Lê-se no EXPRESSO-online:
«O Presidente da República, Jorge Sampaio, defendeu hoje (...) a possibilidade de tornar coerciva a limpeza das florestas».Lê-se na TSF-online:
«O ministro da Administração Interna afirmou, esta quarta-feira, que já existe legislação sobre limpeza coerciva de matas (...)».NO fim-de-semana passado visitei algumas aldeias em zonas pobres, flageladas pelo fogo.
A propósito da limpeza das matas, aqui fica um apontamento para reflexão, que vem no seguimento de uma demorada conversa que tive com uma pessoa que está longe de ser caso-único:
Uma senhora de 82 anos (a média de idades, nessa e noutras aldeias em redor, é superior a 70), viúva, vive sozinha e tem 18 pequenas parcelas espalhadas por MUITOS quilómetros em redor: cinco oliveiras aqui, 20 pinheiros ali...
Dantes, só para ir e vir, de burro, a algumas delas, demorava um dia inteiro. Hoje, nem sequer lá vai, pois não tem carro, nem burro, nem idade nem saúde para isso.
Ou seja: se, neste momento, arderem essas propriedades (e a maioria já ardeu), ela só sabe disso um ou dois dias mais tarde... e se souber.
Pessoas como ela (a maioria das quais vive sozinha) não têm forças nem dinheiro para fazer limpezas nenhumas - e garanto que bem gostariam, não precisariam de as obrigar!
Mesmo que pudessem pagar (com ou sem subsídios), não há, na região, gente para isso, como também não há para as vindimas, para a apanha-da-azeitona, para o pastoreio, etc.
Entretanto, Governo e PR hão-de, talvez, chegar a acordo sobre as leis... que já existem.
NOTA: Este texto veio a ser transcrito por J. Pacheco Pereira, em «O "Abrupto" feito pelos seus leitores», como comentário a um outro, dele, em que aborda o problema detalhadamente (texto que se transcreve-se em «Comentário-1»).
Foi também publicado no «DN» em 26 Ago 05.