Por António Barreto
É uma das piores crises da União.
A coesão, os valores e os interesses são ameaçados. Os equilíbrios internos andam
mais instáveis que nunca. Estão em causa a política e as políticas sociais. A
Europa vive confrontos da pior espécie, os dos preconceitos e da intolerância.
Mas também os da irresponsabilidade. Abrir totalmente as portas é tão errado
quanto fechar.
É importante tentar perceber o
que se passa e o que acontece. Cá dentro e lá fora. O que se passa não é único
e inédito. Já vimos. Já conhecemos. Mas não com esta escala. Não desta maneira.
Não perante a inacção das autoridades que não conseguem entender-se. Até agora,
a União falhou.
Temos de compreender. Os que
querem receber ainda mais refugiados e os que não querem. Os que querem peso e
medida e os que acham que a Europa deve receber toda a gente. Perceber os que apenas
admitem brancos e cristãos, mas também os que só querem aqueles de que precisam
para varrer as ruas. Sem percebermos o que realmente está em causa, nunca
encontraremos soluções. E seremos, Europeus, os primeiros a sofrer as consequências
dos preconceitos.
Percebê-los todos é
indispensável. Mesmo os que, como eu, são favoráveis a receber centenas de
milhares de refugiados e imigrantes, devem compreender os outros, os que se
fecham e receiam ver a sua Europa desaparecer. Ora, a Europa que vale a pena é
a Europa que sempre deixou partir e sempre viu chegar. Com condições, claro: registos,
contratos de trabalho, distinção entre refúgio e imigração, separação entre perseguição
e procura de oportunidades.
Perceber os europeus permitirá,
talvez, resolver problemas, sem deixar esfacelar a União e sem encorajar a
intolerância. Compreender implicaria ajudar a Europa a evitar as mensagens
contraditórias da União. Foram dados sinais de que todos podiam vir e sinais de
que ninguém podia. Houve quem forçasse, pois seria recompensado. Partir à
aventura com filhos de ninguém e ver morrer crianças na praia ou idosos na montanha
cria emoções convincentes. E deixam-se fazer negócios de passadores,
passaportes, barcos falsos e cicerones. Este mercado ilegal que vive da
contradição, da chantagem e dos medos das administrações e dos políticos vale
20 mil milhões de euros por ano. O princípio da legalidade é o único capaz de
travar os salteadores, os fabricantes de salva-vidas falsos, os que prometem
viagem, agasalho e emprego. Os países europeus podem lutar contra esses e
aniquilar uma boa parte dessas redes criminosas.
Toda a gente tem ideias e faz
propostas. Muito bem. Certo que não há uma solução, há milhares de soluções. Mas
deve haver princípios que presidem a essas acções. O da generosidade benemérita
e humanista. O da solidariedade, também. O da necessidade europeia de receber
mais população e o da integração. Mas ainda o da defesa dos equilíbrios sociais
internos na Europa. O da prevenção do crime e da desordem. E o do Estado de
direito em vigor.
Prioritário é ordenar os
movimentos de população com registos e identidade, definição de residência,
emprego e aprendizagem rápida da língua. E rejeitar ou deportar quem não
cumpra. Como urgente é ainda distinguir um candidato a refugiado, um imigrante
à procura de uma oportunidade e populações deslocadas pela violência. Como é
evidente, trata-se sempre de seres humanos. Mas os graus de necessidade e
urgência são muito diferentes. E as soluções também.
Convém, finalmente, recordar que
os refugiados e os imigrantes têm deveres, como sejam respeitar as leis e os
costumes dos países de acolhimento. Confiscar os bens dos refugiados é medida
infame, mas levá-los a contribuir pelos impostos e pelo trabalho, tal como
qualquer cidadão nacional, é decente. Os refugiados e os imigrantes não têm
mais nem menos deveres ou direitos do que os nacionais. Têm os mesmos.
DN, 14 de Fevereiro de 2016
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