repugna a um escritor que era de direita porque o culto de heróis o marcava. Doping que desvirtua o combate dos deuses terrenos. Porém, Blondin escreve também: "Sonhamos com arcanjos, cuja pureza não teme os controlos e que nos dão orgulho na raça humana. Mas admito que haja, apesar de tudo, uma certa grandeza naqueles que foram buscar a não sei que purgatório o melhor deles. Apetece-me dizer-lhes que não deviam, mas emociona-me secretamente que o tenham feito. Os seus olhares perdidos são uma oferenda aos nossos aplausos."
Fomos nós que os viciámos, não em heroína, mas em serem heróis. Temos por eles o carinho que os dealers talvez tenham pelos seus clientes.
Texto: «DN» de 29 de Julho de 2007 - [PH]. O cartoon é de Rodrigo de Matos, publicado no «Expresso-online» («Humoral da História»), e oferecido, pelo autor, ao SORUMBÁTICO
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A propósito de Simpsons, aqui fica uma sugestão: não percam o filme que acabou de estrear; a ver com atenção e eventualmente mais do que uma vez - pois está cheio de pequenos gags que podem passar despercebidos e de referências (homenagens, como se lhes costuma chamar) a muitos filmes famosos. No que toca a estes, nem sequer escapa o «Uma Verdade Inconveniente» (a cena em que Al Gore se mete num ascensor para melhor dramatizar a subida da percentagem de CO2 na atmosfera): o elevador em que Lisa se mete começa por encravar, depois disparata, desata a subir até desaparecer, e por fim desaba no palco...
CMR
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'BART, GOZA COM QUEM É DIFERENTE DE TI'
Por Alberto Gonçalves
É como as pessoas. A comédia televisiva americana atingiu a maioridade quando abandonou a doutrinação política. As séries de maior sucesso nos anos 60, 70 e 80, de Uma Família às Direitas a M.A.S.H., passando por Quem Sai aos Seus, eram abertamente liberais (ao modo da esquerda dos EUA). Hoje, são dificilmente suportáveis. À entrada da década de 90, os herdeiros do humor "descomprometido" de David Letterman criaram as melhores sitcoms conhecidas: o genial niilismo de Seinfeld e The Simpsons.
Ao invés de Seinfeld, os Simpsons não são apolíticos. Apenas não se percebe que tipo de políticos são. Sem particular originalidade, o vulgo considera-os uma "denúncia" da classe média americana. Mas numerosos ensaios (entre os quais o famoso Homer Never Nods, de Jonah Goldberg) tentam recrutá-los para o conservadorismo, e evidenciar a observância, ainda que subtil, dos valores familiares, patrióticos e até religiosos. Atendendo a que o seu principal argumentista é John Swartzwelder, libertário, antiambientalista, defensor do direito de posse de arma e, de acordo com os padrões em curso, um reaccionário, a hipótese não é absurda. É só desnecessária: farejar orientação ideológica na vertigem iconoclasta dos Simpsons é perder boa parte da piada, verificável em 400 episódios e, escusado lembrar, no filme que agora estreou. A graça dos dogmas é sempre inadvertida.
«DIAS CONTADOS» - «DN» de 29 de Julho de 2007 - [PH]
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