UMA DAS MELHORES recordações do eclipse de 3 de Outubro foi a imagem do Sol projectada pelas árvores.
Pouca gente repara nesse belo espectáculo, porque as atenções se concentram no céu durante os grandes momentos.
Mas sobre a terra há igualmente muito a observar.
Há uma atmosfera de colorações misteriosas e há as imagens dançantes de meias-luas cintilantes que aparecem por baixo das árvores.
São as múltiplas imagens do Sol ratado pela Lua.
Todos os dias o Sol projecta imagens através dos intervalos das folhas, que funcionam como orifícios de projecção.
Mas são habitualmente pequenos discos que interferem uns com os outros, de forma que pouco a nada de especial se nota.
Nem sequer nos apercebemos de que as copas das árvores estão a fazer cópias do Sol no chão.
Durante os eclipses, no entanto, as imagens projectadas têm a forma de meias-luas, o que se torna mais notório. Em 1999 apareceram várias fotografias desse fenómeno, que é bem conhecido entre os amantes de fenómenos celestes.
Desta vez, contudo, o eclipse foi anular.
As imagens deveriam pois ser pequenos anéis de luz. Nunca tinha visto nenhuma fotografia desses anéis, nem nenhum amigo me podia testemunhar tê-los visto.
Mas eles tinham de surgir. As leis da óptica assim o permitiam prever.
Uma coisa é a convicção outra o testemunho.
Durante a fase anular havia junto a nós, no terreiro fronteiro à Sé de Miranda do Douro, duas pequenas árvores que projectaram com grande nitidez os anéis luminosos do eclipse.
Eram autênticas rodelas de luz. Foi um momento muito emotivo.
A fotografia que tirei e que aqui junto não consegue reproduzir a beleza do fenómeno.
Os anéis tremeluziam e oscilavam uns sobre os outros.
Adaptado de texto do Portal do Astrónomo (www.portaldoastronomo.pt)