31.5.11
Sete ideias para os jovens que vão a exame!
DENTRO DE ALGUMAS semanas, milhares de estudantes do Ensino Básico e Secundário terão exames. Sabemos que as provas nem sempre estão bem feitas, que são menos frequentes do que deviam, que não têm o grau de exigência necessário e que, muitas vezes, os enunciados são enganosos. Mas isso neste momento pouco importa. Para os estudantes, para os pais que os acompanham e para os professores que os apoiam, o que agora interessa é aproveitar estas últimas semanas. Ainda há tempo para muita coisa, desde que se trabalhe. Talvez algumas das ideias seguintes sejam úteis.
Primeira ideia: Programar o estudo. É um dos factos mais surpreendentes da vida: traçar objectivos é meio caminho andado para os atingir. Isso é verdade na escola, na política, no desporto, nas empresas. Pode-se trabalhar muito, pode-se estar o dia todo ocupado e parecer que não se consegue fazer mais nada. Mas quando se perde um pouco de tempo a pensar e organizar a vida, consegue-se fazer mais. Daqui até às provas há ainda algumas semanas; por que não fazer uma lista das matérias prioritárias e planear dominá-las, com objectivos traçados semana a semana e dia a dia? Depois, é controlar o plano de estudo. Basta perder cinco minutos ao fim do dia para verificar o que se fez e não se fez e o que é preciso fazer para recuperar o tempo perdido.
Segunda ideia: Testar o que se sabe. É uma das descobertas mais sólidas da psicologia cognitiva moderna: as avaliações são um auxiliar importantíssimo do estudo; muitas vezes aprende-se mais enquanto se pensa como responder a um teste ou a verificar onde se errou, do que no estudo calmo e descontraído. A resolução de testes e exercícios é fundamental.
Terceira ideia: Voltar atrás quando não se percebe. Andar muito tempo à volta de um exercício ou de um conceito e não o conseguir entender é habitualmente sintoma de que há algo para trás que não se percebe. Não vale a pena fingir que se saltam obstáculos.
Quarta ideia: Perceber e decorar, decorar e perceber. Ao contrário do que recomendam algumas teorias pedagógicas ultrapassadas, a memorização não é inimiga da compreensão. As duas coisas são necessárias e reforçam-se mutuamente. Saber de cor uma fórmula pode ajudar a perceber um conceito e perceber um conceito pode ajudar a decorar uma fórmula útil.
Quinta ideia: Nem sempre o que parece mais fácil é o melhor. Entre ler um romance que se sabe que pode aparecer num exame e estudar um resumo, muitos jovens preferem ler o resumo. Que erro! Ler um romance é mais divertido, aprende-se mais, compreendem-se melhor os personagens e fixam-se melhor os pormenores.
Sexta ideia: Chegados ao exame, por mais difíceis que as questões pareçam, não desanimem. Muitas vezes, precisamos de algum tempo entre ler uma pergunta e ter a ideia da resposta. Leia-se segunda vez, terceira vez, com calma. Afinal a resposta pode ser simples.
Sétima ideia: Por mais simples que as questões sejam, não desanimem. Na Prova Intermédia de Ciências Físico-Químicas do 9.º ano feita este mês pelo Ministério, enunciavam-se um a um os nomes dos planetas do sistema solar e depois perguntava-se «o sistema solar é constituído por quantos planetas?» Muitos jovens podem não ter respondido por pensarem que havia algum truque. Não podia ser verdade! Não faz sentido perguntar a um aluno do 9.º ano se sabe ou não contar até oito! Mas era verdade.
«Números e Letras» - «Expresso» de 28 Mai 11
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30.5.11
Os Selos da República
DETESTO FESTAS, galas e aniversários. No dia dos meus anos, trabalho como se nada fosse; não recordo o aniversário dos meus filhos; os meus netos parecem-me ter uma idade indefinida. Não admira que tenha reagido mal à ideia de celebrar o 5 de Outubro de 1910. Como se não bastasse ser forçada a assistir a mais uma comemoração, fui obrigada a ver e a ouvir dislates.
Vem isto a propósito de uns selos dos CTT que anteontem chegaram a minha casa, apostos num embrulho. Eis as palavras colocadas por debaixo dos bonecos que os ilustram. No primeiro, pode-se ler: «História das Liberdades. Em 1910 a notícia da implantação da República foi acolhida com manifestações de entusiasmo popular» e, no segundo, «História das Liberdades. Na República Portuguesa cada um é senhor de conduzir o seu destino, o que merece ser festejado». A fim de que não subsistam equívocos, esclareço, desde já, que não sou monárquica nem alimento sentimentos nostálgicos em relação ao Estado Novo. Apenas prezo a verdade histórica.
Vamos a ela. Durante a Monarquia, a República significou quatro coisas: «bacalhau a pataco», o derrube da «tirania», a expulsão da «reles canalha da batina» e o sufrágio universal. Era isso que a propaganda prometia. Depois, embora o rei tivesse desaparecido e os padres fossem humilhados, nem a alimentação ficou mais barata, nem os trabalhadores puderam votar em maior número, nem as liberdades aumentaram. Dois meses apenas após a queda do regime monárquico, quando ingenuamente os operários começaram a reivindicar uma vida melhor, a República promulgou uma lei restritiva das greves, que passou à História como o «decreto-burla».
A mudança tão pouco favoreceu a participação política. Uma vez no poder, os Republicanos perceberam que, se dessem o voto a todos os portugueses, seriam derrotados, uma vez que os camponeses jamais votariam neles. Daí a lei eleitoral de 1913, a qual, a pretexto de combater o «caciquismo», retirou o voto aos analfabetos, ou seja, à maioria da população. O número de recenseados desceu logo para metade: de 846.801 passou a 395. 038, a proporção mais baixa desde 1860. À medida que a República mostrava a sua verdadeira face, o eleitorado de Lisboa desinteressava-se do voto. A abstenção, que, em 1911, fora de 13%, subiu, em 1919, para 80%.
Há pior: a República começou a prender indivíduos sem os julgar. Em meados de 1912, existiam 2.382 presos políticos, muitos deles operários que haviam participado na greve geral de Janeiro desse ano. Não admira que os trabalhadores acabassem por aderir, em massa, ao anarco-sindicalismo, uma doutrina que proclamava o que eles sentiam: os políticos, todos os políticos, eram uns vermes. Em suma, a República não respeitou as liberdades.
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A de cima, no entanto, ganha muito se for vista juntamente com uma outra, recentemente aqui afixada, e tirada no mesmo local.
Pergunta-se: que "outra" foto é essa?
Resposta: trata-se da 1ª foto de um conjunto de 5 que se pode ver [aqui]. Tudo indica que os que fecham os olhos à destruição dos passeios alfacinhas sejam os mesmos que, depois, aparecem a repará-los...
Memórias fardadas (2) - o 1.º de Dezembro de 1943
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29.5.11
28.5.11
O caso do carneiro assassino
LI, MAS NÃO acreditei; reli e continuei a não acreditar; tentei ainda uma vez e eis senão quando o José David Lopes, meu camarada de lides anos a fio no Diário de Notícias, veio no Facebook dizer que era verdade, que não tinha sido eu que treslera. Passo a explicar para que se dissipem todas as interrogações que quiçá subsistam.
No quotidiano da Avenida da Liberdade saiu uma notícia sob o título
Carneiro mata idosa e foge às autoridades
Rezava o texto: «Mulher de 76 anos foi encontrada morta num caminho. A tese de ataque de carneiro é sustentada pela PJ, que investiga o caso». E prosseguia a notícia que uma senhora idosa encontrada morta, teria sido vítima das marradas de um carneiro. Até aqui, nihil obstat. Há carneiros capazes de tudo e velhinhas idem, idem, aspas, aspas. Neste Mundo louco em que vivemos (ou sobrevivemos) já nada me espanta. Ou nada me devia espantar. Mas, espanta.
Ainda de acordo com o texto dito noticioso publicado no DN, o animal não teria sido encontrado, que o mesmo é dizer identificado. Mas, cuidado, a PJ estava em diligências e esperava-se que muito em breve o animal assassino fosse apanhado. O crime não compensa, diz o povo na sua sabedoria milenar. Mas, nestes casos intrincados, nunca se sabe. Eu, pelo menos, não ponho as mãos no fogo.
Porém, não resisti e enderecei uma resposta ao David Lopes, cujo texto aqui transcrevo, com mais ponto, menos vírgula: Zé David; que saudades do nosso DN... Este carneiro devia ir imediatamente al paredón, depois de capturado pelas autoridades, obviamente. São dois crimes que o gajo cometeu e logo um a seguir ao outro. O primeiro (que vem antes do segundo) foi o vil e bárbaro assassinato de uma idosa com 76 anos, ainda por cima.
O segundo (que costuma vir a seguir ao primeiro) tratou-se da sibilina e insidiosa fuga às autoridades; não se faz. Ainda que fosse antes de um Porto-Benfica, vá-que-não-vá. Mas, assim... Uma nota ainda: o título pode muito bem ganhar o Prémio Pulitzer, que bem o merece o autor dele - dele do título - a título póstumo. E já agora, a idosa também. E quiçá o carneiro...
Entretanto, o Zé David acrescentara que «o carneiro merecia ir ao forno. O autor do título, bem, metido numa arena com um rebanho de carneiros…» Concordei em absoluto e disso dei conhecimento ao meu antigo camarada de Redacção. E preparava-me para dormir sobre o assunto, tão tranquilamente quanto me fosse possível, quando o matutino voltou a atacar. Fazem o favor de tomar atenção.
Parte superior do formulário
Autoridades já têm carneiro suspeito
«Já está identificado o carneiro suspeito de ter investido mortalmente contra a idosa de Afife, em Viana do Castelo, apurou o DN junto de fonte policial. Afinal, o dono do animal vive a centenas de metros do local onde tudo aconteceu segunda-feira à tarde». E mais uma série de dados e considerandos perfeitos para o leitor menos atento ou mais desprevenido poder ficar ao corrente do que se passava.
Não cheguei a ler mais; no entanto, tenho para mim que, após perseguição carregada de peripécias, um novo texto informativo daria conta da captura da nefanda alimária e do seu interrogatório subsequente. Ainda que não se pudesse acrescentar muito mais, dado o sigilo da Justiça (???) esperavam as autoridades obter a confissão do suspeito, já então arguido.
Mister Erle Stanley Gardner não faria melhor. O caso do carneiro assassino pode perfeitamente enfileirar com os muitos outros casos que o advogado Perry Mason, (acompanhado da sua secretária Della Street e do detective Paul Drake) deslindou em pleno tribunal, para amargurar tempos a fio o procurador Hamilton Burger. Este cornúpeto criminoso tem de ser cuidadosamente julgado – e condenado.
Parte inferior do formulário
Devemos, assim, aprender com estas e com outras que nós, os Portugueses, temos os carneiros que temos, temos as idosas que temos, temos as autoridades que temos e… temos a (des)informação e os jornalistas que temos. E a mais não somos obrigados. Com papas e bolos se enganam os tolos, recordam-se, por certo. É ainda o Zé Povinho que o diz.
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27.5.11
Prognóstico fácil porque inevitável
O PRÓXIMO Governo já se conhece. Essa é que é essa. E é essa porque não pode ser outra. Outra seria ou a pior de todas, um só partido, minoritário, ou variantes da mesma família, um bocadito melhores mas mancas. Um partido sozinho com maioria absoluta (PS ou PSD). Um dos dois mais votados coligado com o terceiro (PS-CDS ou PSD-CDS). Esta última hipótese bifurcando em: ou quase com a maioria absoluta ou com uma estreita maioria absoluta.
Nestas hipóteses, que completam a tal solução que não vai acontecer, fica-se sempre ou à beira da maioria absoluta ou à justa. Coladinhos aos 50%, para cima ou para baixo, o que torna os outros, os que não estiverem no Governo, também coladinhos aos 50% (e com a força para emperrar que lhes vem disso). Então, será PS e PSD (e, talvez, puxando a eles o CDS).
Desculpem-me enunciar estas banalidades mas a dimensão da questão é mesmo essa, banal. É verdade que os partidos enunciam outras hipóteses: o tempo é de eleições e ninguém as ganha sem galvanizar as hostes contra inimigos a abater, mesmo que a 6 de Junho estes passem a aliados "porque as condições objectivas mudaram". Percebo-os, aos partidos. Já percebo menos os comentadores, que deveriam ser livres e inteligentes, e embarcam na farsa.
O próximo Governo já existe. O programa, também: pagar a dívida (e, se tivermos sorte, talvez também saibam dar-nos esperança). No dia 5 vamos eleger o primeiro-ministro, só isso.
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Chapeladas
O PORTUGAL político parece um caso perdido, sem remédio para os problemas por mais que deles se fale. Por exemplo: de eleição para eleição, lá vem à baila o baile decadente dos fantasmas, como os do filme de Roman Polanski. Há eleitores que efectivamente não existem mas persistem nos cadernos eleitorais, o que falseia desde logo o número de deputados por cada círculo. Porque os fantasmas têm predilecção por círculos como a Madeira e o Algarve, mas também Bragança e Vila Real. São fantasmas com inclinação para o turismo, seja ele o turismo de massas e de betão, seja o turismo bucólico do tecto de Portugal, como lhe chamava Miguel Torga.
Mas contas feitas e apresentadas ontem pela revista Visão mostram que os eleitores fantasmas não são um mero aspecto folclórico de uma democracia dia a dia mais carnavalesca. Os eleitores fantasmas, segundo a Visão, beneficiam círculos onde a direita é maioritária, em prejuízo de outros em que domina a esquerda. E assim, o resultado das eleições, numa eleição tão renhida como as sondagens deixam supor, até pode ser decidido - e falseado - pela existência de fantasmagóricos eleitores.
As eleições presidenciais do início deste ano deram apenas uma pálida amostra da balbúrdia que vai nos cadernos eleitorais. Mas a desordem é mais profunda. Penso mesmo que ninguém saberá dizer, por abstracto exemplo, se um tal senhor António Silva, do lugar de Fermentins, é ou não o mesmo que um tal senhor A. Silva, do lugar da Lombadinha. E se um tal António José Silva, das Poças, foi ou não foi desta para melhor e se foi o que anda ele a fazer no recenseamento eleitoral.
A democracia chama eleitores fantasmas a estes percalços eleitorais. Antigamente o fenómeno designava-se por chapelada. O resultado pode ser o mesmo.
«DE» de 27 Mai 11
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26.5.11
Duas catástrofes
NÃO SEI que mal fizemos à deusa da democracia, mas ela está a sujeitar-nos a uma duríssima prova.
Diz ela: Portugal, escolhe entre duas catástrofes. Preferes uma catástrofe económica e social? Ou antes uma catástrofe política?
A catástrofe económica e social é Pedro Passos Coelho, que é um líder do PSD muito mais banal do que parece. O que sabe de política aprendeu como líder de uma juventude partidária; em vez de ter maturado, a sua temporária ausência da política fê-lo regressar como personagem plastificada. A imagem de extremista ideológico que a esquerda compôs dele pode até, de certa forma arrevesada, creditá-lo de uma consistência de pensamento que eu — salvo melhor intuição — não lhe encontro.
Temo-lhe a ligeireza mais do que o extremismo. A privatização das águas, a extinção do ministério da Cultura, tudo parece emergir no seu discurso com a mesma falta de questionamento.
Certas pessoas parecem não ter dúvidas por dogmatismo. Outras não têm dúvidas por inconsciência — e Passos Coelho é uma delas. Uma pessoa assim é perigosa, sobretudo quando rodeada por uma clique de taticistas disposta a bajular o líder para alcançar os seus próprios objetivos. Pedro Passos Coelho está rodeado destes bajuladores por todo o lado, e eles parecem mais movidos pelo lucro do que pela glória.
Com um país em crise, vai ser difícil distinguir entre a privatização e a pilhagem.
A catástrofe política é José Sócrates.
Para quem nunca comprou a teoria, tão conveniente em certos setores da esquerda, de que PS e PSD são iguais, apostar em Sócrates para combater Passos Coelho poderia ser uma opção.
Mas eu não me posso esquecer de outro Sócrates. O Sócrates dos processos judiciais contra opinadores e jornalistas, do um-contra-todos, dado aos ataques de fúria, à paranóia e às derivas autoritárias. O Sócrates que fez da arrogância uma forma de respiração.
Ao contrário de Passos Coelho, este Sócrates não se consegue esconder. Ele está ali, por debaixo da pele, e todos nós o conhecemos demasiado bem. Quando ele deu uma entrevista como “simpático” ninguém acreditou. O verdadeiro Sócrates estava impaciente por aparecer.
Estas características são — para quem se preocupa com a democracia — mais do que apenas uma caricatura. Sócrates fez muito para desvalorizar o valor da palavra política nos últimos anos. A confiança foi virada de pernas para o ar demasiadas vezes. O sectarismo impregnou o ar, também por culpa dele, e contaminou o país.
De caminho, Sócrates esvaziou o PS por dentro como o dono de um banco. Um partido outrora orgulhoso das suas raízes democráticas, progressistas e abertas tem agora medo do chefe. Esse foi outro dos efeitos da ação de Sócrates, e toda a gente que o escolher para barrar Pedro Passos Coelho sabe que conta com a catástrofe política para conter a catástrofe social e económica.
Mas alguma coisa fizemos de mal à deusa da democracia. O ambiente em que vivemos não é só culpa de dois homens; é culpa de uma cultura política própria de beco sem saída.
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A propósito das eleições de 5 de Junho - Passatempo com prémio
Actualização (19h08m): o passatempo terminou, com as respostas certas dadas por R. da Cunha, como se pode confirmar [aqui].
Tristeza
OS PORTUGUESES são dos europeus mais tristes com a vida que levam. O índice é da OCDE e agrega 11 tópicos que vão das condições materiais à qualidade de vida e à satisfação com a governação. Tudo apurado, apenas 36 por cento da população portuguesa se sente bem com a vida que leva. E não se diga que isto é da crise. Essa percentagem sobe para 43 por cento entre os gregos, 49 por cento em relação aos espanhóis, 73 por cento no que respeita aos irlandeses.
Esta é a verdadeira sondagem quanto à realização das aspirações dos portugueses. As intenções de voto são influenciadas pelo circo eleitoral, pelo arsenal dos preconceitos e das ideias feitas, e impostas pela manipulação, e pelo arraial de promessas jamais cumpridas, sem que o incumprimento seja de algum modo penalizado, desde que coberto por novas promessas.
A maioria dos portugueses vive num continente de insatisfação coabitando com os húngaros e polacos, os estónios e turcos, nos antípodas de dinamarqueses, suecos ou holandeses. Mas esta não é uma divisão entre Europa do Norte e do Sul. É uma discriminação entre a dignidade e a apagada e vil tristeza.
Tanto bastava para condenar a sucessiva governação do País. Mas no mesmo dia em que o índice da OCDE sobre a satisfação com a vida saiu nos jornais, páginas adiante ficou a saber-se também que um quarto da população assalariada está disposta a emigrar. Este foi um índice que mediu, durante muitos anos, os resultados da política portuguesa em ditadura, que não permitia outras formas de auscultação. Um país de onde um quarto da população activa está pronta a fugir representa um libelo contra uma política sem horizontes. O mais dramático é que o alterne da democracia formal não resolve a questão da tristeza dos portugueses.
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25.5.11
O poder e a indecisão
Por Baptista-Bastos
DIZ-SE E ESCREVE-SE, por aí, que quarenta por cento de portugueses estão indecisos sobre quem votar. Creio, no entanto, que nesta análise (chamemos-lhe assim) reside algo de equívoco e de ambíguo. Na verdade, não há indecisos: há, isso sim, decisões voláteis. Cada um de nós, por orientação própria ou alheia, foi educado, "formatado" desta ou daquela maneira. Foucault, em Dits et Écrits, esclareceu muito bem essas relações de poder e de submissão, que talvez se possam sintetizar na existência das dinastias de operários, de economistas, de "gestores", de arquitectos.
As famílias de tipógrafos, de advogados, de médicos que se continuaram, são quase como as famílias de benfiquistas, de portuenses, de sportinguistas, de belenenses, que reelaboram os conceitos de pura vontade racional. O português "indeciso" não deixa de saber o que quer. Pode, por ira, desgosto, vingança ou desdém momentâneos, ausentar-se dos seus gostos e preferências. O absentismo é uma forma superior de protesto. Perante as combinações, os arranjos políticos vis, a mentira organizada e proliferante, o português compreendeu que o voto já não é a arma do povo. (...)
Texto integral [aqui]
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24.5.11
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Um abuso é um abuso é um abuso
UMA CAMPANHA eleitoral tem muito de faz-de-conta. Desde as promessas (os "farei" que nunca se farão) às juras (de alianças repudiadas que talvez venham a fazer-se), passando pelo circo dos comícios. Nestes, o faz-de-conta tem a intenção de mostrar força. Um comício cheio leva a outros comícios cheios, e alguns comícios cheios criam aquilo que os especialistas chamam dinâmica de vitória - enfim, trazem mais votos, que é para isso que se fazem as campanhas eleitorais. Daí que juntar camionetas para encher comícios - mesmo com falsos apoiantes - seja prática antiga e comum aos partidos.
Enquanto se trata de um negócio entre iguais - entre o partido que precisa de encher o seu comício e gente que não se importa de gramar discursos a troco de um passeio - essa prática é quase desculpável. É certo que é uma mentira - mas se nos vamos zangar com tudo o que não é sincero nas campanhas... O problema (como acontece sempre que se generaliza um comportamento incorrecto) é quando se ultrapassam certos limites.
O que o PS fez em Évora, levando imigrantes indocumentados ao seu comício, já não é só aquela mentirinha eleitoral comum a todos os partidos. É uma indecência. Porque o que ali conta não é o truque generalizado, e que já nos engana pouco. O que ali houve foi abusar dos mais desapossados, os que nem têm a prova de que são cidadãos.
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Foguetório
COMEÇOU a campanha eleitoral e a única certeza é que ninguém sairá destas eleições para governar sozinho. A ‘troika' e Belém não permitem, porque um partido sozinho no governo, com a política que a ‘troika' lá sabe, desgastava-se em menos de um fósforo. Tão depressa quanto se valorizava um partido da situação sozinho na oposição.
O que é interessante é que os três partidos situacionistas, condenados a entenderem-se depois do acto, nos preliminares não se fartam nem se cansam de se vilipendiar uns aos outros. O que se anuncia é pois um governo tipo saco de gatos, do qual o último a sair sai de gatas, o primeiro sai por cima. Ou seja: quanto tempo vai durar uma coligação já experimentada e fracassada, de três ou dois partidos que se esgadanham pelo controlo do Estado?
Porque certo é também que todas as modalidades em que estes três partidos já se associaram para governar - e eles já fizeram todas as combinações possíveis com o lindo resultado que se vê - deram raia. PS+CDS, PPD/PSD+CDS+PPM (vulgo AD, com Sá Carneiro ou Balsemão), PS + PSD (vulgo Bloco Central), PPD/PSD + CDS/PP (Durão ou Santana com Portas) foram todas coligações a prazo. Apesar de maioritárias, nenhuma se aguentou no poder até esgotar o prazo de validade. Em geral foi o CDS o primeiro a puxar o tapete ou a ameaçar fazê-lo, excepto no caso do Bloco Central, no qual foi Cavaco a tirar a passadeira.
Agora começou a campanha e foi um foguetório. O PSD a atirar à cara do CDS o negócio dos submarinos, que o segundo promoveu quando estava no governo chefiado pelo primeiro. PSD e CDS a jurarem pelas alminhas que jamais se juntarão ao PS. E com o PS a exibir as zaragatas da direita.
A grande questão é que, desta vez, nem sequer vai haver tacho para rapar.
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23.5.11
Contestação
O MOVIMENTO de contestação que assentou arraiais em Madrid estendeu-se já a diversas cidades europeias, até mesmo com incursões em Portugal embora à escala da opinião pública portuguesa. É um movimento pacífico mas físico, isto é, com pessoas ao vivo e em protesto nos locais. Do mesmo modo, o movimento de ideias Uncut, nascido no ciberespaço, a partir de Inglaterra, assume já contornos físicos em diversos países e cidades, pugnando por uma Democracia Verdadeira. Muitas outras organizações, isoladas e dispersas, em toda a Europa e também em Portugal, têm dado ideais e corpo ao manifesto contra as políticas inevitáveis que, como os portugueses bem sabem, acarretam a inevitabilidade do desemprego e da pobreza para a maioria.
A Europa e o Mundo estão num momento crucial de luta, mas a luta é de todo desigual. De um lado esgrime-se com aspirações e ideias. Do outro estão a força dos Estados, de instituições transnacionais, como o FMI e a Comissão Europeia, e dos mercados. Cada um cavalga as respectivas ondas. Por exemplo, em Portugal, o patronato não perdeu tempo a agarrar e explorar a proposta de reduzir as suas contribuições para a Segurança Social e agora também quer riscar da Constituição o artigo que garante a segurança no emprego. Perante isto, e face a uma perspectiva de poder político de um bloco de três partidos que produziram a doença e agora se propõem produzir a cura com as mesmas receitas, que seria de esperar? A contestação como forma de expressão, evidentemente.
É a este fenómeno que se assiste, através de modalidades de organização, de comunicação e de intervenção muito diversas, informais e ágeis.
Entretanto, o poder vai olhando para o lado. Até ao dia em que mandará avançar os novos blindados.
«DE» de 23 Mai 11
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Os 20 que nos têm cativos
SIM, TAMBÉM se aprende em eleições. Já a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários revelara no relatório anual sobre as sociedades cotadas (mas quem lê relatórios da Bolsa?), mas foi Francisco Louçã que disse em campanha: 20 administradores acumulam lugares nas administrações de mais de mil empresas portuguesas!
Os discursos eleitorais sendo como os almoços, nunca grátis, Louçã puxou a coisa para o efeito imediato: um desses administradores omnipresentes ganhava 2,5 milhões de euros por ano. Ora esse é talvez o aspecto menos interessante do facto extraordinário de haver 20 pessoas com presença, cada uma, em 50 conselhos de administração. Aliás, alguns até estão em cargos não remunerados - e isso sublinha todo o sentido daquela bizarria. Os 20 tipos espalhados por mil empresas não estão lá para as gerir, estão lá para influenciar.
Noutros negócios - máfia, maçonarias, Opus Dei (ou se quiserem ser românticos, dez estudantes finalistas brilhantes que fazem um pacto secreto para dirigir o País ao fim de uma dúzia de anos...) -, noutros negócios similares há a construção de um polvo, com estatutos mais ou menos secretos e uma vontade de organização. Mas os nossos "20 em mil" não são filhos de um complô - eles existem porque a nossa economia (centralizada e sem rasgo) respira naturalmente esta distribuição de poucos por quase tudo que dê dinheiro a sério.
É assim porque é assim. E não vai deixar de ser assim.
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O que eles fizeram pelas Ciências da Terra (2)
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22.5.11
Luz - Machu Pichu, Peru, 1971
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21.5.11
O fim do Mundo
PARA A PRÓXIMA semana não há crónica; nem para ela, nem nunca mais. O fim do Mundo é hoje, sábado, mas quando escrevia estas linhas ainda não sabia bem a que horas mas, sei lá, é bem possível que já não me leiam. Nestes trotes, nada é impossível e a sabedoria popular é elucidativa: o futuro a Deus pertence.
Porém, para alguns, o fim do Mundo já acontecera, certamente por antecipação. Há, realmente, gente muito apressada, inclusive nestes momentos terminais. Um exemplo: para o Senhor Dominique Strauss-Kahn a Negra já o visitara. E juro que não é um trocadilho. Sem foice, mas com uma caução de um milhão de dólares. Era o patrão do FMI, entidade habituada a conceder empréstimos multi-milionários; já não é e não se sabe se terá pedido emprestado uns tostões para sair da cela em que o tinham metido.
Há mais. O fim do mundo, segundo Lars Von Trier, acontece quando um planeta chamado «Melancholia» colide com a Terra e acaba com a vida no único local do universo onde ela existe. O realizador tinha apresentado o seu filme no Festival de Cannes, na expectativa de ganhar a Palma de Ouro. Mas, o homem põe e…
Os dinamarqueses - diz-se que são truculentos. No mínimo. Não sei o que diria o Senhor Hans Christian Andersen a este propósito, mas sabe-se o que disse o Senhor Von Trier na Côte d’Azur, durante uma conferência de imprensa para apresentação do seu filme. Afirmações pseudo-políticas que levaram a que a Direcção do certame o declarasse persona non grata e o expulsasse.
Vamos aos factos. Questionado por uma jornalista quanto à sua ascendência alemã, o cineasta explicou que «achava que era judeu e era muito feliz por isso». Mas que, depois, descobrira que «na verdade era nazi». E não contente com isso, ainda proferiu algumas palavras de simpatia a respeito de Hitler «É claro que ele fez algumas coisas erradas mas eu consigo imaginá-lo no fim, sentado no seu bunker... Eu simpatizo com ele, um bocadinho, mas simpatizo».
Na tarde desse dia, ou seja, de quarta-feira, o fulano, face às reacções que lhe foram chegando e sabendo que as suas afirmações tinham naturalmente gerado uma enorme polémica, veio pedir desculpa pelo sucedido justificando-as com uma brincadeira causada por quem?, digam lá… pelos jornalistas que o tinham provocado com perguntas acintosas.
Num email enviado à France Presse o cidadão escreveu: «Se eu ofendi alguém esta manhã com as palavras que disse em conferência de imprensa, peço desculpas sinceras», acrescentando ainda: «Não sou anti-semita ou racista de qualquer maneira, e muito menos nazi». Tarde piou. Pior a amêndoa do que o cimento. De novo, o povo: quem nasce torto tarde ou nunca se endireita. O fim do Mundo está aí.
Por isso, o aviso de Howard Camping, presidente do grupo conservador norte-americano Family Radio. «Preparem-se gentes porque ele (ele, o fim do Mundo) vai chegar. Para esta seita cristã a data do julgamento final já estava marcada: 21 de Maio de 2011. Howard citou, como era obrigatório, umas quantas passagens da Bíblia que, de acordo com as suas crenças, determinavam que o fim do mundo aconteceria sete mil dias depois do grande dilúvio, que ocorreu no «décimo sétimo dia do segundo mês». De acordo com o calendário judaico, foi ontem. Ponto final, parágrafo.
Muitos, no receio do que ditará o encerramento colectivo da humanidade, ou seja um terramoto, «o mais terrível que o Mundo já sofreu», recordavam com uma enorme esperança que o Family Radio já fizera previsão do género, mas para 1994 e falhara. A falha, que não se repetiu (?), louvado seja Cristo, levou Howard a afirmar ainda que terá sido fruto de um erro de cálculo.
Aqui estamos. Ou já estivemos. Se não conseguirem ler estas linhas, estimados leitores, podem ter a certeza de que o culpado não sou eu; são, obviamente, os jornalistas.
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20.5.11
O mapa da mina abandonada
O INSTITUTO Nacional de Estatística fez a previsão sobre a população portuguesa, no fim deste século: 6,8 milhões de habitantes. Uma ninharia com tanta gente como já hoje tem a cidade chinesa Tianjin, que nem sabemos apontar no mapa. Em 2100, pois, um decréscimo brutal de quatro milhões de habitantes sobre os 10,7 milhões que somos hoje.
Andamos nós entretidos, e deprimidos, com milhões efémeros como são os de economia (coisas para serem resolvidas em triénios), e eis que nos surgem números que nos podem abalar definitivamente como nação. Seremos, então, o quê, dentro de menos de um século? Pergunta ainda mais de ser posta quando já suspeitamos que um simples encontro Sarkozy-Merkel pode decidir por nós o nosso lugar, ou não, na Europa. Sendo que até esses grandes também são arredados de decisões que lhes interessam (ontem, Barack Obama traçou um eixo de aproximação com o mundo árabe que faz um arco que não toca na Europa).
Voltemos a nós: não sabemos o que nos aguarda. E, no entanto, não exploramos todas as saídas. Aquele semear antigo, de língua, genes e costumes, que fizemos no Atlântico Sul, só o reconsideramos agora como negócios breves ou empregos de remedeio. Mas tão extraordinária geografia tem de ser mais: Cabo Verde a Norte, São Tomé ao centro, e dois portentos de cada lado, Angola e Brasil, um meio oceano em português.
A nossa salvação? Não sei. Mas deveríamos entender melhor esse destino.
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Em louvor da fralda de pano
VOU CONTAR uma história verdadeira, de há mais de 30 anos.
Nesse tempo eu trabalhava no DN na mesma sala do meu querido amigo Pacheco de Andrade. Dávamo-nos muito bem, nas nossas ideologias completamente opostas, mas nem ele me queria converter a mim nem eu a ele.
Ele tinha acabado de ser pai. Um pai muito tardio, que nunca na vida sonhara ter um dia uma criança nos braços. Os meus filhos eram pequenos mas, de qualquer modo, mais velhos do que o seu bebé, e por isso eu era a sua conselheira para aqueles casos que só são banais quando se tem alguma experiência do assunto. (...)
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Populismus
Para além de constituir um argumento do mais rasteiro populismo, a sentença de ‘frau' Merkel é um completo disparate. O que não impediu que parte do patronato português procurasse de imediato apanhar a boleia. Mas a verdade é que, por regra, os portugueses trabalham mais horas e têm menos férias que os alemães.
O declínio da classe política não é um fenómeno meramente português. E a pobre ‘frau' Merkel, se comparada intelectual e politicamente com um senhor da política alemã e europeia como Helmut Kohl, para só usar um termo de comparação da mesma família política, é uma pulga comparada com um elefante. Angela Merkel devia cuidar da linguagem e desfazer-se de referências próprias do mais baixo ‘populismus'. Tanto mais que alguma argumentação de extrema-direita, proferida na língua do pintor de tabuletas desperta logo sinistras, embora infundadas, ressonâncias.
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19.5.11
Cultura
O LÍDER do PSD acaba de expor ao País e ao Mundo expectantes a sua ideia para a cultura: fechar o Ministério. Está certo. Dadas as provas prestadas até ao momento, ninguém saberia ao certo o que esperar para a cultura por parte do líder do PSD. Então é assim: a gestão da coisa cultural num governo PSD, ou liderado pelo PSD, fica na alçada do primeiro-ministro, como outras áreas da sociedade que não merecem a dignidade nem o orçamento e meios de um ministério ou mesmo de uma simples secretaria de Estado, constituindo meros dossiês a compulsar pelo gabinete do presidente do Conselho: a violência doméstica, a igualdade, os imigrantes, a toxicodependência, os deficientes, a juventude e, já agora, os museus, bibliotecas e afins.
Tem sido cíclico, mas nem por isso ideológico, o destino do Ministério ou secretaria de Estado da Cultura nos elencos governativos: já houve e não houve, quer em governos PS, como em governos PSD, ou mesmo em governos a meias ou trilaterais. Pela cultura passaram mulheres como Teresa Gouveia, homens como Francisco Lucas Pires ou Manuel Maria Carrilho, mas também Santana Lopes.
A ideia de avocar a cultura implica, obviamente, a constituição de um ‘staff' especializado para gerir áreas tão díspares como museus e bibliotecas, teatro e belas-artes, audiovisual e património, arquivos e bailado, arqueologia e multimédia, artes performativas e arquitectura. Mas o ‘staff' para a cultura resolve-se colocando um ‘boy' a olhar para os palácios, outro para as exposições, etc. O problema é que alguns vêem neste propósito do líder do PSD um mal disfarçado desprezo pela cultura e coisas do espírito em geral e uma ameaça de retrocesso aos tempos em que Chopin, farto de piano, compunha concertos para violino.
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18.5.11
115
UMA DAS promessas eleitorais mais excitantes para eleitores pouco informados, e desde logo, provavelmente, abstencionistas, é a de reduzir o número de deputados. Os consumidores de demagogia barata exultam. Dá ideia de um certo desapego ao poder por parte de quem a apresenta, do saudável propósito de economizar nos gastos de dinheiros públicos, da nobre intenção de reduzir a gigantesca máquina estatal que esmaga a sociedade e sufoca os cidadãos. Fica bem e é de borla. Mas...
Os grandes partidos têm clientelas a sustentar e, mais ainda, clientelas da província ávidas por descer a Lisboa e subir a São Bento; os pequenos correm risco de extinção, ou de redução à expressão mais simples, com a diminuição do número de parlamentares. Se alguma vez vingar a tese da redução do número de deputados, ela só avançará por acordo entre os partidos do "centrão", que passam a dividir o hemiciclo em dois quartos de círculo: um para cada lado, eventualmente sentados de frente um para o outro, como na Câmara dos Comuns.
Mas ser o CDS a propor a redução do número de deputados, e logo de 230 para 115 - quando o PSD não tinha ido abaixo dos 181 -, parece uma cena para os Apanhados, ou uma "notícia" do Inimigo Público ou, mais propriamente, dos velhos e extintos "Os Ridículos". A menos que o CDS tenha a nostalgia do "partido do táxi", ou a garantia de vir a ganhar um conjunto satisfatório de lugares cativos na bolsa marsupial do PSD.
Uma coisa seria os partidos garantirem a liberdade de voto dos deputados, cuja privação reduz 230 parlamentares a uma espécie de rebanho de cinco pastores. Mas reduzir drasticamente o número de deputados seria acabar com a diversidade e proporcionalidade na representação parlamentar.
Assembleia com uma maioria e uma "Ala Liberal" Portugal já teve.
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Para que servem estes senhores?
(...)
Neste momento, quando as sondagens fazem estremecer o PSD, a intriga, a conspiração, a maquinação e o conluio lavram, entre os "companheiros" de Passos, e o que entendem ser a sua política errática e inconsequente. Sócrates, para o PS, é a nódoa difícil de apagar. Passos, no PSD, é o homem a abater. (...)
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17.5.11
Passatempo de 17-19 Mai 11
Actualização 2 (19 Mai 11/12h06m): a resposta certa pode ser vista [aqui].
A ter em conta
DSK [Dominique Strauss-Kahn] é socialista. Não é padre católico nem de direita. Logo, não se vão exigir pedidos de desculpa aos socialistas franceses nem se vão fazer manifestações de intelectuais envergonhados com a imagem que DSK dá do seu país. Apesar de tudo, DSK foi detido nos EUA coisa que altera muito as regras deste jogo com regras diferentes consoante a filiação política dos envolvidos. Em Portugal, a carreira política de DSK estaria longe de acabada e passados estes dias de confusão, já com tudo devidamente arquivado ou prescrito, DSK poderia manter as suas aspirações a todo e qualquer cargo politico. Tanto mais que no caso de DSK ele é, de facto, um político brilhante.
Obs. E em França, tal como em Portugal, afinal toda a gente sabia, toda a gente sabe e toda a gente faz de conta que não sabe. Até que um dia todos gritam que afinal sabiam, para em seguida voltarem a fazer de conta que nada sabem. E os jornalistas sempre ao dispor.
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A Minha Mala e a Morte de Bin Laden
FAZ AGORA um mês que, acompanhada pelas minhas netas, estava em Nova Iorque a espreitar para dentro do Ground Zero. Através de uma rede de ferro, vimos o espaço onde estão a ser construídos os edifícios que substituirão os arranha-céus destruídos pelos terroristas comandados por Bin Laden. A nosso lado, betoneiras gigantes cruzavam-se com operários de colete verde alface. Junto a um baixo-relevo, «dedicado aos que morreram e àqueles que continuam a luta», podiam ver-se flores ainda frescas, e, adiante, num painel improvisado, as fotografias dos bombeiros que, numa tentativa de encontrar sobreviventes, haviam sucumbido após o ataque de 11 de Setembro de 2001.
Deambulámos, em seguida, pelo bairro. Olhámos, curiosas, o Federal Hall, onde G. Washington tomou posse como primeiro Presidente dos EUA e o New York County Supreme Court, contendo, no frontão, a sua frase: «A verdadeira administração da justiça é o pilar mais firme de um bom governo». Ao contrário de outras viagens que fiz àquele país, esta era de recreio. Destinava-se a cumprir a promessa, feita à Rita e à Joana, de que, se tivessem boas notas, as levaria até ao Empire State Building.
Uma semana é um período curto, mas dá para respirar o ar do tempo. Apesar do «Yes, We Can», as tensões raciais pareceram-me mais profundas e mais agressivos os debates políticos. Uma vez que não tinha força para o fazer, Obama não deveria ter prometido que, se fosse eleito, acabaria com Guantanamo. Depois de seis horas de espera pelo voo, cheguei a casa de mau humor. Pior fiquei, ao verificar que a fechadura da minha mala - a que vinha no porão da carga - havia sido forçada. Dentro, encontrei um impresso, da Transportation Security Administration, no qual se dizia ter ela sido escolhida ao acaso, acrescentando-se que, por se encontrar fechada à chave, fora necessário violá-la.
Pelos vistos, o governo dos EUA dotou-se de uma lei que, a coberto da segurança, lhe dá poder para arrombar bagagens. É verdade que o organismo dizia lamentar o sucedido, mas informava-me que, se algum item tivesse desaparecido, não se considerava responsável. Admitindo que o gesto serve o propósito da luta anti-terrorista, porque não fui prevenida? É verdade que, no balcão do check-in em Newark, não havia funcionários – estes foram substituídos por um computador – mas nada impedia que, através do equipamento sonoro, os passageiros tivessem sido alertados.
O episódio pode surgir como uma irrelevância, mas não o é: trata-se de um atentado às nossas liberdades. Se o Ocidente vai por este caminho, a violação da correspondência tornar-se-á, um dia, legal. Estava a meditar sobre o que me acontecera quando ouvi, na rádio, que Bin Laden fora assassinado. O primeiro sentimento, de regozijo, foi substituído pelo medo de que a descoberta do seu paradeiro se tivesse ficado a dever ao uso de tortura. Obama não pode esquivar-se a dizer-nos como esta morte ocorreu.
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16.5.11
Pergunta de algibeira
Actualização: a resposta certa foi dada logo no 1.º comentário.
Desbocados
AVISO prévio: algumas palavras desta crónica poderão ferir susceptibilidades de leitores mais pudicos. Mas são apenas citações. A questão é que a campanha pré-eleitoral perdeu o tento na língua, reflectindo por um lado o imaginário e respectiva linguagem da rasteira classe política portuguesa, por outro a pudicícia excessiva de quem se escandaliza com o vernáculo da linguagem mas não com a política de exploração e pilhagem. Adiante.
O Dr. Catroga descobriu, horrorizado, um «pentelho» no debate político. Mentes mais recatadas escandalizaram-se pois que pensaram logo em pêlos púbicos, quando o termo pode significar coisa de pouca importância. Afinal tinham razão: Catroga reconheceu que se excedeu, reconhecendo assim em que sentido usava o termo. E terá sido em comentário ao desabafo do Dr. Catroga que o PS pediu um cessar-fogo na campanha em matéria de «brejeirices». Vendo bem, entende-se o raciocínio do PS: «pentelho» puxa «pentelho» não se sabe onde iria parar a campanha, pelo que será preferível cortar o mal pela raiz. Logo o líder do PSD veio em cooperação estratégica com o líder do PS considerar «pouco feliz» a imagem do «pentelho» do Dr. Catroga. E depois de José Lello ter apodado o chefe de Estado de «foleiro», nem se imaginam as consequências institucionais do descomedimento do discurso político.
A brejeirice vernácula aplicada à políticas tem o seu mito fundador no sempre saudoso almirante Pinheiro de Azevedo, acerca de cujo vocabulário a história só se recorda de uma expressão: «Bardamerda». Mas isso eram excessos do PREC. Em democracia, o deputado do PSD José Eduardo Martins já só mandou «pró c……» o deputado do PS Afonso Candal.
Há pois que evitar tais excessos e tornar o debate político mais manso. «Manso é a tua tia, pá», responderia o primeiro-ministro.
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Os maus lençóis do patrão do FMI
ENTÃO, estava Dominique Strauss-Kahn (DSK) no avião para Paris, quando a polícia de Nova Iorque o foi prender. Horas antes, o patrão do FMI teria tentado violar uma empregada do hotel onde estava hospedado.
«DN» de 16 Mai 11
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Memórias Fardadas - (1) As quatro fardas
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15.5.11
Não somos belgas
APARECEU a sondagem n.º X, com o PSD à frente. Junto ao CDS, faz a maioria absoluta.
Apareceu a sondagem n.º X+1, com o PS à frente. Junto ao CDS, faz a maioria absoluta.
Como estagiários de Medicina perante um caso de carcinoma raro, jornalistas, analistas e politólogos debruçam-se sobre o paciente, encantados com as prometedoras e estranhas perspectivas. Se o líder Fulano é derrotado, sai, para novo líder são tantas semanas, congresso e tal, e o novo Governo à espera... Se o líder Sicrano é derrotado, haverá coligação, mas resvés Campo de Ourique...
Vêem-se mãos a torcerem-se impudicas de prazer, quase se ouvem as papilas gustativas a produzirem saliva: hmm, que semanas empolgantes vêm aí...
Na outra noite, no Expresso da Meia-Noite, SIC-N, onde se debatia este case study, um homem lúcido, Pedro Magalhães, a nossa maior autoridade em sondagens, teve de ordenar "pára o baile!" perante este frenesim cínico. Ele, que era o especialista que podia extasiar-se com as múltiplas probabilidades que os números anunciam, não foi por aí: apontou o quase cadáver, Portugal. Senhores, a questão é: temos de ter um Governo, logo e forte - cortou ele. E eu estou com ele, como estou com Pacheco Pereira e os poucos que guardam o bom senso. Não somos belgas, não podemos dar-nos ao luxo de não ter Governo. CDS, PS e PSD (não importa como baralhados), têm de o fazer. Ponto.
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Luz - Hay-on-Wye, 1985
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Hoje, na RTP Memória
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14.5.11
Será a democracia importante?
NA ÚLTIMA crónica escrevi que seria necessário refazer o projeto europeu sobre sólidos alicerces democráticos. Esta é daquelas opiniões com que toda a gente concorda e ninguém concorda. Perfeitamente segura de escrever numa crónica, é muito mais difícil de provar que ela seja verdadeiramente importante. A democracia é importante, diz o leitor, e ninguém o negará em abstrato. Parabéns ao cronista pelos bons sentimentos.
E no entanto, no entanto, ninguém dá um tostão pela democracia europeia. Temos problemas maiores para resolver — ou não? O Euro está nos paroxismos de uma crise. As pessoas estão a perder o emprego. Países estão à bancarrota. Quem se vai preocupar com a democracia nesta altura do campeonato? (...)
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Os pelos púbicos
O SENHOR Doutor Sousa Rebelo é uma pessoa importante. Importante? Importantíssimo. É subdirector-geral de um Ministério muito importante, é professor em part-time de uma universidade muito importante, é um dirigente de um partido igualmente muito importante. Tem tudo para justificar a importância que assume. O que, aliás, nem é preciso, pessoas importantes não necessitam de o afirmar. Os outros sim, os outros é que o devem reconhecer e isso é que é importante.
O Adalberto Martins, por seu turno, não é uma pessoa importante. É um simples trabalhador da Função Pública, nem sequer chegou ainda a chefe de secção, mas tem esperanças de, não frequenta as Novas Oportunidades, é sócio do Benfica e pertence à mesma cor política do seu subdirector-geral. Respeitador, solícito, nunca fez uma só greve decretada pelos sindicatos, uns madraços, não querem mais nada.
A cena decorre no gabinete do Senhor Doutor Sousa Rebelo, com o subordinado, certamente pela primeira e última vez protagonista, a abrir o acto. O Senhor Doutor já viu o que as más-línguas andam a dizer do Senhor Professor Catroga? Um desaforo, Senhor Doutor, um ataque ignóbil, uma conjura maquiavélica. Diga lá, Martins, diga lá que eu ando um tanto afastado dessas questões.
Pois veja o Senhor Doutor – ou Senhor Professor, que também o é – que afirmam sem receio de desmentidos que o Senhor Doutor Catroga, que até já foi ministro e muito bem, e estou certo que voltará a sê-lo quando ganharmos as eleições, disse palavrões na televisão. Palavrões, melhor dizendo calão; que é o que mais se usa por aí. Mas, os mentirosos são mais que as mães e de tanto repetirem as mentiras, estas ainda se podem tornar verdades, louvado seja Deus. O Martins, além de exemplar chefe de família, também é católico praticante.
O Mundo está roto, Senhor Doutor, o Mundo está roto. Perdeu-se a vergonha, perdeu-se a ordem, perdeu-se a obediência, perdeu-se o decoro, perdeu-se a lealdade, perderam-se os bons costumes; assim andamos. E depois admiram-se com a vinda do FMI e dos outros. A troika, Martins, a troika. Essa mesma, Senhor Doutor, essa mesma. E os malandros que nos fizeram chegar a estas vergonhas ainda se dão ao luxo de bradar que os culpados fomos nós.
Deixe lá, Martins, vão levá-las todas no dia 5 do mês que vem. Só se perderão as que caírem pelo chão. Mas, aqui para nós que ninguém nos ouve, que dizem esses miseráveis boateiros? Que eu não ando muito ao corrente disso… Diga lá então, diga lá para eu também ficar a saber.
O Martins, sussurrando: que o Senhor Doutor Catroga numa entrevista à SIC disse que os dirigentes políticos, ele parece que não é, em vez de se preocuparem com as grandes questões, dedicam-se a discutir minudências. E então, que mal há na palavra, ó Martins? Bem, Senhor Doutor, ele é assim, entusiasta das boas causas. O que ele queria era referir-me aos amendoins. Aos quê? Aos pinâtes, Senhor Doutor, às insignificâncias, às ninharias. Se me permite, aos pelos púbicos…
Ah, já entendi, aos pentelhos. Não se amofine; não tem importância, vai tudo correr bem. E, entre dentes, não fosse o Martins ouvir, o Nogueira Leite é que já se safou. E com um Ministério em que até foi secretário de Estado do Pina Moura…
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13.5.11
Problemas dos "sujeitos passivos" numa sexta-feira 13...
Da 1ª vez, consegui preencher toda a declaração do IRS mas, ao clicar em "gravar", "validar" ou "submeter" deu-me sempre a indicação de "erro grave" (sem mais explicações...), pelo que todo o trabalho foi perdido.
Agora, nem sequer consigo passar do que a imagem mostra (o "continuar" não faz nada...)
Alguém tem também esses problemas (já que o mal dos outros sempre dá algum alívio)?
Problemas no "Blogger"
12.5.11
Passatempo de 12 Mai 11
Por coincidência, o parágrafo seguinte parece aludir às contas públicas de não-sei-quem...
A pergunta que se coloca (e que dará direito a prémio a quem der a resposta final) é: «Qual o título (da versão portuguesa) do livro onde constam estas linhas?»
Actualização: por infeliz coincidência, este passatempo foi afectado pelo "apagão" do Blogger. Ver o que se diz nos comentários 2 e 3.
Hoje, na Sic, pelas 17h
Feijoada de louro (*)
800g de feijão encarnado, manteiga ou outro a gosto
1dl de bom Azeite
1 cebola grande
10 dentes de alho
4 a 5 folhas de louro, de preferência, ainda verdes
4 ovos frescos
4 fatias de pão de forma fritas em óleo
Louro em pó se necessário
ALOURE em azeite quatro dentes de alho fatiados. A seguir, coloque a cebola cortada às meias rodelas, juntamente com duas folhas de louro. Deixe que as cebolas amoleçam.
Coza, em pouca água, o feijão com seis dentes de alho e mais duas a três folhas de louro (não ponha demais, porque, depois, amarga). Estando cozido o feijão, escorra a maior parte da água e junte-o ao preparado anterior. Leve ao lume só até abrir fervura, para tomar gosto, e sirva bem quente com ovos escalfados na água excedente da cozedura do feijão.
Esta confecção deve saber bem a louro. Assim, caso tenha usado pouca quantidade, rectifique com louro em pó a seu gosto.
Querendo, e para alegrar a confecção, coza na mesma água rodelas de cenoura e junte-as à feijoada.
Quanto a sal, cada um que ponha a quantidade que quer e pode.
No prato de cada conviva, a feijoada é vertida, bem quente, de modo a rodear a fatia de pão frita, sobre a qual se dispôs o ovo escalfado e polvilhado, ao de leve, com louro em pó.
(*) - Para 4 adultos que gostem de feijão e apreciem o aroma e o paladar das folhas do Laurus nobilis, vulgo loureiro.
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