Por A. M. Galopim de Carvalho
A todos, e foram muitas dezenas, os que me honrarem com os seus comentários, apoiando, contraditando, sugerindo, emendando, acrescentando ou melhorando o meu texto de ontem (27.06.2018, no Facebook) aqui fica, para os que tiverem interesse nisso, a nova versão do mesmo, reformulado com base nos referidos comentários
NOVA VERSÃO
Na minha capacidade de análise, que vale o que vale, o problema da degradação dos nossos ensinos básico e secundário reside, sobretudo, na classe política, onde, a par de gente capaz e honesta, se instalaram arranjistas e corruptos, como em todo o lado.
Como já escrevi, à semelhança do que se passou com a Primeira República, a classe política, no seu todo, a quem os Capitães de Abril, há 44 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada”, entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos civismo, cultura democrática e cultura humanística. Entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com esta abertura à democracia está a Educação. E, aqui, a ESCOLA FALHOU COMPLETAMENTE.
O mundial de futebol, a crise no Sporting, as buscas da PJ no Benfica e noutros clubes e, agora, em algumas autarquias, à falta de incêndios florestais, enchem os noticiários à exaustão. Parece que andamos esquecidos do gravíssimo problema subjacente à greve dos Professores, em curso, mas ele existe. É bem maia amplo e está latente. E nestes dias em que tudo efervesce neste sector da vida nacional, o senhor Ministro da tutela (talvez com o argumento de que “carrega” com o fardo do desporto), foi a Moscovo, no passado dia 20, ver o Portugal-Marrocos e, cinco dias depois, a Saransk, assistir ao Portugal-Irão. Estou para ver se irá, de novo, à Rússia, no próximo Sábado, desta vez a Sochi,para presenciar o Portugal-Uruguai.
Os saberes acumulados ao longo de uma vida de muitos anos, sempre em contacto com o ensino a todos os níveis, a liberdade que me assiste como cidadão político consciente e não “amarrado” aos aparelhos dos partidos políticos e a lucidez que ainda julgo manter, permitem-me dizer ou voltar a dizer, “preto no branco”:
1 - Tendo sido o Centro e a Direita a governarem-nos há mais de quarenta e dois anos, há que imputar a estes, os do chamado “arco do poder”, a maior parte da responsabilidade de uma tal degradação. A Esquerda só esteve no poder dois anos e dois meses (com os governos provisórios”), mas tem nos sindicatos valiosas correias de transmissão, pelo que também manda, e muito, nestes graus de ensino. Não podemos, pois, ignorar a sua responsabilidade neste grave problema que, se não for resolvido, irá DESTRUIR O FUTURO dos nossos filhos e netos.
2 – A SER VERDADE que a luta dos professores (em proporções nunca vistas) visa o cumprimento de uma promessa do governo, estou a 100% do lado de todos eles, dos bons, dos menos bons e dos maus. Todos! E isto apenas porque, também para mim, a “palavra dada, palavra honrada”, parafraseando o Primeiro Ministro. Insisto na expressão “a ser verdade” porque, nestes conflitos e como é sabido, cada uma das partes tem o seu discurso;
3 - A par de BONS, MUITO BONS E EXCELENTESprofessores, há outros, sem preparação suficiente, que fazem do ensino um emprego, não uma profissão e, muito menos, uma missão, e outros, ainda, francamente maus.
4 - Os VERGONHOSOS RESULTADOS escolares em Portugal falam por si. E aos que me respondem, lembrando que alunos das nossas escolas marcam pontos lá fora, em competições internacionais (o que é um facto honroso e indesmentível), respondo dizendo que esses são alunos excepcionais, oriundos de famílias mais bem ou mais mal estruturadas, mas sempre preparados por muito bons professores. Ponto final;
5 - A sistemática RECUSA ÀS AVALIAÇÕES, por parte de muitos professores (os jornais têm falado em milhares), com o fortíssimo apoio dos sindicatos, face às diversas propostas feitas pelos diferentes governos, ao longo de mais de uma dezena de anos, é responsável pela permanência dos incompetentes à frente dos nossos filhos e netos. Não são os bons professores que temem ser avaliados, são os outros, e não são assim tão poucos;
6 – As avaliações que têm sido feitas bem como a escolha e a COMPETÊNCIA DOS AVALIADORES são temas a terem lugar numa verdadeira reflexão que urge fazer;
7 - Os sindicatos,NIVELANDO, POR IGUAL, os bons, os menos bons e os maus professores e, ao apoiarem os que se opõem às ditas avaliações, exigindo promoções automáticas ditadas pelo tempo de serviço,têm grande responsabilidade numa parte importante da degradação do ensino público;
8 - A tradicional e endémica FALTA DE VERBA atribuída à Educação é parte substancial desta mesma degradação;
9 - A “BALDA” que se estabeleceu nas Universidades, a seguir à revolução de 1974, com os “aptos”, as “passagens administrativas” e a interferência dos estudantes nas decisões pedagógicas, ao estilo de “cada cabeça um voto”, também tem de ser tida em conta nesta reflexão;
10 - O NÍVEL SÓCIOCULTURAL de milhares de famílias carentes de tudo determina que a Escola obvie a esta realidade, chamando a si uma tarefa educativa complementar;
11 – Finalmente, a PREPARAÇÃO CIENTÍFICA E PEDAGÓGICA dos professores não pode deixar de ser devida e profundamente analisada.
.
É minha convicção que:
1- Os professores devem SABER MUITO MAIS do que o estipulado no programa da disciplina que devem ter por missão ensinar, não se podendo limitar a meros transmissores dos manuais de ensino. Para tal, os professores necessitam de tempo, e tempo é coisa que, no presente, não têm;
2 - É necessário e urgente fomentar, como inerência de cargo, a DIGNIFICAÇÃO E O RESPEITO pelo professor, duas condições que lhes foram retiradas com o advento da liberdade que os militares de Abril nos ofereceram e que a democracia não soube aproveitar;
3 – É essencial LIBERTÁ-LOS DAS TAREFAS que não sejam as de ensinar;
4 – Há que criar CURSOS DE ACTUALIZAÇÃO e de melhoria de conhecimentos e/ou outras acções com o mesmo propósito;
5 – É necessário e urgente que a Escola recupere todas as competênciasfundamentais à DISCIPLINA, aqui entendida como a obrigatoriedade de respeitar as normas estabelecidas democraticamente, o que evita o autoritarismo, conferindo a autoridade a quem a deve ter;
6 – É necessário e urgente rever toda a política dos MANUAIS DE ENSINO, em especial no que diz respeito à creditação científica e pedagógica dos autores e revisores.
7 – É preciso repensar a POLÍTICA DE EXAMES, a começar pela creditação científica e pedagógica dos professores escolhidos para conceber e redigir os questionários.
8 – É necessário resolver o gravíssimo problema da COLOCAÇÃO DE PROFESSORES, com vidas insuportáveis material e emocionalmente, a dezenas de quilómetros de casa, separados das famílias;
9 - A REMUNERAÇÃO DOS PROFESSORES tem de ser compatível com a sua real importância na sociedade. Um professor universitário (que é avaliado, pelo menos, três vezes ao longo da carreira) não é nem mais nem menos importante do que um do ensino secundário ou do básico, a quem, no correspondente patamar, se exige idêntico rigor;
10 - É preciso e urgente que o Ministério da Educação se torne numa das principais preocupações dos governos, não só na ESCOLHA DOS TITULARES, como nas respectivas dotações orçamentais.
11 - É urgente olhar para a realidade do nosso ensino e haver vontade e força política (despida de constrangimentos partidários), ao estilo de um “ACORDO DE REGIME”, capaz de promover uma profunda avaliação e consequente reformulação desta nossa “máquina ministerial”, poderosa e, de há muito, instalada.
Etiquetas: GC