Despedida de um líder a sério
DENTRO de horas, Lula vira ex-Lula. É pena, são tão raros os que comandam bem. Não, não falo só dos dois mandatos presidenciais. Falo também do líder operário e sindical que no virar da ditadura militar soube ser aquele responsável que já era antes de surpreender os ignorantes de Wall Street que tremiam com um "vermelho" no Palácio da Planalto. Lula não comia criancinhas ao pequeno-almoço em Brasília (2003-2010) mas também já não o fazia nos tempos (1978-90) em que ajudou, sabendo liderar, os operários de São Paulo a não cair na baderna quando o Brasil não funcionava de todo. Nesse tempo ele já era de sentar e discutir. Vão dizer: até de mais! Sim, lá de arranjinhos ele sabe, vejam só os escândalos do PT e aliados... Indesmentível. Mas aquele sentar e discutir também serviu para nos últimos oito anos o Brasil parecer um ascensor social de sentido único, subindo. Fruto do Presidente anterior, Fernando Henrique Cardoso? Também, mas os ascensores também se param e se lhe inverte o sentido. E este acelerou, subindo. Deixem falar os protagonistas: ontem, as sondagens davam 87% de brasileiros satisfeitos com Lula. Sim, também há números assim em outras partes do mundo - mas em nenhuma com os jornais e televisões livres de criticar (e nenhum grande grupo de comunicação brasileiro é pró-Lula). Na hora da despedida ele disse: "Dei conta do recado." E deu.
«DN» de 31 Dez 10
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