31.7.08

Tiroliro

Por João Paulo Guerra
Há massagens e massagens e o Comando Marítimo do Sul proibiu nas praias algarvias as massagens que, sabendo-se como começam “ninguém sabe como acabam”, podendo resvalar para “situações mais íntimas”.
O PRESIDENTE da Associação de Hotéis do Algarve ainda pensou que se tratava de “uma piada” própria da ‘sealy season’. Mas é mesmo assim. Alegando em primeiro lugar motivos de pudor e, em segunda mão, razões de “saúde pública”, um pudibundo cabo-de-mar proibiu as massagens nas costas… do Algarve.
Nesta decisão, que revela tanto excesso de pulso como falta de senso, pesam ainda alguns factores nebulosos quanto aos praticantes das massagens que terão desencadeado a querela. Nos últimos tempos terão sido detidos no Algarve alguns cidadãos chineses, com permanência ilegal em Portugal, que oferecem a turistas e equiparados préstimos de massagista. A Capitania de Faro terá confundido as suas atribuições com as do Serviço de Estrangeiros. Seja como for, o zeloso e apudorado comandante marítimo conquistou por direito próprio um lugar no quadro de honra da ‘sealy season’ de 2008.
Lembro-me dos meus tempos de criança, quando o cabo-de-mar corria sistematicamente as praias da Linha de Cascais para reprimir as senhoras e meninas que não usassem um pequeno saiote sobre a tanga do fato-de-banho. Dedicaram-lhe um arranjo de uma cantiga da época, adaptada com a seguinte letra:
.....“Lá em cima está o sargento Tiroliro
.....Cá em baixo está o cabo Tiroló.
.....Juntaram-se os dois na praia
.....para ver quem usa saia
.....ou quem usa tanga só”.
Era uma chalaça dos tempos de chumbo, com a moral dos “Ballet Rose” no poder. Os tempos mudaram. O que não quer dizer que tenham mudado as mentalidades dos Tiroliro.
«DE» de 31 de Julho de 2008 - c.a.a.

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Se perguntar não ofende...

A SUBIDA DOS COMBUSTÍVEIS motivou, recentemente, aquilo que todos sabemos, no que tocou aos pescadores e - muito especialmente, pela sua gravidade - aos camionistas.
Ora, como, nos últimos dias, os preços têm vindo a baixar, imagino que as medidas tomadas (como portagens mais baratas, etc) vão ser revertidas.
Pergunto, pois: quando é que está previsto que isso suceda?
NOTA: Aceita-se uma resposta em termos de data ou do preço do gasóleo.

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Luz - XV

Fotografias de António Barreto - APPh
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Araucária - S. Miguel- Vista através de uma janela de casa de Ponta Delgada, São Miguel, Açores. As araucárias são belas árvores vindas das Américas. Há várias espécies. Esta é, creio, uma araucária chilena. Em São Miguel, há vários jardins absolutamente fantásticos com numerosas espécies de árvores, arbustos e plantas de todo o mundo. Desde o século XIX que os micaelenses cultivam um muito especial fervor pelas árvores. Três nomes se distinguem desde então, pelos jardins que plantaram e pelas espécies exóticas que mandaram vir de todos os continentes: José do Canto (esta imagem foi feita no jardim dele e da casa dos seus descendentes), Jácome Correia e António Borges. Eram amigos, mas também competiam entre eles para ver quem tinha o melhor jardim ou a espécie mais rara. Todos os seus jardins estão ainda lá, bem arranjados, bem mantidos e visitados por toda a gente. Nesse aspecto, os açorianos são bem melhores do que os portugueses do continente! (1992).
NOTA (CMR): estas fotos, juntamente com crónicas Retrato da Semana (e outras), estão também em Jacarandá, o blogue do autor.

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Divórcio – Alterações da lei

Por C. Barroco Esperança
FALTANDO-ME EXPERIÊNCIA para dar testemunho sobre o divórcio, corro o risco de parecer um padre a falar do matrimónio. Herdei o hábito de preservar os laços conjugais mas sei da vida o suficiente para formar a convicção de que não é o divórcio que interrompe o casamento, é o fim deste que dá origem ao divórcio.
Há almas pias que vêem na consequência a causa e na tentativa de evitar males maiores uma conspiração contra a instituição que os tempos se encarregaram de tornar precária.
Hoje já não é hábito assediar a divorciada, apontá-la à execração pública e atribuir-lhe a culpa, apanágio da mulher, uma espécie de complemento do pecado original. Mudam-se os tempos e as leis, e o divórcio deixou de estigmatizar a mulher, enquanto o homem, como sempre, gozava de compreensão.
Lembro-me das primeiras divorciadas que conheci e da forma como eram recriminadas pela inépcia na sedução dos maridos, resquícios do tribalismo machista que a sociedade rural e beata se encarregava de perpetuar.
Em 3 de Novembro de 1910 a República decretou o divórcio e sucederam-se as iradas manifestações de catequistas, celibatários e padres a condenarem uma lei que resolveu situações intoleráveis.
Quando, depois do 25 de Abril, sendo ministro da Justiça Salgado Zenha, se permitiu o divórcio a quem tinha um casamento católico, que a Concordata tinha imposto como definitivo, houve apenas manifestações de júbilo e a possibilidade de resolver casos de mancebia, incluindo o do Dr. Sá Carneiro que não via necessidade da Concordata.
Agora, 34 anos depois do 25 de Abril, as alterações legislativas para facilitar o divórcio, a fim de o tornar menos traumático, uniram contra si as associações pró-família, vários sectores conservadores, meios religiosos, alguns magistrados e o próprio PR que a idade vai tornando cada vez mais devoto.
Grupos de pressão, pessoas pias que ignoram a violência doméstica, e associações que nunca emitiram opinião sobre mulheres assassinadas pelos maridos (são elas as vítimas mais frequentes) vêm agora, tal como aconteceu em Espanha, fazer um enorme alarido sobre uma lei que, na minha opinião, traduz um avanço civilizacional.
É bom recordar que o divórcio é a consequência do casamento falhado e jamais a causa do seu termo. Levar para os tribunais a devassa da vida íntima e a crispação da ruptura é ampliar o sofrimento ao casal e aos filhos, se os houver. Um tormento inútil por causa de um preconceito.
NOTA (CMR): esta crónica, juntamente com outras do mesmo autor, está também no blogue Ponte Europa

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30.7.08

Do arquivo Humor Antigo - Ano de 1934

O remorso mal emendado

Por Baptista-Bastos
OUVI, ATENTAMENTE, as declarações de João Cravinho sobre a corrupção infrene em Portugal, complementadas pelas gravíssimas acusações à legislação, que ele entende pejada de "factos anómalos".
Tenho consideração pelo ex-deputado do PS, que nunca fora homem de tagarelices. A sua história está associada à da minha geração, levemente ingénua e um pouco tonta, iluminada pela contemplação de uma finalidade, que entendia o fascismo como monstruosa simulação e o futuro como a correcção de todos os males. Extraíamos, da nossa consciência, a fidelidade a um projecto político que recuperasse as verdades entrevistas nas nossas leituras comuns. Éramos novos e não nos desconcertávamos com os reveses que a História, deusa cega, nos infligia.
Entre os poucos livros honestos, até hoje publicados, acerca dessa geração, avulta um: Os Anos Decisivos - Portugal 1962-1985: Um Testemunho, de César Oliveira, Editorial Presença, 1993. Nele se poderá aferir das traições aos testamentos legados, dos poucos que permaneceram no cumprimento de uma certa condição e dos muitos que desistiram e rodam em outros carris.
(...)
Texto integral [aqui]

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29.7.08

As tentações do Sr. Gordo

Por Joaquim Letria
PADRE AMÉRICO era um bom e sabedor homem. "Não há rapazes maus”, dizia ele.
Foi preciso chegar até estes nossos dias para lhe darmos razão. Ponham os olhos naquele bancário de Santa Catarina da Serra, a Leiria, que se abarbatou com o dinheiro de três clientes. Vão essas pessoas de mau íntimo à Justiça e acusam o bancário de três crimes de abuso de confiança, dois de forma qualificada e mais um crimezinho de falsificação de documentos.
Como o Sr. Gordo, assim se chama o nosso herói, mostrou tanto arrependimento por estoirar com três milhões e seiscentos mil euros (€3.600.000) que não eram dele, os juízes, que são bonzinhos, mandaram-no para casa com pena suspensa, em gentil cúmulo jurídico.
Então digam-me lá: há juízes maus?! E o Sr. Gordo não é um doce?! Os donos do dinheiro é que deviam ser castigados! A tentarem o Sr. Gordo daquela maneira!
«24 Horas» de 29 de Julho de 2008

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Não há recordes imbatíveis

Por Nuno Crato

SE O LEITOR SE SENTAR CALMAMENTE à borda de um lago e for atirando pedrinhas para a água, reparará que algumas vão mais longe do que outras. Mesmo que não faça nenhum esforço para atirar as atirar para mais longe, de volta e meia, uma das pedras que lança afastar-se-á mais que todas as anteriores. Baterá um recorde. Não será um recorde olímpico e ninguém lhe dará uma medalha, mas é um recorde.
O problema tem sido estudado em probabilidades. Se registarmos uma sucessão de fenómenos aleatórios independentes que sigam determinadas distribuições, por exemplo, que sigam a chamada distribuição normal, veremos que, à medida que a experiência se alonga, vão aparecendo valores mais extremos. Se a sucessão se prolongar indefinidamente, é inevitável que apareça de volta e meia um valor mais elevado que todos os anteriores. Ou seja, mesmo que os atletas não melhorassem sistematicamente, seria inevitável que os recordes olímpicos fossem sendo batidos.
Felizmente, passa-se algo mais. Os estatísticos têm estudado com atenção os recordes desportivos e têm concluído que a sua melhoria não pode ser explicada pelo acaso nem apenas por haver mais eventos e mais atletas. Não será uma grande surpresa, mas é uma confirmação de que há uma tendência persistente à melhoria de resultados. Sabe-se que essa melhoria se deve a muitos factores, em que se salientam a melhor alimentação e as melhores condições de vida dos atletas, os avanços espectaculares no equipamento, os estudos biomecânicos que levam a perceber onde se podem procurar progressos e, finalmente, o mais importante de todos os factores: o melhor treino dos atletas.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 26 de Julho de 2008 (adapt.)
NOTA (CMR): o desenho, da autoria do cartunista José Abrantes, ilustra a história «O Grande Desportista», que pode ser lida [
aqui], pág. 3.

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Passatempo com prémio

A PRETEXTO DO POST de Carlos Fiolhais intitulado «Os 100 maiores intelectuais» (em que o nome de Noam Chomsky aparece logo à cabeça), o Sorumbático e o DE RERUM NATURA decidiram, como já sucedeu anteriormente, organizar um passatempo de Verão cujo prémio é um exemplar de um dos livros que aqui se vêem. Para concorrer, basta afixar um comentário (*) (sobre Noam Chomsky ou outro dos intelectuais da lista) até às 10h00m de amanhã. Responsáveis pelos dois blogues escolherão o melhor comentário.
(*) No post afixado no DE RERUM NATURA - [v. aqui].

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Silêncio

Por João Paulo Guerra
Documento da CIA referido no texto,
com a indicação «This page was last updated on 24 July 2008»
Dizem as gazetas que o silêncio de Manuela Ferreira Leite se torna “cada vez mais insustentável” para o PSD, onde já se movimentam, embora “em surdina”, as oposições intestinas.
CURIOSO PAÍS ESTE, onde as críticas ao silêncio se fazem em surdina e vice-versa. Deve ser por esta e por outras que Portugal não ata nem desata: porque não há quem dê um grito ou um murro na mesa. Em vez disso, murmura-se, sussurra-se, cicia-se, cochicha-se e resmunga-se. Mas, embora se rosne, jamais se morde. Suspira-se e aguenta-se. Tudo isto porque se teme.
O medo na política em Portugal dava um tratado e alguns romances. Vem das trevas da Idade Média, passa pelas fogueiras da Inquisição e pelos aljubes, degredos, “safanões a tempo” e perseguições do fascismo. Desde esses tempos sombrios os portugueses adquiriram o tique de olhar por cima do ombro antes de abrir a boca. “O medo vai ter tudo”, escrevia o poeta Alexandre O’Neill. E a verdade é que teve e tem. Provérbios como “a palavra é de prata e o silêncio é de ouro” ou “o calado é o melhor” traduzem a sabedoria ensinada pelo medo e com experiência ganha na teoria da conveniência. “Pouco barulho”, “caluda” e “bico calado” são dísticos nacionais. Em Portugal não é a falar que a gente se entende. É calando-se ou, vá lá, falando baixinho e pelas costas.
E é assim, segundo vem nos jornais, que as coisas se estão a passar no PSD. A presidente do PSD fez votos de silêncio e a contestação interna, de tão surda, é muda. Terá inconvenientes mas também tem as suas vantagens. Com efeito, o silêncio e a surdina no PSD blindaram o partido em relação à espionagem internacional. Segundo o World Factbook da CIA, o presidente do PSD ainda é… Luís Filipe Menezes.
«DE» de 28 de Julho de 2008 - c.a.a.
NOTA (CMR): Esta crónica, do autor-convidado J. P. Guerra, é aqui afixada no seguimento da anterior, de J. Letria. Imagine-se que a CIA se lembrava de convidar para Guantánamo alguns dirigentes partidários portugueses! Já viram que era bem capaz de levar alguns enganados? Bem... se calhar não seria muito grave...

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28.7.08

Sócrates em Guantánamo

Por Joaquim Letria
O NOSSO PRIMEIRO-MINISTRO anda com más companhias. Ele aparece-nos com angolanos do MPLA – exagera nos elogios, mas anda de mãos dadas, língua na boca com eles, vai à Venezuela visitar o Chavez e ainda não teve tempo de tomar banho no regresso, e já aí temos o Hugo em Lisboa. Ligamos o rádio e Sócrates está na Líbia com o Kahdaffi na tenda ainda quentinho, a comer tâmaras, a beber leite de camela e a ouvir a Rádio Cairo e a Voz da América.
Depois, vai à Tunísia, a Marrocos, à Argélia. A pessoa mais recomendável com quem andou metido, ultimamente, foi com o Boutflika, pois até com o José Lello e com o fulano da Guiné Equatorial tem andado. Isso assusta-me e explico porquê.
O Bush não é boa rês. Os voos da CIA andam por aí. Não podem esses tipos deitar a mão ao nosso Sócrates, dizer que anda metido com o Eixo do Mal e levá-lo para Guantánamo?! Estes tipos são piores do que os das FARC e não vêm à Festa do "Avante!"…
«24 Horas» de 28 de Julho de 2008
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NOTA (CMR): o post que vai ser afixado a seguir a este, da autoria de um convidado do Sorumbático, talvez responda à questão que J. L. coloca no fim desta sua crónica...

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“Árvore geológica”

Por A.M.Galopim de Carvalho
JÁ FOI PIOR, MUITO PIOR, mas, mesmo assim, são ainda muitas e alarmantes as situações reveladoras do grande desconhecimento, por parte da generalidade dos cidadãos, acerca de quase tudo o que se relacione com a Geologia. Salvo as excepções que sempre importa acautelar, um tal alheamento é comum a todos os níveis socioculturais.
Por mérito próprio dos já famosos dinossáurios e das suas pegadas vai-se ouvindo falar de Paleontologia, de Jurássico e pouco mais e, graças ao programa “Geologia no Verão” do “Ciência Viva”, em boa hora lançado pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia, dezenas de milhar de portugueses, de todas as idades, ganharam interesse por esta disciplina. Esperemos que este tipo de acções não perca continuidade, pois que, não obstante os passos já dados, ainda se verificam situações que a todos devem preocupar.
Dessas situações recordo uma de “bradar aos céus”, que alinhavarei na liberdade que a ficção consente, mas que não perde de vista o essencial – a grande ignorância, às vezes anedótica, para não dizer confrangedora, que, neste domínio, grassa por este nosso Portugal.
Um colega meu, jovem geólogo a preparar a sua dissertação de doutoramento, relatou-me, recheada de pormenores, uma situação bem reveladora do desconhecimento que referi atrás.
Há uns meses atrás, contou-me, dera transporte a quatro jovens que, à saída de uma localidade dos arredores da capital, lhe fizeram o mais do que tradicional gesto de pedir boleia.
(...)
Texto integral [aqui]
NOTAS: esta e outras crónicas do mesmo autor estão no seu blogue Sopas de Pedra. A foto (CMR) foi tirada Junto a Burgau, Algarve.

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27.7.08

Passatempo-relâmpago

DE VEZ EM QUANDO, lá aparece alguém a passar um atestado de atrasadinhos aos cidadãos.
Foi o caso da senhora que um destes dias veio à televisão, com um ar muito sério, dizer aos amantes da pesca desportiva que, se não têm cuidadinho, ainda podem cair das falésias abaixo - recomendação que vai ser passada a escrito, numa campanha de sensibilização para esses adultos infantilizados.
É também o que sucede quando há vagas de frio - em que a Protecção Civil vem aconselhar que nos agasalhemos; e quando há vagas de calor - em que a mesma entidade vem recomendar, em linguagem de avózinha, que nos abriguemos do sol...
Ora, ultimamente, tem-se passado o mesmo a propósito do sobre-endividamento das pessoas e das famílias, pois já não têm conta os artigos, as entrevistas e as intervenções (e, nesse capítulo, a DECO tem sido particularmente maternal...) a dizer às pessoas - supostamente adultas - que se lembrem de que não podem gastar mais do que têm.
Mas também é certo que conheço quem, de facto, pareça viver noutro mundo: é gente, toda ela da classe média, que gasta o que tem e o que não tem; e, na falta de dinheiro para pagar tudo, corta no essencial e continua a gastar no acessório. Outros, depois de se endividarem até ao tutano, começam a pedir emprestado a uns para pagarem a outros, entrando num carrocel de dívidas sem fim à vista. Mas conheço ainda um casal que faz melhor: pede emprestado a este e àquele... e não paga a nenhum.
E é precisamente a propósito dessas pessoas que aqui fica este passatempo, que terá duas fases:
1ª: Qual o romance de Gustave Flaubert que tem como personagem principal uma senhora sobre-endividada cujo nome, por sinal, dá o título à obra? Actualização-1: houve 3 respostas, todas elas certas. No entanto, como a 1ª foi dada por Pedro Boavida, é ele o vencedor.
2ª: Eça de Queirós era um grande admirador de Flaubert. E isso é especialmente patente se, logo depois de lermos «Madame Bovary», pegarmos em [***], onde os 'pontos de contacto' entre as duas obras são mais do que muitos. Pergunta-se: Qual é o título desse romance, atrás referido com "[***]"? Tal como na 1ª fase, as respostas serão desbloqueadas num momento-surpresa. Actualização-2: a resposta certa foi dada por 'Incógnita'. Ambos os prémios seguirão na 2ª-feira.

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Um mundo pachola

Por Nuno Brederode Santos
ESTE PEQUENO VALE ALENTEJANO onde, uma vez mais, busquei refúgio, põe-me à frente uma porta luminosa. Por tudo quanto sei, pode ser o umbral de uma máquina do tempo ou um parêntesis tridimensional. Nem cuido disso. Aprendo apenas que ainda há onde o céu traga mais novas e nos suscite mais atenção do que o vago e ternurento nada que nos toma os ombros e recobre as pernas esticadas, a fazer ponteiros de um relógio de sol impreparado. Lá em cima, passam nuvens irrepetíveis, no mesmo tempo em que, cá por baixo, só há rotinas: a ursa branca e estilizada que, ao longo da tarde, avança, nos vagares do tecto azul, cobre a cria que não trazia ontem; mas o cão que finge cheirar-me as pernas (suspeito que para se certificar de quais são os jornais que empilhei para ler hoje) é o mesmíssimo rafeiro de todos os dias, de todos os meses, de todos os anos (vai velho, o cão: dizem-me que já conta 16 anos - 16, a almejar em silêncio ansioso a felicidade que já teve).
Mas este tem sido um ano benigno, talvez para dar espaço a que as tão faladas crises se manifestem. Respeitou-se, é claro, o essencial, mas em doses comportáveis. Tivemos um pouco de miserabilismo voyeur nos doloridos caminhos de Fátima, mais o decepcionante e fugaz leão da Maia e uns fotogramas em sépia dos nossos carinhos por Timor.
(...)
Texto integral - [aqui]

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26.7.08

Recordando um grande humorista português

DADO JÁ SEREM do domínio público, o Sorumbático está a divulgar, com regularidade, pequenos textos de André Brun. O primeiro, afixado no sábado passado, pode ser lido [aqui]; hoje, divulga-se um segundo, de teor um pouco escatológico...
Texto integral - [aqui]

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A taxa negativa

A TRADUÇÃO de Robin Hood por Robin dos Bosques foi feita por alguém que, pouco à vontade com a língua de Shakespeare, confundiu Hood com Wood. Mas isso, que não é grave, vem a propósito da taxa com o mesmo nome (o errado, claro...) que se propõe taxar os lucros das petrolíferas nos casos de subida dos preços do precioso produto.
Tudo bem; esqueçamos então a tradução canhestra, e interroguemo-nos sobre o que acontece quando os referidos preços baixam, como recentemente sucedeu.
Será que taxa funciona ao contrário? Em princípio, tal deveria suceder - pois, se a expressão matemática pela qual é calculada, está na forma algébrica (e deve estar), umas vezes o "delta" será positivo, outras vezes será negativo.
Assim sendo, que tal dar um nome especial a essa taxa negativa ou inversa?
Eu proponho que se inverta a palavra Robin. De facto, se já temos a taxa Euribor, porque não uma Nibor? Além do mais, começa por "N", de Negativa...

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A Divina Providência

Por Antunes Ferreira
NÃO HÁ FOME que não dê em fartura, diz o Povo na prática da sabedoria que lhe é característica – e milenar. Mas, não trato aqui de escalpelizar os rifões populares, coitados, que para o assunto só servem mesmo de termo de iniciação do escrito. Seja-me relevada a falta.
Entro ao que vim: a Divina Providência – cautelar. Houve um tempo, não tão afastado como isso, em que o cidadão comum, quando ouvia a expressão, franzia o cenho e perguntava – mas que raio é isso? De que se trata? Os ínvios percursos jurídicos davam – e dão, e darão – motivos mais que sobejos para essas inquirições vindas da plebe. Da plebe – e não só. (Há que tempos que não usava esta expressão, de tal forma que, ao fazê-lo hoje, sinto um gozo avolumado).
Uns quantos privilegiados sabiam do que se tratava e outros, em número ainda menor, até sabiam como apresentá-la aos doutos tribunais. A síndrome do Santo dos Santos vigorava e ninguém diria que esse quase mistério insondável das escrituras judiciais caminhava a largos passos para o vulgar de Lineu. O que acabou por acontecer.
Hoje, qualquer fulano interpõe uma providência cautelar. Não acreditam? Uns exemplos, a esmo:
A CMP, e mais precisamente o seu presidente Rui Rio, decidiu-se pela requalificação do tristemente conhecido Bairro do Aleixo. Onde a droga circula com uma olímpica serenidade. Na prática, demolir-se-ão cinco torres de muitos andares.
O pessoal não gosta. Diz que Rio disse que não demolia (para ganhar a Câmara, em tempo eleitoral) e vai mesmo demolir. Toma lá com uma providência cautelar. O edil desvalorizou a hipótese/ameaço: «é normal que metam uma providência cautelar, hoje em dia em Portugal mete-se uma providência cautelar por tudo e por nada».
O Senhor Gonçalves Pereira, presidente do incrível CJ da FPF não ficou satisfeito com a cegada, mais uma, que foi a reunião a dois tempos do órgão federativo. Ora toma lá com uma providência cautelar. Uma não; duas. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa deu provimento às duas, suspendendo a efectivação das deliberações surgidas da tal sessão. Os campeonatos que esperem.
A Airplus TV Portugal requereu à Autoridade Nacional das Comunicações (Anacom) a nomeação de uma nova comissão de avaliação para reapreciar as propostas para a Televisão Digital Terrestre (TDT) paga, depois de concurso em que a Portugal Telecom (PT) conquistou o primeiro lugar. "Este júri não demonstrou ter as qualidades de competência e de isenção necessárias para avaliar um processo desta natureza", afirmou o presidente da operadora sueca em Portugal, Luís Nazaré. E, desde logo, se aventou nova hipótese: ora toma lá com uma providência cautelar.
Providências cautelares são, nos dias que vão correndo neste Portugal taciturno, corriqueiras. Andam por aí, como ameaçou o outro. Divinas Providências.
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NOTA (CMR): esta crónica, juntamente com outras do mesmo autor, está também no blogue Travessa do Ferreira

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25.7.08

O mistério do URL secreto

Até o Joaquim dos Petiscos parece saber indicar o URL da sua tasca! Ou será que julga que HTTP são as iniciais de Há Todo o Tipo de Petiscos? (*)
DESDE QUE FOI eleita para ficar à frente dos destinos do PSD, Manuela Ferreira Leite não tem falado muito, e tem sido criticada por não apresentar propostas alternativas às de José Sócrates; mas, mesmo assim, fez mossa quando exigiu ver os estudos que justificam os grandes investimentos que o Governo anunciou recentemente.
Ora, se se pode dizer que o novo aeroporto de Alcochete não tem discussão, e que, em matéria de TGV, o governo de que ela fez parte decerto fez todos os estudos e mais alguns, o mesmo não se dirá, porventura, dos 3000 km de novas estradas. Daí, que se reconheça que MFL tem todo o direito de ver as contas - não só ela, mas todos nós. E o certo é que, só quando se veio a saber que até Cavaco Silva as tinha pedido há dois meses (e ainda continuava à espera!), é que se arranjou qualquer coisinha.
Entretanto, já Mário Lino tinha vindo à televisão dizer, com aquele ar superior que tão bem lhe fica, que MFL estava mal informada, pois os estudos que reclamava estavam todos na Internet...
Óptimo! Mas, sendo assim, porque é que não disse (e continua a não querer dizer...) qual o URL? É que toda a gente que se tem dado ao trabalho de procurar diz que não encontra nada - como, ainda ontem, se referia no Editorial do «Jornal de Negócios».
*
Olha, amigo Mário, a gente dá-te uma ajudinha:
A coisa a que me refiro começa por HTTP; a seguir, há dois pontinhos e duas barrinhas, e é capaz de haver três W e um pontinho a seguir a eles. Então, homem?! Puxa lá pela cachimónia ou pelos teus apontamentos - só queremos saber quais as palavrinhas que vêm a seguir!
-
(*) - A história do Joaquim dos Petiscos é um capítulo do livro «Jeremias, Consultor» e pode ser lida [aqui].

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Telejornais

Por Joaquim Letria
TENHO ORGULHO de recentemente ter sido convidado a integrar uma equipa que engendrou a grelha de programas e de informação duma estação de TV que emite já, com bastante sucesso. Tenho amigos em Londres, Edimburgo, São Paulo e Munique que frequentemente se lembram que posso ser útil nestas coisas. O que é bom, porque conheço jovens e novos conceitos e porque me sinto útil e experiente.
Falo nisto unicamente por termos passado dias a analisar estudos de mercado e de opinião antes de termos decidido que os três telejornais diários não poderiam ser mais extensos do que 12 minutos, excepcionalmente, poderiam atingir um máximo de 17!
Claro que ali a informação conhece outros formatos, mas as prioridades e hierarquias são outras. Quando falei em telejornais de uma hora, ninguém acreditou. E quando lhes mostrei, não queriam acreditar!
«24 Horas» de 25 de Julho de 2008

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24.7.08

Antes que acabe o dia... - Passatempo-relâmpago

QUAL A RELAÇÃO - muito especial - existente entre a data de hoje e a obra cuja capa aqui se vê?
Actualização: o passatempo foi ganho por Helena, a quem o prémio já foi enviado.


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Etnias

Por Joaquim Letria

NA QUINTA DA FONTE vai ser difícil resolver as questões levantadas a tiro. Aquilo é entre etnias. E de etnias não há cá quem perceba. Na ditadura, havia o Dr. Pinto Bull, ilustre deputado da Nação e um dos poucos negros licenciados. Era ele e o Dr. Nazareth, cardiologista negro de olhos verdes que garantia que Salazar tinha coração.
Na Televisão havia o Adriano Parreira, um preto que dava notícias como os brancos.
Hoje não há um único deputado de cor, no Governo e na RTP nem pensar, depois dos retornados e africanistas terem tomado conta disto. Até a Assembleia da República perdeu a sua pérola do Ganges, que era o Dr. Narana Coissoró...
Hoje, a AR só tem etnia caucasiana, e tão caucasianos são eles que os portugueses ignoram se são moldavos ou ucranianos, tanto os deputados têm a ver connosco!
Na Quinta da Fonte aquilo só se resolve quando os pretos falarem com os ciganos e vice-versa. Enquanto os caucasianos meterem etnias nisto, não se vai a lado nenhum.
«24 Horas» de 24 de Julho de 2008

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EM CRÓNICA ontem publicada no «DN», Vasco Graça Moura volta a desancar o "Acordo Ortográfico" com a energia a que já nos habituou quando o tema é esse. Nesse seguimento, e com a sua autorização, o texto é hoje transcrito [aqui], com a particularidade de que serão reencaminhados para o autor os comentários que, eventualmente, venha a suscitar.

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Luz - XIV

Fotografias de António Barreto - APPh

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Ciprestes - Tomar - Os portugueses não calham bem com os ciprestes. Esta maravilhosa árvore foi especializada em cemitérios. São raros os que não habitam silenciosamente os locais ditos do “eterno repouso”. De vez em quando, no Douro, na Estremadura, no Ribatejo, encontram-se uns ciprestes, poucos ou muitos juntos, sem que se saiba como lá foram parar. Aqui, perto de Tomar, uma parte da estrada é bordejada por eles. Benditas mãos que para lá os trouxeram! (1992).
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NOTA (CMR): estas fotos, juntamente com crónicas Retrato da Semana (e outras), estão também em Jacarandá, o blogue do autor.

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A pena de morte é um furúnculo

Por C. Barroco Esperança
A PENA DE MORTE é uma barbárie que repugna ao humanismo e um acto de vingança que envergonha os Estados e os cidadãos. É natural que tenha vindo a ser erradicada dos países civilizados, sobretudo daqueles onde são mais fundas as marcas do Iluminismo e melhor defendidos pela Constituição os direitos, liberdades e garantias.
Se a rusticidade da violência é já, em si, uma enormidade que afronta a civilização e a decência, há motivos que juntam, à vingança e crueldade, a demência.
No Irão acabam de ser condenados à morte por lapidação, uma pena do especial agrado de Maomé, oito mulheres e um homem acusados de adultério, crimes que resultam sobretudo da violência doméstica e onde os condenados carecem de instrução básica para perceberem o crime de que são acusados.
As teocracias são contrárias à democracia e não se espera contemplação do Profeta ou de quem promulga as suas divinas leis. São irrelevantes as circunstâncias do crime, ou a confusão obscena entre crime e pecado, para o direito canónico – arremedo de Código Penal, de sabor medievo, dos países sob tutela clerical.
Em Portugal, Camilo e Ana Plácido estiveram presos, ele por ter copulado com mulher casada e ela por adultério, pena exclusiva de mulher. O homem só era punível quando apanhado em flagrante delito «sós e nus na mesma cama» ou por existência de carta ou documento escrito. Foi uma carta que perdeu Camilo. O escritor cumpriu mais de um ano de prisão preventiva e Ana Plácida um pouco mais. Terá pesado a ousadia de retirar do Convento da Conceição, em Braga, a mulher que devia dedicar-se à contemplação mística e à oração em vez de dar-se a relaxações eróticas.
Camilo e Ana Plácido foram presos em Portugal mas já decorreu século e meio. No Irão ainda hoje vigora o crime, com efeitos muito mais arrasadores. Em Portugal resta, como resquício teocrático e vergonha dos legisladores, o crime de blasfémia, punível com prisão, preterido pela jurisprudência perante um bem maior – a liberdade de expressão.
No Irão dos aiatolas a polícia e os tribunais são um mero instrumento do clero que arrepia o mundo civilizado e envergonha qualquer tradição ou cultura.
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NOTA (CMR): esta crónica, juntamente com outras do mesmo autor, está também no blogue Ponte Europa

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23.7.08

Favor deslocalizar

Por Joaquim Letria

OS RUSSOS DO MUSEU do Hermitage, de São Petersburgo, um dos mais prestigiados do mundo, não estiveram com meias medidas: agarraram nas peças que haviam cedido para Portugal se gabar que tinha cá um pólo com obras do famoso museu e ala, que se faz tarde.
A gente tem de compreender: apreciadores daquelas obras de arte não são assim tantos que justifiquem o risco. A Ajuda tem má reputação internacional, desde que deixaram roubar as jóias da coroa portuguesa dum museu dos Países Baixos e não se esforçaram muito para as recuperar. Depois, um Governo que nem conserta o tecto do José Malhoa do Conservatório, não é gente em quem se possa confiar.
A gente percebe a fuga dos russos. Se a Opel, a Clark, a Delphi e a Singer se piram daqui para fora, deixando um rasto de desempregados, mais razões tem a cultura russa de se pôr ao fresco com o que lhe pertence. Deslocalizem! Façam favor.
«24 Horas» de 23 de Julho de 2008

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Do arquivo Humor Antigo - Ano de 1934

O génio dos corredores

Por Baptista-Bastos
NUM CURIOSO ARTIGO editado no Público de anteontem, o dr. António Borges aplicou, como refrigério para a nossa crise, a extraordinária indicação: "Um grande desafio para o PSD: relançar a economia privada." O dr. Borges, ao que me dizem, é o resultado de uma adição entre conhecimentos gerais de economia e absolutos desconhecimentos da realidade concreta. Não está só, neste campo. Porém, é tido e havido como uma espécie de génio que veio de longe e, pois, marcado pelo toque de civilizações preciosamente trabalhadas.
Com perdão da palavra, não me parece que o artigo em causa seja o produto de uma meninge propensa a grandes elucubrações. Redigido num português medíocre e um pouco confuso, nada diz de novo nem de relevante. O dr. Borges poderia escrever que o grande desafio para o PSD seria relançar a educação ou relançar a justiça ou relançar a saúde ou relançar as pescas ou relançar a agricultura ou relançar a auto-estima - a consequência dava no mesmo: inutilidade redonda.
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Texto integral [aqui]

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22.7.08

Vergonhas de Abril

Por Joaquim Letria
ESTE FIM-DE-SEMANA saiu-me ao caminho gente da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra, a pedir. Vendiam rifas numeradas, mas, no fundo, estavam a pedir esmola.
Os Veteranos de Guerra estavam envergonhados por estarem a pedir, com as suas boinas de militar. Um dia, eram ainda miúdos, disseram-lhes que a Pátria precisava deles e que a sua obrigação era morrer, ficar sem braços ou pernas, cegarem, por Portugal. E eles serviram a Pátria, na guerra.
Não sei se alguns eram dos Deficientes das Forças Armadas. Mas estavam envergonhados. Também o meu amigo Marques Júnior devia ter vergonha na cara quando, há dias, a sua bancada socialista recusou direitos aos deficientes das Forças Armadas.
Cada português tem o seu 25 de Abril. O do meu amigo Marques Júnior, capitão de Abril, é um 25 de Abril triste. É um cravo de tirar e pôr no bolso do paletó, uma vez por ano, nas festas do feriado. A pena que me dá…
«24 Horas» de 21 de Julho de 2008

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Foto tirada ontem pelo leitor Pedro Ribeiro, em ALVOR
NORMALMENTE, quando ouço falar em Alvor lembro-me sempre do famoso «Acordo de Alvor». No entanto, quando ontem recebi esta imagem, associei o nome da terra a um outro "acordo", o Ortográfico, promulgado [aliás, ratificado] por Cavaco Silva no mesmo dia - vá lá perceber-se o porquê da associação de ideias!...
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Actualização (24 Jul 08): Acerca do Acordo Ortográfico afixa-se, no comentário-4 e com autorização do autor, a crónica que Vasco Graça Moura publicou no «DN» de 23 Jul 08, intitulada «Não!». Os comentários que, eventualmente, venha a receber ser-lhe-ão reencaminhados.

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Tudo é previsível, até as eleições

Por Nuno Crato
NA SEMANA PASSADA falámos da dificuldade em prever eleições e do grande progresso conseguido pelos inquéritos de George Gallup (1901–1984), que introduziram técnicas científicas de amostragem.
As sondagens, contudo, apenas têm uma eficácia razoável perto da data de eleições. Os estatísticos e estudiosos que se têm dedicado a estes assuntos estão convencidos de que é possível fazer previsões razoáveis com mais antecedência, entrando em consideração com outros factores. Têm construído modelos para as eleições presidenciais norte-americanas entrando em conta com muitas variáveis.
Significativamente, os modelos que obtêm mais sucesso consideram como variável principal o estado da economia, uma vez que os votantes associam os sucessos ou os insucessos ao partido no poder, mesmo que percebam que a economia tem uma dinâmica própria para a qual os governantes pouco contribuem. Em seguida vem uma tendência do eleitorado para alternar o partido no poder. Em terceiro lugar aparece a credibilidade do candidato.
Mas muitas outras variáveis têm sido tomadas em consideração. Depois de construírem os modelos, os estatísticos testam-nos e calibram-nos com os resultados históricos. Alguns modelos, nomeadamente os do economista Ray C. Fair, de Yale, conseguem prever correctamente as eleições do passado desde que prevejam correctamente a situação económica nas vésperas das eleições.
Fazem-se umas previsões à custa de outras. Fair colocou na Internet uma versão simplificada do seu modelo. Cada um pode tentar a sua sorte.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 19 de Julho de 2008

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Do arquivo Humor Antigo - Ano de 1934

21.7.08

A mesa dos sessenta pés

Por A.M. Galopim de Carvalho
MÃE E PAI, SEIS FILHOS, três eles e três elas, e uma tia viúva que nos ajudou a criar, era assim o tamanho do meu Natal de criança e de uma parte da adolescência. A mesa em que nos reuníamos às refeições, com duas abas que se abriam, mal chegava para tanta gente, tantos braços e bocas a comer e a falar, tanta cadeira a gemer.
– Come, Lourdes! Está calado, Mário! Tem juízo, Chico, não irrites a tua irmã! Essas batatas são para comer até ao fim! Não ficam aí no prato! Não se come uma azeitona de uma só vez! Não se trata assim uma coisa que leva um ano a criar! À mesa não se fala! Tu, aí, põe-te direito na cadeira, e chega-te para a frente. – Era assim todos os dias, duas vezes ao dia.
No final tinha lugar um ritual cumprido por todos os filhos que, após pedirem licença para se levantar, saíam do seu lugar e davam uma volta à mesa a desejar a cada um dos ainda sentados o tradicional «bom proveito», seguido de um beijo em cada face. Este ritual, que punha fim a um tempo de compostura controlada, marcava também o retomar da liberdade, das brincadeiras e das brigas, em crianças, e das discussões acaloradas ou das saídas à pressa dos rapazes, com destino ao seus próprios interesses, quando mais crescidos. As meninas ficavam em casa a ajudar a mãe e a tia...
(...)
Texto integral [aqui]
NOTA (CMR): esta e outras crónicas do mesmo autor estão no seu blogue Sopas de Pedra.

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Do arquivo Humor Antigo - Ano de 1934

Notável

Por João Paulo Guerra
O FMI diz que os problemas fundamentais da economia portuguesa são domésticos, com peso particular para o endividamento muito alto das famílias, empresas e Estado.
ENTRETANTO, soube-se que os bancos portugueses têm cada vez menos liquidez e maior dificuldade em aceder ao financiamento internacional. É verdade que, entrementes, apareceu petróleo em Portugal. Mas foi apenas na praia Vasco da Gama, em Sines, na modalidade de “bolinhas” de crude.
Entanto, o Procurador-geral da República considera que há crimes económicos que vão ficar por investigar se o Código de Processo Penal não for alterado. Será o caso, entre outros, da Operação Furacão. Mas o ministro da Justiça não passa cartão ao PGR. E o ministro da Administração Interna admite desconhecer o número exacto de armas ilegais em Portugal, mas estima que sejam “dezenas de milhar”. Certo é que a PSP perdeu o rasto a 29 mil armas de fogo dadas como extraviadas nos últimos anos. A essas haverá que somar a pistola do agente da PSP colocado no Supremo Tribunal de Justiça que desapareceu. Neste interim, Portugal foi colocado na lista dos sete países da União Europeia sob suspeita de funcionar como plataforma para o tráfico de armas de fogo.
Ao mesmo tempo, na Quinta das Sapateiras também desatou tudo aos tiros. Populares alertaram a PSP para a confusão, mas a polícia não terá dado seguimento às queixas e as forças da Ordem “apareceram uma hora depois dos tiros”. Quanto à prevenção do ‘carjacking’, dizia um jornal que os sistemas de detecção da GNR e PSP são incompatíveis.
Face a este panorama, compreende-se que o primeiro-ministro de Portugal tenha ficado favoravelmente impressionado como o “trabalho notável” do Governo angolano.
«DE» de 21 de Julho de 2008 - c.a.a.

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20.7.08

A tuberculose de Chopin

Por Alice Vieira
HÁ LENDAS QUE SE COLAM à pele das pessoas e nunca mais as largam.
Desde aquelas frases famosas que a história ou a tradição guarda – e que elas nunca na vida pronunciaram -, até aos amores, às zangas, às doenças, a tradição é força difícil de quebrar.
Lembro-me de, muito jovem (quando o piano ainda fazia parte da minha vida), ter chegado a Palma de Maiorca e, pelo meio da paisagem da Cartuxa de Valdemosa, ter pensado como tudo tinha a ver com os românticos amores de Chopin e, evidentemente, com a sua tuberculose - doença que, infelizmente, me era então muito familiar e, talvez por isso, me tocasse mais.
Para além disso eu tinha feito o meu “trabalho de casa”, lido muita coisa, e recordava-me de descrições terríveis de ataques de tosse, dores no peito, hemoptises constantes que o levavam à completa exaustão — o que evidentemente condizia com o que eu, em casa, podia observar de perto.
(...)
Texto integral [aqui]

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Do arquivo Humor Antigo - Ano de 1934

Subir para baixo

Por Nuno Brederode Santos
MUITO DO QUE LUÍS FILIPE MENEZES quis provocar com a sua demissão está atingido. A frase é dele, não é minha. Passei-a para a terceira pessoa, para dispensar as aspas e assim guardar o recato que ele enjeitou. Como quem põe óculos escuros, quando o Sol não brilha e a moda não recomenda.
O artigo de Menezes no DN da passada sexta-feira é um documento assinalável, mesmo se mais não é do que uma actualização e um aprimoramento do que o autor vem escrevendo desde que, falhada a vaga de fundo, a sua estrela se revelou meteorito e trocou o brilho pelo livor baço de um desencanto pasmado. No seu universo juvenil de super-heróis da banda desenhada, ele toma Santa Helena pela ilha de Elba e renega a avareza do destino para as segundas - ou, neste caso, terceiras - oportunidades. Na sua revisitação permanente de Peter Pan e Sandokan, ele acredita poder pôr este a voar e quer o menino de Kensington Park a esgrimir de alfange com o capitão Gancho.
Dos anos, que dizemos verdes, em que apostamos mais em nós do que na nossa vida, retive um ensinamento de Baltazar Gracián: devemos ser humildes quando a fortuna nos bafeja e prudentes quando ela nos despreza. Lá do alto do seu Olimpo mitómano, Menezes desprezou os dois conselhos.
(...)
Texto integal [aqui]

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19.7.08

Língua traiçoeira...

Já que tanto se fala de armas ilegais...

O QUE AQUI SE LÊ é um extracto do texto «Novo género de suicídio», da autoria de um famoso humorista que os leitores do Sorumbático são desafiados a identificar.
O prémio (a atribuir, como de costume, ao primeiro leitor que der a resposta correcta) será um clássico da literatura portuguesa.
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1- As respostas só serão válidas se forem dadas a partir das 10h do dia 21 de Julho. 2- Cada leitor poderá dar um máximo de 2 respostas. 3- Se, passadas 24h, a resposta certa ainda não tiver surgido, será fornecida uma 'dica', e o passatempo "voltará à estaca zero". Quanto ao prémio (se for atribuído nessa 2ª fase e não na 1ª), subirá para dois livros.
Actualização: A resposta certa (André Brun) foi dada por Fred, a quem o prémio já foi enviado. O texto completo pode ser lido [aqui].

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SUGERE-SE, a quem se deparar com o número 543210 (no contador que se vê em rodapé), que faça um print-screen e o envie para sorumbatico@iol.pt. O prémio, como sempre, será um livro.
Actualização: o passatempo foi ganho por Fátima Linguíça, que enviou a imagem que aqui se afixa, e a quem o prémio já foi enviado.

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Os benfiquistas e os outros

Por Antunes Ferreira
UMA SEMANA desgraçada. Faz hoje oito dias, notícias vindas dos EUA deixaram o Mundo com mais rugas de preocupação do que um centenário desdentado. Foi anunciada a maior crise económica nos States – o que desde logo foi entendido como uma orbe catástrofe. E bem. Por alguma razão se dizia que quando Washington espirrava o planeta entrava em gripe. Agora, não. Trata-se de uma broncopneumonia dupla, agravada pela diabetes. Para não falar em carcinoma pulmonar.
Naturalmente que nós, os Portugueses ficámos preocupados. Alguns mesmo preocupadíssimos. A generalidade dos cidadãos não se apercebeu disso. Melhor – não percebeu isso. Felizmente. Para estes descendentes dos Lusitanos, já basta o que basta. O dia-a-dia dá-nos que fazer, cada vez mais os euros são menos e o fim do mês está a chegar ao dia 13 de cada mês. O que é dizer que os euros estão cada vez mais raros e… caros.
Nisto, o Banco de Portugal revelou que a economia portuguesa apresentou sinais de forte abrandamento em Junho, devido à estagnação do consumo das famílias e à descida da actividade económica, num cenário de contínuos aumentos dos preços dos combustíveis, dos alimentos e dos juros. Os dados do banco Portugal apontam para uma estagnação do consumo privado em Junho, em comparação com igual mês do ano anterior, completando dez meses de abrandamento. E o INE já tinha revelado que a subida em 3 por cento nos preços dos combustíveis contribuíra para que a inflação fosse em Junho de 3,4 por cento.Para ajudar à festa o famigerado FMI veio a terreiro sublinhar que os Portugueses vivem acima das suas possibilidades. Olha que grande novidade. «A acumulação de desequilíbrios externos não pode continuar indefinidamente», apontava um relatório da organização, que apelava a um maior esforço de poupança. «Resolver este problema exige que todos os sectores da economia ajustem e poupem mais».
Como? – perguntaram-se muitos. Pois, se já nem cotão temos nas algibeiras… Mais: as declarações de Victor Constâncio no que concerne a taxa de crescimento para este ano e para o próximo, muito abaixo do que era previsto pelo Governo, já tinham dado como resultado um cocktail envenenado, mais letal do que um qualquer Molotov vulgar de Lineu. O governador do banco central ainda referiu outros valores que qualificavam a situação lusa. A coisa está preta, como dizem os Brasileiros.
Tanto, que nós, que somos habitualmente pessimistas e desconfiados, nem demos grande significado, muito menos cuidadosa atenção ao apelo lancinante do PR para que nos unamos e coisas assim, a fim de vencermos o momento muito complicado. Muitíssimo complicadíssimo, até. O tempo da pregação no deserto não acabou nas páginas bíblicas.
Felizmente que no meio deste tsunami económico e financeiro (nem a taxa Robin/Telhado parece ter trazido grandes esperanças) o Senhor Rui Costa regressou de Saragoça com o Senhor Pablo Aimar a tiracolo. Há motivos para esperança, portanto. Sobretudo para os benfiquistas.
Mas – e para os outros?

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18.7.08

Os gansos do silêncio

PUS DE LADO O SUPLEMENTO literário que acabara de ler e meditei, seriamente, como convém a um leitor atento de qualquer suplemento literário.
O meu primeiro movimento foi o de agarrar num lápis e fazer um círculo ao redor da mesma palavra em três trechos diferentes, de modo a não me restar qualquer dúvida.
O suplemento publicava excertos de livros no prelo de autores conhecidos e em três diferentes textos eu encontrava a mesma palavra, em contextos diferentes, é verdade, mas que não deixava de ser preocupante porque se tratava de um substantivo, feminino, ainda que numa das três circunstâncias fosse utilizado o diminutivo, tudo muito singular.
Olhei os três círculos em páginas diferentes, mas sequentes, e li «ginja», «ginja», «ginjinha». Fiquei, portanto, preocupado com o peso da ginja na literatura portuguesa e decidi que tinha de comprar aqueles livros logo que chegassem aos escaparates, não só pelo apreço que nutro pelos respectivos autores, mas também para descobrir se as ginjas eram com elas, ou sem elas, questão a que os truncados nacos de prosa não respondiam.
(...)
Texto integral [aqui]
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NOTA (CMR): Esta e outras crónicas de Joaquim Letria estão também no seu blogue Histórias de Chorar por Mais

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ONTEM, n' «A Quadratura do Círculo», Pacheco Pereira referiu-se, com uma irritação em que eu o acompanho, aos pândegos que se arrogam o direito de decidir quais os assuntos que podem - e que não podem - ser discutidos.
Note-se que esses chatíssimos indivíduos não se limitam a moer o juízo a quem não concorda com eles; fazer pior: para eles, há temas que nem sequer podem ser abordados - a bem de uma concepção do politicamente-correcto de cuja definição se arrogam o exclusivo.

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Passatempo-relâmpago

O PRESENTE passatempo teve origem num e-mail enviado pelo leitor Luís Bonito que, naturalmente, desta vez não concorrerá.
O desafio (a que corresponde, como prémio, um exemplar do livro cuja capa aqui se mostra) consiste em ser o primeiro a responder à seguinte pergunta:
O que é que existe à latitude 40º 43' 51,86" Norte e à longitude 73º 59' 49,49" Oeste e que inspirou um famoso romance de Henry James - pelo menos no que tocou à escolha do título?
NOTA: cada leitor poderá dar uma única resposta, que não deverá ser redigida na forma interrogativa.
Actualização: a resposta certa foi dada no comentário-2, tendo o prémio já sido enviado ao seu autor.

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Um jornalismo curioso

«TSF online»
«JN - online»
LENDO o 'miolo' das notícias, a contradição desfaz-se: o sr. major foi condenado em relação a alguns assuntos, e ilibado em relação a outros. Mas quem se considera informado porque lê apenas os cabeçalhos...
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Actualização (19 Jul 08): há algum tempo, um investigador dizia que, quando um inocente é acusado de um crime, normalmente revolta-se e “esperneia”. Mas, quando se trata de alguém que se sente culpado, faz um sorriso maroto e pergunta: «Conseguem provar?».
Lê-se, hoje, no “JN”: «Valentim Loureiro (…) mostrou-se satisfeito por não se ter provado o crime de corrupção de que era acusado».

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Novela de Bulgakov reeditada com texto de Alfredo Barroso

ESTA É A EXTRAORDINÁRIA história do inefável Sharik (Bolinha), um cão vadio que é transformado – por via de vários transplantes, enxertos e manipulações genéticas – num homúnculo chamado Polygraf Polygrafovitch Sharikov: a mais arrogante, perfeita e acabada besta quadrada que qualquer burocracia, sobretudo a soviética, poderia alguma vez ter produzido, com a prestimosa ajuda e inspiração da scientific society americana. O prazer e o espanto que a leitura desta extraordinária novela, escrita por Mikhail Bulgakov em 1925, provocou em mim, só são comparáveis ao deslumbramento que me causou a leitura do romance Margarita e o Mestre, a obra-prima escrita por Bulgakov nos anos 1930, durante a última década da sua vida. A reedição de Coração de Cão em português, agora em tradução directa do russo, impunha-se.
NOTA (CMR): Ver introdução de Alfredo Barroso, intitulada «Bulgakov e Estaline – o Médico e o Monstro revisitados», no blogue Traço Grosso.

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17.7.08

Visões e previsões...

Público de 29 de Maio de 2006
TALVEZ não valha a pena ler a 'previsão' toda, pois os seguintes extractos já dão uma ideia da sua qualidade:
«(...) O cenário sugerido pelo relatório deste ano é que os preços do petróleo já atingiram um patamar máximo, e não deverão continuar a subir. (...)
Enquanto o preço estiver nos 60, 70 dólares por barril [os níveis actuais] (...)
O nosso cenário de longo prazo coloca o preço nos 40 dólares em 2010. Antecipamos um preço médio de 64 dólares por barril este ano, 59 dólares no próximo, e depois uma descida gradual. (...)»

Luz - XIII

Fotografias de António Barreto - APPh
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Na famosa quinta do Vale Meão, no Pocinho. Os terrenos estão preparados para receber vinhas novas. De muito pequena dimensão, as novas plantas mal se distinguem. Já foram colocados os “esteios”, antigamente em pedras de ardósia, hoje em madeira preparada, que permitem melhor a mecanização, com menor destruição. As novas vinhas já estão aramadas. No Douro, cada linha de esteios aramados chama-se “bardo”. Esta quinta do Vale Meão foi mandada plantar pela Ferreirinha, a Dona Antónia, nos anos oitenta do século XIX. Durante algumas décadas, entre 1960 e 1990, era daqui que vinha o principal vinho para o Barca Velha. Hoje, nas mãos da família Olazabal, produz vinho com o seu próprio nome. Os Olazabal são descendentes directos da Ferreirinha. (2007).
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NOTA (CMR): estas fotos, juntamente com crónicas «Retrato da Semana» (e outras), estão também em Jacarandá, o blogue do autor.

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Homenagem a Fausto Correia

Por C. Barroco Esperança
FOI UM CIDADÃO SINGULAR, no espírito de tolerância, sentido da fraternidade e princípio da ética republicana. Era o intelectual estimado por Miguel Torga e Fernando Vale e foi, sobretudo, o homem que viveu impetuosamente porque sabia que não há vida para lá da morte. Por isso era excessivo. Na forma e na substância.
Viveu depressa. É sempre rápida a viagem que começa com o primeiro vagido e acaba com o último suspiro, mas foi muito curta a dele. Podia ter esperado pelo presidente da Câmara que Coimbra desejava e merecia. Mas não quis e o Fausto, na paixão da vida, no desprezo das análises e no gosto das tertúlias, foi fazendo a vontade à morte.
O político de rara intuição e sagacidade foi o alquimista dos afectos que transformou os conhecidos em amigos e estes em admiradores, construindo a imensa cadeia de dilectos sem os quais não saberia viver.
Era o mais destacado político de Coimbra quando a vida o abandonou numa manhã, em Bruxelas. Sendo cidadão do Mundo era um homem de Coimbra onde regressava sempre ao convívio dos amigos. Cá voltou, por entre lágrimas de pesar, na derradeira viagem.
Em Celas, no seu Café habitual, a tertúlia nunca mais foi a mesma. Falta-lhe a seiva que a nutria, a paixão da vida, o afecto de quem foi a mais sólida referência e o cimento. Morreu, traído pelo coração, aquele coração grande, abnegado e solidário. Coimbra ficou de luto e Portugal mais pobre.
Deixou o largo, que atravessava a caminho do Café e dos amigos, agora com o seu nome. Desde 4 de Julho. Imagino-lhe ainda o sorriso travesso a olhar a placa que não viu no Largo em cuja toponímia entrou demasiado cedo. Vi descerrá-la. Lembrei-me do último café que tomámos a poucos metros e abalei com a multidão que assistiu ao acto.
Deram-lhe o nome ao largo porque faltou tempo para lhe entregarem Coimbra.

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